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O lugar e o sentido dos grupos na fala das Coordenadoras

3 MULHERES QUE COCHICHAM E SUAS COXIAS

3.2 O lugar e o sentido dos grupos na fala das Coordenadoras

Os grupos de convivência funcionam na atualidade como coxias para essas mulheres, segundo os seus depoimentos. Elas se desafiam no compromisso de

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coordenar os grupos, uma vez que ao assumir esses espaços, o fizeram pelo que consideram um chamado comunitário. Nesses espaços, podem falar, trocar afetos, expandir seu conhecimento, organizar seus planos para a comunidade e intervirem juntas na sua realidade e na realidade de muitos. Para elas muitas vezes o grupo é utilizado como espaço para os desabafos sobre questões diversas do seu cotidiano, queixas familiares, queixas conjugais etc. Além disso, segundo afirmam e de acordo com nossas observações, os grupos são equipamentos sociais e comunitários de suma importância no que tange à possibilidade de reduzir os danos à saúde, produzir novas formas de vida e de relacionamento para a pessoa idosa e auxiliá-la a adquirir novos vínculos, conhecer novas pessoas e novos lugares para que seja possível assim, reduzir a solidão e o sofrimento, e principalmente reduzir o isolamento da pessoa idosa nas relações familiares e sociais. Na fala da coordenadora (CI 5 67(2006) pudemos escutar:

Grupo de convivência é um local de encontros onde existe o afeto, o colhimento, e a amizade. Isto tudo é que faz de cada membro um irmão. É assim que ele acaba se tornando como uma família.um local onde os membros vão reencontrar suas raízes e fazer a ponte entre o passado e o presente para a construção de algo novo que os faça caminhar com mais firmeza. Na minha visão o grupo também é um lugar onde se desenvolve a cultura popular que cada idoso traz desde sua raiz. Essa cultura nem sempre é aceita pelo moderno porque hoje a cultura nasce da técnica e não se enraíza enquanto a cultura que o idoso traz é aquela que vem dos antigos e se firma lá como uma raiz do qual ele não se esquece. No grupo a gente aprende a arte do conviver. Cada pessoa tem que ser ela mesma e ao mesmo tempo respeitar as diferenças. Cada um é cada um[...] A partir do momento que ele começa a pensar diferente ele cria uma visão mais ampla da vida e vai se tornando mais comunitário, mais sociável, e até dentro da família ele vai mudando seu jeito de ser e de fazer as coisas. (CI5 67, 2006). No início da pesquisa, A coordenadora (CI-7 72 2006) disse que os grupos de convivência funcionavam principalmente como um espaço íntimo, de solidariedade onde podia chorar suas lágrimas com pessoas amigas. Disse também que sentia falta do convívio do grupo porque era um espaço comandado pela amizade e pela solidariedade. Pois não conseguem nele tratar apenas do que é de todo mundo, mas também aquilo que é a vida de cada um. É um espaço onde circulam questões da

vida privada e da vida pública. “o grupo é um espaço e um encontro para bater um

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título do meu trabalho, uma vez que na minha história pessoal já havia trabalhado com teatro e no teatro o lugar de cochichar se chama coxia e os atores e atrizes antes de irem para o palco cochicham na coxia sobre o que vão apresentar. A fala desta idosa me despertou também para pensar que este cochicho se dava no grupo e o grupo funcionava como uma coxia, que pelo dicionário da língua portuguesa significa corredor de passagem. Nesse ponto parti da própria fala das idosas para pensar que este trabalho se debruçaria em acompanhar o movimento destes cochichos nas coxias até de transformar em voz audível. E dos atores a se deslizarem com suas histórias com sua potencialidade, da coxia para o palco da vida.

