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A despedida da ilusão A despedida da ilusão

No documento A Pratica Das CF Jakob Schneider (páginas 46-48)

A despedida da ilusão

Como já mencionei, com nossa compaixão infantil e em nossas fantasias infantis de onipotência, com que frequência nos precipitamos na ilusão de podermos, com a nossa vida, impedir coisas funestas, salvar outras pessoas ou tomá-las felizes. Às vezes, depois de uma euforia inicial com a solução numa constelação, o cliente volta a ficar deprimido ou se decepciona ao constatar em que medida um amor inútil determinou sua vida, trazendo-lhe prejuízos e sem ajudar a seus pais ou a outras pessoas queridas. É uma sensação difícil de suportar. Somente com uma profunda aceitação é possível recuperar o alívio proporcionado pela constelação. Com o fim da ilusão desmoronam muitos esforços, preferências e hábitos nossos. Como é possível preencher internamente esse “vazio”? Dizemos que buscamos uma vida bem sucedida, mas evitamos as soluções, porque nos unem pelo amor à desgraça de outros e também porque deixam em nosso pensamento e sentimento “lugares vagos” que precisam ser preenchidos com algo novo e desconhecido.

Uma mulher envolvia-se constantemente com homens que depois se revelavam como beberrões. Todos os Uma mulher envolvia-se constantemente com homens que depois se revelavam como beberrões. Todos os irmãos de seu pai e também os seus avós paternos eram viciados na bebida. Por isso o seu pai desprezou irmãos de seu pai e também os seus avós paternos eram viciados na bebida. Por isso o seu pai desprezou sua própria família e cortou relações com ela. Na constelação a cliente teve um forte e cordial contato sua própria família e cortou relações com ela. Na constelação a cliente teve um forte e cordial contato com a família do pai e sentiu muita

com a família do pai e sentiu muita liberdade e prazer de viver. No dia seguinte, porém, voltoliberdade e prazer de viver. No dia seguinte, porém, voltou a sentir-seu a sentir-se mal. Tomando plena consciência da desgraça na família do pai e dos seus próprios relacionamentos mal. Tomando plena consciência da desgraça na família do pai e dos seus próprios relacionamentos fracassados, onde investi

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A Práticas das Consteladas Constelações Familiações Familiaresres–– Bases e Bases e ProcedimentoProcedimentoss

no grupo, ela sentiu uma grande paz e percebeu uma força nova. Visitou os irmãos do pai ainda vivos, no grupo, ela sentiu uma grande paz e percebeu uma força nova. Visitou os irmãos do pai ainda vivos, cuidou de uma tia abandonada, mudou-se para um emprego melhor remunerado e começou um novo e cuidou de uma tia abandonada, mudou-se para um emprego melhor remunerado e começou um novo e mais cuidadoso relacionamento com um outro homem.

mais cuidadoso relacionamento com um outro homem.

A ilusão é necessária na vida da criança, mas no adulto ela precisa transformar-se numa atitude de perceber a realidade, aceitar a sua vida passada da forma como foi, amar os próprios pais com um amor maduro e assumir uma responsabilidade em face do futuro. O terapeuta só pode ajudar evitando conduzir as constelações a soluções ilusórias que não levem em conta os eventos decisivos e os conflitos funestos nas famílias. Às vezes o terapeuta julga que em quaisquer circunstâncias precisa encontrar na constelação uma boa solução para todos, apoiando com isso o falso sentimento de onipotência do cliente. O terapeuta só poderá ajudá-lo se não tiver medo de confrontá-lo com a realidade da própria vida e com a própria responsabilidade, renunciando a levar as constelações mais longe, na busca de soluções do que o permita a situação real do sistema familiar do cliente.

A reconciliação

A reconciliação

Toda terapia consiste, em última análise, num trabalho de reconciliação. Temos de reconhecer sua importância e reintegrar as partes nossas que foram isoladas, bem como as pessoas e ocorrências que excluímos, em conexão com elas. Isso pode ser bem difícil, por exemplo, quando uma criança foi gravemente ferida ou dada por seus pais, quando dois parceiros se ofenderam gravemente ou quando nos afligem sintomas físicos e psíquicos. É especialmente difícil quando se trata da luta e da reconciliação entre vítimas e perpetradores.

