• Nenhum resultado encontrado

A dimensão ritual da vida pentecostal (aspecto externo)

No documento ismaeldevasconcelosferreira (páginas 92-99)

A VIDA PENTECOSTAL E SUA INERENTE SOCIABILIDADE

1.1 A dimensão ritual da vida pentecostal (aspecto externo)

“Na nossa igreja é muito comum nós levantarmos e fazermos uma oração: ‘Ah, vamos fazer uma oração pra busca do batismo com o Espírito Santo!’. Então, pra mim, isso é ser pentecostal. É a gente buscar incessantemente o Espírito Santo e a presença dele.” (Pedro)

“A gente entende que o louvor atrai realmente a presença do Espírito Santo.” (Talita)

“Quando eu ouço uma pregação, sinto Deus falando ao meu coração.” (Saulo) “Ofertar é uma forma de agradecer a Deus por tudo o que ele fez por nós.” (Miriã) Quando pensamos em ritual, frequentemente pensamos em algo muito formal e elaborado, como uma missa ou a liturgia da Igreja Ortodoxa Oriental. Mas vale a pena observar que, mesmo a mais simples forma de serviço religioso envolve um ritual, no sentido de algum tipo de comportamento externo (tal como fechar os olhos para orar) coordenado com uma intenção interior para fazer contato com, ou para participar do, mundo invisível. (…) Existindo ou não tal mundo invisível, ele forma um aspecto do mundo visto a partir do ponto de vista daqueles que participam da religião83. (SMART, 1981, p. 16; tradução minha)

A vida pentecostal, em uma dimensão mais social, institucional, pode facilmente ser identificada a partir de sua programação ritual. O crente pentecostal é um sujeito que “não se conforma com um culto natural”, nas palavras do entrevistado Pedro. Ele está em constante busca do sobrenatural que é entendido como uma força impossível de suportar, mas ao mesmo tempo desejada devido ao prazer que traz consigo, um paradoxo. É o que entre os crentes é

83 “When we think of ritual we often think of something very formal and elaborate, like a High Mass or the

Liturgy of the Eastern Orthodox Church. But it is worth remarking that even the simplest form of religious service involves ritual, in the sense of some form of outer behavior (such as closing one’s eyes in prayer) coordinated to an inner intention to make contact with, or to participate in, the invisible world. (…) Whether or not such an invisible world exists, it forms an aspect of the world seen from the point of view of those who participate in religion.”

chamada de “presença de Deus”, que pode ser verificada desde um crente chorando baixo, sentado em um banco, ou em uma oração de joelhos, até ele gritando, saltando, rodopiando e mesmo caindo, sendo simultâneo a isso, ou não, o falar em línguas estranhas.

Durante minhas observações participantes em comunidades caracteristicamente pentecostais, pude constatar não uma homogeneidade nos ritos que embalam a vida pentecostal, mas uma heterogeneidade que é própria desta dinâmica que rege historicamente a tradição. Considerando sua constituição ao redor de uma “liberdade do espírito” que, conforme reza o mito pentecostal, vem ainda nos tempos apostólicos, esta característica ainda hoje é constatável quando se adentra em uma denominação desta tradição religiosa, principalmente aquelas mais recentes no campo religioso.

Conversei com crentes que disseram ter “mudado de igreja”, por exemplo, devido “à mornidão espiritual” que se instalou na denominação anterior em que frequentavam. É que, ao longo dos anos, algumas dessas denominações pentecostais assumiram “uma liturgia mais programada e muito previsível”, conforme me explicou o pastor Paulo. “Já não se via mais a ação livre do Espírito Santo”, continuou o pastor, “de modo que não vivíamos mais a alegria que era proporcionada por ele.”, concluiu.

Neste sentido, constato que, na vida pentecostal, a fé atua dinamicamente também em função dos modos como são expressos ritualmente os mitos provenientes da experiência religiosa característica do pentecostalismo. Quando esses ritos tornam-se comuns, “rotinizados”, para lembrar Max Weber (WEBER, 1999), ou há a estagnação da denominação, assumindo um aspecto mais litúrgico e menos espiritual, experimentando vez ou outra um breve “momento mais quente” (BASTIDE, 2006), ou ela transforma-se (renova- se) revendo seus modos de culto ou, no caso mais dramático, rachando e formando outra denominação, o que é muito comum entre as denominações pentecostais.

