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A ‘percepção’ foi escolhida por significar a capacidade das pessoas selecionarem aspectos do meio ambiente e dar-lhes significado, com base em seus valores, haja vista que gerir implica tomar decisões e que estas implicam escolhas subjetivas.

A coalizão dominante, representada por aqueles que por um determinado período de tempo foram detentores de poder, foi escolhida por haver a compreensão da influência do poder no processo de escolha estratégica, pois “é a partir da percepção dos detentores de poder que as transformações organizacionais ocorrem” (OLIVEIRA, 2001, p.5). Justifica-se, ainda, a escolha da coalizão dominante em função de dois fundamentos: o primeiro, o de ser mais exeqüível a identificação e a localização das pessoas para a realização das entrevistas, pois o período de abrangência da pesquisa incluía três décadas do século que passou; e, o segundo, a análise ser sobre decisões já implementadas, ou seja, a estratégica foi escolhida como padrão de ações já realizadas.

O suporte teórico teve duas funções básicas: a primeira foi fundamentar conceitualmente as variáveis escolhidas; a segunda foi embasar a construção do modelo de análise das configurações estratégicas. Compuseram a investigação as seguintes variáveis: o contexto (ambiente objetivo e percebido); as estratégias formuladas e implementadas; as mudanças; e a estrutura formal.

A pesquisa sendo qualitativa e ao adotar o método indutivo, favoreceu para

16 Os primeiros reitores dessas universidades exerceram seus mandatos por períodos de 10 e 12

que algumas variáveis surgissem durante o processo de investigação, assim como ocorreu com a cultura organizacional; o poder; e o modelo decisório como influenciadores da estrutura. A pesquisa foi consolidada pela alternância teoria- prática e prática-teoria e foi desenvolvida em quatro estágios conforme sugere Sechest e Sidani (1995): i) coleta dos dados; ii) análise dos dados; iii) interpretação dos dados e; iv) utilização das informações. Esse desenvolvimento não foi simples, nem linear, caracterizando-se como cíclico e recursivo tendo exigido longa permanência da pesquisadora no campo, visto ter sido ela um elemento-chave, no processo cíclico de coleta, interpretação e análise dos dados.

Os dados foram coletados em fontes primárias, através de entrevistas e, em fontes secundárias, por meio da pesquisa documental em livros, periódicos, documentos, leis, decretos, portarias, regimentos, estatutos, relatórios de gestão e planos institucionais. Essa coleta levou em consideração aspectos processuais e históricos das universidades ao longo do tempo; de comparabilidade entre elas; e pluralista, com base na análise e descrição das versões dadas pelos atores em razão de seus interesses e percepções (PETTIGREW, 1990).

A entrevista foi escolhida como técnica de coleta de dados primários por se constituir em uma técnica apropriada às características desta pesquisa, dadas às interconexões existentes entre as variáveis. Foi utilizado o tipo de entrevista semi- estruturada, já que o interesse da pesquisa era compreender o processo de formulação de estratégia a partir da percepção que a coalizão dominante tinha do ambiente no qual se encontravam as universidades, uma vez que neste tipo de entrevista o pesquisador faz perguntas objetivas e deixa que o entrevistado responda-as livremente (ALVES-MAZZOTTI e GEWANDSZNAGER, 1998). O roteiro orientador das entrevistas, descrito no apêndice (p.275), é resultado da adequação do roteiro original elaborado a partir da base conceitual teórica; da pesquisa documental e do resultado de um teste realizado com dois entrevistados.

As entrevistas foram gravadas e transcritas imediatamente, de modo a aproveitar a oportunidade de complementá-las, se necessário; entretanto em nenhum caso foi preciso fazer recorrência aos entrevistados, pois as informações foram suficientes para o atendimento dos objetivos pretendidos. Teve-se o cuidado de fazer anotações de aspectos importantes destacados por ocasião de realização das entrevistas, com vistas a evitar perda por problemas técnicos (com o gravador). O clima de cordialidade entre a pesquisadora e os entrevistados possibilitou, na

maioria dos encontros, que a conversa se alongasse aos limites de uma hora em que a entrevista era gravada. Nesses casos, várias informações relevantes foram anotadas com a prévia autorização dos entrevistados.

A escolha inicial dos representantes da coalizão dominante a serem entrevistados se deu em dois momentos: o primeiro, na primeira visita feita às universidades, ocasião em que foram identificados os períodos dos respectivos reitorados e as respectivas equipes de auxiliares. Em um segundo momento, os membros da coalizão dominante foram selecionados com as seguintes características: i) estar na universidade há pelo menos 15 anos, isto é, ter participado das atividades da universidade por um tempo superior a 50% do período de abrangência da pesquisa; e, ii) ter exercido mais de um cargo na administração da universidade. Esse procedimento facilitou a composição da lista de entrevistados e o primeiro contato com eles, que foi feito por telefone. Nessa ocasião, o convite foi formalizado e o objetivo da pesquisa explicado; e, também realçada a importância da participação do convidado para o êxito da pesquisa. Nenhuma pessoa contactada negou-se a participar da pesquisa, e, do total de participantes, apenas dois entrevistados de universidades diferentes, não autorizaram citar os seus nomes no corpo do trabalho; por isso eles estão referidos como entrevistados A e B.