Os representantes nas constelações sentem muito precisamente essas tensões. Mesmo quando se dispõem à reconciliação, precisam primeiro, como vítimas ou como perpetradores, mencionar o ato funesto e reconhecer o que tiveram de sofrer ou de cometer. Declarações erradas ou gestos falsos nessa oportunidade geralmente provocam uma recusa ao processo da reconciliação.

A busca, ou melhor, o encontro da palavra, do gesto e do movimento certo em constelações que envolvem vítimas e perpetradores é uma das experiências mais impressionantes de clientes, representantes e terapeutas.

Nem sempre uma constelação encontra um caminho que reconcilia: às vezes, é como se a ocasião para isso ainda não tivesse amadurecido. Em constelações realizadas na Polônia vivenciei uma emocionante abertura para a reconciliação em relação à guerra, ao holocausto, às numerosas deportações e a outros eventos terríveis daquela época. Já no que toca aos eventos durante o regime comunista foi bem mais difícil encontrar caminhos de reconciliação.

Quando se começou a trabalhar com constelações familiares, os perpetradores eram frequentemente expulsos de cena, como um sinal de que perderam o direito de pertencer ao seu grupo e para evitar que descendentes se excluíssem no lugar deles. Mais tarde ficou cada vez mais claro que o alívio trazido por esse procedimento aos familiares dos perpetradores e das vítimas era apenas aparente. Evidenciou-se sempre mais, em numerosas constelações, que as vítimas e os perpetradores se atraem e que se cria entre eles um vínculo indissolúvel, que seria antes reforçado pela exclusão dos perpetradores. A compaixão pelas vítimas pôde desenvolver-se melhor quando se pôde aceitar que vítimas e perpetradores estão ligados e são juntamente acolhidos na morte ou na grande alma. grande alma. Isto reforçou a tendência de admitir que não somente as vítimas mas também os perpetradores precisam receber reconhecimento e um lugar na família. Só assim eles têm a oportunidade de perceber o efeito de seus atos e de sentir compaixão por suas vítimas. Como podemos lidar com eles de forma a possibilitar a paz e a reconciliação entre as vítimas e os perpetradores e entre suas gerações, em função do futuro? Esta é a pergunta mais difícil sobre o tema da reconciliação.

Uma mulher se apavorou num grupo com a ideia de que seu pai fora um assassino. Como engenheiro Uma mulher se apavorou num grupo com a ideia de que seu pai fora um assassino. Como engenheiro responsável, ele participara da fabricação dos foguetes V2. Na constelação o terapeuta escolheu dez responsável, ele participara da fabricação dos foguetes V2. Na constelação o terapeuta escolheu dez pessoas para representarem o

pessoas para representarem os ingleses que mos ingleses que morreram em ataques das borreram em ataques das bombas voadoras e lhes pedimbas voadoras e lhes pediu queu que se deitassem no chão, lado a lado. A seguir, escolheu um representante para o pai da mulher e o colocou se deitassem no chão, lado a lado. A seguir, escolheu um representante para o pai da mulher e o colocou de pé, diante dos mortos. Ele se postou ali, sem emoção e distante. Depois de algum tempo o terapeuta de pé, diante dos mortos. Ele se postou ali, sem emoção e distante. Depois de algum tempo o terapeuta perguntou aos r

perguntou aos representanteepresentantes s dos ingleses como se dos ingleses como se sentiam. Um sentiam. Um deles disse: ‘‘Não deles disse: ‘‘Não tenho nada a tenho nada a ver comver com ele. Foi pena que não inventamos o foguete antes deles.

ele. Foi pena que não inventamos o foguete antes deles.” Nenhum dos dez representantes o culpou. Então” Nenhum dos dez representantes o culpou. Então o pai olhou para os mortos