O fato é que essa heterogeneidade de ritos no pentecostalismo contribui para manter a dinâmica desta religião. E basta frequentar pelo menos uma dezena de denominações caracteristicamente pentecostais para se confirmar isto.

A programação de um culto pentecostal é praticamente a mesma, sendo inclusive muito semelhante à de alguns cultos de denominações protestantes históricas. Tem orações (para iniciar e terminar o culto, além de outras que fazem parte da programação), músicas (que no caso do pentecostalismo são da harpa cristã, mas também de outras origens, como os corinhos e os “hinos avulsos”), leitura da bíblia (esta mantêm-se praticamente inalterada, variando apenas nas versões bíblicas, frutos de traduções diversas), pregação (que também é comum em todas as denominações, contudo tendendo a ser mais efusiva e emotiva nas

pentecostais) e ofertas (absolutamente inalteradas em qualquer denominação, variando apenas na forma como são conduzidas). O caráter heterogêneo dessa programação se dá numa ênfase mais extática perceptível em determinadas instituições onde manifestações mais “quentes” (BASTIDE, 2006) são quase constantes quando do implemento do roteiro do culto.

Um distintivo dessa heterogeneidade acontece ao se realizar o ritual de oração, momento que marca praticamente todas as instituições pentecostais mas que assume modos específicos em cada uma delas, implicando em atitudes ora efusivas, ora meramente protocolares. Outrossim, os “motivos de oração” também demonstraram ser muito variáveis, algo que implicava em um número diverso de orações durante um culto, a depender da instituição. Porém, mesmo com modos distintos, o aspecto externo da oração manteve-se significativo nas observações e análises do campo pesquisado, como discuto a seguir.

O entrevistado Pedro, que contribuiu com a fala que abre este subitem, condicionou a presença do Espírito Santo à prática da oração. Em minhas incursões, presenciei diversas formas de oração (de joelhos, sentada, em pé, andando), sendo que em todas a invariabilidade se apresentava na forma emotiva e algumas vezes efusiva com que o crente orava. As orações feitas de joelhos foram as mais emotivas, tendo presenciado muitos crentes chorando enquanto oravam. Nas que eram feitas com o crente sentado também presenciei choros, mas nessas não pude ouvir o que era falado, já que a pessoa, ao contrário da que estava ajoelhada, falava em um tom bem mais baixo ou, algumas vezes, só chorava. Em ambas as formas, a pessoa mantinha-se com os olhos fechados, algo significativo para as análises que farei adiante.

Nas orações feitas em pé ou andando predominou a oralidade e a articulação verbal, acompanhadas pela forma efusiva com que se pronunciavam as palavras, sendo que a emoção percebida nas outras duas formas que sempre eram acompanhadas por lágrimas foi muito pouco constatada. Essas orações eram feitas normalmente durante o culto, nos momentos iniciais e finais ou intercalando a liturgia (no início do culto; após a leitura da bíblia; antes da pregação; no final do culto). Esta seria uma oração mais formal dentro da vida pentecostal, tendo em vista ser bastante previsível, sendo executada de forma muito “ritualística” pelos crentes, quer dizer, sem necessidade de justificativas ou explicações, apenas ficavam de pé para orar e sentavam em seguida. Variações ocorreram quando em algumas denominações havia o hábito de andar durante a oração. As pessoas que assim faziam caminhavam de um lado para o outro enquanto oravam, ou, em outras denominações, havia a prática da “imposição de mãos”, um momento em que, durante a oração, pessoas que demonstravam realizar um serviço (algumas utilizavam coletes com nomes como “intercessor” ou

“ministério de intercessão” e variações) caminhavam entre os corredores da igreja e tocavam as outras pessoas, abraçavam ou apenas acenavam com as mãos na direção dos que estavam simplesmente orando. Nesta forma de oração, a pessoa fechava os olhos apenas quando parava em algum lugar ou diante de alguém.