Do ponto de vista de participação política, paradoxalmente, as mulheres dizem que têm cochichado em vão nos últimos tempos. Ao comentarmos numa oficina sobre a vida das mulheres e sobre a luta feminina em Minas Gerais elas disseram que ficam desanimadas ao ver como as mulheres lutaram e conseguiram espaço no mercado de trabalho, mas não conseguiram ainda se tornarem fortes o suficiente para vencer o machismo e a violência. Segundo disse uma coordenadora (CI 4, 72a, 2006) “Se existe violência contra a mulher até hoje, é porque, para as mulheres ainda tem muita luta pela frente”. A coordenadora ao comentar sobre isso disse:

Meu marido queria mandar em mim o tempo todo. Bebia feito um condenado e eu ainda tinha que aguentar as grosserias dele. O que adiantou? Ele está hoje debaixo da terra e eu graças a Deus estou aqui voando livre como um passarinho. O problema é que quando a gente pensa que pode mandar na gente, pelo menos um pouco, aí a gente vai ficando velha. ( ri ) E em gente velha todo mundo acha que pode mandar Agora é assim, quando não é marido, é filho que quer mandar em mim e quando num é filho, até aqui no grupo depois que a gente ralou muito e fez tudo começar a acontecer gente arruma um tanto de gente lá da prefeitura, que fica querendo chegar aqui do dia pra noite e começar a mandar na gente (CI-6 72ª, 2006).

Nestas falas, aparecem dois pontos interessantes que quando foram trabalhados um pouco mais denunciaram na fala delas a percepção da mulher e da pessoa idosa como uma possibilidade dupla de atribuição negativa para o sujeito. Ser mulher e ser idosa nesse caso, na sua interpretação, somavam duas categorias que sustentavam o problema da exclusão. Entretanto, se olharmos para além dos resultados concretos na política governamental, veremos como cada cochicho dessas mulheres teve poder de modificar sua realidade, a realidade das suas famílias e de

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diversas pessoas idosas, a despeito de tantos fatores que influenciam na sua exclusão em relação à participação política. Entre esses fatores enumero alguns que foram os mais comentados nas falas delas como originários de processos excludentes em sua participação (negritude, baixa escolaridade ou analfabetismo funcional, sexo feminino, a idade, ser moradora de periferia, estado civil, ser militante, entre outros). Tais fatores originam e sustentam alguns estigmas sociais traduzidos em termos correspondentes como: as vira folha, 36as pé-na-cova37as “véia coviteira,”38, as dedo-

de-ouro39.

Posso dizer que no acompanhamento das políticas públicas nos conselhos de idosos e fóruns regionais ouvi atentamente suas posições e suas falas corajosas. E por meio do acompanhamento dos diários de campo, posso testemunhar, tanto como pesquisadora, quanto como observadora e participante que as acompanhou durante esse percurso de pelo menos 15 anos de trabalho consecutivo nos grupos, nesse processo de transformação, que suas vozes não se calaram, embora em vários momentos tenham se demonstrado desanimadas e descrentes. E, a despeito de todos os processos de dominação e de exclusão que vivenciaram nessa caminhada, sua resistência continua presente nos seus cochichos e nas suas ações.

Várias coordenadoras se implicam hoje no trabalho de manter os grupos em funcionamento, mas o conceito de grupo parece menos importante e menos potente para dizer do seu engajamento, quando estamos mais aproximados de suas ações, que o conceito de comunidade; pois apesar de se reunirem em suas coxias e cochicharem sempre sobre as políticas e programas de atenção ao idoso, e levarem esses cochichos para outros espaços de participação, independente das respostas que possam obter, já se lançam ao trabalho a despeito de uma ou outra ação não

36 Vira –folha é como são denominadas as coordenadoras de grupos de convivência entrevistadas por não manterem os grupos fiéis aos políticos que concedem alguns favores para os grupos, tentando obter votos Segundo elas esta prática de aliciamento ainda continua.

37 É como elas dizem escutar o tempo todo serem chamadas pelas pessoas que não gostam dos grupos ou pelas costas, por discordantes nos diversos espaços de participação política, e até por alguns familiares que não gostam que elas fiquem nesses espaços

38 O termo “coviteira” ou sua variação “cuviteira”, origina-se do termo alcoviteira, que se refere a pessoas que ficavam nas alcovas, cochichando ou fofocando.

