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O espanto e o horrorO espanto e o horror

No documento A Pratica Das CF Jakob Schneider (páginas 38-40)

O espanto e o horror

Diariamente somos confrontados, através da mídia, com os fatos espantosos e terríveis da vida. Embora a percepção do sofrimento nos fascine, de um modo peculiar, ele geralmente permanece afastado de nós, a não ser que sejamos testemunhas imediatas de algum acontecimento apavorante. O que se passa, porém, quando as coisas terríveis acontecem em nossa família de uma forma sensorialmente perceptível? Se uma criança, ao brincar num campo minado, inadvertidamente pisa numa mina e tem a perna arrancada, ela vive um terrível trauma pessoal. Então seu corpo mobiliza todos os seus recursos para assegurar a sobrevivência. Se a criança receber a necessária ajuda, poderá continuar sua vida com sua única perna sã, do modo que lhe for possível. O que se passa, porém, se a criança, ao caminhar atrás da mãe, vê que a mãe pisa numa mina e tem a perna arrancada? O que sucede à criança? Como poderá ela lidar com a visão da mãe gritando de dor, do sangue e da perna arrancada, e com seu próprio pavor, sua compaixão e impotência?

As impressões pavorosas perseguirão a criança mesmo depois de superada a situação, e ela precisará despender uma enorme energia para reprimir aquelas imagens. Entretanto, para nos livrarmos das terríveis impressões que continuam a atuar na lembrança, oprimindo nossa alma, precisamos frequentemente reprimir também o amor à pessoa que se acidentou ou que morreu de modo cruel, pois junto com o amor, afloram de novo as imagens terríveis e a dor. Dessa maneira, os membros da

9Consultar a respeito Gross, B. e Schneider, J.:“Ah! Que bom que eu sei !” “Ah! Que bom que eu sei !” A visão si A visão sistêmica nos cstêmica nos contos de fadontos de fada.a. Editora Atman,

A Práticas

A Práticas das Consteladas Constelações Familiações Familiaresres–– Bases e Bases e ProcedimentoProcedimentoss

família que sofreram graves acidentes ou morreram de forma cruel são muitas vezes excluídos da lembrança de seus familiares e do fluxo da vida, e isto por muitas gerações. Quando se fala deles, é geralmente de uma forma distante e sem participação. Não é raro que descendentes apresentem sintomas psíquicos ou físicos, que de modo surpreendentemente preciso apontam para a pessoa acidentada. Essa experiência constantemente se repete nas constelações.

Uma mulher tinha grandes problemas com sua filha de cinco anos. Quando algo acontecia contra a Uma mulher tinha grandes problemas com sua filha de cinco anos. Quando algo acontecia contra a vontade da menina, ela se atirava no chão, gritando e batendo os pés, e não havia como segurá-la. Como vontade da menina, ela se atirava no chão, gritando e batendo os pés, e não havia como segurá-la. Como último recurso, a mãe muitas vezes também apelava para gritos e tapas para trazer a criança à razão, último recurso, a mãe muitas vezes também apelava para gritos e tapas para trazer a criança à razão, mas sofria muito com essas brigas. Na constelação, as representantes da mãe e da filha foram colocadas mas sofria muito com essas brigas. Na constelação, as representantes da mãe e da filha foram colocadas frente a frente. A “mãe” parecia totalmente fria e indiferente, mas os olhos da “filha” se arregalaram. Ela frente a frente. A “mãe” parecia totalmente fria e indiferente, mas os olhos da “filha” se arregalaram. Ela começou a vacilar, atirou-se no chão e começou a bater os pés como louca. Gritava, rastejava pelo chão começou a vacilar, atirou-se no chão e começou a bater os pés como louca. Gritava, rastejava pelo chão com as mãos nos ouvidos e se arrastou para debaixo de uma cadeira. O terapeuta precisou dispensara com as mãos nos ouvidos e se arrastou para debaixo de uma cadeira. O terapeuta precisou dispensara representante do seu papel e ajudá-la a

representante do seu papel e ajudá-la a acalmar-se, tão intenso fora o seu envolvimento.acalmar-se, tão intenso fora o seu envolvimento.

