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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP GEISA MARIA EMILIA LIMA MOREIRA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

GEISA MARIA EMILIA LIMA MOREIRA

VOZES NA COXIA:

COCHICHO, ESCUTA E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DE MULHERES IDOSAS COORDENADORAS DE GRUPOS DE CONVIVÊNCIA

MESTRADO EM GERONTOLOGIA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUCSP

GEISA MARIA EMILIA LIMA MOREIRA

VOZES NA COXIA:

COCHICHO, ESCUTA E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DE MULHERES IDOSAS COORDENADORAS DE GRUPOS DE CONVIVÊNCIA

MESTRADO EM GERONTOLOGIA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para a obtenção do Título de Mestre em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Prof.ª Dra. Elisabeth Frohlich Mercadante.

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

GEISA MARIA EMILIA LIMA MOREIRA

Folha de aprovação

VOZES NA COXIA:

COCHICHO, ESCUTA E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DE MULHERES IDOSAS COORDENADORAS DE GRUPOS DE CONVIVÊNCIA

Aprovada em __/___/___

Banca Examinadora

Profª Dra. Elisabeth Frohlich Mercadante (Orientadora) Instituição PUCSP

Assinatura______________________________________

Profª Dra. Instituição

Assinatura_______________________________________

Profª Instituição

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DEDICATÓRIA

Ao “Deus” desconhecido pela ciência; que por meio do mistério da criação/evolução do homem e ao longo do seu percurso na relação corpo-tempo-espaço, revela valiosas lições sobre si mesmo, sobre a humanidade e sobre seus afetos nas relações materiais e imateriais. Lições estas que a ciência ainda não soube revelar.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, e a sua potência de criação, transformação e expansão da realidade, e ao ato de crer capaz de produzir no homem a potência de agir, e transformar o que antes lhe parecia impossível.

A todas as mulheres coordenadoras e líderes dos grupos de convivência de idosos de Belo Horizonte, que acreditaram neste trabalho, por partilharem seu espaço seus cochichos, suas interpretações e experiências cotidianas de participação na vida.

A todos os alunos e monitores do Estágio supervisionado VI do curso de psicologia da PUC Minas, que com sua sede de aprender contribuíram de forma direta ou indireta com este trabalho de pesquisa.

À colega psicóloga e amiga Maria Letícia Fonseca Barreto “in memoriam”

que me apresentou primeiro um “feliz mundo velho” compartilhou sua paixão pelos velhos, e na sua “sala de espera”, nomeou-me carinhosamente sua herdeira na gerontologia.

A Profª Dra. Elisabeth Frohlich Mercadante, por seu modo de ser-sentir-agir humano e pelo conhecimento e generosidade no processo de orientação que ultrapassou o tempo e espaço formal de trabalho e transbordou no tempo-espaço-vida propiciando a verdadeira “paixão de aprender” e os afetos de alegria na construção deste trabalho.

À profª Dra. Guitta Grin Debert, pela inspiração propiciada a este trabalho por meio das suas construções e reflexões sobre velhice, sobre o envelhecer e sobre a antropologia Urbana.

Á profª Dra. Silvana Tótora, por me contagiar ao ensinar e aprender sobre a vida e a velhice, com sua dança desprendida na filosofia, na ciência política e na estética de existir.

À profª Dra. Maria Helena Vilas Boas Concone, pelas contribuições e pela paciência com o meu lento processo de produção, e por seu auxílio e sugestões.

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À CAPES por propiciar parte dos recursos necessários à pesquisa através da bolsa; e a comissão de bolsas do mestrado em gerontologia por avaliar e acolher este projeto.

À PUC Minas pelo apoio, por propiciar que todo o trabalho da pesquisa acontecesse, e especialmente na primeira fase da pesquisa;

À profª Dra. Ilka Ferrari e ao colegiado do curso de mestrado em psicologia pela consideração ao projeto pesquisa, e pelo apoio, no momento em que necessitei.

Aos meus avós pelo convívio pleno de riquezas, e que por partirem cedo, instigaram-me a buscar nas diversas imagens da velhice e de outros velhos, o prazer de recuperar um pouco de sua presença.

Aos meus pais que me ensinaram desde a minha infância, a escutar os velhos e a desejar a velhice como um bem precioso a ser conquistado cotidianamente.

Ao meu esposo Alberto Moreira, por seu apoio carinho e incentivo ao longo da pesquisa; pela parceria, e por nutrir a minha esperança em contribuir para construir de fato um mundo melhor para os nossos velhos.

Aos meus filhos e Genro amados, Thiago Vinícius, Esther Kevle e Michael Albino pelo convívio, pelas trocas afetivas, e por me auxiliarem nas tarefas técnicas e árduas de transcrição, edição e formatação do texto e dos vídeos utilizados na pesquisa.

À minha sobrinha do coração Shirley Lúcia Longaray pelo acolhimento, auxílio e cuidado e contribuições na revisão do texto.

Às profªs Dras. Silvia Regina Eulálio, Suzana Braga, e Wagner Bernardes, por terem me iniciado no trabalho com os grupos de idosos, e no acompanhamento terapêutico, e pelo companheirismo nos 15 anos de trabalho como professora do estágio que serviu de base para esta pesquisa.

Ao meu caro amigo, companheiro de trabalho na psicologia, e pesquisador na temática do envelhecimento, Wagner Jorge dos Santos, por seu incentivo e contribuição.

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consolidação do programa “PUC MAIS IDADE” e favoreceram desta forma a pesquisa.

À Dona Ivone Cabral “in memoriam”, ao seu filho do coração, Sérgio, e ao Centro Educativo Cândida Cabral, pelo incentivo, pelas contribuições a esta pesquisa;

Ao meu filho-sobrinho do coração Rafael e a minha irmã do coração Elza que no cotidiano, prestaram-me o cuidado e o companheirismo necessário nas tarefas que subsidiaram as exigências desta pesquisa.

Ao Conselho Estadual do Idoso de Minas Gerais e ao conselho Municipal do Idoso de Belo Horizonte, pela experiência e oportunidade de trabalho que contribuiu no processo de observação da participação dos Sujeitos da pesquisa.

Ao meu anjo “Miguel Noah” que com sua chegada fechou com chave de

ouro este trabalho e me iniciou numa nova e importante etapa no meu processo de aprendizagem da vida “a avosidade”.

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“Porque embora o homem seja o ator e o autor de sua própria história, consegue dizer de si, no máximo, o que faz. Jamais poderá dizer quem é. Isto porque apenas após a sua morte, o quem se revela com toda a sua magnitude.”

Hanna Arendt1

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UMA ADVERTÊNCIA AO LEITOR

Figuras emblemáticas de “velhos” estiveram sempre presentes em minha vida, e ocupam hoje, grande espaço na minha história. Talvez por isso, seja tão difícil precisar o momento em que o envelhecimento passou a ser o tema de maior relevância e investimento na minha vida profissional.

Portanto neste volume o leitor não irá encontrar um trabalho científico isento ou neutro, como pressupõe os modelos tradicionais da ciência. Ao contrário, a proposta é deixar explícito o contexto sociocultural e afetivo do pesquisador com a exposição detalhada de sua trajetória de vida e da trajetória do projeto, embora isso seja pouco usual no texto acadêmico. A intenção é mostrar que os seus próprios afetos se farão presentes, e poderão contribuir para explicitar o contexto de formação do seu pensamento. Desta forma, o ponto de onde vê poderá ser visto e melhor interpretado pelo leitor. Além disso, permitirá ao pesquisador observar os elementos de sua experiência pessoal que contribuíram para potencializar ou limitar sua escuta, tanto na captura dos sentidos atribuídos pelos sujeitos à sua experiência, quanto na captura das demandas e ações efetivas desses sujeitos, no movimento de transformação da realidade. Pois como afirma Geertz (1989, p.26) “[...] a interpretação antropológica ao estar construindo uma leitura do que acontece não pode estar divorciada do que nessa ocasião ou naquele lugar pessoas específicas dizem ou fazem, ou ainda, do que é feito a elas a partir de todo o vasto negócio do mundo” sob pena de torná-la vazia. Para Vygotsky (1987, p.46) tão pouco pode-se divorciar no sujeito, o pensamento, a emoção, a consciência e a linguagem manifestas por meio das atividades complexas que realiza.