Este momento do culto pentecostal é sempre dirigido por uma única pessoa que fala (ou ora) ao microfone. Suas palavras são efusivas e imperativas, de modo que as outras pessoas quase sempre agem apenas como que confirmando o que está sendo dito com expressões como “amém”, “aleluia”, “glória a Deus”, ou choram ou ficam em silêncio, com os olhos fechados, “orando em espírito”, como ressaltou a entrevistada Talita. Mesmo assim, alguns crentes ainda conseguem também orar em voz alta, simultaneamente, elaborando outra oração. Em algumas reuniões de oração que participei foi difícil entender o que era dito, já que mais de uma pessoa orava ao mesmo tempo, sendo que ainda havia a oração do dirigente, feita ao microfone.

Essas mesmas orações também acarretavam momentos de êxtase durante os cultos. Elas desencadeavam desde as lágrimas, como já mencionado, passando por gritos que eram seguidos de línguas estranhas, chegando a ocasiões que culminavam com pessoas realizando expressões corporais, semelhantes a danças e gesticulações, e algumas vezes, sendo tomadas por manifestações atribuídas a uma presença demoníaca. Neste último caso, a oração consistia em palavras de ordem que intentavam expulsar o “espírito maligno” que afligia a pessoa “endemoninhada”, termos utilizados e bem compreendidos pelos crentes.

As formas de oração descritas até aqui são frutos de observações feitas em reuniões realizadas nos templos pentecostais. Contudo, existem ainda as orações realizadas em lugares fora do templo, como nas casas, nas ruas e praças, ou em outros que inspiram um ascetismo mais rigoroso, como o monte84. Em cada um desses lugares a oração está presente, sendo executada da maneira como o crente entende que deve ser feita. As orações feitas em casa têm um teor mais devocional e intercessor; as feitas em lugares públicos visam a intercessão por aqueles que ainda não são crentes; e as realizadas no monte, ou outros lugares ermos, reúnem todas as demais, sendo praticada com mais veemência e emoção, dado o ascetismo característico desta forma.

A musicalidade da vida pentecostal constitui outra característica marcante e diversa deste grupo. É chamada de “louvor”, termo utilizado pela entrevistada Talita e que, dentre

84 Essas outras formas de oração foram mencionadas por entrevistados. Na pesquisa de campo acompanhei dois

cultos que foram realizados em uma praça pública e um em uma residência de uma família membro de uma igreja pentecostal.

tantos usos nas reuniões pentecostais, como ocasião para as ofertas, apresentação dos grupos de crianças, jovens e senhoras e interlúdio entre momentos do culto, também “atrai a presença do Espírito Santo”. Para este último uso, os “louvores” precisam ter a inspiração necessária, ou seja, “têm que tocar a vida do crente para lhe despertar para o sobrenatural”, como explicou o entrevistado Saulo. A seguir tratarei mais pormenorizadamente sobre isso.

O fato é que a vida pentecostal é também reconhecida por meio do “louvor”. É marcante, pois tende a acarretar em uma experiência extática que eleva os ânimos dos crentes quando executada, e é diversa, pois independe de ritmos e elaborações poéticas para desencadear o êxtase característico desta tradição religiosa. Em algumas denominações visitadas, a liturgia deu-se quase toda de forma musical e sempre acompanhada de muita euforia, sobretudo quando acompanhada pelas palmas dos crentes (quando permitidas) e por instrumentos como bateria, guitarra, pandeiro e alguns de percussão (também quando permitidos).

Acerca da diversidade musical na vida pentecostal, o que se destaca é a variedade de gêneros. Há nesta tradição um hinário (Harpa Cristã) que reúne mais de quinhentas músicas e que são executadas seletivamente durante os cultos85. Por si só, o hinário não tem um único gênero musical, mas vários, podendo também ser adaptado ao ritmo que o cantor ou o músico desejar. Há também os “hinos avulsos”, que são aqueles que não constam no hinário, mas são “evangélicos” e de notório conhecimento, já que são cantados por praticamente todos os crentes durante um culto86. E, para embalar os momentos mais quentes das reuniões pentecostais, há ainda os corinhos, que são pequenas músicas executadas de modo mais intenso e, conforme alguns entrevistados, podem evocar mais facilmente o Espírito Santo. Esses corinhos, assim como os hinos avulsos, por vezes, motivam os crentes a agir mais efetivamente no culto, realizando o que é pedido na letra da música.

