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Revisão teórica sobre o envelhecimento e a velhice

1.3 Sustentação teórica

1.3.1 Revisão teórica sobre o envelhecimento e a velhice

O aumento significativo da população de idosos no Brasil e no mundo é motivo de grande preocupação tanto para o setor público como para a sociedade civil, não apenas pelas implicações relevantes que acarretam no atendimento às necessidades básicas de toda a população. Mas sobretudo pela dinâmica transformadora que estabelece nas relações sociais e humanas e no contexto do cuidado de si e do outro, o que atinge políticas públicas, de atenção a toda a população e mais especificamente à pessoa idosa, visando a promoção do seu bem estar físico, psicossocial, econômico e cultural.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o número de pessoas com mais de 60 anos saltou de 14,5 milhões em 1999 para 23,5 milhões em 2011, representando 12,1% da população. Em 2020, a projeção é de que esse total suba para 26 milhões. A projeção para a população idosa com mais de 65 anos, baseada no senso de 2010 é que passe dos 14,9 milhões (7,4% do total) em 2013 para 58,4 milhões (26,7% do total) em 2060. Ou seja, comparada com a população atual, a população idosa com mais de 65 anos irá se quadruplicar até o ano de 2060.

Ainda de acordo com as previsões baseadas no censo do IBGE, 2010, as mulheres continuarão vivendo mais do que os homens, já que em 2060, a expectativa de vida para as mulheres será de 84,4 anos, contra 78,03 dos homens. A, média de vida das mulheres em 2013 atingiu os 78,5 anos, enquanto a média de vida dos homens, os 71,5 anos. É importante destacar, que o grupo etário com oitenta anos e mais atingiu um crescimento de quase 65% em números absolutos, em 2010. E atingimos um contingente de mais de vinte milhões de idosos nesse mesmo ano.

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Se os dados acima confirmam que a população idosa tem aumentado sobremaneira nos últimos anos, Os dados no que se referem às leis que garantem a proteção e efetivação dos direitos da pessoa idosa não acompanham nem à distância tal crescimento. Nem mesmo o Estatuto do idoso após mais de Dez anos de sua criação conseguiu tornar efetivas a maioria de suas propostas na execução e operacionalidade das políticas públicas e dos programas e projetos de atenção ao idoso; Embora, como bem se sabe, algumas delas que lá estejam expressas já estivessem também presentes em outros instrumentos da legislação. Após três conferências municipais, estaduais e nacionais de direitos da pessoa idosa, a implementação das propostas ainda não conseguiu atingir o mínimo desejável ou necessário à população, e as deliberações das conferências no que tange a assegurar direitos fundamentais como a educação da pessoa idosa, até nos que parece ser mais básico como a criação de programa televisivo em redes de comunicação pública, com horário fixo no mínimo semanal como reza o estatuto do idoso com informações sobre questões relacionadas aos direitos da pessoa idosa estão sem qualquer previsão de execução na agenda das políticas públicas.

A região sudeste no Brasil é a região mais populosa em idosos, alcançando no senso de 2010 a marca de 10.225.000 (10 milhões, duzentos e vinte e cinco mil idosos) que representam 12,2% da população total desta região Minas Gerais é o segundo Estado com maior população de idosos. Atingindo em números absolutos 569.000 idosos. Ou o correspondente a 11,2% do total da população do Estado. Segundo o resultado da PNAD 2009.

A população idosa no Brasil portanto, vem crescendo de forma assustadora, mas sem o devido acompanhamento de programas e políticas que possam dar base para promover as condições básicas necessárias para esse crescimento. Segundo Chamowicks (l998, p34) a população brasileira vem envelhecendo desde o início da década de 60, quando as quedas na taxa de fecundidade começaram a alterar sua estrutura etária, estreitando progressivamente a base da pirâmide populacional. Passados apenas alguns anos a sociedade já se depara com demandas por serviços médicos e sociais outrora restritos a países industrializados. Com a diferença de que aqui, não contamos com uma infraestrutura que permita atender de forma adequada, sequer as demandas da população idosa existente hoje. Isto aponta para uma crise

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ainda maior no sistema de atendimento à saúde, a curto prazo, e para a necessidade urgente de intervenções cada vez mais específicas para esta população.

Mostra a literatura, que nos grupos etários acima de 65 anos as doenças mais comuns são as cardiovasculares, diabetes, neoplasias, doenças ósseo-articulares e demência de Alzheimer. Cançado (l997, p.23). Tais problemas comprometem diretamente a capacidade funcional, autonomia, e consequentemente a qualidade de vida do idoso, abrangendo questões de direito e cidadania. Isso é mais importante que a própria questão da morbidade, já que tais condições promovem a necessidade ainda maior de assistência para esses idosos, por parte do Estado e da família.

Takashima (1994) pontua que o papel do Estado deveria ser não de substituto da família, mas de grande aliado e fortalecedor deste grupo, proporcionando apoio ao desempenho de suas responsabilidades. Mas, segundo afirma esse autor, de forma muito explícita:

“O Estado não foi capaz de sequer de aplicar estratégias para efetiva prevenção e tratamento das doenças crônico-degenerativas e suas complicações, num contexto de desigualdades sociais e regionais, e o idoso não encontra amparo adequado no sistema público de saúde e previdência, e tão pouco no sistema social. Pois incapaz de suprir as necessidades emergentes, assume uma postura de empurrar com a barriga os problemas mais difíceis e perde o foco do cuidado e da atenção, numa rede de serviços que não conta com uma perspectiva de inter-setorialidade efetiva nas ações, e que de fato possa atender às demandas da população idosa.” TAKASHIMA (1994, p.122). 8 Os grupos de convivência, neste contexto se mostram como equipamentos sociais importantes, no sentido de propiciar um espaço de manutenção do convívio e de trocas afetivas entre os participantes, mas para que o idoso e sua família alcancem melhores condições de vida e saúde, os grupos necessitam do apoio do governo para que funcionem de maneira mais eficaz, pois foram criados a partir de iniciativas populares e não dispõe de aparato técnico que permita um atendimento de excelência para os participantes.