39 Dedo-de-ouro, segundo elas é como denominam não só as coordenadoras, mas os idosos analfabetos que não se deixam cooptar facilmente pelos favores políticos, e ficam exigindo políticas públicas. Por que os políticos precisam investir muito, dá muito trabalho para conquistar seus votos. Metaforicamente, custam muito caro. Daí, o termo “dedo de ouro”.

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resultar em êxito. Por isso mesmo, no campo de fala das coordenadoras entrevistadas, o significado de comunidade é mais preciso, já que segundo Weber comunidade implica em relações solidárias, mas próximas e informais e, no caso das idosas, os sentimentos comunitários parecem estar mais presentes e mais relacionados com a realidade dos processos que vivenciam. A noção de pertencimento delas está ligada a essa noção de comunidade e é mantido na organização das ações estão voltadas para os interesses da própria comunidade, e nos sentimentos de pertencimento, solidariedade e cuidado que se expandem sempre para além do próprio grupo, quando são trazidas no campo de fala.

Outra característica fundamental presente na fala dessas mulheres que cochicham é que o seu cochicho realmente é mais aproximado para elas, não do significado da fofoca ou do sentido da maledicência, do mal dizer no sentido de falar mal de si e si e do outro, mas do significado de falar baixinho. Cochichar é falar ao ouvido, na intimidade da alcova. Cochichar na fala destas idosas é o exercício do falar sincero ou falar verdadeiro, desta forma. Está mais aproximado do significado da

parresia40 no sentido atribuído pela filosofia como bem-dizer, o que significa falar

sobre si e sobre o outro implicadas nesse falar.

Sobre essa questão, Foucault (2010 p366)41 ao analisar a parresia e os sentidos atribuídos a ela desde a filosofia antiga até a contemporânea, define-a como “uma palavra corajosa e livre que continuamente ressalta, no jogo político, a diferença e o caráter incisivo de um dizer a verdade, que visa a inquietar e transformar o modo

de ser dos sujeitos”. Mas o sentido presente neste ato de cochichar dessas mulheres

aproxima-se ainda mais do sentido de parresia atribuído por Sêneca, nas suas “cartas

a Lucílio”, quando faz o elogio a uma palavra transparente, uma parresia epicurista

que implica muito mais que o “cara a cara” do diretor e do discípulo, uma comunidade

de amigos que se confiam livremente um ao outro, para se corrigirem mutuamente. ainda não é pois a parresia no sentido de um pronunciamento em praça pública que

40 Parresia é discutida por Foucault no sentido do falar da política, o falar transparente, num contexto de amizade (philia) no livro l’Hermeneutic du sujet em todas as suas formas: socrática, cínica, estóica ou epicurista onde permanecem relativamente irredutíveis à relação política.

41 Partindo do exemplo de Tucídides a Platão, Foucault expõe de maneira original a tensão existente inerente a toda democracia: sobre um fundo de igualdade constitucional, é a diferença introduzida por um dizer a verdade que faz funcionar a democracia; mas em contrapartida, ela sempre constitui uma ameaça recorrente para esse dizer a verdade.

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toma a forma da palavra irônica ou da maiêutica, segundo postula Foulcault, sobre a filosofia (2010, p.346). Essa maiêutica paradoxalmente, pudemos ver se construindo no discurso delas, a posteriori, na aprendizagem da participação política tal como se dá nos espaços públicos atuais dos conselhos dos fóruns regionais e da coordenadoria de direitos da pessoa idosa, e que algumas vezes elas utilizam, ainda que não concordem e não gostem , mas como a única via possível de se fazerem

representar, de forma aceitável , porque como disse a CI9 2006 “se a regra do jogo

deles é essa, as vezes mesmo sem querer a gente tem que fingir que entra no jogo senão não consegue nada com esses políticos” como afirmaram na pesquisa.

