• Nenhum resultado encontrado

O método sistêmicoO método sistêmico

No documento A Pratica Das CF Jakob Schneider (páginas 107-111)

O método sistêmico

Para os complexos sistemas de relações, não bastam modelos de explicação lineares e causais. Reconhecemos isso, no mais tardar, na prática do aconselhamento familiar quando ouvimos cada um dos parceiros e depois concluímos que ambos têm razão. Por esse motivo, no domínio psicossocial coloca-se há muito tempo esta pergunta: como é possível intervir adequadamente em sistemas de relações, sem se deixar prender nas armadilhas do pensamento e da linguagem linear e causai e respeitando a determinação estrutural dos sistemas vivos? Como se pode proceder sistemicamente, de um modo bem geral, tendo em mente a conexão das partes dentro de um todo ordenado e articulado, onde o todo é mais do que a soma de suas partes e funções?

A constelação familiar é entendida como um método sistêmico, em muitos sentidos. Ela vê o cliente individual, desde o princípio, junto com as pessoas relevantes em seus campos de relações. Dificilmente haverá um método que permita vivenciar tão explicitamente, e de uma forma tão condensada, abrangendo espaço e tempo, as influências numa família. Nas constelações, vemos os sistemas de relações, de certa maneira, “em ação”. O conceito do “envolvimento” exprime a interconexão dos destinos que se manifestam, em número maior ou menor, mais ou menos simultaneamente.

Esse procedimento sistêmico está acoplado a uma visão histórica da família. O “aqui e agora” de uma constelação, com as influências recíprocas dos representantes, é função do “vir-a-ser” de uma família. Os sistemas estão inseridos na corrente irreversível do tempo. As histórias familiares e seus efeitos sobre a psique se estendem entre um “antes” e um “depois”, em eventos e nos efeitos deles. Para fazer justiça aos relacionamentos, para entender e influenciar seus efeitos, precisamos unir o pensamento sistêmico e o pensamento linear. Se simbolizarmos o pensamento linear por uma linha e o pensamento sistêmico por um círculo, a união deles pode ser visualizada através da espiral. Esse movimento temporal sistêmico é captado pela linguagem com o auxílio de conceitos como “a espiral da violência”. O conceito de “envolvimento” engloba o conceito linear e energético de “repressão”, tomado da psicanálise e a ideia da interconexão circular entre informação e comunicação.

A constelação familiar não é um método sistêmico, se entendermos “sistêmico” em relação aos processos circulares da comunicação nas famílias, que não podem ser decididos em termos de causa e

Jakob Robert Schneider Jakob Robert Schneider

efeito. Nas constelações não se pergunta pelas estruturas de comunicação de uma família, e os representantes só comunicam muito pouco disso nas constelações. O que está em primeiro plano não é a comunicação circular, mas o emaranhamento em destinos alheios. Processos sistêmicos mostram-se mais sob a forma de compartilhamento de um saber num campo comum do que sob a forma de processos de comunicação. Sistema e alma equiparam-se, de certa maneira.

Num sentido mais amplo, as constelações podem chamar-se “sistêmicas” porque se desenvolvem como um processo por imagens. Os sistemas, na medida em que não podem ser descritos em termos causais em sua realimentação e em sua complexidade, só podem ser apresentados numa linguagem visual, através de histórias e imagens. Uma imagem nos dá a perceber, como um todo e simultaneamente uma variedade de informações e de processos. Nesse sentido, nossa percepção (ao contrário da reflexão) é sempre um processo sistêmico. Por exemplo, às vezes nos lembramos de um conto de fadas apenas visualizando a respectiva figura no livro. Aquela figura armazenou as informações essenciais sobre a história e as comunica como um olhar sobre o acontecimento, que aciona a história, o fio condutor que a sustenta e o fim que a resolve.

Assim se mostra nas constelações uma “imagem da família”, com uma história, mas sem que os processos relacionais sejam individualmente analisados em termos lineares e causais. As frases que exprimem o vínculo e a solução são formuladas, na maioria dos casos, em termos muito gerais e sob forma de imagens, sem conexão causai, mas de maneira a permitir a compreensão das conexões. Por exemplo, uma possível conexão entre a própria falta de filhos e a primeira mulher do avô, falecida no nascimento de uma criança, pode ser expressa por esta frase: “Querido vovô, quando vejo como você sofreu com a perda de sua primeira mulher, eu renuncio a ter um filho.” Ou então: “Seja amável se eu tenho coragem de ter um filho, mesmo que você tenha perdido sua primeira mulher e a criança no nascimento.” Essas frases frequentemente também não são formuladas em termos lógicos, mas dependem do inconsciente de um cliente e de sua família. Quando os processos são expressos como causais, isso se destina principalmente a despertar na reflexão do cliente um movimento que para ele seja conclusivo e liberador, sem que se possa destrinchar no detalhe o entrelaçamento dos efeitos. As afirmações causais nas constelações não se destinam a esclarecer um acontecimento, mas a “fundamentar” uma conexão. A causa e o efeito são considerados, e às vezes também são expressos, sem que as ligações sejam individualmente decifradas.