Interrogada sobre o que evocava nela a cena a que assistira, a mulher contou que seu pai pertencera a Interrogada sobre o que evocava nela a cena a que assistira, a mulher contou que seu pai pertencera a um comando de guerra que colocava minas para impedir o avanço dos soldados russos. Ele sempre um comando de guerra que colocava minas para impedir o avanço dos soldados russos. Ele sempre temera que algo acontecesse nessa ocasião. Realmente, certo dia, pisou inadvertidamente sobre uma temera que algo acontecesse nessa ocasião. Realmente, certo dia, pisou inadvertidamente sobre uma mina e perdeu ambas as

mina e perdeu ambas as pernas. Com a ajuda de próteses, conseguiu voltar a caminhar, casou-se, pernas. Com a ajuda de próteses, conseguiu voltar a caminhar, casou-se, teve seisteve seis filhos e c

filhos e conseguiu provêonseguiu provê-los bem com -los bem com sua profissão.sua profissão. A cliente

A cliente era a era a filha mais filha mais nova e nova e a a favorita de favorita de seu seu pai, mas, pai, mas, uma uma vez, quando vez, quando tinha seis tinha seis anos, seu anos, seu amoramor pelo

pelo pai pai subitamente subitamente pareceu pareceu murchar, murchar, quando quando ele ele lhe lhe mostrou mostrou suas suas próteses próteses pela pela primeira primeira vez vez e e lhelhe contou o que tinha acontecido. Mais tarde, na adolescência, ela teve muitas brigas com o pai e em sua contou o que tinha acontecido. Mais tarde, na adolescência, ela teve muitas brigas com o pai e em sua vida adulta ela o contrariou em tudo o que ele desejava para ela. Quando o pai morreu ela estava no vida adulta ela o contrariou em tudo o que ele desejava para ela. Quando o pai morreu ela estava no exterior e não teve mais ocasião de falar com ele.

exterior e não teve mais ocasião de falar com ele. Agora

Agora ela ela tinha tinha esses esses problemas problemas com com sua sua filha, e filha, e a a representante da representante da filha filha mostrou mostrou na na constelação umconstelação um comportamento que lembrava o acidente do avô.

comportamento que lembrava o acidente do avô. (Por casualidade, a cliente escolhera, sem (Por casualidade, a cliente escolhera, sem o saber, umao saber, uma representante que tinha perdido uma perna num acidente de automóvel e levava uma prótese oculta por representante que tinha perdido uma perna num acidente de automóvel e levava uma prótese oculta por uma saia comprida). O que aconteceu, neste caso? Não sabemos com precisão. Parece que a mulher, uma saia comprida). O que aconteceu, neste caso? Não sabemos com precisão. Parece que a mulher, quando criança, deu-se conta subitamente da invalidez de seu pai (reforçada pela forma como ele a nar- quando criança, deu-se conta subitamente da invalidez de seu pai (reforçada pela forma como ele a nar- rou) e isso a levou a terríveis fantasias do acidente de guerra. A criança provavelmente só conseguiu rou) e isso a levou a terríveis fantasias do acidente de guerra. A criança provavelmente só conseguiu superar isso afastando-se do amor ao pai e agora a filha, com seu comportamento, levava a mãe a superar isso afastando-se do amor ao pai e agora a filha, com seu comportamento, levava a mãe a confrontar-se de novo com o destino de seu pai e com a

confrontar-se de novo com o destino de seu pai e com a própria impotênciprópria impotência infantil.a infantil. A cliente foi

A cliente foi mais tarde mais tarde na constelação confrontada na constelação confrontada com seu com seu pai, e pai, e a a conversa conversa que teve com que teve com ele, por ele, por umum efeito retroativo, abrandou o terror que sentira como criança no colo do pai. Então ela se entendeu com efeito retroativo, abrandou o terror que sentira como criança no colo do pai. Então ela se entendeu com ele a respeito de

ele a respeito de suas decisões posteriores e, amorosamente e com alívio, despediu-se suas decisões posteriores e, amorosamente e com alívio, despediu-se dele.dele.

A recordação de familiares mortos por alguma desgraça é muitas vezes difícil por estar associada a uma censura ao morto. Temos a tendência de recriminar por sua infelicidade aqueles a quem realmente amamos. Não suportamos a impotência, e a censura sugere que, se o acidentado tivesse tomado cuidado, o evento funesto não teria acontecido. Além disso, os acidentes também costumam ter graves consequências para os familiares.