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E isto exige a desfamiliarização daquilo que antes parecia familiar. Portanto, a condição “Sine-qua-non” para que o psicólogo pesquisador realize com rigor, a descrição densa de fatos, modos de viver e processos de subjetivação dos sujeitos, por meio das atividades que realiza na sua complexidade, é a aproximação de si mesmo e dos próprios afetos, no processo histórico em que se construíram, antes de sua aproximação com os sujeitos, para que possa conhecer e distinguir o que é seu e do outro. E embora a descrição da trajetória vida e do projeto de pesquisa, juntos possam subsidiar o leitor para compreender a organização do pensamento da autora no trabalho; cada qual em separado, apenas sinalizará: ora o olhar poético e contaminado de um ser humano debruçado sobre os seus próprios afetos, ora a reflexão racional da pesquisadora. Dialogar ao invés de negar qualquer desses olhares foi o exercício proposto. Por isso a experiência foi se construindo como uma pintura em aquarela, que empreendeu seu curso próprio, desafiando, por vezes, a proposta do artista, como uma obra aberta e rizomática. Portanto não apenas científica, e muito menos neutra. No máximo, um trabalho que buscou, inspirado em Vygotsky (1987) e Rey (2011) identificar os modos de produção de subjetividades de mulheres idosas no movimento de agir, produzir sentidos2 e transformar sua realidade, nos afetos da convivência e da participação política; e inspirado em Geertz3 (1989 p.13), realizar sobre esses sujeitos e acontecimentos, o esforço de uma descrição densa4.

2O sentido para Vygotsky “é a soma de todos os eventos psicológicos que a palavra desperta em nossa consciência. É um todo complexo fluido e dinâmico que pode variar e modificar-se de acordo coma as situações e o ambiente que o utiliza, sendo quase ilimitado. Mantêm o fluxo vivo da palavra na ação humana de tal maneira, que até adquire certa independência da palavra inclusive podendo modifica-las.” (Vygotsky,1987. P181-182)

Rey(2011) amplia a reflexão de Vygotsky e apresenta a categoria sentido subjetivo. Que é uma unidade indissociável do simbólico e do emocional na qual a emergência de um provoca necessariamente a aparição do outro sem que seja sua causa, uma vez que: “a experiência humana desenvolve-se dentro de sistemas de atividades e comunicação simultâneos, e se expressa nas pessoas que compartilham essas atividades através de efeitos colaterais que ocorrem como produções da pessoa através das configurações subjetivas que emergem no processo de viver essas experiências” (Rey,2011p33)

3 As ideias de Vygotsky (1987) e Rey (2011) articulam-se com as ideias de Cliffort Geertz(1989) uma vez que para Rey toda produção cultural aparece organizada em nível subjetivo como configuração subjetiva, que diferentemente das categorias mais tradicionais usadas pela psicologia não aparecem como causa do comportamento mas como uma fonte dos sentidos subjetivos que emergem no seu curso. Essa produção subjetiva é parte de toda ação envolvida presente na vida do sujeito sendo sensível a múltiplos desdobramentos no curso dessas ações. A unidade que conserva os sentidos subjetivos dominantes que assimilam essa diversidade são as configurações subjetivas. Portanto as dimensões simbólicas e culturais se entranham na constituição do pensamento e da afetividade.

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Resumo

MOREIRA, Geisa Maria Emília Lima. Vozes na coxia: cochicho, escuta e participação política de mulheres idosas coordenadoras de grupos de convivência (255p) dissertação de mestrado. Sob orientação Professora Dra. Elisabeth Frohlich Mercadante. Programa de Pós graduação em gerontologia. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2014. O presente trabalho é um estudo sobre a escuta das falas de mulheres idosas coordenadoras de grupos de convivência de idosos, com o objetivo de capturar o que pensam sobre os grupos e sobre sua trajetória de participação política e conhecer suas principais demandas e ações na luta para garantir os seus direitos e consolidar a política pública de atenção à pessoa idosa. Com base qualitativa, o estudo fez uso do método etnográfico de pesquisa e da descrição densa proposta na antropologia Hermenêutica de Geertz (1989), e também da pesquisa-ação proposta por Thiolent (2011). De forma interdisciplinar, o trabalho dialoga com a psicologia, na perspectiva sócio histórica, a antropologia, a gerontologia e a filosofia para transcrever a fala dos sujeitos. Foram escutadas 10 coordenadoras de grupos, na cidade de Belo Horizonte, em dois momentos diferentes. No primeiro momento, por meio de entrevistas, observações e registros das atividades em campo. No segundo, por meio de observação e apropriação de suas falas ao participarem de uma ação política organizada para levar suas demandas diretamente aos parlamentares. As coordenadoras apontam os grupos como sua casa, espaço de amizade, solidariedade e cidadania, e como uma escola Entre as principais reinvindicações apontam a educação, o suporte para os grupos, renda e seguridade social e mudanças culturais com políticas de inclusão, e capacitação para coordenadores. Acerca de sua participação política, as coordenadoras não se sentem escutadas nas suas demandas e contribuições, e afirmam que apesar de intensa, sua participação ainda não é efetivada e considerada devidamente nas instâncias governamentais e de monitoramento das políticas públicas.

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ABSTRACT

MOREIRA, Geisa Maria Emília Lima. Voices in the Backstage whisper, listening and political participation from elderly women’s coordinators of seniors

acquaintance groups (178p) Master’s dissertation in Gerontology under the

supervision of professor PHD Elizabeth Frohlich Mercadante. Post Graduation Program in Gerontology. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 2014. The present work is a study about the speech listening, of elderly women coordinators of elderly acquaintance groups, with the objective of capturing what they think about the groups, about their trajectory of political participation as well as, the main demands and actions taken by them in the struggle to secure their

rights and carry out the elderly’s policy care. With a qualitative basis, this study is suported by methodology of ethnographic research and anthropology Geertz Hermeneutics, and by methodology of action research THIOLENT. This interdisciplinary research establishes dialogues between the historical social psychology, anthropology, gerontology and philosophy to transcribe the speech of the subject. The research involved the hearing of 10 coordinators at two different moments. In the first moment, through interviews and direct observation, and in the second, with observation and appropriation of speeches in a political action organized by the coordinators to take their demands to parliamentarians. They point out the groups such: as home, a place of friendship, and space of solidarity, care and citizenship, and School of Life. The main liability claims:

demands for education; proper support for the groups; social security income; cultural changes with structural politics of inclusion and training program, both for coordinators and technicians. Among the main observations on political participation, the coordinators do not feel they are listened in their demands, and conclude that the elderly women’s participation, although intense, is still not

effectively or appropriately considered by governmental sectors, and monitoring of public politics.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Painel ilustrativo O contexto da formação das ideias para a pesquisa ... 16

Figura 2 - Mapa de localização dos grupos de convivência pesquisados .... 39

Figura 3 - Painel ilustrativo Imagens de contextos da pesquisadora ... 58

Figura 4 - Painel ilustrativo Imagens do contexto das Mulheres

coordenadoras ... 89

Figura 5 - Painel ilustrativo Imagens do contexto dos cochichos ...115

Figura 6 - Painel ilustrativo Contextos de participação política das coordenadoras...194

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Etapas e formas de realização da coleta de dados desde as atividades que precederam e deram suporte à pesquisa de mestrado até o final da pesquisa ... 43

Quadro 2 - Distribuição dos locais de entrevistas filmadas com as coordenadoras de grupos ... 48

Quadro 3 - Atividades da Oficina de desenvolvimento humano político e social para coordenadores de grupos de convivência de idosos. ... 52