Vinte e cinco entrevistas foram realizadas. Delas participaram: 15 ex-reitores; sendo dois reitores atuais em mandatos consecutivos e uma vice-reitora atual; três ex-pró-reitores; um ex-diretor de centro; dois coordenadores de planejamento, e um ex-dirigente do MEC. O total de entrevistados não foi delimitado antecipadamente, o parâmetro escolhido foi que as informações dadas atendessem a mais de 50% das informações contidas nos documentos oficiais. Assim, em cada universidade as entrevistas encerravam-se, na medida em que as informações se tornavam repetitivas ou irrelevantes para os propósitos definidos, isto era factível visto que análises preliminares eram feitas durante toda a fase da coleta dos dados, imediatamente após as entrevistas.

Salienta-se o fato dos entrevistados terem exercido mais de um cargo na administração das suas respectivas universidades, o que favoreceu ao aprofundamento da investigação no que se refere aos aspectos histórico e processual. Ademais, como alguns dos entrevistados tinham exercido cargos no MEC, suas contribuições permitiram ampliar o espectro de percepção sobre as unidades de análise. Em particular, destaque-se que um deles trabalhou no MEC por

20 anos, e, portanto, tinha rica experiência sobre os problemas enfrentados pelas universidades ao longo das três décadas que abrangeu a pesquisa.

As entrevistas foram realizadas de agosto de 2001 a janeiro de 2002: de agosto a setembro de 2001, na UFSC; novembro e dezembro de 2001, na UFC; e dezembro de 2001 e janeiro de 2002, na UFRN.

A análise dos dados utilizou recursos característicos de estudos descritivos, destacando-se a sistematização dos dados em fontes primárias e secundárias. A análise comparativa e a triangulação dos dados serviram para ampliar a descrição, a explicação e a compreensão do foco da pesquisa. Nesse sentido, a análise dos dados, acompanhando Trivinos (1992), envolveu: em primeiro lugar, os processos e produtos centrados nos sujeitos percebidos nas entrevistas; em segundo lugar, os elementos produzidos pelos sujeitos que estiveram representados pelos documentos oficiais da organização e pelos instrumentos legais; e, em terceiro lugar, os processos e produtos do contexto sócio-econômico em que estiveram inseridos os sujeitos. Por sua vez, a revisão de literatura constituiu-se em uma etapa contínua para que se pudesse relacionar os achados da pesquisa de campo com as teorias.

Por último, foram elaborados quadros contendo a sinopse das configurações como recurso adicional para melhor visualização dos resultados.

Em resumo, a realização desta pesquisa seguiu as etapas sugeridas por Mintzberg e McHough (1985) com os seguintes procedimentos:

i) Coleta e análise dos dados - feita através de visitas às universidades (a primeira realizada em abril de 2000) para a obtenção de documentos importantes para a pesquisa de campo e a identificação dos respondentes (coalizão dominante) para a realização das entrevistas;

ii) Identificação das estratégias (feita com base no conteúdo analisado a partir de dimensões e respectivos elementos) nos documentos e entrevistas;

iii) Análise das estratégias, feita com base na pesquisa documental e nas entrevistas, priorizando-se a percepção e o significado que os atores deram às decisões estratégicas, tendo essa etapa se caracterizado pela profundidade das interpretações indutivas e pelo rigor no cruzamento das informações.

iv) Exploração de explicações teóricas ou conceituais com a pesquisadora fazendo interpretação teórica das configurações estratégias com os fundamentos conceituais que embasaram a pesquisa, a partir das variáveis: ambiente, estratégias, estruturas e mudanças.

v) Interpretação dos resultados que, foi sistematizada e testada no modelo de análise proposto, caracterizando uma (re)construção do conceito de configuração, incluindo-se tipologias de configurações estratégicas.

Em função da complexidade e do rigor que a abordagem qualitativa e o estudo multicasos impõe no desenvolvimento de uma pesquisa, e, para que os seus resultados fossem relevantes do ponto de vista científico, emergiram no processo de investigação limitações de natureza metodológica. Essas limitações foram transformadas em sugestões para futuras pesquisas, e estão apresentadas na forma de recomendações no capítulo dez.

6 O AMBIENTE DE INSERÇÃO DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS

Este capítulo atende ao primeiro objetivo específico da pesquisa, que é descrever o ambiente objetivo no qual encontravam-se inseridas as universidades federais, nas três décadas que abrangem esta pesquisa.