• Nenhum resultado encontrado

4.1 A Defensoria Pública

4.1.3 A Defensoria Pública em Recife

Para o atendimento da cidade do Recife existem três subdefensorias, definidas a partir da natureza jurídica dos problemas de que tratam: a subdefensoria cível, a subdefensoria criminal e a subdefensoria das causas coletivas10 da capital. Em virtude de apresentar uma gama maior de problemas a ser atendida, a subdefensoria cível é a que possui maior demanda e sete núcleos, enquanto que a criminal apresenta dois e a das causas coletivas somente um. Além disso, a subdefensoria cível oferece a possibilidade de dar o primeiro atendimento e encaminhar para outra subdefensoria os casos que não são de sua competência. Por esse motivo, o presente estudo analisará o modo como esta subdefensoria distribuiu cinco dos seus núcleos e como se dá a relação entre esses núcleos e a distribuição espacial da população mais pobre. Escolhemos apenas estes núcleos, uma vez que acreditamos que eles possuem um propósito de aproximação com a população mais pobre, estando distribuídos pelo território municipal e se propondo a atender territórios específicos. Estes núcleos também constituem o primeiro contato das pessoas com a Defensoria Pública, ou seja, representam uma maneira de que essas pessoas conheçam a instituição. Os dois outros núcleos são mais centralizados, possuem atendimentos mais específicos e pretendem atender todo o município.

A fim de fazer algumas considerações iniciais, elaboramos o Mapa 03. A imagem retrata a distribuição espacial dos núcleos da subdefensoria cível. A localização desses núcleos, conforme a configuração apresentada, parece visar a um maior alcance territorial de suas ações. A análise do mapa nos permite tecer algumas considerações. É possível perceber que há algumas áreas em branco. Essas áreas correspondem a bairros que não foram mencionados nas informações disponibilizadas ao público pela Defensoria como pertencendo a nenhuma das cinco áreas. É claro que as pessoas residentes nesses bairros não deixarão de ser atendidas caso procurem atendimento, contudo fica claro um descompasso na visão territorial dos gestores da Defensoria entre a cidade e a sua real divisão político- administrativa.

Mapa 03: Recife – divisão por territórios de cada núcleo de atendimento da Defensoria Pública, 2009. Fonte: Defensoria Pública do Estado de Pernambuco. Disponível em <http://www.defensoria.pe.gov.br>, acesso em: 30 de março de 2008. Elaboração: Willian Alcântara.

Outra consideração que podemos fazer é se tal distribuição realmente atende aos objetivos de aproximação dos serviços em causa às pessoas que da Defensoria mais necessitam. A observação da figura nos permite perceber que há certo grau de centralização dos núcleos de atendimento; esses se apresentam pouco dispersos no território da cidade. Além disso, há bairros que se encontram fisicamente mais próximos de determinado núcleo do que daquele a que está teoricamente vinculado, como, por exemplo, os bairros da porção norte do território do núcleo da Boa Vista que estão mais próximos ao núcleo de Casa Amarela ou, ainda, a Ilha de Joana Bezerra que está mais próxima do núcleo do Pina que do da Boa Vista. Sendo assim, é preciso avaliar se essa distribuição realmente atende às necessidades da população recifense. Tal avaliação pode começar pelo estudo da distribuição espacial dos mais pobres pelo território da cidade, bem como pela abrangência da infra- estrutura de transportes públicos.

A partir de entrevistas realizadas com alguns responsáveis pela Defensoria Pública, pudemos constatar que a estratégia de territorialização dos núcleos de atendimento das subdefensorias é oriunda da época da Assistência Judiciária e nenhuma dessas pessoas soube justificar a presença dessa estratégia ou apontou algum documento que pudesse fazê-lo. O fato é que no documento mais recente - o decreto nº 32.475 de 14 de outubro de 2008 que regulamenta a Defensoria Pública do Estado - há a relação de todos os órgãos que fazem parte da DP, sem que haja, entretanto, a delimitação do território abrangido por cada um e o mais importante: a justificativa para isso. A relação de municípios pertencentes a cada subdefensoria e, no caso da Subdefensoria Cível da Capital, a relação de bairros de cada núcleo, está registrada de maneira informal (folders e documentos não oficiais) sem que, como já dito, se saiba qual a justificativa dessa distribuição territorial.

Acrescenta-se que essa distribuição, apesar de se aproximar da territorialização em Regiões Político-administrativas (RPA’s) atualmente utilizada pela própria Prefeitura do Recife para realização de suas políticas sociais, não coincide com essa. A principal diferença reside no fato de que a Defensoria Pública divide o Recife em 05 territórios, enquanto que a Prefeitura o faz em 06. Contudo, a Área 2 da Defensoria corresponde, aproximadamente, às RPA’s 1 e 2 da Prefeitura. Não podemos afirmar que uma ou outra territorialização seja a mais correta, mas apenas tecer algumas considerações. A primeira é que a divisão estabelecida pela PR é mais recente e está definida em lei, enquanto que a definição da Defensoria não possui uma origem clara. Outra consideração é que as diferentes territorializações indicam a falta de articulação entre instâncias estatais que, apesar de distintas, realizam suas ações num mesmo espaço. Para melhor perceber as diferenças entre os

territórios da DP e da PR, elaboramos o Mapa 04. Nele, fizemos alguns ajustes, seguindo o critério de proximidade em relação aos bairros, de forma que todos fossem incluídos em alguma área de atuação de algum dos núcleos da Defensoria. Estão representadas as áreas dos núcleos da DP (preenchimento colorido) e as áreas das RPA’s (hachuras). Tal fato constitui um indício de que o componente territorial é pouco utilizado nas políticas da Defensoria Pública e, se em algum momento foi importante para a territorialização das ações da Assistência Judiciária, atualmente parece estar esquecido.

Mapa 04: Recife – territórios dos núcleos da Defensoria Pública e Regiões Político-Administrativas (RPA’s), 2009. Fonte: Defensoria Pública e Prefeitura da Cidade do Recife. Elaboração: Willian Alcântara.