8 TAKASHIMA, Geney M Karazawa “O desafio da Política de atendimento à família . Dar vida às leis, uma questão de Postura” in família brasileira: a base de tudo.

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Por outro lado, as coordenadoras de grupos de convivência são mulheres na faixa etária de 60 a 80 anos, e em sua maioria sem preparo técnico e conhecimento específico para exercerem a função de coordenação dos grupos, embora possuam um conhecimento profundo da realidade local e dos problemas regionais nos quais estão inseridas. Algumas das regiões na qual temos participação significativa são as regionais noroeste e oeste de Belo horizonte. O projeto de pesquisa entrevistou as coordenadoras de grupos de convivência dessas duas regionais e das oito regionais restantes que quiseram espontaneamente participar, para escutar, segundo suas falas, como se dá essa interação das coordenadoras com as principais instâncias de que elas participam. A saber, o conselho municipal do Idoso, os fóruns de participação nas regionais da prefeitura Municipal, as assembleias e encontros de grupos na cidade de Belo Horizonte. A partir dos seus discursos conseguimos alguns elementos para compreender melhor o que acontece nesse processo, e os fatores que podem estar emperrando o processo de consolidação dos direitos da pessoa idosa e da construção de políticas efetivas de atenção a esta população, segundo sua visão.

Desta forma os pressupostos teóricos que sustentaram a pesquisa foram principalmente: o homem como sujeito sócio histórico transformando a si mesmo e ao mesmo tempo à realidade. Em pleno e constante movimento. A velhice como um vir a ser, um devir complexo imerso nos contextos bio-políticos econômico, social e afetivo. A comunidade, na sua forma imanente, como pertencimento, e simultaneamente, como processo de relacionamento de interdependência e solidariedade entre os seus membros. O grupo como processo de reprodução de identidades, mas ao mesmo tempo, propiciador de espaço para novas construções de subjetividade e processos de subjetivação permanente e dinâmico, mas simultaneamente como um processo e como espaço comunitário, de produção de sentido, produção de si e de processos de subjetivação. A cultura como meio de transmissão e construção das formações conscientes (linguagem e pensamento) e inconscientes (emoção e sentimentos) a interpretação das culturas, como um processo denso, a participação política como uma forma de cuidado de si e do outro, e as dinâmicas grupais na relação de poder e de dominação estabelecidas na sociedade, como um processo a ser reinventado entre os homens , a partir do estudo de temas, obras e autores aqui relacionados, tais como as que estão dispostas abaixo:

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A dinâmica da interpretação da cultura proposta na perspectiva da antropologia hermenêutica de Cliffort Geertz, o conceito de homem sócio histórico, propiciados pela abordagem sócio-histórica da psicologia e na sua análise crítica sobre a própria psicologia, e sobre os processos de Ideologização, Alienação e dominação presentes na relação sempre dinâmica indivíduo-sociedade sustentados Por Vygotsky, Leontiev, Lane, Sawaia, Gofmann, Sant’ana, entre outros.

A dinâmica de grupo estudada por teóricos grupais como Bion, Pichon, Kurt

Lewin, Gregório Baremblitt, Afonso, entre outros;

Os conceitos de cochicho escuta e silêncio na perspectiva sócio histórica da psicologia em Vygotsky e na perspectiva da autonomia em Paulo Freire, Vygotsky, Foucault, Deleuze, na antropologia, à luz de Geertz, LE Breton e ainda nos conceitos de alguns filósofos, especialmente os estoicos. (Epiteto, Cícero)

a) Os conceitos de comunidade presentes em Weber, Balman, Rabinovich, Mercadante e Sawaia.

b) Os conceitos de participação política na dinâmica das relações humanas no espaço público e privado propostas por Hannah Arendt, Foucault, Espinosa e Gofmman.

c) Os estudos sobre afeto e potência presentes nas obras de Espinosa, Negri Foucault e Deleuze e o afeto como potência de ação e transformação propostos por Espinosa e Tony Negri, nos contextos de luta e transformação da realidade.

d) A metodologia de intervenção nas oficinas foi proposta com base na educação popular de e nos círculos de cultura de Paulo Freire; na Ecopedagogia de Gadotti, e nas oficinas em dinâmica de grupo propostas Por Afonso.

e) A questão do feminino e da memória e suas formas de manifestação do afeto presentes, na história das mulheres no Brasil sob as vozes de vários autores como Figueiredo e outros, e organizadas por Del Priore, e na perspectiva de touraine. f) Os conceitos de tempo, envelhecimento e amizade na obra de David Konstan Cícero, Espinoza e Foucault.

g) As obras clássicas e contemporâneas de autores que discutem a velhice, a cultura e os modos de existir do idoso tais como Beauvoir, Minois, Oliveira, Mercadante, Debert, Concone, Tótora.

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