Em seu processo de evolução, as constelações tomaram-se cada vez menos faladas e comentadas e passaram a confiar cada vez mais naquilo que se pode ver. Assim a dinâmica sistêmica não é encoberta ou coarctada pelas palavras, mas pode vibrar na alma sob a forma de imagens. Contudo, algumas vezes são necessárias palavras de esclarecimento pelos representantes ou pelo terapeuta, porque as imagens podem não ser percebidas de maneira suficientemente clara. O trabalho sistêmico baseado em imagens tem o defeito de comportar, às vezes, múltiplos significados, mas nisso reside também a sua força. Isso dá à alma do cliente a liberdade para permanecer amplamente aberta, na constelação e depois dela, e para encontrar por si mesma a necessária correção ou verdade em relação ao modo de agir para o futuro.

Psicoterapia, aconselhamento, ajuda à vida, filosofia aplicada?

Psicoterapia, aconselhamento, ajuda à vida, filosofia aplicada?

Bert Hellinger desenvolveu constantemente o método das constelações familiares. Muitas das críticas levantadas a esse trabalho se acenderam em virtude de suas declarações recentes, por exemplo, sobre vítimas e criminosos, e sobre os procedimentos dos “movimentos da alma”. Essas críticas ignoram a continuidade que atravessa toda a evolução de Bert Hellinger e das constelações familiares, pois os passos ulteriores, às vezes bem diferentes, não excluem os procedimentos anteriores. Com essa evolução, abriu-se um amplo espectro de possibilidades de ação, com variadas maneiras de compreender e desenvolver atitudes terapêuticas e filosóficas no âmbito da ajuda.

A constelação familiar surgiu inicialmente como uma forma de psicoterapia e continua sendo aplicada em contextos da psicoterapia. Pessoas enfermas de corpo ou alma procuram alívio ou cura através das constelações familiares. Os terapeutas, que muitas vezes são formados nos mais diversos métodos psicoterapêuticos, procuram realizar algo no sentido da cura. Nas constelações, com ajuda do terapeuta, o problema essencial é mencionado e busca-se uma solução, por exemplo, pelo abandono de uma identificação. Se as pessoas estão em dificuldades num assunto conjugal, o aconselhador procura encontrar, através de uma constelação, o conselho que trará ajuda.

A Práticas

A Práticas das Consteladas Constelações Familiações Familiaresres–– Bases e Bases e ProcedimentoProcedimentoss

A partir da experiência da ligação dos representantes a um campo anímico que envolve toda a família e da importância de suas reações para soluções que exigem demasiado do saber e das forças de uma família, o movimento livre dos representantes, complementado por poucas intervenções do terapeuta, tomou-se um novo elemento para novosinsightsinsights e frequentemente para surpreendentes soluções. As constelações entram em contato com poderes do destino, em face dos quais também o terapeuta permanece pequeno e ignorante. Quando um perpetrador sente o desejo de morrer para seguir sua vítima, na certeza de que somente esse movimento o reconciliará com ela, como se só a morte pudesse concluir algo que a vida não consegue curar, então a nossa ajuda e, muitas vezes também, aquilo que pessoalmente consideramos uma boa solução, esbarram num limite. A alma familiar se mostra inserida num “campo maior” e a constelação deixa o âmbito da psicoterapia, da terapia familiar ou do aconselhamento, para transformar-se num “caminhar com a alma” (Bert Hellinger), num processo que, pelos “movimentos da alma” nos liga a um acontecimento maior e incompreensível. O terapeuta coloca-se então a serviço de uma espécie de cura de almas, de ajuda à vida ou ajuda espiritual mais abrangente.