Num grupo de supervisão uma terapeuta quis trabalhar um problema pessoal. Sua perna esquerda Num grupo de supervisão uma terapeuta quis trabalhar um problema pessoal. Sua perna esquerda estava engessada. Ela contou que era a terceira vez em pouco tempo que se acidentava com a perna e estava engessada. Ela contou que era a terceira vez em pouco tempo que se acidentava com a perna e afirmou que não podia continuar seu trabalho como terapeuta se não descobrisse o que isso significava. afirmou que não podia continuar seu trabalho como terapeuta se não descobrisse o que isso significava. Inicialmente o terapeuta não queria entrar nesse assunto, até que notou como era sério para a mulher. Inicialmente o terapeuta não queria entrar nesse assunto, até que notou como era sério para a mulher. Na constelação foram colocadas duas personage

Na constelação foram colocadas duas personagens: a mulher ns: a mulher e a perna ferida. A mulher queria afastare a perna ferida. A mulher queria afastar-se-se da “perna”, mas a

da “perna”, mas a “perna” se apegava a ela, de “perna” se apegava a ela, de modo amável mas obstinado. Foram colocados também osmodo amável mas obstinado. Foram colocados também os pais da mulher. Ent

pais da mulher. Ent ão a “perna” se aproximou daão a “perna” se aproximou damãe da mulher e se apegou a ela. Também a mãe quismãe da mulher e se apegou a ela. Também a mãe quis fugir, mas a

fugir, mas a “perna” continuou perseguindo“perna” continuou perseguindo-a. Foram introduzidos na constelação os pais da mãe.-a. Foram introduzidos na constelação os pais da mãe.EntãoEntão a “perna” se

a “perna” se aproximou do avô, que a aproximou do avô, que a abraçou carinhosameabraçou carinhosamente. Emnte. Emseguida a mulher e sua mãe tambémseguida a mulher e sua mãe também se aproximaram do avô e o abraçaram

se aproximaram do avô e o abraçaramcom lágrimas. Apenas a avó voltou as costas. A cliente olhavacom lágrimas. Apenas a avó voltou as costas. A cliente olhava calada e com

calada e com olhos úmidos para a cena que transcorria sem palavras. Então ela disse:olhos úmidos para a cena que transcorria sem palavras. Então ela disse: “Sim,“Sim, naturalmente, agora me lembro. Quando minha mãe tinha três anos, meu avô sofreu um grave acidente naturalmente, agora me lembro. Quando minha mãe tinha três anos, meu avô sofreu um grave acidente de moto. Sua perna esquerda ficou gravemente ferida, e os médicos queriam amputá-la, ele porém se de moto. Sua perna esquerda ficou gravemente ferida, e os médicos queriam amputá-la, ele porém se recusou. A perna não sarou. Com o tempo, o avô teve

Jakob Robert Schneider Jakob Robert Schneider

perna e morreu dez ano

perna e morreu dez anos depois do acidente. Pas depois do acidente. Para minha mãe, o pai dela permanecera minha mãe, o pai dela permaneceu distante e estranhou distante e estranho em sua infância. Depois do acidente do avô, a avó ficou

em sua infância. Depois do acidente do avô, a avó ficou depressiva e minha mãe, logo que conseguiu, saiudepressiva e minha mãe, logo que conseguiu, saiu de casa.

de casa.” ”

Quando familiares são envolvidos em eventos terríveis de maiores proporções, como em guerras ou catástrofes, muitas vezes os sobreviventes são tomados de horror e não conseguem suportar a realidade que impressionou os seus sentidos. Filmes que mostram a perseguição aos judeus e as terríveis ocorrências dos campos de concentração frequentemente perturbam pela impassibilidade das vítimas judias diante dos sofrimentos de sua gente. Mas como poderiam eles suportar um sentimento de compaixão nessa situação de luta pela sobrevivência pessoal? Quem escapa e sobrevive, geralmente não consegue mais tarde olhar para trás, pois seria transformado em pedra, como as filhas na história de Lot. Entretanto, a recusa de ver, para poder sobreviver, também pode acarretar consequências funestas. A traumatização estrangula o sentimento, o comportamento e o fluxo do amor. Não apenas o que sofremos pessoalmente força a nossa consciência e exige cura e uma real conclusão, também os que morreram de modo terrível forçam nossa recordação. Parece que os pósteros precisam resgatar os “fantasmas” esquecidos, para que algo aconteça que lhe dê de novo um lugar no coração dos sobreviventes e dos seus descendentes e lhes traga a redenção definitiva de sua infelicidade e a paz da morte.

