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2 VOZES DO ENVELHECER E DA VELHICE

2.3 Uma Trajetória com os velhos da minha terra

É fácil perceber que o imaginário das pessoas, que vivem nas pequenas cidades, sobre o envelhecimento e sobre o velho, apresenta algumas peculiaridades e diferenças em relação ao imaginário das pessoas que vivem nas grandes cidades. Por isso, acredito ser de suma importância, a descrição de algumas referências culturais ligadas ao envelhecimento, que foram vivenciadas ou observadas, no período que compreende a minha infância até a adolescência, ou mais precisamente, de 1964 a 1982, e que contribuíram e influenciaram na forma como concebo o envelhecimento e o velho. Ou seja, que contribuíram para construir algumas vozes da velhice para mim.

Igual importância tem o contexto político, social e econômico que acompanha a história do envelhecimento no Brasil, especialmente aquele que vivenciei e que será exposto, a começar pela descrição de situações que ilustram algumas das principais experiências vividas pelos velhos da minha terra, culminando com a descrição de fatos cotidianos, narrados nos cochichos das pessoas que tenho escutado sistematicamente, nos grupos de convivência de idosos. Foi a leitura e a escuta destes fatos que me instigaram a esboçar e propor para o mestrado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o projeto de pesquisa que mais à frente, será explicitado.

16 Verso de um canto da cultura popular cantada pelas pessoas idosas, com as quais a autora convivia no seu cotidiano .em Cachoeira de Pajeú – cidade do seu nascimento..

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A primeira escuta dessas vozes diz respeito a um adágio muito popular: “quem

de novo não morreu, de velho não escapa”. Tal adágio ilustra que dificilmente

consegue-se desvencilhar a ideia de morte, da pessoa idosa, ainda que várias imagens vicejantes de velhos sejam colocadas, hoje, como forma de construir novas representações sociais para a velhice. Entretanto, ao registrar minha história, observei alguns fatos que me levam a crer que nem sempre isto se deu desta forma, e que esse adágio embora antigo nem sempre representou a realidade brasileira.

Nasci na pequena cidade de Cachoeira de Pajeú, entre o Norte de Minas e o vale do Jequitinhonha e a experiência com os velhos da minha terra, juntamente com os dados estatísticos do IBGE, mostram que durante as décadas de 60 e 70, o índice de mortalidade infantil no Brasil, era um dos mais elevados do mundo, especialmente em áreas de extrema pobreza como o vale do Jequitinhonha e o norte de Minas Gerais. E, talvez porque a infância representasse um período em que a expectativa de morte era grande, constantemente aparecia nos discursos dos pais, a possibilidade de que seus filhos viessem a morrer muito novos. Em cidades pequenas e na zona rural,

costumava-se esperar até os sete anos de idade para ver se a criança iria “vingar”.

Era comum, algumas vezes, em resposta às perguntas dos amigos sobre seus filhos

pequenos, os pais dizerem: “até agora “vai escapando”, ou até agora “vai vingando.”

Quando uma criança completava os sete anos de idade fazia-se grande comemoração pois dizia-se que ela havia vingado. Era como uma vitória sistemática sobre os males que acometiam as crianças até os sete anos de idade (mal de sete dias: o tétano umbilical), mal de sete semanas (meningite, tuberculose, hepatite, etc) mal de sete meses (gastroenterite, coqueluche difteria tifo) mal de sete anos (poliomielite, sarampo, varíola e catapora).

Lembro-me que na infância, fui acometida, juntamente com outras crianças da mesma idade, por várias doenças infecto contagiosas. Entre elas: varíola, conhecida mais popularmente como bexiga, sarampo, catapora, coqueluche, além de verminoses, e uma soma de outras patologias que na época, por falta de recursos sanitários e tecnologias da saúde, acometiam quase todas as crianças. Na minha cidade, a incidência da varíola nesta época foi tamanha, que ela ficou denominada como peste. Até hoje existe um cemitério dos pestilentos ou dos bexigentos na

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cidade. O local é cercado de mitos e tabus ligados a este período e denuncia a forma estigmatizada e excludente como os portadores da doença eram tratados.