Outro aspecto relevante a ser considerado na musicalidade da vida pentecostal, conforme um entrevistado que é músico na igreja, é a não exigência de pré-requisitos profissionais para a execução das músicas. Qualquer crente pode cantar, independente de sua tonalidade ou ritmo, já que “é pra Jesus”, como ouvi em um culto pentecostal. Contudo, esses modos foram mais valorizados em comunidades periféricas e pouco institucionalizadas, ou seja, onde “há mais liberdade do Espírito, pois os irmãos são mais simples e humildes e

85 Essa “Harpa Cristã” é um hinário mais utilizado por instituições como Assembleia de Deus. Há, porém, usos

de versões das músicas desse hinário em outras instituições, também pentecostais, como observado durante a pesquisa de campo.

buscam mais a presença de Deus”, conforme ressaltou a entrevistada Ana, que é membro de uma dessas igrejas, “onde quem controla é o Espírito Santo”, como ela mesma indicou.

Também faz parte da liturgia da vida pentecostal o uso da bíblia como parâmetro doutrinário e ético. Apesar de pouco utilizada nos cultos e demais reuniões (somente no início do culto, em algumas “oportunidades” e antes da pregação é que ela é lida), defende-se que toda a dinâmica que sustenta a liturgia está pautada nela. E fora da liturgia, ou seja, na vida comum do crente, há também a mesma justificativa, o que implica em sua ética de vida. Deste modo, a leitura da bíblia, por si só, não garante um bom resultado. Mas o modo como ela é vivida no cotidiano, seja ele religioso ou comum, não havendo muita distinção entre um e outro por parte do crente, é que se torna relevante.

Nisto, a livre interpretação bíblica é uma característica da vida pentecostal. Devo precisar melhor o aspecto “livre”, pois mesmo isto está condicionado a um modo pré- estabelecido pela tradição, de modo que, apesar dessa liberdade, nem tudo pode ser interpretado livremente. Neste sentido, as doutrinas assumem um caráter bíblico, quase divino, para o crente pentecostal. O entrevistado Timóteo, por exemplo, referiu-se à “palavra de Deus [como] inerrante e infalível”, em referência ao batismo com o Espírito Santo (o falar em línguas estranhas – glossolalia). Ele disse crer “na atualidade do batismo com o Espírito Santo, pois foi Jesus mesmo quem prometeu, que nos últimos dias muitos sinais aconteceriam e um deles era o derramamento do Espírito Santo sobre todos nós”.

Esta leitura é facilitada pela própria tradição que tem na pregação, por exemplo, a enunciação da verdade bíblica (e divina), devendo ser aceita e cumprida sem questionamentos, resultado da influência de uma leitura fundamentalista que caracterizou o pentecostalismo em seus primórdios e ainda hoje é bastante constitutiva desta tradição (ARAÚJO, 2007). Na maioria das igrejas que visitei, a pregação era ministrada por outra pessoa que não era o pastor, mas que tinha sua legitimação. Em uma dessas igrejas, indaguei a um entrevistado se ele acreditava em tudo o que havia sido dito pelo pregador, que na ocasião não era o pastor. Ele respondeu que “sim, pois aquele homem era o ungido do Senhor, a voz de Deus na terra”.

Sobre o aspecto legal da interpretação presente nos mais diversos modos de utilização da bíblia, indaguei ao pastor Apolo, líder de uma das igrejas visitadas, se havia algum instrumento de verificação acerca do que era dito nas pregações ou cantado nas músicas que, como já mencionei, têm a bíblia como referência. Ele informou que “tudo o que é dito ou cantado no púlpito é inspiração do Espírito Santo. Então, eu não preciso olhar se o irmão está ou não seguindo uma doutrina. O resultado do que ele diz é a confirmação da verdade que

buscamos.”. Nisto, não há um controle sistêmico sobre o que se diz no púlpito ou em outros lugares, haja vista o crente pentecostal se considerar constantemente guiado pelo Espírito Santo e, por isso, impossibilitado de falar ou agir de forma ambígua. Se o contrário ocorrer, é porque o referido crente “está em pecado e pelos seus frutos será reconhecido, sendo disciplinado como prevê a própria palavra de Deus [a bíblia]”, continuou o pastor em resposta à indagação sobre a infalibilidade do crente. A disciplina, neste caso, seria “o afastamento da comunhão com os santos por período determinado ou indeterminado.”, concluiu o pastor.