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SUMÁRIO

1 DA ESCUTA COMO PROJETO AO PROJETO DE ESCUTA DE

MULHERES IDOSAS COORDENADORAS DE GRUPOS DE CONVIVÊNCIA . 16

1.1 Introdução ... 17

1.2 Apresentação da pesquisa ... 25

1.3 Sustentação teórica... 27

1.3.1 Revisão teórica sobre o envelhecimento e a velhice. ... 31

1.4 O desenho metodológico da pesquisa ... 36

1.4.1 A delimitação do campo ... 38

1.4.2 A coleta de dados ... 44

1.4.3 A tradução/interpretação dos dados ... 56

1.4.4 A devolução dos resultados ... 57

2 VOZES DO ENVELHECER E DA VELHICE ... 58

2.1 A trajetória da pesquisadora e o contexto de enunciação da pesquisa ... 59

2.2 Velas velando morte, velhos velando vida: ou o início de uma trajetória ... 62

2.3 Uma Trajetória com os velhos da minha terra ... 65

2.4 Do interior à capital: rumos da trajetória acadêmica e profissional ... 77

2.4.1 Uma travessia: da trajetória de vida para a trajetória do projeto de pesquisa “vozes na coxia” ... 83

2.5 Cochichos inacabados sobre a trajetória da pesquisa e do pesquisador .. 85

3 MULHERES QUE COCHICHAM E SUAS COXIAS ... 89

3.1 Mulheres que cochicham: um pouco da sua história ... 90

3.2 O lugar e o sentido dos grupos na fala das Coordenadoras ... 105

4 OS COCHICHOS ... 115

4.1 Do Silêncio à escuta dos cochichos: O grupo como espaço de mediação simbólica e afetiva ... 116

4.2 Cochichos sobre os grupos de convivência ... 129

4.2.1 O grupo como lugar de amizades e de vínculos afetivos ... 130

4.2.2 O grupo como espaço de afeto em extensão e ao mesmo tempo em oposição à família. ... 135

4.2.3 O grupo como espaço político e de cidadania e equipamento social destinado ao apoio à pessoa idosa a família e a comunidade ... 147

4.2.4 O grupo de convivência como espaço de aprendizagem: “a escola da vida” na trajetória de quem não teve “vida na escola” ... 158

4.3 Cochichos sobre políticas Públicas ... 177

5 DA COXIA PARA O PALCO ... 194

5.1 Cochichar, escutar e traduzir as cenas da vida no palco da política local 195 5.2 Do cochicho à voz – Nossa forma de participar ... 201

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 213

(16)

6.2 da vivência de vencidos à experiencia estética de longeviver e participar, reinventando a política. Um porvir possível?. ... 217

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ... 230

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16 1 DA ESCUTA COMO PROJETO AO PROJETO DE ESCUTA DE MULHERES

IDOSAS COORDENADORAS DE GRUPOS DE CONVIVÊNCIA

Figura 1 - Painel ilustrativo O contexto da formação das ideias para a pesquisa

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17

1.1 Introdução

“Escutar é uma disponibilidade para deixar-se acolher e afetar pela fala do outro. [...] A escuta é a escuta da fala como acolhimento, e esta escuta é ela mesma acolher o que a fala: nos oferece: entendemos quando fazemos parte do que é dito.” (Luiz Cláudio Figueiredo 1994. P 44, 120).

A pesquisa, aqui descrita teve seu foco principal de estudos no binômio

comunidade/velhos, e se inseriu na linha de pesquisa “Gerontologia: Processos

Políticos-Institucionais e Práticas Sociais, que investiga as políticas sociais, as organizações da sociedade civil, e as práticas sociais e institucionais orientadas para o segmento populacional de mais de 60 anos, assim como mapeia, identifica e analisa serviços e espaços utilizados pelos idosos”. Os cochichos das mulheres idosas que coordenam grupos de convivência e a sua trajetória de participação política foi o foco de atenção principal deste trabalho que teve como principal objetivo lançar luz sobre as formas e o modo de participação das pessoas idosas nos processos de construção das políticas de atenção ao idoso, e as significações que elas atribuem aos grupos e a esse processo segundo suas próprias falas, na tessitura das ações e na redes de significações afetivas e sócio culturais em que elas estão entranhadas.

A ideia da pesquisa foi se concebendo e se desenhando a partir do contato profissional e permanente que desenvolvo com os grupos de convivência de idosos através de um programa de estágio no curso de psicologia da Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais, denominado “o psicólogo na comunidade” no qual trabalho

desde o ano de 1995, e há mais de 14 anos na função de professora supervisora. As ações para a pesquisa foram se concretizando e tomando forma na escolha do caminho metodológico a ser seguido e dos procedimentos, técnicas e instrumentos

que seriam utilizados, com base no exercício cotidiano das práticas “extensionistas”

da Universidade, com as quais estive envolvida por mais de 10 anos, desde a

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18 A pesquisa foi se constituindo por etapas ao longo desse percurso, porque uma das atividades principais do projeto era o desenvolvimento e a potencialização dos grupos de convivência, e dos Conselhos, Municipal e Estadual de Direitos da Pessoa Idosa. Entretanto, de forma mais remota, a pedra fundamental para a construção do projeto, talvez tenha sido lançada, quando da criação de um programa de extensão

denominado “Centro de Educação Popular na Universidade”, no ano de 1996 a 1998

no qual participei, primeiro como monitora, e posteriormente como professora efetiva

nos cursos de “Formação básica para acompanhantes de idosos” e de “Capacitação

para coordenadores e líderes de grupos de convivência e movimentos de direitos da pessoa idosa”. Desde o ano de 1999, com a finalização dos cursos, diversas coordenadoras de grupos de convivência de idosos solicitavam um espaço na universidade, no qual pudessem discutir, trocar informações e trazer suas dúvidas sobre questões ligadas ao envelhecimento, às políticas públicas e ao gerenciamento dos grupos de convivência, para dialogar com os professores.

Deste modo, de 1999 a 2000 estabelecemos um encontro mensal onde as coordenadoras se reuniam com professores e alunos de diversos cursos, de acordo com o interesse e o tema em discussão. Naquele espaço, discutíamos temáticas que eram sempre demandadas por elas. Construímos um programa básico para orientar cada encontro e a metodologia utilizada era baseada nas oficinas em dinâmica de grupo como método de intervenção psicossocial, e nos círculos de cultura do Paulo Freire.

Durante todo o ano de 1999 e no ano 2000 tivemos 11 encontros a cada ano, totalizando 22 encontros com temáticas variadas que trouxeram enriquecimento do saber tanto para os coordenadores, quanto para os docentes e alunos que participaram do trabalho. Entretanto a necessidade de aprofundamento sobre as temáticas instigou a criação, do PROGRAMA PUC MAIS IDADE proposto e já iniciado

em 2000 e no ano de 2002, resultou no primeiro “curso de capacitação para

coordenadores de grupos de convivência de idosos” na Universidade, realizado em

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19 Posteriormente outros cursos foram criados para atender a demandas específicas de cada grupo de convivência, na sua singularidade. Esse contato foi se ampliando, de tal forma, que os grupos queriam, além de vir ao ambiente da universidade, levar as propostas de trabalho lá discutidas, bem como os profissionais, para a comunidade. E assim, o estágio e o programa de extensão funcionaram como instrumentos utilizados para que pudessem levar o trabalho da universidade para a comunidade e trazer da comunidade para a universidade, as contribuições do conhecimento popular e da cultura local.

Essa relação de reciprocidade entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento popular, por sua fertilidade, aprofundou as formas de concepção da velhice do envelhecimento, e produziu algumas leituras da realidade vivida pelos coordenadores de grupos de convivência instigando ainda mais as questões que tentamos responder através de um primeiro mapeamento da realidade dos grupos de convivência de idosos no ano de 2002. A tentativa era responder às seguintes questões: Quem eram esses grupos? Como eles surgiram? Como se mantinham? Como era sua organização? Quem eram as pessoas que os coordenavam? Como agiam esses grupos nas suas comunidades? quais as atividades que desenvolviam? e que tipo de apoio recebiam? Qual o seu reconhecimento pelo setor público? como se relacionavam com os conselhos de idosos e com a política de atenção ao idoso?