É interessante observar que aquele falar verdadeiro de que se utilizam nas coxias, entre amigas, é a condição mesma para que essas mulheres tomem coragem de alçar sua voz em outros ambientes. (pensando, não apenas ambientes do ponto de vista externo, mas sobretudo no sentido atribuído por Vygotsky(1987) como zona proximal, para processarem novas significações, para a atribuição de novas possibilidades e novas ambientações para si mesmas. Segundo Molon (2009, p.102) “A mediação é processo e não ato em que alguma coisa se interpõe. Não está entre dois termos que estabelecem uma relação, mas é a própria relação”. Isto ocorre ao reconhecerem a si mesmas e às suas novas potencialidades na medida em que produzem essas novas significações sobre lugares e papéis historicamente significados de uma outra maneira, como se aquela fosse a única possível. Nesta ação de produzir novos olhares sobre as coisas, e na nova forma de interação consigo mesmas, se transformam. Isso é demonstrado no cochicho da coordenadora que se apresenta:

Hoje é muito bom a gente assumir a idade que a gente tem. Ter orgulho do... dos cabelos embranquecendo sabe! ter a sabedoria de entender porque que as rugas estão começando a aparecer, que isso aqui não tem nada a ver de vergonha (como eu pensava antigamente). Então, depois que eu descobri isso aqui, eu não sinto mais vergonha do que eu sou. Hoje eu sou H, tenho 62 anos, entro em qualquer ambiente, sou respeitada a minha maneira em lugares que já são direitos meus, sabe? Como a fila do banco, a fila do médico, dentro do ônibus, eu acho fantástico! Hoje eu sinto orgulho de dizer: sou idosa com prazer! (CI-2 62ª, 2006).

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Dito de outra forma, é na atividade de cochichar sobre a vida e sobre si mesmas, na intimidade da alcova, que elas podem se desnudar das vestes anteriormente dadas pelo outro e incrustradas por si mesmas ao próprio corpo e a própria vida. E desnudando-se desta identidade deteriorada aguçam seu olhar sobre si mesmas e sobre a realidade e ampliam sua consciência. Essa nova consciência as habilita a inventar outros corpos possíveis, outras realidades possíveis, sob o viés de novos significados, que produzirão novas formas de se experimentarem, experimentarem seus corpos, e finalmente produzirem novas formas de existir.

Na dinâmica da consciência acontece um novo modo de operação no qual tanto os sistemas psicológicos quanto a consciência se modificam mutuamente, uma vez que os significados são produzidos nas relações sociais em determinadas condições históricas e culturais. Há uma tensão permanente nesta constituição da consciência provocada pelos produtos históricos universais e pelas singularidades dos sujeitos. Uma relação entre o singular e o universal na qual o singular expressa o universal e é determinado histórica, cultural e ideologicamente. Mas posso arriscar-me a dizer que no caso específico desta constituição da consciência está presente outro matiz além do matiz ideológico como propõe (VYGOTSKY, 1996, p.117) ao comentar:

É preciso assinalar, por um lado a conexão que alguns sistemas novos mantêm não só com os signos sociais mas também com a ideologia, e o significado que tal ou qual função psicológica adquire na consciência das pessoas, ao passo que por outro lado, o processo de aparecimento de novas formas de comportamento a partir de um novo conteúdo é extraído pelo homem na ideologia do meio que o rodeia. (VYGOTSKY, 1996, p.117).

É que para além da constituição dos processos de significação da dinâmica na relação pessoa-coisa-pessoa, como afirmam tanto Vygotsky, quanto Geertz, na minha interpretação de segunda mão, o cochicho no sentido atribuído pelas entrevistadas é também um instrumento de interação afetiva, para que elas possam se aproximar de outros mundos, conhecer outras pessoas, criar novos vínculos e fazer amigos, pois segundo algumas delas “é muito triste ter que viver sozinha”. Essas mulheres que cochicham esperam desse espaço a possibilidade de poder fazer amigos, encontrar pessoas que partilhem dos mesmos ou de outros gostos e desenvolver uma relação

