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A Evolução da Universidade Brasileira

A literatura sobre o assunto, (ALPERSTEDT,2000 ; FÁVERO, 2000) registra que a maioria das universidades brasileiras surgiu da união de escolas superiores criadas a partir de 1915, com a Reforma Carlos Maximiliano. Quanto à criação da primeira universidade, há controvérsias entre os autores. Para uns, a primeira universidade do Brasil foi a Universidade do Paraná, localizada em Curitiba, em 1912. Antes, porém, havia sido criada a Universidade de Manaus, em 1909, fora da órbita do Governo. No entanto, como não foram reconhecidas pelo governo federal a

Universidade do Rio de Janeiro consta como a primeira universidade brasileira, criada em 7 de setembro de 1920, com a fusão das faculdades de Direito, Medicina e da Escola Politécnica (MOHRY, 2001).

Durante o período em que o Brasil teve como base econômica à produção agro-exportadora, a educação superior não exerceu qualquer importância para o Estado, só a partir de 1930, com o fortalecimento da sociedade política, a crise cafeeira e as mudanças no sistema produtivo, surge um novo papel do Estado no âmbito da superestrutura, pois a nova fase de expansão da indústria brasileira exigia a preparação de mão-de-obra que seria conseguida com o ensino profissionalizante. Em 1931, com a criação do Ministério da Educação e Saúde, começaram a ser empreendidas mudanças substanciais na Educação, entre outras, a estruturação da Universidade. Naquele período, o Ministro Francisco Campos apresentou um conjunto de decretos que conduziam o ensino superior brasileiro a uma nova organização como por exemplos, o Decreto no 19.851/31 que criou o Estatuto das Universidades Brasileiras e o Decreto no 19.852/31 que se destinou a organizar a Universidade do Rio de Janeiro. No que se refere ao Estatuto, a estrutura prevista para a universidade era composta por um Reitor, um Conselho Universitário e uma Assembléia Universitária e os institutos administrados por um diretor e um Conselho Técnico-Administrativo. O corpo docente das universidades era composto por professores catedráticos e livres-docentes que eram ajudados por professores auxiliares e contratados. Competia aos professores auxiliares e contratados realizar tarefas de docência e pesquisa, no entanto, a participação na administração era restrita aos catedráticos (ROMANELLI, 1991).

Com a Constituição de 1934, surgiu a preocupação com a elaboração de um Plano Nacional de Educação. Os períodos subseqüentes foram marcados por legislações que refletiam as lutas pelos grupos de poder, cuja concretização ocorreu pela primeira elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O processo de elaboração dessa Lei iniciou com o processo de redemocratização do País, em 1946, e demorou 14 anos em discussão até sua promulgação, em dezembro de 1961, quando as aspirações da sociedade brasileira já haviam mudado em função dos avanços científicos e do processo de desenvolvimento tecnológico (PEIXOTO, 1997). Assim, com as mudanças na esfera econômica e a passagem da base agro-exportadora para o capitalismo industrial sob a marca da substituição de importações, surgiram novos objetivos para a universidade corroborando com a tese

de que a instituição universitária “sempre serviu a interesses estratégicos de classes ou de grupos políticos eventualmente no poder” (ALMEIDA, 2000, p.64).

Nesse contexto político e econômico é criada, em 1934, a USP, sendo a primeira universidade a incorporar as atividades de ensino, pesquisa e extensão com a idéia de integração do saber e, também, a primeira a inovar quanto à concepção de estrutura e funcionamento, instituindo as disciplinas básicas da Faculdade de Filosofia, em um tronco comum, para os estudos básicos e demais cursos. A fase de consolidação dessa universidade contou com a colaboração de cientistas alemãs, franceses e italianos e, até hoje, essa universidade se diferencia de outras por uma característica que lhe é peculiar, a de se voltar para a produção do saber.

Na década de 40, com o crescimento da demanda por ensino superior surgiram outras universidades públicas e privadas como: a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); a Universidade Federal da Bahia (UFBA); a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e as Pontifícias Universidades Católicas, do Rio de janeiro (PUC- RJ), Paraná PUC-PR) e Rio Grande do Sul PUC-RS. (MOHRY, 2001).

