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1.4 O desenho metodológico da pesquisa

1.4.1 A delimitação do campo

Baseada numa perspectiva etnográfica, para a identificação e delineamento tanto do campo como do objeto e do tema de estudo. Em vários momentos, auxiliada pela pesquisa-ação, a pesquisa envolveu o estudo de grupos comunitários de idosos advindos das classes populares, de bairros periféricos de Belo horizonte. Portanto, estamos falando de uma pesquisa no campo de estudos de antropologia urbana e da psicologia social comunitária. Utilizamos como base para levantar os primeiros dados

sobre os grupos as informações contidas nos relatórios do estágio supervisionado “o

psicólogo na comunidade” do curso de psicologia, uma atividade investigativa de levantamento de características e demandas dos grupos de convivência de idosos de Belo Horizonte. O levantamento fora realizado pela Pró reitoria de extensão e pelo estágio o psicólogo na comunidade, através do programa PUC MAIS IDADE, com o fim de criar atividades na universidade com o apoio dos conselhos Estadual e Municipal de idosos e com a coordenadoria municipal de direitos da pessoa idosa. Nesse levantamento, participaram 142 coordenadoras de grupos de convivência, e os seus respectivos grupos.

Na época o número de grupos de convivência cadastrados no conselho municipal de idosos somava um total de 102 (cento e dois) grupos, portanto, 40 deles não estavam cadastrados. Desse total de 142 grupos de convivência de idosos pesquisados, a totalidade deles já havia participado de atividades do programa PUC MAIS IDADE na universidade e 45 deles já haviam participado do estágio supervisionado “o psicólogo na comunidade”. Isso significa que num primeiro momento optamos por levar em consideração esse estudo, apenas como base para

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delinearmos os grupos que iriam participar. Esses 45 grupos estavam distribuídos nas Regionais segundo mostra o mapa a seguir.

Figura 2 - Mapa de localização dos grupos de convivência Pesquisados

Fonte: O desenho de base do mapa foi retirado do site da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e demarcação da localização dos grupos foi feita pela pesquisadora.

O levantamento de dados sobre os grupos que envolveu os 142 grupos, realizado em parceria com a Prefeitura Municipal e os conselhos abordava os aspectos mais quantitativos do grupo, embora contivesse questões abertas que sinalizaram aspectos qualitativos e que foram explorados posteriormente. Isso possibilitou que o mapeamento das principais características e demandas de atenção advindas dos grupos de convivência fosse utilizado como base para iniciar a nossa pesquisa como já explicitado; pois logo depois de analisar esses dados, delimitamos os grupos que seriam pesquisados no projeto Vozes na coxia.

O Primeiro critério para a delimitação dos grupos e dos respetivos coordenadores que participaram das duas fases da pesquisa desenvolvida no

LEGENDA

Localização geográfica aproximada dos 10 g Localização geográfica aproximada dos 45 grupos que participaram simultaneamente do programa de estágio e dos fóruns municipais e conselhos de idosos e cujas coordenadoras foram abordadas anteriormente para o mapeamento dos grupos de convivência

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mestrado foi a condição sócio histórica e de participação dos grupos considerando sua origem, seus desejos de mudança e de participação na pesquisa, suas dificuldades financeiras e sociais para promover essas mudanças. Portanto, separamos grupos que advinham de comunidades e bairros populares da periferia de Belo Horizonte, e que contivessem pelo menos 50% dos idosos participantes com renda pessoal entre zero até dois salários mínimos. A renda familiar não foi utilizada como critério direto, embora fosse também observada porque no caso da pessoa idosa advinda de classes populares, era interesse também saber em que medida a renda do idoso interferia na composição da renda familiar e além disso, a renda pessoal dos participantes era um dado cuja maioria dos grupos já possuía acesso.