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de companheirismo. É exatamente esse companheirismo de que falam no ato de convivência que concede outro matiz à consciência, pela conectividade do afeto nos bons encontros que as potencializa na direção de se reconhecerem não apenas como sujeitos de direitos, mas sobretudo como sujeitos desse afeto. Essas afecções provocadas pelo encontro nas suas diferenças e semelhanças, no modo de viver- sentir- agir, fazem do espaço do cochicho um exercício no reconhecimento de si e do outro. Elas querem falar, querem ser reconhecidas como pessoas que podem colaborar e podem dar testemunho de sua realidade e da realidade de outras pessoas no que tange ao convívio cotidiano. Querem partilhar suas necessidades e demandas de afeto, seus prazeres e suas dores, como pode ocorrer com várias pessoas, em outras fases da vida. Entretanto o espaço para essa partilha tornou-se dificultado, ou indisponível para elas. E até mesmo parecem inexistentes para algumas, segundo apontam seus cochichos. Na forma de interpretação em segunda mão, pela qual faço a leitura de suas ações e dos seus cochichos no grupo, especialmente sobre o sentido atribuído por elas ao próprio corpo, na ausência do espaço social de partilha, o corpo é que se empresta como interlocutor que padece, para funcionar como substrato das projeções de todo o sentir dessas mulheres. A experiência no grupo de convivência de idosos, faz com que elas possam significar o grupo como um espaço propiciador da possibilidade de cura para alguns desses males, exatamente porque o grupo restaura o espaço de partilha. Vejamos o que nos diz uma delas CI8- 70ª(2006)

Ah, minha filha! Antes do grupo eu era uma pessoa muito triste. Eu era uma pessoa chateada, andava triste mesmo! Isso é antes né? Agora depois que eu entrei, que eu comecei a frequentar, então eu fiquei...mais alegre (porque toda vida eu fui alegre, mas dentro de casa tem umas coisas que contraria a gente), então eu ficando dentro de casa era pior. Então a gente tando saindo assim, a gente “conveve” com um, “conveve” com a outro. E agente ah...Passa a viver melhor! Sabe? A gente não sente mais aquela... Nem dor, que a gente sente. As vezes, tava dentro de casa sentindo isso, sentindo aquilo. Quando a gente sai... que bate um papo, fica tudo bem! (CI8 –70 ª, (2006).

A amizade no sentido de philia é outro elemento presente na fala das idosas

sobre os grupos de convivência. Sentem saudades de suas amigas, de conviver, de estarem próximas. Mas o sentido de amizade atribuído não isenta o grupo de ser também o lugar onde se mostram as dificuldades os mal entendidos, os jogos de

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poder, onde se expande o mal estar advindo de todos os processos afetivos e civilizatórios que não sessam de se transformar mas também não cessam de reproduzir sentidos culturais negativos. Portanto lá se instauram também disputas as mais diversas possíveis, que atravessam as práticas comunitárias. Mas posso afirmar ao acompanhá-las no cotidiano que esse fazer comunitário é que ainda prevalece no espaço dos grupos de convivência e também no fazer das coordenadoras, que em sua maioria são mulheres idosas que se dispõe a realizar o trabalho com grupos, mais motivadas por um compromisso coletivo, ainda que com demandas pessoais que sustentem esse ideário coletivista. Como é o caso do cochicho desta coordenadora (CI5-67ª 2006)

Eu não queria, isto é, não planejei me tornar uma coordenadora de grupos de convivência, eu tinha medo por que não conhecia direito a comunidade e estava atravessando algumas crises existenciais por ser recém-chegada do convento. Não foi uma decisão minha primeiramente. Na verdade o que eu queria era dar força para as pessoas idosas e ajudar a organizar o grupo. As circunstâncias é que me tornaram uma coordenadora [...] é como se você tivesse organizando uma coisa, um grupo aqui, agora, e de repente esse grupo não tenha uma coordenação e precise disso. Então, as pessoas confiam em você para que você comande aquele grupo. Nesse ponto você não tem coragem de recusar, ou tem? Foi assim que provisoriamente eu me tornei uma coordenadora de grupo. Mas eu acho que a minha vida inteira eu gostei de idosos, desde o dia que eu encontrei um velhinho na praça sete e achei a velhice a coisa mais linda do mundo. (CI5 67a, 2006).

A fala é apenas para exemplificar que essa disponibilidade para a escuta coletiva e para o trabalho comunitário foi um dado que se repetiu em quase todas as