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20 que estive ligada ao programa de gerontologia, Já que estive matriculada nesta época, mas fiquei impossibilitada de concluir o curso.

No ano de 2003 foram realizadas oficinas em dinâmica de grupo e em 2006 entrevistas de aprofundamento com as coordenadoras dos grupos de convivência de idosos, sobre as temáticas discursivas que mais se repetiam no grupo, segundo o levantamento dos relatórios de estágio.

A escolha pelo uso das oficinas em dinâmica de grupo como técnica para subsidiar a pesquisa, se deu porque na nossa prática de estágio já utilizávamos as oficinas como método de intervenção psicossocial, baseada na metodologia de Afonso(2000) e agora era só transpô-las para serem utilizadas como instrumento de pesquisa, repetindo com as coordenadoras as temáticas que se repetiram nos cochichos cotidianos dos grupos.

No ano de 2006 foi gravado também um vídeo orientado pelo mesmo roteiro daquelas entrevistas, com finalidade de ilustrar de forma didática os discursos apreendidos pela pesquisa.

A proposta primeira era de que as coordenadoras falassem sobre os quatro temas dos cochichos que mais foram trazidos no discurso delas. A saber: família, grupos de convivência, participação nas políticas públicas, e medo. Os quatro temas foram oferecidos como temas das entrevistas e pudemos capturar mais um tema que atravessava todos esses discursos que era a saúde. Preferimos não incluí-lo como tema neste trabalho não por sua condição transversal, mas porque o corpus do trabalho poderia se tornar muito complexo numa proposta de mestrado, já que os quatro temas já ocupariam muito tempo na pesquisa e nas discussões. Desta forma feito esse recorte, os cochichos sobre saúde ficaram então reservados para uma pesquisa posterior. Esta questão está melhor detalhada no percurso metodológico, mesmo porque, ao final esses cochichos foram condensados na dissertação, em dois cochichos apenas: cochichos sobre grupos de convivência e sobre participação política

(22)

21 numa sociedade contemporânea que claramente exibe uma ideologia perversa que sustenta a velhice e o envelhecimento, num lugar indigno, estigmatizado e excludente. E por último, a intenção da pesquisa foi compreender o que falavam sobre a escuta propiciada pelo estágio e suas implicações no processo de participação política dos grupos. Pois no discurso que elas traziam no cotidiano dos grupos o sentimento de estarem excluídos nos programas e projetos de participação política e a dor gerada por essa exclusão ficava explícita de diversas maneiras na prática de estágio. Esse processo de excludência e estigmatização, sustenta até mesmo ações que aparentemente são de participação coletiva, de acordo com a afirmação de Goffman (2001),

“Isso acontece em primeiro lugar porque as instituições profanam exatamente as ações que na sociedade civil possuem o papel de atestar ao ator e aos que estão em sua presença, que eles possuem autonomia.” (GOFFMAN. 2001, P.31).

Em acordo com esse pensamento do Goffman, os discursos das coordenadoras revelaram, nesta época, que apesar de todo o seu investimento na participação dos fóruns, dos conselhos e dos encontros elaborados pelo setor público percebiam que nem o setor público, nem os setores de monitoramento da política pública, não estavam interessados de fato em escutá-las, mas segundo afirmavam, o setor público precisava delas (pessoas idosas) nestes espaços, para sustentar uma participação política ilusória que precisava ser contada em números. Ou seja, segundo elas, apenas para dar a aparência de uma democracia que nem de longe era de fato participativa, já que as decisões eram tomadas pelos técnicos e essa

participação era apenas uma participação “só pra inglês ver”5

Os resultados dessa primeira etapa apontaram questões interessantes, que sustentavam o fato de que os coordenadores, em sua maioria mulheres de 60 anos e mais, se sentiam excluídas de um processo de participação legítimo nas instâncias públicas que frequentavam.

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22 Nesta direção é que a pesquisa propiciou a oportunidade de continuar a escutá-las, agora de maneira coletiva, e com foco nas suas trajetórias de participação política e com uma linha do tempo, que fosse capaz de fornecer dados sobre esse percurso das coordenadoras e sobre as formas como esta participação vem acontecendo. Isto poderia trazer mais elucidações a respeito sentido de sua fala e revelar a dinâmica na relação entre o idoso e as instâncias de participação política que frequentavam. Especialmente porque ocorreram10 anos de intervalo entre as ´primeiras entrevistas e as primeiras disciplinas cursadas no programa de mestrado, três conferências de direitos da pessoa idosa, nas instâncias Municipal, Estadual e Federal. Ouvir6 o que elas disseram de sua participação, e escutar7 a sua trajetória de conquistas e desafios foi fundamental para compreender, a partir da voz das próprias idosas, como experienciaram e ainda experienciam esse processo.

A proposta da pesquisa de mestrado foi de entrevistar as idosas coordenadoras de grupos de convivência de forma coletiva e individual, e desenvolver oficinas em dinâmica de grupo e entrevistas de aprofundamento para complementar os dados obtidos no mapeamento dos grupos que ocorreu nos anos de 2002/2003. As oficinas em dinâmica de grupos, permitiram que os principais cochichos individuais fossem escutados novamente nos grupos, e depois aprofundados em entrevistas individuais com as coordenadoras, Com a diferença que estas entrevistas embora individuais foram realizadas em espaços coletivos, nos intervalos de atividades desenvolvidas por elas tais como os seminários, encontros e oficinas, que foram realizados e filmados em 2006. Isto envolveu a primeira etapa do projeto. Finalmente, a pesquisa na sua segunda etapa coletou seus depoimentos, numa ação participativa, após aproximadamente 10 anos das primeiras entrevistas já realizadas, na qual puderam fazer uso do espaço do discurso, não apenas com o objetivo de responder às indagações da pesquisa, mas principalmente, com o objetivo de construir por meio da pesquisa-ação, um espaço de produção discursiva, e sobretudo o vislumbre de novas

6 Refiro-me aqui ao ouvir como o sentido da função biológica de apreender o traço sonoro da palavra, ou o ruído ambiental, para diferenciá-lo do sentido que é atribuído à escuta compreendida como um processo mais amplo.

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23 formas de organização e participação política destas mulheres protagonistas na busca de fortalecer sua voz e conseguir ampliar suas conquistas no processo de consolidação dos direitos da pessoa idosa.

A intenção da pesquisa foi que elas pudessem manifestar suas demandas diretamente aos representantes do legislativo municipal e estadual trazendo a eles de forma verbal e escrita as demandas que faziam nos grupos de convivência e que apesar de as levarem ao conselho e aos fóruns de idosos, acreditavam que não eram escutadas nem atendidas e acabavam se perdendo pelo caminho. A ação política por meio da oficina de desenvolvimento humano político e social para coordenadoras de grupos de convivência foi gravada por meio de filmagem e as falas foram consideradas juntamente com todas as outras trazidas por elas nas entrevistas e nos grupos, e foram discutidas e apresentadas na dissertação. Toda a pesquisa foi então organizada no trabalho aqui apresentado, e disposta da seguinte maneira:

 O primeiro capítulo denominado “Da escuta como projeto ao projeto de escuta de mulheres idosas”, abre com a introdução, apresentação e desenho metodológico da pesquisa organizados sob o título: que abre o trabalho. Entretanto mantêm-se separada dos demais capítulos que comporão a dissertação do processo de pesquisa exatamente para permitir melhor visualização do trabalho ao leitor, embora algumas questões específicas relativas ao processo metodológico no que se refere às atividades desenvolvidas pela pesquisa, sejam retomadas no desenvolvimento de cada capítulo.

Em seguida, são apresentados os demais capítulos correspondentes à dissertação sobre a pesquisa. São eles:

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24 falas tentando construir novas possibilidades para o envelhecer. Também se refere a uma voz que é ainda cochichada e portanto carece de força e organização para se tornar uma voz cada vez mais audível.