Tais apontamentos me fizeram pensar que os dados estatísticos raras vezes apresentam estudos sobre as interpretações que lhe são dadas na construção da subjetividade ou sobre sua influência em determinadas construções simbólicas da sociedade. E corremos por isso o alto risco de repetirmos certos lugares comuns, sem qualquer questionamento. Para a velhice, por exemplo, esta afirmação de que a morte sempre esteve associada a ela, sem uma análise apurada das concretudes cotidianas que podem evidenciar “a olho nú”, isto é, empiricamente, certas realidades que se diferenciam no tempo. Utilizo este argumento para propor ao leitor o exercício de desconfiar que se até a década de 60 no Brasil, o grande número de crianças que morriam ainda na infância, principalmente pela ausência de políticas de saneamento básico e de controle das epidemias. Somava-se a este fato, tanto a alta taxa de natalidade como o elevado índice de mortalidade infantil, e também o fato de que um percentual muito pequeno da população conseguia alcançar a velhice. Certamente, estávamos nesta época, diante de um cenário que contribuía para que a imagem do velho naquele contexto específico, fosse mais afastada do estigma da morte, ou senão, ao menos para que a presença da morte fosse mais diluída entre as outras faixas etárias e inclusive, mais ligada à infância, nas representações simbólicas dessas comunidades, como por exemplo estava nas minhas representações.

Nas décadas de 60 a 70, na minha cidade, por exemplo, os poucos longevos existentes, ocupavam um lugar de extremo valor para as pessoas. Alguns pelo poder financeiro, como os coronéis e latifundiários, figuras quase invisíveis, mas cujos nomes se tornavam populares na referência dos peões, agricultores e vaqueiros que trabalhavam em suas fazendas. Outros, por seus ofícios cuja transmissão se dava numa relação de respeito e quase de reverência pelo saber do Idoso que ocupava então o lugar de mestre em seus ofícios. Recordo ainda, o fato que nessa época, na maioria das pequenas cidades no interior do Brasil, o conhecimento era transmitido face a face; a tecnologia nos processos comunicacionais ainda não havia transformado a máquina em transmissora principal do conhecimento. E nem o conhecimento formal era visto como uma moeda de troca, tal como se apresenta agora. Por isso mesmo, nem a ausência de um título formal ou mesmo o

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analfabetismo eliminava do velho o seu lugar de transmissor de conhecimentos, experiências, e até excelência em certas habilidades e competências para os mais jovens. Entretanto, esse conhecimento dos ofícios, principalmente daqueles ligados às crenças e aos costumes do povo, como os raizeiros17 curandeiros18, pais de santo19 e

rezadeiras,20 não garantiam sua inserção de forma mais ampla socialmente na

medida em que se havia distinção, estas se vinculavam mais à utilidade de seus ofícios, que especificamente do seu lugar de velho. Acerca desta questão, escrevendo sobre a história da velhice no ocidente, assegura Georges Minois, que:

Surgem então os limites do papel social da velhice na comunidade rural: se o seu prestígio cultural e importância na formação e continuidade das mentalidades são reconhecidos, os poderes de decisão em contra partida são recusados. O seu domínio é o do saber tradicional não o do poder efetivo. O do cultural e não o do prático. E o que na aldeia faz um homem ser probo é a riqueza e a instrução, não é sua idade. (MINOIS,1999, p.247).

O interessante era que o lugar de poder e de influência política que o dinheiro dava aos coronéis, ao mesmo tempo em que os trazia reconhecimentos, afastava-os das pessoas, na medida que mantinha sobre eles a imagem de quem não precisava de nada. E principalmente, mantinham um olhar maniqueísta que os dividia em categorias de muito maus e outros muito bons O lugar de raizeiros, curandeiros e rezadeiras de igual forma, apesar de trazer constantes e fugazes momentos de prestígio e reconhecimento aos idosos, paradoxalmente contribuía para mantê-los expropriados dos direitos, como se não necessitassem das “coisas terrenas”.

