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Como o cliente lida com a constelaçãoComo o cliente lida com a constelação

No documento A Pratica Das CF Jakob Schneider (páginas 100-102)

Como o cliente lida com a constelação

Terminada a constelação, o cliente deveria ficar em paz e deixar, por algum tempo, que fizesse efeito em si o que foi vivenciado. Critica-se, às vezes, esse trabalho por não se fazer uma reflexão posterior, com o cliente ou também com o grupo, sobre o que foi vivenciado, mas que efeito teria essa reflexão? O conteúdo informacional da constelação talvez ficasse mais preciso, mas perderia em amplitude. O efeito da imagem seria menor, com o aporte dos esclarecimentos. Talvez fosse preciso justificar as percepções, mas sem a possibilidade de retomar o que aconteceu na constelação. Com isso, a alma do cliente não teria liberdade de deixar atuar a constelação da forma que lhe conviesse.

Vivenciar algo e comentar essa vivência são coisas diferentes. As explicações são “menores” e menos eficazes do que osinsights.insights. A constelação familiar talvez funcione como um processo hipnoterapêutico para a alma do grupo. Os processos conscientes e os processos inconscientes, que confluem na percepção do que ocorre na constelação, colaboram de formas bem diferenciadas. O critério para a “adequação” da constelação não é sua explicabilidade, mas a força, o alívio e a clareza que proporciona ao cliente, imediatamente após a sua conclusão ou, com frequência, apenas muito tempo depois.

Embora a constelação familiar seja um método de terapia breve, suas soluções raramente são instantâneas. Uma constelação pode durar apenas uma meia hora, mas seu efeito se processa pouco a pouco, no dia-a-dia. Um homem escreveu, cinco anos depois de sua participação num grupo: “Somente agora entendi. Obrigado!” Uma mulher que sofria com um câncer grave e que, em sua constelação, queria impedir que a morte se colocasse amorosamente ao seu lado, escreveu um ano depois do curso: “Há muito tempo não luto mais contra a morte. Aceitei -a ao meu lado e ainda estou viva.” Mesmo quando um terapeuta ou uma constelação confronta o cliente com aspectos desagradáveis para ele, o

setting

setting deixa o cliente livre para lidar com isso como lhe convier.

Depois de uma constelação, frequentemente clientes perguntam se devem fazer logo algo concreto, por exemplo, contar a constelação ao parceiro, aos pais ou aos filhos, procurar o meio-irmão desconhecido, ou coisas semelhantes. Geralmente a resposta é esta: “Espere. Quando o processo se instalar em sua alma, você saberá, no devido tempo e na situação oportuna, se algo dentro de você quer agir, e o que isso é.” Essa atitude coincide com a sabedora taoísta de agir não agindo.

Quando o terapeuta diz que o cliente deve fazer isto ou aquilo, ele o faz para ressaltar o que se manifestou numa constelação. O cliente sabe - e em determinadas condições precisa ser advertido disso - que é sua a responsabilidade por suas decisões. Depois de uma constelação, o terapeuta não procura saber o que o cliente fez com ela. Ele se retira totalmente da execução real. Essa autonomia e responsabilidade em lidar com uma constelação é grandemente apreciada pela maioria dos clientes, pois sentem-se respeitados em sua responsabilidade.

Entretanto, quando o cliente não consegue lidar com sua vivência ou com o resultado de uma constelação, quando se sente permanentemente mal depois dela, quando recebe novas informações sobre a história familiar e não sabe lidar com elas, quando a remoção de uma “casca” libera uma “camada” ulterior na alma ou quando emergem novos problemas, ou os antigos de uma nova maneira, então um novo contato com o terapeuta deve ser possível, seja através de uma ligação telefônica, de uma carta, de uma sessão individual, da participação num novo grupo ou de uma recomendação a outro terapeuta. Não se trata de uma reelaboração, mas de um novo passo. Quando convém que um cliente, depois de algum tempo, faça uma nova constelação, ele entra outra vez num processo único, centrado no que se defronta nesse momento.

A Práticas

A Práticas das Consteladas Constelações Familiações Familiaresres–– Bases e Bases e ProcedimentoProcedimentoss

6.