O segundo critério foi de que esses grupos deveriam ter sido formados na própria comunidade, a partir de uma lógica comunitária, ou do desejo de um dos seus participantes, e não a partir de uma demanda governamental ou para atender diretamente a programas governamentais de saúde assistência etc. Embora, vários desses grupos comunitários, especialmente dos 142 grupos abordados inicialmente,

tenham sido posteriormente ajuntados aos grupos do CRAS9, para compô-los

numericamente e alguns deles, que não possuíam registros, até renomeados como grupos governamentais, segundo informaram as coordenadoras, com alegação dos técnicos que dirigiam os programas governamentais de que só assim poderiam levar mais benefícios, para sua comunidade, como foi registrado na pesquisa em alguns dos seus cochichos. Portanto foram eliminados para os estudos os grupos que faziam parte de programas criados já a partir de um projeto ou lógica governamental, exatamente por que a intenção era focar na pesquisa as características desses grupos comunitários, com os quais trabalhávamos, nascidos mais por uma dinâmica da comunidade, e de entidades ligadas à sociedade civil. Vários desses grupos haviam sido acompanhados pelo programa de estágio da PUC Minas desde os processos iniciais de sua formação até seu estabelecimento como grupo e como pessoa jurídica.

O terceiro critério levou em conta a condição de participação simultânea desses grupos nos setores públicos, especialmente nos espaços dos conselhos de

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direitos da pessoa idosa e dos fóruns regionais da prefeitura, e no estágio” o psicólogo na comunidade”. Isso porque o vínculo com a universidade os inseria num programa de extensão que propiciava atividades de reflexão e de construção de espaços para que pudessem falar livremente de suas questões sem a tutela dos espaços governamentais. Esse critério auxiliou-nos também na redução do custo da pesquisa e na aquisição de equipamentos e recursos de mão de obra para a gravação das entrevistas em vídeo por exemplo. Além disso propiciou-nos acompanhar passo a passo o processo de mudança desses grupos na sua forma de engajamento social, comunitário e político, ao longo do processo de pesquisa.

O quarto critério considerou o envolvimento do grupo nas ações destinadas a processos comunitários de desenvolvimento local e de auto sustentação, exatamente porque queríamos avaliar a dimensão participativa das coordenadoras e o que falavam desta participação. A decisão foi de entrevistar aquelas coordenadoras que estavam presentes em diversas atividades participativas tanto na comunidade como no setor público e na universidade.

O quinto critério levou em conta a condição de recursos humanos que possuía o próprio grupo, pois a ideia era favorecer os grupos mais carentes de recursos humanos sociais e financeiros e propiciar pela pesquisa o desenvolvimento de possibilidades de crescimento, organização e fortalecimento desses grupos. Estes critérios foram estabelecidos na pesquisa porque ela faz ponte entre o ensino pesquisa e extensão e a proposta do estágio que originou esta aproximação com as coordenadoras sempre foi de trabalhar com grupos comunitários que já haviam espontaneamente demandado acompanhamento psicológico da universidade e que simultaneamente tivessem uma participação, ainda que pequena, nos fóruns regionais e conselhos de direitos, porque desta forma, teríamos mais acesso aos grupos. Além disso, o vínculo construído com a comunidade, nos permitiria a aproximação necessária para a pesquisa, na metodologia proposta. Afinal a premissa básica era de que a pesquisa fosse realizada a fim de trazer benefícios não só para a academia, mas para os grupos e para a comunidade. Além disso esperava-se que o processo de pesquisar por si só já pudesse de antemão promover a reflexão e o fortalecimento do grupo e da comunidade e por último ainda, que iluminasse-nos na busca de soluções

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para os problemas e demandas advindas da comunidade e consequentemente, contribuísse com a necessidade de produção acadêmica nessa área.

É importante lembrar que na própria atividade de estágio, já estava mais que explícita a queixa de alguns grupos em relação aos processos de inclusão/exclusão na participação política, e de igual forma estavam explícitas suas demandas de ampliar o seu espaço de participação nas instâncias de decisão sobre as políticas de atenção ao idoso. Por isso, foram realizadas entrevistas de aprofundamento sobre os grupos de convivência e foram registradas as narrativas das trajetórias de vida e da participação política das coordenadoras nos grupos de convivência de idosos. Por meio desses critérios, elegemos então os grupos que participavam simultaneamente dos fóruns regionais e dos conselhos de direito de pessoas idosas e do estágio o psicólogo na comunidade na atividade de acompanhamento terapêutico e ou escuta aos grupos de idosos. Pois além de já terem um vínculo bom com a universidade, teriam disponibilidade para participar do projeto. Os grupos com essas características somaram um total de 45(quarenta e cinco grupos).