As ofertas constituem também um momento essencial na liturgia pentecostal. É a ocasião em que os crentes fazem suas contribuições financeiras para a igreja, analisando mais superficialmente. Em algumas denominações pentecostais, elas são recolhidas por obreiros (chamados diáconos e/ou auxiliares) que passam em cada fileira de bancos com um instrumento de coleta que chamam de “salva”, um bastão de madeira com um bolsão de pano em uma das pontas. Em outras denominações, o crente levanta-se e vai até a frente, próximo ao púlpito, e coloca sua oferta em uma urna. Dependendo também da denominação, há a utilização de envelopes onde são colocados os valores e depositados na “salva” ou na urna.

Das dez denominações pentecostais que acompanhei, oito delas não estipularam valores para as ofertas e seis procederam apenas uma vez com este ritual. Somente uma realizou três vezes o ofertório, sendo que em duas foi estipulado um valor mínimo ou “o pagamento de um voto”, como disse um pastor durante uma dessas reuniões. Em todas essas ocasiões, boa parte dos presentes às reuniões participou efetivamente. O momento era sempre acompanhado por uma música, não havendo uma associação direta entre a letra da música e o momento da oferta, a não ser em uma única denominação que, nesta ocasião, sempre executava músicas relacionadas à “doação”, “entrega”, “sacrifício” e “serviço”, palavras que compunham a letra das músicas cantadas. Em outra denominação, a que realizou mais de um momento de ofertas, houve música somente na primeira vez, já que nas outras vezes, o dirigente do culto falava o valor a ser ofertado e aguardava as pessoas que se dispunham a ofertar.

Um dos entrevistados, Naamã, membro da denominação que realizou o momento das ofertas por três vezes e estipulou os valores mínimos em uma delas, quando indagado acerca dessa peculiaridade, respondeu-me que “na primeira vez, era uma oferta voluntária de agradecimento, onde nós entregamos o que o Senhor coloca em nosso coração. Nas outras vezes, é uma oferta de fé, de desafio. Aí é só você e Deus. Se você tem uma causa pra resolver, tem que sacrificar.”. Neste caso, o sacrifício é feito através daquilo que há de maior valor na vida do crente ou o que é passível de negociação, como o dinheiro. O próprio Naamã,

em seguida, afirmou ter recebido “uma bênção” depois de um “voto” que fez. Ele informou que estava desempregado e não conseguia nenhuma oportunidade para trabalhar. “Foi então que eu fiz um voto, dizendo que se eu conseguisse um trabalho de carteira assinada em um mês, a metade do meu salário eu ia dar de oferta. E ainda tinha o dízimo, que eu ia entregar separado.”. Segundo Naamã, o emprego foi conseguido depois de vinte dias e, ao receber o primeiro salário, afirmou ter cumprido com o prometido em uma dessas ocasiões.

Acerca do dízimo, mencionado por Naamã, trata-se de outra prática que envolve contribuições financeiras, mas tem uma dinâmica ainda mais peculiar. Todos os crentes estão obrigados a contribuir dessa forma “para cumprir com o mandamento bíblico”, conforme a fala de um pastor de uma dessas denominações. Trata-se da décima parte de todos os ganhos do crente e que, por isso, deve ser entregue todos os meses, enquanto houver receita. “Deus lhe dá cem e pede apenas dez, deixando os noventa pra você fazer o que você quiser”, disse o mesmo pastor durante uma das reuniões assistidas.

A rigor, de acordo com o depoimento do pastor Paulo, “as ofertas servem para a manutenção do templo, como água e luz. E os dízimos pagam o salário do pastor e de outros

No documento ismaeldevasconcelosferreira (páginas 92-99)