6.Considerações sobre uma teoria dasConsiderações sobre uma teoria das

Constelações Familiares

Constelações Familiares

Não se elaborou ainda uma teoria sobre o método da constelação familiar. Bert Hellinger trabalha totalmente orientado para a prática, em problemas de relacionamento de pessoas que o procuram por uma necessidade da alma. Dispondo de uma formação filosófica e teológica e com vasta experiência espiritual, ele percorreu um longo caminho, desde a cura de almas e a pedagogia, através da dinâmica de grupos, da psicanálise, da terapia primal, da terapia familiar e da análise transacional. Frequentou diversas direções terapêuticas emergentes, como a hipnoterapia de Milton Erickson, a programação neurolinguística e o método de representar, com a ajuda de intérpretes, as interações nos sistemas de relações. Embora conheça as respectivas abordagens teóricas, interessa-se, sobretudo, pelo efeito dos métodos. Ele sempre integrou, simplificou, adensou, tomou e abandonou o que lhe pareceu adequado e proveitoso com respeito a soluções anímicas. O que ele adapta toma-se sempre algo de próprio, toma- se o seu estilo totalmente pessoal. Em última análise, ele confia em sua percepção sistêmica e em sua sensibilidade em relação aos efeitos. Hellinger não é um cientista, um acadêmico e, embora tenha sido sacerdote, jamais se sentiu como representante de uma instituição. Ele não está interessado em fundamentar cientificamente o que faz nem em fundar uma escola.

Não obstante, Hellinger esclarece e generaliza osinsightsinsights que lhe ocorreram na prática do seu trabalho prático ou em conexão com ela. Com isso as constelações familiares têm naturalmente referências teóricas, pelo menos implícitas. Além disso, na medida em que outros psicoterapeutas e aconselhadores adotam o método das constelações familiares e o integram em sua própria práxis e em sua visão do mundo, o método e suas pressuposições básicas refletem-se, naturalmente, em suas abordagens. As reflexões teóricas se aprofundarão à medida que as constelações familiares revelem a sua utilidade como um método autônomo, numa perspectiva de mais longa duração. Isso proporcionará à prática das constelações novos estímulos para sua maior eficácia, abrindo, por sua vez, nossas possibilidades de experiência dos processos anímicos nas relações humanas.

O conceito de “teoria” provém do antigo grego e srcinalmente se referia à “contemplação de deus”, da forma como era vivenciada pelos espectadores no teatro. O conceito foi posteriormente ampliado, passando a designar toda visão intelectual de determinados contextos. Em nossa perspectiva atual, “teoria” significa qualquer síntese e generalização sistemática de conhecimentos que explicam realidades. Num sentido mais restrito, associamos a teoria à necessidade de comprovar experimentalmente afirmações e de fazer previsões.

Como acontece com a maioria das teorias sociológicas e psicológicas, os elementos teóricos desse método resultam da generalização de experiências ou de pressupostos gerais que só podem ser comprovados na própria prática das constelações. Até o momento, praticamente não existem regras experimentalmente controladas e reflexões mais precisas sobre a possibilidade e o significado dessas experiências. Pelo contrário, existe uma grande reserva em relação a pesquisas de resultados, sobretudo quantitativas, devido ao receio de desfazer o caráter único das experiências da constelação e de perturbar os clientes quanto ao modo de aplicá-las.

Até o momento, a abordagem teórica das constelações familiares se faz sentir principalmente através de afirmações sobre a consciência e os processos conscientes e inconscientes de vínculo e de liberação, de modo que já podemos falar de uma “teoria do vínculo sistêmico”. Também existem respostas iniciais sobre a questão de saber como se articulam o trauma pessoal e o trauma sistêmico.15 São

discutidas questões epistemológicas sobre a fenomenologia e o construtivismo, com o objetivo de estabelecer até que ponto a “verdade” sistêmica de uma constelação se apresenta a nós ou é por nós construída.

Abordo a seguir algumas questões gerais relativas à percepção representativa, à constelação familiar como método fenomenológico e sistêmico, ao fenômeno da “ajuda” e,consequentemente, ao “lugar” da

15Tema tratado por Ruppert, F.:Trauma, Bindung und Familienstellen. Seelische Verletzungen verstehen und heilenTrauma, Bindung und Familienstellen. Seelische Verletzungen verstehen und heilen (Trauma, vínculo e

Jakob Robert Schneider Jakob Robert Schneider

constelação familiar em relação à psicoterapia, à ajuda à vida e à filosofia prática. O que menciono nesse particular de modo ainda provisório e um tanto ousado poderá talvez esclarecer alguns aspectos fundamentais presentes na discussão que se trava em torno da constelação familiar. Estou convencido de que tanto as experiências hauridas nas constelações familiares quanto as conclusões e perguntas que daí decorrem ampliarão significativamente nossa compreensão dos fenômenos anímicos.

No documento A Pratica Das CF Jakob Schneider (páginas 100-102)