A década de 50, marcada pela modificação do sistema produtivo no País, com a proposta desenvolvimentista de Juscelino Kubsctschek, fato que gerou novas demandas por profissionais qualificados nas diversas áreas do conhecimento e em novas especialidades, acarretando uma crescente procura por ensino universitário. Assim, na medida que os fatores de transformação econômica, política, social e tecnológica provocavam a expansão do sistema federal de ensino superior, despontava a necessidade de políticas que assegurasse a manutenção desse sistema. Nesse sentido, foram criados em 1951, a Coordenação de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com objetivos de apoiar as atividades de ensino superior e de pesquisa científica, constituindo-se, relevantes stakeholders para a institucionalização das universidades, em especial das federais brasileiras. Registra- se, ainda, que no final dos anos 50, iniciam-se os debates com a participação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), sobre a ‘modernização’ da universidade brasileira, centrados em objetivos como: autonomia e gestão; estrutura; organização e o seu papel no desenvolvimento do País. O resultado dessas discussões culminou em dezembro de 1961, com a promulgação da Lei nº 4.024 – a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), responsável pela criação do

Conselho Federal de Educação (CFE) com atribuições de fiscalização e controle dos estabelecimentos de ensino superior, estabelecimento de currículos mínimos e durações dos cursos (FÀVERO, 1994; ALPERSTED, 2000).

No entanto, somente em 1962, a educação superior é percebida, pela primeira vez, como sendo necessária a integrar um Plano de Desenvolvimento Global, quando foi institucionalizado o sistema de planejamento no Brasil. Naquela década foram editados vários decretos pelo governo militar no sentido de orientar reformas nas universidades federais, tendo em vista uma estrutura que preservasse a unidade do ensino e da pesquisa e assegurasse a plena utilização dos recursos materiais e humanos. Esses decretos definiam as novas estruturas para as universidades brasileiras sendo consolidadas com a Lei no 5.540/68, que reafirmou

as bases para organização do ensino superior brasileiro (PEIXOTO, 1997).

Portanto, na década de 60 foi criada a maioria das universidades federais, uma, pelo menos, em cada estado brasileiro configurando-se a idéia de descentralização do ensino superior com base na LDB de 1961. Nesse contexto, foi criada a universidade de Brasília a 28ª universidade brasileira, sendo a primeira estruturada com base em um projeto próprio, no qual se configurava um novo arranjo organizacional, com uma estrutura flexível, com base em Institutos, Faculdades e Unidades Complementares e os Departamentos Acadêmicos constituindo-se na unidade didática básica; e na idéia de Campus.

Com a Reforma Universitária de 1968, houve uma expansão das universidades federais em função da conjuntura do País, em busca da modernização e diminuição das disparidades regionais. As mudanças promovidas pela Lei 5.540/68 tinham a intenção de aumentar a racionalidade administrativa e promover a descentralização. Para autores como Dacanal (2001) essa reforma só aumentou a burocratização e diminuiu o poder de inovação e criatividade de seus membros, portanto, restringindo-se a dimensão política de um projeto nacional desenvolvimentista.

A partir das determinações contidas na lei 5.540/68, as universidades se estruturaram com base no modelo norte americano com o objetivo de flexibilizar o sistema. Nesse sentido, foram implantados os sistemas de créditos (matrículas por disciplinas); a estrutura do ensino de pós-graduação em dois níveis (mestrado e doutorado); a estrutura do ensino de graduação, também em dois estágios (o ensino básico e o ensino profissional); a implantação do sistema de avaliações em

substituição ao sistema de notas por menções; a instituição dos Departamentos em substituição a cátedra; a implementação dos cursos de curta duração (licenciaturas curtas); a adoção de múltiplas formas jurídicas (fundações e autarquias); a introdução do regime docente de tempo integral (TI) 40 horas e Dedicação Exclusiva (DE); a introdução do vestibular classificatório e unificado; a garantia da participação dos alunos em grêmios estudantis e a constituição de Diretórios Acadêmicos (FRETAG, 1986; ROMANELLI, 1991).

Ressalta-se, que foi no Governo Militar que as universidades federais mais se desenvolveram, com a criação dos seus campi universitários; a adoção do regime de tempo integral e a institucionalização da pós-graduação para os docentes; as fontes de financiamento para a pesquisa científica e tecnológica com recursos das agências de fomento como CAPES, CNPq e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), através de planos de desenvolvimento em C&T (CUNHA, 1999b).

Em termos gerais, as mudanças estruturais nas universidades brasileiras, consolidadas pela Reforma, foram impulsionadas pelo modelo de crescimento da economia brasileira, via processo de industrialização e internacionalização iniciado na década de 50.