 O Terceiro capítulo foi denominado: “Mulheres que cochicham e suas coxias” e descreve alguns aspectos do contexto histórico psicossocial, cultural e político das mulheres idosas pesquisadas e dos grupos de convivência que coordenam, segundo suas próprias falas e no diálogo com as interpretações de segunda mão da autora.

 O quarto capítulo foi denominado “Os cochichos”. Nele são apresentadas e discutidas as principais falas das coordenadoras sobre o que dizem e como significam os grupos de convivência; bem como as políticas públicas.na sua trajetória de participação como coordenadoras.

 O quinto Capítulo: “Da coxia para o palco discute as ações empreendidas pelas mulheres segundo suas falas ao longo do processo de participação política nos grupos de convivência de idosos, e no diálogo com as interpretações de segunda mão da autora sobre as ações das coordenadoras observadas ao longo da pesquisa.

 O sexto capítulo “Considerações finais” encerra a dissertação com as interpretações de segunda mão, sobre as principais questões apresentadas e suscitadas pela pesquisa, bem como discussões e encaminhamentos sobre os pontos sugeridos pelos sujeitos pesquisados para a melhoria da participação política das pessoas idosas e para o avanço das Políticas Públicas de Atenção à Pessoa Idosa a partir dos dados obtidos na pesquisa.

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25 Fica demarcado por este contorno teórico metodológico, a base qualitativa da pesquisa uma vez que se dedica não a estudar a participação política em si enquanto objeto, mas compreender a qualidade da relação que as pessoas idosas estabelecem com esse processo e a forma como o interpretam e interpretam a si mesmas e ao espaço público de participação política nesta interação. Por isso mesmo, utilizei o embasamento teórico da pesquisa etnográfica e da antropologia interpretativa, proposta por Clifford GERTZ (1989) utilizando como principal instrumento, desde a concepção das questões até a sua análise, a proposta de uma descrição densa, auxiliada pela teoria e prática da pesquisa ação, e o conceito de atividade proposto por Vygotsky uma vez que todo o processo de obtenção dos dados se deu no movimento do trabalho desenvolvido pelas coordenadoras nos grupos de convivência, no calor da comunidade, e em todo o seu contexto de luta para garantir seus direitos.

1.2 Apresentação da pesquisa

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26 1 -O que falavam as coordenadoras sobre si mesmas e sobre o grupo de convivência que coordenavam?

2 – Quais os cochichos que eram mais trazidos nos grupos pelos seus participantes e o que elas mais pensavam sobre esses cochichos?

3 - O que falavam sobre sua trajetória e sobre sua participação na política de atenção ao idoso?

4 – o que falavam e qual o sentido atribuído por elas à escuta de seus cochichos pelas estagiárias?

5 _ Que relação estabeleciam entre essa escuta e sua trajetória de participação na construção das políticas públicas?

A proposta foi de coletar entrevistas individuais e os depoimentos das coordenadoras, bem como propiciar oficinas seminários e atividades nas quais pudessem agir participando ativamente, para tornar ainda mais próximos da sua realidade de participação política, os dados coletados. Evitamos coletar dados nos fóruns e nos conselhos, exatamente por que sua queixa é que não tinham muita liberdade de participar nesses espaços. Portanto apenas acompanhamos em observação as coordenadoras nesses espaços, já que o que pediam era a ampliação de seus espaços de participação.

A perspectiva da pesquisa foi que se desenvolvesse de forma a atender as expectativas do programa de mestrado em gerontologia, uma vez que se desenhava sobre uma atividade interventiva de estágio, com alguns dados já levantados em atividade investigativa realizada anteriormente e que subsidiaram, conjuntamente, todo o processo inicial do levantamento de dados que puderam ser incorporados ao processo de pesquisa atual, como indicadores ou como analisadores dos cochichos. Entretanto, dadas as condições de obtenção dos dados a serem trabalhados, e os atravessamentos relacionados com a saúde da pesquisadora, foi necessário extrapolar um o tempo da pesquisa e prorrogar o prazo para apresentar finalmente o trabalho.

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27 ação de participação, e registrar o modo como interpretam essa participação. Essa proposta foi realizada por meio das seguintes atividades:

1 – Registro dos cochichos que as mulheres idosas coordenadoras de grupo trouxeram sobre si mesmas, sobre os grupos e sobre sua participação na construção das políticas públicas, bem como sobre a sua experiência de interação com o setor público governamental.

2 – Observação da manifestação dos processos inconscientes (emoções) e conscientes (linguagem e pensamento) e sobre como interpretam e agem nesses espaços de participação.

3 – Registro das conquistas alcançadas, e as demandas que ainda trazem para os poderes legislativo e executivo, dez anos depois e após as três conferências de direitos da pessoa idosa acerca dos temas já cochichados na primeira fase da pesquisa.

4 – Observação dos diálogos que estabeleceram com o legislativo sobre as formas como interpretam esse processo de participação bem como as formas como interpretam e interagem com o setor público governamental e com os serviços de atenção ao idoso por eles ofertados.

5.-. Estabelecimento de considerações do pesquisador sobre os cochichos atuais e sobre os cochichos que foram escutados nos anos de 2003 a 2006.nos grupos de convivência; e sobre as ações das coordenadoras ao longo de todo o processo de pesquisa.

6 – Escrituração da dissertação e devolução dos resultados da pesquisa, a fim de compartilhar com os participantes e propor a reflexão sobre o lugar e o papel da escuta psicológica presentes na sua fala e na sua trajetória de participação política.

1.3 Sustentação teórica

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28 participação na comunidade e nas políticas públicas .E menos ainda considerando simultaneamente as singularidades dos pesquisados, o que é extremamente importante nos processos de intervenção psicossocial, uma vez que a visão de mundo do pesquisador deve ser um elemento de discussão e reflexão constante para que sua prática interventiva não repita e contribua para manter os processos de dominação que mantenham os sujeitos nos mesmos lugares e papéis, ao invés de fomentar e potencializar a produção de subjetivação e as ações transformadoras de sua realidade.

Diante desta realidade esta pesquisa propôs um olhar diferenciado para as questões de ordem subjetiva e objetiva que atravessavam a relação do idoso no contexto social e implicou-se em escutar o que era trazido como tema principal no seu discurso. A saber, uma negação da ética e da ecologia humana no cuidado com a pessoa idosa no espaço público. Negação esta, que muitas vezes se inicia e é naturalizada pelas próprias instâncias de organização política já instituídas que deveriam, ao contrário disso, servir como suporte para o desenvolvimento de ações sócio educativas e de serviços para a pessoa idosa. Alguns mecanismos de exclusão da pessoa idosa são sustentados por resquícios de uma barbárie na transmissão de um processo cultural e educativo que tem um discurso completamente diferente da ação prática. Segundo Walter Benjamim, citado por Paulo Salles de Oliveira. (1998, p 36)

Não há documento de cultura, que não seja ao mesmo tempo, um documento de barbárie. E assim, como os próprios bens culturais não estão livres da barbárie, também não o está o processo de transmissão com que eles passam de uns aos outros”. (OLIVEIRA, 1998; p.36).

Segundo Beauvoir(1990) apud OLIVEIRA (1999, p 43) “para o velho, a primeira

das barbáries é o seu não reconhecimento como sujeito, como ser humano, com

(30)

29

Se a gente é convidada para participar de um fórum a gente vai, mas chega lá é só pra passar raiva, pois não adianta nada ir, porque a gente fala mas ninguém dá ouvido, nem anotar nada do que a gente diz eles anotam. Onde já se viu as pessoas fazerem reinvindicações e não se ter uma ata, um protocolo ou documento oficial que é levado a um órgão superior para que as decisões cabíveis sejam tomadas, e que a gente fique com uma cópia para cobrar. Vira uma conversa qualquer que não sai do lugar porque nem sei se alguma delas chega no prefeito. Ou se ele ficou sabendo nunca deu resposta pros grupos”

Diante desse quadro, fez-se necessário uma investigação mais ampla para que pudéssemos ter uma visão psicossocial do fenômeno em estudo. Desta forma, a participação política da pessoa idosa pôde ser melhor compreendida no contexto cultural em que estavam inseridos.