Jakob Robert Schneider Jakob Robert Schneider

O avô de um cliente mudara-

O avô de um cliente mudara-se da Áustria para Munique para se da Áustria para Munique para “servir a Hitler como um policial”. Quando“servir a Hitler como um policial”. Quando o seu representante, numa constelação, foi confrontado com suas possíveis vítimas fatais, mostrou-se o seu representante, numa constelação, foi confrontado com suas possíveis vítimas fatais, mostrou-se totalmente indiferente, e as vítimas que jaziam no chão se afastaram dele. O terapeuta colocou alguém totalmente indiferente, e as vítimas que jaziam no chão se afastaram dele. O terapeuta colocou alguém para

para representar Hitler representar Hitler e pediu e pediu ao rao representante do epresentante do avô que avô que lhe lhe dissesse: “Eu dissesse: “Eu fiz tudo fiz tudo isso isso por por você”. Ovocê”. O representante de Hitler disse, inici

representante de Hitler disse, inicialmente sorrindo: “Bonito”, e depois, em tom de desprezo: “Pouco mealmente sorrindo: “Bonito”, e depois, em tom de desprezo: “Pouco me impor

impor to com ele”. Sentindo que também fora uma vítima, o avô deitouto com ele”. Sentindo que também fora uma vítima, o avô deitou-se então ao lado das vítimas,-se então ao lado das vítimas, respirou fundo e disse: “Agora tenho um sentimento. Aqui me sinto bem.

respirou fundo e disse: “Agora tenho um sentimento. Aqui me sinto bem. Aqui é o meu lugar”. E Aqui é o meu lugar”. E as vítimasas vítimas o acolheram.

o acolheram.

Entretanto - e isso se aplica aqui - a reconciliação não tem força quando o perpetrador é desculpado e perdoado como se a vítima ou um familiar dela ou do perpetrador lhe dissesse: “Eu sou maior do que você. Sou tão bom que inclusive posso perdoá-lo”. Um “perdão” tão arrogante humilharia o perpetrador e desmereceria a sua vítima. A reconciliação é posta à prova justamente em face da culpa, de seus efeitos funestos e de nossa impotência. A solução não consiste no perdão, mas em que o perpetrador e a vítima assumam as consequências do ato funesto o qual, com o tempo, pode ser relegado ao passado, juntamente com seus efeitos. O perpetrador deve ficar a salvo da vingança, e o acerto de contas entre vítimas e perpetradores fica entregue a um poder maior, a morte, que torna todos “iguais”. No relato bíblico, depois do assassinato de Abel,Caim teve de deixar o clã, mas a marca de Caim foi impressa em sua testa, como sinal de que esse homem era um assassino e protegido por Deus e que ninguém podia fazer-lhe algum mal.

Também é útil para a reconciliação reconhecer que o perpetrador não poderia ter agido de outra forma e que tampouco a vítima poderia ter escapado do acontecimento funesto. O destino uniu cegamente a vítima e o perpetrador, muitas vezes além do limite dentro do qual este pode ser indi- vidualmente responsabilizado. Sabemos que nós mesmos muitas vezes só permanecemos inocentes porque as circunstâncias de nossa vida o permitiram, e que a inocência é antes uma dádiva do que uma realização pessoal. Também a reconciliação não acontece por um ato puramente pessoal, mas pela reverência diante de forças maiores que, no mais tardar com a morte, reúnem vítimas e perpetradores, com “indiferença” ou mesmo com “afeto”. Este seria possível se pudéssemos sentir o universo preenchido também por uma espécie de amor que abarca todos os homens e toda a criação. Admitirmos que mesmo o pior dos perpetradores é um ser humano e merece uma oração fúnebre é sinal de uma profunda humildade diante de seus atos e, ao mesmo tempo, uma chance de permanecermos humanos.

Então talvez seja possível que se reconciliem de uma forma duradoura os descendentes das vítimas e os dos perpetradores, quando lamentarem em comum as vítimas e os perpetradores mortos e conservarem suas lembranças. Tanto as vítimas mortas quanto os perpetradores mortos necessitam do amor dos vivos em face do ocorrido e também para além disso. A consequência de um ato de grave injustiça é, portanto, que o perpetrador só pode ser amado junto com sua vítima e vice-versa. Quando um único perpetrador tem muitas vítimas em sua consciência, isso ultrapassa a capacidade de amor de um indivíduo e talvez só possa ser resolvido pelo amor de muitos, portanto, num contexto social. Podemos pressentir isso quando nos grandes eventos de Bert Hellinger, diante de acontecimentos em grande escala que envolvem vítimas e perpetradores, centenas de pessoas ficam profundamente tocadas pelo que ocorre nas constelações.

No documento A Pratica Das CF Jakob Schneider (páginas 46-48)