Era comum ainda, que as rezadeiras e até as parteiras, vivessem da caridade dos que as procuravam, embora gozassem da constante mobilidade necessária ao seu ofício, que ficava a cargo dos fiéis, no caso das rezadeiras, e no caso das parteiras, pelas famílias que utilizariam seus serviços. Lembro-me, por exemplo, que

17 Pessoas, geralmente idosas que vendiam raízes e plantas medicinais e preparavam chás e remédios caseiros, quase sempre, única alternativa acessível nas cidades pequenas, que não possuíam serviços de saúde públicos.

18 Pessoas que misturavam o conhecimento da fitoterapia adquirido em processos empíricos com, a intuição e os rituais de cura religiosa, e processavam, mediados pela crença, vários tipos de intervenções e rituais de cura.

19 Figuras de autoridade religiosa nos terreiros de candomblé.

20 Mulheres com intensa sensibilidade religiosa, que utilizavam a reza como instrumento de cura, como verdadeiro remédio para os males humanos.

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as casas das rezadeiras eram extremamente pobres, e suas vestes quase maltrapilhas, lembravam a imagem dos peregrinos e forasteiros.de épocas mais remotas contadas nos livros de história.

Cresci rodeada de velhos. Meu pai era “vendeiro21”, e todos os dias, eu

passava horas e horas na venda, para ajudá-lo a vender suas mercadorias, mas também para escutar as inebriantes histórias que os seus fregueses contavam. Meu avô paterno era o primeiro deles, músico sensível e fazendeiro antigo na região, perdera seu patrimônio de uma forma que para ele fora muito indigna ou vergonhosa. Disso eu pude saber pouco, apenas sabia que ele fora delegado da cidade por quatro anos num período próximo a esse acontecimento. Havia um pacto de cochicho e paradoxalmente de silêncio sobre isso; um não dito que de certa forma era visivelmente incômodo para ele, especialmente quando falava de um evento que se comentava por entre os dentes em roda de amigos muito íntimos denominado a guerra das “Antas”22, na década de 50/60. Escolho aqui o nome de um animal

presente naquela região, para identificar uma guerra local que segundo o meu avô foi comandada por uma família que viera de um estado vizinho, para a cidade, com a intenção de dominar o espaço rural e depois o espaço político da cidade.

Tal evento dizia respeito a uma guerra travada por coronéis fazendeiros que lá chegaram, contra os moradores e os indígenas que viviam na zona Rural da Cidade. O que era falado por eles de forma bem fragmentada e sempre com um certo mistério, como um assunto proibido, era que essa guerra expropriara vários fazendeiros de suas terras. Entre eles o meu avô, de suas terras. Eram obrigados a assinar documentos passando suas terras para esses fazendeiros em troca da preservação de sua vida e de sua família, Já que os fazendeiros eram extremamente truculentos.

Nesta época existia na cidade dois partidos políticos: o Orion e o Gurutuba. A dominação das terras era seguida da dominação política na medida em que o candidato das “Antas” usava a coerção e a violência extrema com os eleitores, como estratégia para ganhar as eleições. Vários idosos chegaram a contar que eram

21 Comerciante dono de uma venda. As vendas eram um comércio misto de diversos gêneros, como: alimentos, ferramenta tecidos, materiais escolares, produtos de limpeza etc. Talvez de forma diminuta, tenham sido a primeira versão dos supermercados 22 Nome de um animal que a autora resolveu atribuir ao sobrenome original para ocultar o sobrenome da família dos coronéis do