Sabendo-se que a população está envelhecendo rápida e continuamente, de forma que o Brasil representa, no Ranking mundial, o oitavo país com maior número de idosos, e que incapaz de suprir as necessidades emergentes, o setor público conta com a família do idoso e com as iniciativas comunitárias e solidárias, como principais aliados no seu atendimento, torna-se imprescindível continuar ampliando as investigações sobre o contexto psicossocial do idoso para que se possa compreender com maior profundidade as relações grupais e os vínculos que são estabelecidos entre a pessoa idosa, a comunidade e as instâncias de participação e de serviços. Além desses aspectos, foi palco de atenção no Brasil, nos anos de 2006, 2009 e 2011, a primeira segunda e terceira Conferências Nacionais de Direitos da Pessoa Idosa, cuja participação dos estados e municípios foi intensa agregando idosos de todo o Brasil para discutir e propor deliberações, por via do Conselho Nacional de Direitos da Pessoa Idosa. Entretanto, a despeito de toda a movimentação discursiva, poucas ações propostas pelas deliberações foram de fato implementadas pelo poder executivo. Isso ficou mais comprovado ainda pela escuta das coordenadoras, algumas protagonistas destas conferências ao se colocarem na pesquisa.

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30 prático no cotidiano das pessoas. Ou seja, que a aplicação dos dados obtidos possam funcionar como elemento que promova a transformação cultural da sociedade Brasileira, especialmente no que diz respeito à concepção do velho, do envelhecimento e da longevidade. Nesse caso, a pesquisa aqui desenhada provocou em seu próprio curso, e na forma como foi se estabelecendo, um processo que não apenas tem contribuído para ampliar o discurso das pessoas pesquisadas sobre a velhice, mas que principalmente, tem trazido reflexões da própria pessoa idosa sobre o seu discurso e sobre suas ações, no momento mesmo de sua participação. Portanto, a expectativa é de que agora que se encerra, possa contribuir para expandir os modos de ser e existir da pessoa idosa, na sua relação com o espaço público. Isto necessariamente se refletirá nos processos de interação da sociedade com a pessoa idosa.

A escuta foi estudada como um processo tanto na sua universalidade, quanto na singularidade de uma escuta psicológica, baseada na abordagem sócio histórica. Tratou-se de uma escuta não apenas do significado, dos signos ou das ações, produzidas pelos sujeitos da pesquisa, mas da escuta do movimento decorrente dos processos de produção subjetiva dos sujeitos no movimento de falar agir sobre o mundo e dos efeitos disso sobre si mesmo e sobe sua realidade e teve desde a sua concepção uma escuta que se implicada em escutar os cochichos e observar a sua participação política como protagonistas nas diversas ações de construções da política pública de atenção à pessoa idosa e as transformações decorrentes disso, que como veremos provocou novas mudanças e novos questionamentos das pessoas idosas sobre sua interação com o setor público.

Um terceiro ponto a ser marcado no suporte teórico é que a escolha pelos teóricos se deu na forma dinâmica, em que a pesquisa foi acontecendo e exigindo estudos e olhares de estudiosos que pudessem favorecer a reflexão sobre as ações já iniciadas e realizadas pelo estágio nos fóruns de idosos na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. O que sedimenta uma participação efetiva e interdisciplinar da Gerontologia e da Psicologia, num contexto cultural, no bojo de processos sociais que acredito influenciarão definitivamente na melhoria das políticas públicas de atenção à pessoa idosa e nas de condições da vida humana.

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31 íntima relação entre o conhecimento popular e o conhecimento acadêmico, sustentado no tripé ensino-pesquisa-extensão e contribuiu com dados que subsidiarão ações de fortalecimento da participação da pessoa idosa, bem como trará contribuições para a prática docente, especialmente a que se aplica aos estágios e programas extensionistas.

1.3.1 Revisão teórica sobre o envelhecimento e a velhice.

O aumento significativo da população de idosos no Brasil e no mundo é motivo de grande preocupação tanto para o setor público como para a sociedade civil, não apenas pelas implicações relevantes que acarretam no atendimento às necessidades básicas de toda a população. Mas sobretudo pela dinâmica transformadora que estabelece nas relações sociais e humanas e no contexto do cuidado de si e do outro, o que atinge políticas públicas, de atenção a toda a população e mais especificamente à pessoa idosa, visando a promoção do seu bem estar físico, psicossocial, econômico e cultural.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o número de pessoas com mais de 60 anos saltou de 14,5 milhões em 1999 para 23,5 milhões em 2011, representando 12,1% da população. Em 2020, a projeção é de que esse total suba para 26 milhões. A projeção para a população idosa com mais de 65 anos, baseada no senso de 2010 é que passe dos 14,9 milhões (7,4% do total) em 2013 para 58,4 milhões (26,7% do total) em 2060. Ou seja, comparada com a população atual, a população idosa com mais de 65 anos irá se quadruplicar até o ano de 2060.

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32 Se os dados acima confirmam que a população idosa tem aumentado sobremaneira nos últimos anos, Os dados no que se referem às leis que garantem a proteção e efetivação dos direitos da pessoa idosa não acompanham nem à distância tal crescimento. Nem mesmo o Estatuto do idoso após mais de Dez anos de sua criação conseguiu tornar efetivas a maioria de suas propostas na execução e operacionalidade das políticas públicas e dos programas e projetos de atenção ao idoso; Embora, como bem se sabe, algumas delas que lá estejam expressas já estivessem também presentes em outros instrumentos da legislação. Após três conferências municipais, estaduais e nacionais de direitos da pessoa idosa, a implementação das propostas ainda não conseguiu atingir o mínimo desejável ou necessário à população, e as deliberações das conferências no que tange a assegurar direitos fundamentais como a educação da pessoa idosa, até nos que parece ser mais básico como a criação de programa televisivo em redes de comunicação pública, com horário fixo no mínimo semanal como reza o estatuto do idoso com informações sobre questões relacionadas aos direitos da pessoa idosa estão sem qualquer previsão de execução na agenda das políticas públicas.

A região sudeste no Brasil é a região mais populosa em idosos, alcançando no senso de 2010 a marca de 10.225.000 (10 milhões, duzentos e vinte e cinco mil idosos) que representam 12,2% da população total desta região Minas Gerais é o segundo Estado com maior população de idosos. Atingindo em números absolutos 569.000 idosos. Ou o correspondente a 11,2% do total da população do Estado. Segundo o resultado da PNAD 2009.

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33 ainda maior no sistema de atendimento à saúde, a curto prazo, e para a necessidade urgente de intervenções cada vez mais específicas para esta população.

Mostra a literatura, que nos grupos etários acima de 65 anos as doenças mais comuns são as cardiovasculares, diabetes, neoplasias, doenças ósseo-articulares e demência de Alzheimer. Cançado (l997, p.23). Tais problemas comprometem diretamente a capacidade funcional, autonomia, e consequentemente a qualidade de vida do idoso, abrangendo questões de direito e cidadania. Isso é mais importante que a própria questão da morbidade, já que tais condições promovem a necessidade ainda maior de assistência para esses idosos, por parte do Estado e da família.

Takashima (1994) pontua que o papel do Estado deveria ser não de substituto da família, mas de grande aliado e fortalecedor deste grupo, proporcionando apoio ao desempenho de suas responsabilidades. Mas, segundo afirma esse autor, de forma muito explícita:

“O Estado não foi capaz de sequer de aplicar estratégias para efetiva prevenção e tratamento das doenças crônico-degenerativas e suas complicações, num contexto de desigualdades sociais e regionais, e o idoso não encontra amparo adequado no sistema público de saúde e previdência, e tão pouco no sistema social. Pois incapaz de suprir as necessidades emergentes, assume uma postura de empurrar com a barriga os problemas mais difíceis e perde o foco do cuidado e da atenção, numa rede de serviços que não conta com uma perspectiva de inter-setorialidade efetiva nas ações, e que de fato possa atender às demandas da população idosa.” TAKASHIMA (1994, p.122). 8

Os grupos de convivência, neste contexto se mostram como equipamentos sociais importantes, no sentido de propiciar um espaço de manutenção do convívio e de trocas afetivas entre os participantes, mas para que o idoso e sua família alcancem melhores condições de vida e saúde, os grupos necessitam do apoio do governo para que funcionem de maneira mais eficaz, pois foram criados a partir de iniciativas populares e não dispõe de aparato técnico que permita um atendimento de excelência para os participantes.