Embora todas as coordenadoras tenham trazido seus cochichos, desse total, utilizamos para a construção da pesquisa apenas os cochichos das 10 coordenadoras de grupos de convivência, que foram entrevistadas em 2003 e em 2006 e que participaram também da oficina de desenvolvimento humano político e social das coordenadoras no ano de 2012. Conseguimos ao final, a participação de coordenadoras representando um grupo de cada regional de Belo Horizonte, o que era desejado na pesquisa. O fato de coletar por precaução os cochichos de 45 coordenadoras, na etapa inicial foi por prever algum tipo de dificuldade que pudesse interferir na pesquisa, já que algumas delas possuíam uma condição de fragilidade na saúde, e também para assegurar dados para outros estudos longitudinais para o qual os dados coletados poderiam servir posteriormente. Este fato nos auxiliou muito quando após dez anos duas delas haviam morrido duas haviam se mudado para outra cidade e outras três deixaram de ocupar essa função. Uma por questões de saúde e duas por questões familiares.

Cada etapa do trabalho correspondeu a uma etapa simultânea de participação política das coordenadoras nas diversas instâncias de participação política. Em cada etapa participaram, de forma indireta, estagiários dos cursos de psicologia e de

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comunicação. O quadro abaixo retrata as etapas desse percurso anterior até a pesquisa atual e resume todas as atividades que envolveram a coleta de dados para a pesquisa desde os momentos que precederam à primeira incursão no mestrado e cujos dados serviram de base para o nosso estudo, até o momento final da pesquisa na segunda incursão da pesquisadora no programa de mestrado, para que seja possível ao leitor identificar todo o processo de coleta de dados que será exposto detalhadamente a seguir.

Quadro 1 - Etapas e formas de realização da coleta de dados desde as atividades que precederam e deram suporte à pesquisa de mestrado até o final

da pesquisa

Período

(anos) Atividade Realização Número participantes de Programas

1995-

2014 Escuta psicológica nos grupos de

convivência por meio de oficinas em dinâmica de grupo e da escuta terapêutica Pesquisadora e estagiários vinculados ao estágio o psicólogo na comunidade De 12 a 60 pessoas entre coordenadoras e membros por grupo

Estágio

Supervisionado VI – “O psicólogo na comunidade”

1999-

2000 Encontros mensais com as coordenadoras

Pesquisadora

e dois

extensionistas

Um total de 45

coordenadoras Pró Extensão da PUC reitoria de

Minas/Estágio o psicólogo na comunidade 2000/2002 Levantamento de dados sobre os grupos de convivência por meio de questionário Pesquisadora, colaboraram nesta atividade seis extensionistas e um professor 142 Grupos e coordenadoras /coordenadores de grupos responderam ao questionário

Programa PUC MAIS

IDADE na Pro reitoria de extensão da PUC MINAS, e conselhos municipal e Estadual do Idoso 2002/2003 Levantamento de

dados por meio de

oficinas em

dinâmica de grupo e trajetória de vida

Estagiários e

pesquisadora 45 coordenadoras PUC MAIS IDADE/ Estágio Supervisionado VI

2003/2006 Levantamento de

dados por meio de

entrevistas de aprofundamento e construção da trajetória de vida e entrevistas Pesquisadora e dois estagiários voluntários 45 coordenadoras

sendo que cada uma coordena um grupo de cada regional. Da prefeitura de Belo Horizonte Pesquisa do programa de Mestrado na primeira incursão da pesquisadora no programa de gerontologia da PUCSP

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Período (anos) Atividade Realização Número de

participantes Programas 2006 Entrevistas registradas por filmagem em variadas atividades dos grupos Pesquisadora e dois estagiários de comunicação. extensionistas 10 coordenadoras de grupos de convivência De idosos Pesquisadora, PROEX PUC Minas e Programa PUC MAIS IDADE

2006/2012 Acompanhamento

das atividades das coordenadoras de

idosos nos

grupos, nos fóruns e nos conselhos de idosos Pesquisadora e dois estagiários do curso de comunicação 10 Coordenadoras de grupos de convivência de idosos Pesquisadora e estágio supervisionado o psicólogo na comunidade

2012 Captura das falas

das pesquisadas numa ação de participação política Pesquisadora, dois estagiários de psicologia e de comunicação e um psicólogo 10 coordenadoras pesquisadas e consideradas para a pesquisa com a participação de mais 70 coordenadoras PUCSP Mestrado em Gerontologia em parceria com o Spázio Vitalitá e a Rede de Amigos Idosos e Solidários

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