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abordados por capangas a mando desses fazendeiros perguntando em que partido votariam. Quando diziam que era no partido contrário, eram espancados e ameaçados de morte. Várias tribos indígenas como a tribo dos rabudos23, tiveram que deixar suas

terras próximas a uma fazenda que hoje é denominada fazenda da índia. Segundo contam eles foram ocupar terras na zona rural das Cidades de Aymorés e de Machacali, onde segundo os idosos, estariam mais protegidos porque voltariam a viver com uma parte do seu povo e de outras tribos amigas. Nessa época, segundo meu avô muitos índios e negros apareciam mortos ou sumiam sem que ninguém pudesse dar mais notícias. Mas todos de alguma forma atribuíam isso aos fazendeiros do cacau ou a família das “Antas”

Eu percebia uma tristeza imensa e muito desamparo quando o meu avô falava sobre essa tal “guerra”. De certa forma ele se envergonhava e se culpava por não ter conseguido defender sua família de outra forma que não fosse a de se subjugar aos processos de dominação existentes. Não raras vezes ele me olhava nos olhos e dizia: minha neta, não comente sobre isso com ninguém porque é um assunto muito perigoso ainda hoje. Ele afirmava que para defender sua cidade e sua família de morrerem todos sob as armas e os tiros silenciosos e certeiros dos fazendeiros e coronéis do cacau, teve que abrir mão do seu patrimônio, e chegou a receber por caridade e consideração de um amigo, após perder todas as suas fazendas, um pedaço de chão para cultivar enquanto vivesse, e tornou-se uma espécie de meeiro nesta fazenda até o momento de sua morte, logo após completar os seus setenta e sete anos de idade.

Durante o tempo que viveu meu avô sempre afirmou que foi seu Bisavô, quem doou as terras para a construção da cidade. Lembro-me sempre de suas palavras

dizendo: “você minha neta além de filha da cidade é herdeira desta terra e legítima

cidadã”. Não deixe que apaguem a história do nosso povo, da nossa cidade e da nossa família. Lute e estude muito para não ficar para trás como seu avô. Na época

eu não entendia bem o que ele queria dizer com “ficar para trás”, mas com o tempo

pude perceber que ele atribuía seus fracassos em defender os seus direitos e de sua família, de se manterem na história da cidade, por não ter conseguido estudar muito.

23 Nome atribuído à tribo indígena que habitava as terras da fazenda índia por terem o costume de usar o cabelo comprido e preso por uma corda tecida de palha milho ou de bananeira como um rabo de cavalo.

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Percebi que havia muita coerência na história que meu avô contava com outras histórias que outras pessoas contavam sobre ele e sobre a cidade. Fiquei sabendo por meu pai, que ao haver participado como vereador e como secretário da câmara Municipal da cidade no período de 1966 a 1974, de posse desta história, nesta época, elaborou um projeto para recuperar os documentos de posse do terreno da cidade que estavam na sua comarca, ou mais precisamente, na cidade de Grão Mongol. Segundo ele, logo conseguiu aprovação do projeto de lei na câmara municipal, e por conseguinte, conseguiu recuperar os documentos de doação da terra para a cidade, e também esta história, bem como trazer esses documentos para a prefeitura da cidade. Mas depois de alguns anos as cópias foram extintas e a história da cidade passou novamente a ser adulterada e contada de forma a beneficiar os descendentes das “Antas”, que por sinal eram pessoas que conseguiram educar seus filhos em boas escolas e cuja dominação se dava também por essa via.

Segundo as narrações de vários idosos da cidade, esses documentos foram queimados por um incêndio que julgavam ter sido inclusive proposital, embora não houvesse qualquer prova concreta sobre isso. Este incêndio destruiu vários documentos importantes do arquivo da câmara municipal da cidade. Documentos que novamente prejudicaram vários pequenos fazendeiros e proprietários de terra. Nos

documentos que comprovavam a doação de sete alqueires, ou melhor (alqueirões)24

de terra no ano de1863 pelo meu tataravô CXC e pela minha tataravó AMC que segundo constava na fala do meu avô, e num trecho do documento, que meu pai

pôde ter em suas mãos na prefeitura “cheios de fé e bondade doaram uma extensão

de terra pré-colonizada que já era denominada fazenda Pajeú em gratidão a bênçãos

recebidas pela santa Nossa Senhora da Conceição”25, com a intenção de que fosse

erguida para ela uma capela e uma vila com muitos fiéis. Isto contribuiu para que a expropriação dos moradores nativos da região ainda continuasse por muito tempo.