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34 Por outro lado, as coordenadoras de grupos de convivência são mulheres na faixa etária de 60 a 80 anos, e em sua maioria sem preparo técnico e conhecimento específico para exercerem a função de coordenação dos grupos, embora possuam um conhecimento profundo da realidade local e dos problemas regionais nos quais estão inseridas. Algumas das regiões na qual temos participação significativa são as regionais noroeste e oeste de Belo horizonte. O projeto de pesquisa entrevistou as coordenadoras de grupos de convivência dessas duas regionais e das oito regionais restantes que quiseram espontaneamente participar, para escutar, segundo suas falas, como se dá essa interação das coordenadoras com as principais instâncias de que elas participam. A saber, o conselho municipal do Idoso, os fóruns de participação nas regionais da prefeitura Municipal, as assembleias e encontros de grupos na cidade de Belo Horizonte. A partir dos seus discursos conseguimos alguns elementos para compreender melhor o que acontece nesse processo, e os fatores que podem estar emperrando o processo de consolidação dos direitos da pessoa idosa e da construção de políticas efetivas de atenção a esta população, segundo sua visão.

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35 A dinâmica da interpretação da cultura proposta na perspectiva da antropologia hermenêutica de Cliffort Geertz, o conceito de homem sócio histórico, propiciados pela abordagem sócio-histórica da psicologia e na sua análise crítica sobre a própria psicologia, e sobre os processos de Ideologização, Alienação e dominação presentes na relação sempre dinâmica indivíduo-sociedade sustentados

Por Vygotsky, Leontiev, Lane, Sawaia, Gofmann, Sant’ana, entre outros.

A dinâmica de grupo estudada por teóricos grupais como Bion, Pichon, Kurt Lewin, Gregório Baremblitt, Afonso, entre outros;

Os conceitos de cochicho escuta e silêncio na perspectiva sócio histórica da psicologia em Vygotsky e na perspectiva da autonomia em Paulo Freire, Vygotsky, Foucault, Deleuze, na antropologia, à luz de Geertz, LE Breton e ainda nos conceitos de alguns filósofos, especialmente os estoicos. (Epiteto, Cícero)

a) Os conceitos de comunidade presentes em Weber, Balman, Rabinovich, Mercadante e Sawaia.

b) Os conceitos de participação política na dinâmica das relações humanas no espaço público e privado propostas por Hannah Arendt, Foucault, Espinosa e Gofmman.

c) Os estudos sobre afeto e potência presentes nas obras de Espinosa, Negri Foucault e Deleuze e o afeto como potência de ação e transformação propostos por Espinosa e Tony Negri, nos contextos de luta e transformação da realidade.

d) A metodologia de intervenção nas oficinas foi proposta com base na educação popular de e nos círculos de cultura de Paulo Freire; na Ecopedagogia de Gadotti, e nas oficinas em dinâmica de grupo propostas Por Afonso.

e) A questão do feminino e da memória e suas formas de manifestação do afeto presentes, na história das mulheres no Brasil sob as vozes de vários autores como Figueiredo e outros, e organizadas por Del Priore, e na perspectiva de touraine. f) Os conceitos de tempo, envelhecimento e amizade na obra de David Konstan Cícero, Espinoza e Foucault.

g) As obras clássicas e contemporâneas de autores que discutem a velhice, a cultura e os modos de existir do idoso tais como Beauvoir, Minois, Oliveira, Mercadante, Debert, Concone, Tótora.

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36

1.4 O desenho metodológico da pesquisa

O projeto, para o desenvolvimento desta pesquisa sustentou-se, num primeiro m vertente antropológica e cultural com base na antropologia interpretativa de GERTZ (1989omento, numa, p), e em sua perspectiva de interpretação de primeira mão e de segunda mão, na qual o autor explicita que as falas coletadas pelos participantes já trazem uma interpretação de primeira mão e que o olhar do pesquisador e sua apropriação sobre os sujeitos pesquisados já seria uma interpretação de segunda mão. A pesquisa utilizou-se da interlocução entre a pesquisa-ação e o conceito de prática de educação popular proposta nos “círculos de cultura” por FREIRE (1989),

para a coleta dos dados mais gerais. Os relatórios de estágio foram utilizados como uma fonte primária para buscar os dados iniciais sobre os cochichos das coordenadoras entrevistadas e para identificar os discursos que mais se repetiam nos grupos. Entrevistas individuais e trajetórias de vida das coordenadoras, foram usadas para a coleta do material de relato verbal das coordenadoras no período que envolveu os anos de 2002/2003. Dispositivos e instrumentos como oficinas em dinâmica de grupo e entrevistas individuais foram utilizadas inicialmente e depois foram feitas gravações por meio de filmagens com algumas das coordenadoras no ano de 2006, ao serem entrevistadas.

Foi criada portanto, uma bricolagem de instrumentos de pesquisa para subsidiar o processo, e para torna-lo mais rico. Como por exemplo, complementar com as entrevistas de aprofundamento a narrativa das coordenadoras, no momento de falar do grupo e de sua trajetória de participação, e as oficinas em dinâmica de grupo, com as filmagens com as coordenadoras ocorreram no ano de 2006. Desta forma, foram capturados os elementos presentes tanto no discurso como na exposição das ações das coordenadoras. E em 2012 uma ação de participação política também foi filmada, para coletar a fala das dez coordenadoras anteriormente entrevistadas. Numa ação onde mais 70 coordenadoras também participaram.

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37 É interessante lembrar que ao longo desse tempo da pesquisa, foram registradas a morte de três coordenadoras de grupos de convivência de idosos, das 142 que participaram inicialmente do levantamento de dados do estágio. Três delas deixaram o cargo no grupo. E duas delas se mudaram para outra cidade.

Foram convidadas para a segunda etapa da pesquisa 10 coordenadoras já entrevistadas, que se mantiveram nas condições e critérios para que fossem novamente entrevistadas. Compondo o mesmo número de participantes. Isso favoreceu os estudos longitudinais.

Neste segundo momento foram novamente gravadas imagens dos cochichos das idosas como parte ilustrativa das falas coletadas, e sob as mesmas perspectivas teóricas que sustentaram os estudos e os trabalhos já desenvolvidos. A proposta foi que a pesquisa pudesse analisar não apenas o discurso mas sobretudo a ação direta das participantes da pesquisa num espaço de participação proposto por elas mesmas ao setor governamental. Isso facilitou observar suas interpretações, seu modo de viver e agir conforme essas interpretações, bem como analisar sua forma de se colocar nos espaços de participação política.

A pesquisa foi sustentada por uma abordagem qualitativa e todo o estudo foi entendido no seu contexto, já que a busca principal foi salientar os modos de existir, interpretar e agir de mulheres idosas coordenadoras de grupos de convivência, no grupo e na transformação de si mesmas e da realidade, num contexto participação coletiva nas políticas de atenção ao idoso.

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38 quanto com a pesquisa-ação. As discussões e apreensões das ideias de Vygotsky foram mediadas nos seus pontos mais complexos pela interpretação de Molon (2009) e de Rey (2011). E tanto o processo de pesquisa como os sujeitos envolvidos foram vistos no seu movimento, na sua dinâmica de transformação de si mesmo e da realidade, desde a coleta dos dados até a sua interpretação. Por tratar-se de um estudo que tem um viés longitudinal, esse processo foi desenvolvido em duas etapas e envolveu os seguintes processos na sua primeira etapa.