Uma brasileira pediu uma sessão individual para resolver problemas com seu mar

Uma brasileira pediu uma sessão individual para resolver problemas com seu marido e com as crianças. Aido e com as crianças. A constelação com figuras mostrou logo que o problema era bem mais profundo. Seus pais, judeus constelação com figuras mostrou logo que o problema era bem mais profundo. Seus pais, judeus emigrados da Europa, estiveram em su

emigrados da Europa, estiveram em sua juventude num campo de concentração, junto com suas a juventude num campo de concentração, junto com suas famílias.famílias. Ambos sobreviveram, casaram-se

Ambos sobreviveram, casaram-se mais mais tarde e tarde e por diversos desvios por diversos desvios chegaram ao chegaram ao Brasil, onde Brasil, onde nasceramnasceram os filhos. Da família do pai ninguém morreu no campo de concentração. Da família da mãe, todos foram os filhos. Da família do pai ninguém morreu no campo de concentração. Da família da mãe, todos foram mortos ali.

mortos ali.

O terapeuta colocou sobre a pequena mesa várias figuras representando os membros da família lado a O terapeuta colocou sobre a pequena mesa várias figuras representando os membros da família lado a lado e, diante deles, duas figuras representando a mulher e sua mãe. À pergunta do terapeuta sobre que lado e, diante deles, duas figuras representando a mulher e sua mãe. À pergunta do terapeuta sobre que movimento sua mãe gostaria de fazer, a mulher colocou a figura da mãe junto das figuras de sua família movimento sua mãe gostaria de fazer, a mulher colocou a figura da mãe junto das figuras de sua família e chorou. Pela primeira vez ela olhou conscientemente para todos os assassinados, pela primeira vez e chorou. Pela primeira vez ela olhou conscientemente para todos os assassinados, pela primeira vez sentiu uma profunda compaixão por sua mãe. Percebeu que sua mãe sempre se sentira atraída pela sentiu uma profunda compaixão por sua mãe. Percebeu que sua mãe sempre se sentira atraída pela morte para unir-se à família assassinada. Ela nunca tinha falado sobre os acontecimentos no campo de morte para unir-se à família assassinada. Ela nunca tinha falado sobre os acontecimentos no campo de concentração nem sobre sua família. Pode-se

concentração nem sobre sua família. Pode-se imaginar que a mãe imaginar que a mãe estava como que ausente e estava como que ausente e dificildificilmentemente poderia permitir-se sentimentos amorosos pelas crianças, porque

poderia permitir-se sentimentos amorosos pelas crianças, porque isso reavivaria sua imensa isso reavivaria sua imensa dor, mas dor, mas asas crianças ficaram ressentida

crianças ficaram ressentidas com a s com a mãe por causa disso.mãe por causa disso.

Quando a mulher, que também era terapeuta, visitou sua mãe em Israel, algum tempo depois da Quando a mulher, que também era terapeuta, visitou sua mãe em Israel, algum tempo depois da constelação, a mãe lhe contou espontaneamente, pela primeira vez, o que tinha vivido no holocausto. A constelação, a mãe lhe contou espontaneamente, pela primeira vez, o que tinha vivido no holocausto. A filha soube que, na mesma tarde em que ela olhava para toda a família da

filha soube que, na mesma tarde em que ela olhava para toda a família da mãe em sua sessão individual,mãe em sua sessão individual, sua mãe contava suas

sua mãe contava suas vivênciavivências ao regente Spielberg, o primeiro a saber delas. s ao regente Spielberg, o primeiro a saber delas. - Certas coincidências são- Certas coincidências são estranhas.

estranhas.

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Em seu leito de morte a mãe foi acompanhada por seus filhos espalhados por todo o mundo.mãe foi acompanhada por seus filhos espalhados por todo o mundo.

No documento A Pratica Das CF Jakob Schneider (páginas 38-40)