24 Medida diferenciada do alqueire comum e utilizada em várias regiões brasileiras como no norte de minas. A medida é maior que o tamanho do alqueire utilizado como referência de medida. Corresponde a um alqueirão, que é igual a 193.600m² ou 19,36 ha de terra ao invés do alqueire comum que possui 48.400 m2 ou 4,84ha

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Como pesquisadora, ao escrever este capítulo e narrar as falas destes idosos, é possível refletir e reconstituir alguns elementos, imagens e pessoas, e sobretudo as atividades humanas que tão de perto me influenciaram para gostar dos velhos e de suas narrativas. Ainda mais quando algumas delas também foram cochichadas sob a égide de um processo de dominação, onde o cochicho foi sistematicamente silenciado para que não se tornasse voz audível. Afinal, quem sabe a escuta e transcrição desses cochichos sobre a minha cidade possa despertar o interesse de algum antropólogo e pesquisador para que estudos sejam levantados nesta região. Muita coisa pode ser restaurada na fala de alguns velhos memoriosos, já que na cidade, vários distritos possuem características que relembram antigos quilombos, ou aldeias, pinturas rupestres e outros resquícios de uma história por ser redescoberta. Nesse caso, a trajetória do pesquisador cumprirá outro papel, secundário à primeira proposta, mas de igual importância, no sentido de valorização dos cochichos de idosos. Poderá fazer do trabalho não apenas um escrito sobre a escuta da participação política de mulheres idosas, mas uma pequena mostra dos cochichos sobre a participação política dos velhos da minha terra, que outrora influenciaram também a existência desta pesquisa.

Em última análise, a escuta dos cochichos, juntamente com a história dos meus próprios cochichos e indagações sobre a história dos velhos que me antecederam. podem estar igualmente relacionadas de maneira que esta pesquisa não apenas traçará uma linha do tempo no trabalho com idosas, mas em última instância e em segundo plano, fragmentos do tempo e da vida dos velhos da minha terra. Pois embora em tempos e espaços diferentes, estamos falando de processos de dominação e de idosos que cochicham buscando em suas coxias, em tempos e espaços diferentes inventar saídas, guiados por ideais de liberdade que os impulsiona a criar novos espaços e novos mundos com sua utopia. Pois afinal, segundo afirma o sábio Anatóle France citado por BAUMAN(2004)

Sem as utopias de outras épocas, os homens ainda viveriam em cavernas, miseráveis e nus. Foram as utopias que traçaram as linhas da primeira cidade. Sonhos generosos geram realidades benéficas. A utopia é o princípio de todo o progresso e o ensaio de um futuro melhor. (BAUMAN, 2004).

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Ao contar estas histórias, me emociono profundamente, pois a fala do meu avô era sofrida e as vezes rolavam lágrimas nos seus olhos, mas apesar desse fato ele conservava, durante a maior parte do tempo, um sorriso muito contagiante, típico daqueles cujos afetos de alegria são mantidos durante sua existência e que não se deixam capturar pelos afetos de tristeza, durante muito tempo, e vivem cada dia como se fosse o último de sua vida. Insistindo em contar suas histórias, cientes de sua finitude, mas igualmente cientes de que a memória dos seus feitos poderá perdurar por diversos tempos e gerações.

Meu avô sabia que dificilmente os seus amigos o esqueceriam, uma vez que era também romântico seresteiro e companheiro de horas felizes. Tocava sanfona e pandeiro como poucos. Tocava de ouvido no início, mas depois aprendera a ler partitura com a ajuda de um amigo, embora nunca tivesse frequentado a escola formal. Com ele aprendi desde pequena a cantar modinhas antigas e cantigas de