1.4.1 A delimitação do campo

Baseada numa perspectiva etnográfica, para a identificação e delineamento tanto do campo como do objeto e do tema de estudo. Em vários momentos, auxiliada pela pesquisa-ação, a pesquisa envolveu o estudo de grupos comunitários de idosos advindos das classes populares, de bairros periféricos de Belo horizonte. Portanto, estamos falando de uma pesquisa no campo de estudos de antropologia urbana e da psicologia social comunitária. Utilizamos como base para levantar os primeiros dados sobre os grupos as informações contidas nos relatórios do estágio supervisionado “o psicólogo na comunidade” do curso de psicologia, uma atividade investigativa de

levantamento de características e demandas dos grupos de convivência de idosos de Belo Horizonte. O levantamento fora realizado pela Pró reitoria de extensão e pelo estágio o psicólogo na comunidade, através do programa PUC MAIS IDADE, com o fim de criar atividades na universidade com o apoio dos conselhos Estadual e Municipal de idosos e com a coordenadoria municipal de direitos da pessoa idosa. Nesse levantamento, participaram 142 coordenadoras de grupos de convivência, e os seus respectivos grupos.

Na época o número de grupos de convivência cadastrados no conselho municipal de idosos somava um total de 102 (cento e dois) grupos, portanto, 40 deles não estavam cadastrados. Desse total de 142 grupos de convivência de idosos pesquisados, a totalidade deles já havia participado de atividades do programa PUC MAIS IDADE na universidade e 45 deles já haviam participado do estágio

supervisionado “o psicólogo na comunidade”. Isso significa que num primeiro

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39 delinearmos os grupos que iriam participar. Esses 45 grupos estavam distribuídos nas Regionais segundo mostra o mapa a seguir.

Figura 2 - Mapa de localização dos grupos de convivência Pesquisados

Fonte: O desenho de base do mapa foi retirado do site da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e demarcação da localização dos grupos foi feita pela pesquisadora.

O levantamento de dados sobre os grupos que envolveu os 142 grupos, realizado em parceria com a Prefeitura Municipal e os conselhos abordava os aspectos mais quantitativos do grupo, embora contivesse questões abertas que sinalizaram aspectos qualitativos e que foram explorados posteriormente. Isso possibilitou que o mapeamento das principais características e demandas de atenção advindas dos grupos de convivência fosse utilizado como base para iniciar a nossa pesquisa como já explicitado; pois logo depois de analisar esses dados, delimitamos os grupos que seriam pesquisados no projeto Vozes na coxia.

O Primeiro critério para a delimitação dos grupos e dos respetivos coordenadores que participaram das duas fases da pesquisa desenvolvida no

LEGENDA

Localização geográfica aproximada dos 10 g

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40 mestrado foi a condição sócio histórica e de participação dos grupos considerando sua origem, seus desejos de mudança e de participação na pesquisa, suas dificuldades financeiras e sociais para promover essas mudanças. Portanto, separamos grupos que advinham de comunidades e bairros populares da periferia de Belo Horizonte, e que contivessem pelo menos 50% dos idosos participantes com renda pessoal entre zero até dois salários mínimos. A renda familiar não foi utilizada como critério direto, embora fosse também observada porque no caso da pessoa idosa advinda de classes populares, era interesse também saber em que medida a renda do idoso interferia na composição da renda familiar e além disso, a renda pessoal dos participantes era um dado cuja maioria dos grupos já possuía acesso.

O segundo critério foi de que esses grupos deveriam ter sido formados na própria comunidade, a partir de uma lógica comunitária, ou do desejo de um dos seus participantes, e não a partir de uma demanda governamental ou para atender diretamente a programas governamentais de saúde assistência etc. Embora, vários desses grupos comunitários, especialmente dos 142 grupos abordados inicialmente, tenham sido posteriormente ajuntados aos grupos do CRAS9, para compô-los numericamente e alguns deles, que não possuíam registros, até renomeados como grupos governamentais, segundo informaram as coordenadoras, com alegação dos técnicos que dirigiam os programas governamentais de que só assim poderiam levar mais benefícios, para sua comunidade, como foi registrado na pesquisa em alguns dos seus cochichos. Portanto foram eliminados para os estudos os grupos que faziam parte de programas criados já a partir de um projeto ou lógica governamental, exatamente por que a intenção era focar na pesquisa as características desses grupos comunitários, com os quais trabalhávamos, nascidos mais por uma dinâmica da comunidade, e de entidades ligadas à sociedade civil. Vários desses grupos haviam sido acompanhados pelo programa de estágio da PUC Minas desde os processos iniciais de sua formação até seu estabelecimento como grupo e como pessoa jurídica.

O terceiro critério levou em conta a condição de participação simultânea desses grupos nos setores públicos, especialmente nos espaços dos conselhos de

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41

direitos da pessoa idosa e dos fóruns regionais da prefeitura, e no estágio” o psicólogo na comunidade”. Isso porque o vínculo com a universidade os inseria num programa de extensão que propiciava atividades de reflexão e de construção de espaços para que pudessem falar livremente de suas questões sem a tutela dos espaços governamentais. Esse critério auxiliou-nos também na redução do custo da pesquisa e na aquisição de equipamentos e recursos de mão de obra para a gravação das entrevistas em vídeo por exemplo. Além disso propiciou-nos acompanhar passo a passo o processo de mudança desses grupos na sua forma de engajamento social, comunitário e político, ao longo do processo de pesquisa.

O quarto critério considerou o envolvimento do grupo nas ações destinadas a processos comunitários de desenvolvimento local e de auto sustentação, exatamente porque queríamos avaliar a dimensão participativa das coordenadoras e o que falavam desta participação. A decisão foi de entrevistar aquelas coordenadoras que estavam presentes em diversas atividades participativas tanto na comunidade como no setor público e na universidade.

(43)

42 para os problemas e demandas advindas da comunidade e consequentemente, contribuísse com a necessidade de produção acadêmica nessa área.

É importante lembrar que na própria atividade de estágio, já estava mais que explícita a queixa de alguns grupos em relação aos processos de inclusão/exclusão na participação política, e de igual forma estavam explícitas suas demandas de ampliar o seu espaço de participação nas instâncias de decisão sobre as políticas de atenção ao idoso. Por isso, foram realizadas entrevistas de aprofundamento sobre os grupos de convivência e foram registradas as narrativas das trajetórias de vida e da participação política das coordenadoras nos grupos de convivência de idosos. Por meio desses critérios, elegemos então os grupos que participavam simultaneamente dos fóruns regionais e dos conselhos de direito de pessoas idosas e do estágio o psicólogo na comunidade na atividade de acompanhamento terapêutico e ou escuta aos grupos de idosos. Pois além de já terem um vínculo bom com a universidade, teriam disponibilidade para participar do projeto. Os grupos com essas características somaram um total de 45(quarenta e cinco grupos).

Embora todas as coordenadoras tenham trazido seus cochichos, desse total, utilizamos para a construção da pesquisa apenas os cochichos das 10 coordenadoras de grupos de convivência, que foram entrevistadas em 2003 e em 2006 e que participaram também da oficina de desenvolvimento humano político e social das coordenadoras no ano de 2012. Conseguimos ao final, a participação de coordenadoras representando um grupo de cada regional de Belo Horizonte, o que era desejado na pesquisa. O fato de coletar por precaução os cochichos de 45 coordenadoras, na etapa inicial foi por prever algum tipo de dificuldade que pudesse interferir na pesquisa, já que algumas delas possuíam uma condição de fragilidade na saúde, e também para assegurar dados para outros estudos longitudinais para o qual os dados coletados poderiam servir posteriormente. Este fato nos auxiliou muito quando após dez anos duas delas haviam morrido duas haviam se mudado para outra cidade e outras três deixaram de ocupar essa função. Uma por questões de saúde e duas por questões familiares.

Imagem

Figura 1 - Painel ilustrativo O contexto da formação das ideias para a pesquisa
Figura 2 - Mapa de localização dos grupos de convivência   Pesquisados
Figura 3 - Painel ilustrativo Imagens de contextos da pesquisadora
Figura 4 - Painel ilustrativo  – Imagens do contexto das Mulheres coordenadoras
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