Finalmente, no mais recente desenvolvimento de Bert Hellinger, aparece um novo elemento. Ele o denomina “caminhar com o espírito”. Enquanto a constelação familiar “clássica” e os “movimentos da alma” olham para os sentimentos e para aquilo que percebemos através deles, colocando-nos num movimento sensível em contextos mais amplos, agora o terapeuta, junto com o cliente, olha para o “espírito”. No espírito somos capazes de ultrapassar a realidade que percebemos sensorialmente e a nossa experiência do bem e do mal, daquilo que é mau e não está em ordem. O terapeuta, junto com o cliente, percorre um caminho filosófico. Nas palavras de Bert Hellinger: “Explico isso com um exemplo. Um cliente se queixa de seus pais ou lamenta alguma experiência ruim que tenha tido em sua infância. Originalmente tínhamos compaixão por esse cliente e pensávamos: ‘Vamos ajudá-lo’. Se, porém eu penso filosoficamente, a partir do espírito, não existe nada que seja ruim. Não pode existir. Se por trás de tudo atua uma força criadora, nada existe que possa opor-se a ela. Dessa maneira, agora eu olho filosoficamente para a situação e exijo do cliente que também olhe filosoficamente a sua situação e diga: ‘O que quer que tenha sido, eu agradeço! Eu o tomo como uma força. Eu assumo os meus pais como esses pais especiais, e eles me dão uma força especial, básica para minha vida.’ De repente, tudo o que acontece se transfigura e fica precioso.”22

A constelação familiar, que nesse nível já não é uma constelação familiar, orienta agora a alma com todos os seus processos e ligações para o espírito. Conclui Hellinger: “O espírito é leve. Quem caminha no espírito tem os pés leves e pesa pouco sobre a terra. Pesa pouco sobre o cliente. É feliz em presença de tudo, tal como é. Portanto, caminhar com o espírito simplifica tudo.” Nessa linha, a constelação familiar irá deixar o solo do aconselhamento, da psicoterapia e da ajuda à vida? Só poderá trilhar esse caminho o terapeuta que procede filosoficamente nesse sentido ou, até mesmo, que seja “iluminado”? Se assim fosse, também valeria aqui o dito: “Depois da iluminação, venha limpar o chão.” No relato bíblico, Jesus transfigurado no Monte Tabor só permitiu aos seus discípulos o olhar iluminado por um breve momento, e depois reconduziu-os às planuras do dia-a-dia, com seus terrores e dúvidas. A evolução de Bert Hellinger na direção de uma “filosofia aplicada” - seja como for que se possa avaliá-la filosoficamente - não consiste em reduzir a constelação familiar a um acontecimento espiritual, tomando-a supérflua como método terapêutico, mas na atitude e no “espírito” com que a ajuda ordinária, nas mais diversas áreas sociais e baseada nos processos anímicos do vínculo e da liberação, é penetrada, ampliada e aprofundada. Nesse particular, talvez possamos aplicar, noutro contexto, um dito de Bert Hellinger em relação ao homem e à mulher, dizendo: a alma segue o espírito, e o espírito serve ao anímico.

A questão decisiva permanece esta: como é possível superar os eventos traumáticos que vivenciamos em nós ou percebemos em outros e que muitas vezes continuam a atuar através de gerações, de forma a trazer alívio e reconciliação? Como isso pode ser lembrado de uma tal forma que também possa ser esquecido, sem repressão individual ou social? Como pode ser esquecido, de modo que permaneçamos abertos para o futuro crescimento e para o amor? Usar a palavra “precioso”, no contexto do imenso sofrimento dos seres humanos, leva sem dúvida à extrema fronteira espiritual. Místicos de todas as religiões e a “filosofia perene” (Aldous Huxley) sempre se aproximaram dela. Como terapeutas, somente podemos tentar esse pensamento filosófico, espiritual ou místico-religioso quando, em face

Jakob Robert Schneider Jakob Robert Schneider

de um destino pessoal, encararmos o seu efeito, como liberador de sofrimento. Uma visão do mundo, onde tudo o que acontece está englobado num crescimento universal e num amor abrangente, precisa da conexão com aquilo que faz bem a um cliente individual e pode ser aceito por ele. Essa visão é sustentada quando vivenciamos com quanta coragem, força e aceitação muitas pessoas, através de seu sofrimento, encontram uma vida plena, mas é questionada e desafiada em face de terríveis sofrimentos e de modos cruéis de infligir sofrimentos.

A constelação familiar poderá preencher o seu lugar entre os vários métodos e nas diversas áreas da ajuda quando, em seu caminho para tornar-se uma “filosofia aplicada”, permanecer próxima dos problemas que afligem a alma das pessoas e quando nas “ordens do espírito” permanecer conectada aos processos de ligação e liberação em nossa alma e em nossas relações. Dessa maneira poderá contribuir para uma integração da psicoterapia, do aconselhamento, da cura de almas e da espiritualidade e, assim, para uma ajuda integrada, quando não bastarem as terapias específicas. A constelação familiar, amplamente aberta para todos os domínios da alma, constitui uma ajuda à vida.

A Práticas

A Práticas das Consteladas Constelações Familiações Familiaresres–– Bases e Bases e ProcedimentoProcedimentoss

No documento A Pratica Das CF Jakob Schneider (páginas 107-111)