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A DIVERSIDADE DE ESPECIES DA CHONDROFAUNA

No documento 11.1 Novas áreas de proteção propostas (páginas 79-82)

O número de Unidades de Conservação Marinhas ao longo da costa brasileira é baixo considerando o espectro de espécies que dependem em diferentes fases de seu ciclo de vida da zona costeira. A atividade pesqueira, desenvolvida nessa região, ainda que não direcionada a captura de elasmobrânquios, tem sido causa de forte impacto sobre as populações e muitas delas apresentam hoje sinais de depleção. Em algumas áreas da costa brasileira o esforço conservacionista é desproporcionalmente baixo como no Rio Grande do Sul onde a inexistência de áreas de proteção marinhas deve ter contribuído para a depleção de espécies como Rhinobatos horkelii, dependente para parto da zona de praia, onde ocorre o arrasto artesanal e o industrial, que apesar de proibido, ocorre sistematicamente.

Chama a atenção, também, que apesar de existirem áreas de conservação ao longo da costa brasileira, o número dessas unidades que compreendem as praias e zona costeira é extremamente baixo e quando existem deve ser questionado a eficiência para a manutenção da

biodiversidade dos elasmobrânquios, pois sendo na maioria de uso direto a pesca é permitida não havendo quaisquer restrições quanto a utilização de aparelhos de pesca predatórios, áreas de pesca ou ao excessivo esforço, ainda que desenvolvido por pescadores artesanais. Assim, cita-se como exemplo a costa do estado do Maranhão, que apesar de totalmente coberta por áreas de conservação, que se estendem sobre a totalidade das Reentrâncias, o esforço de pesca tem crescido ao longo dos anos pela atuação da pesca artesanal e empreendimentos governamentais com ameaça para as espécies de elasmobrânquios que dependem daquelas áreas total ou parcialmente, principalmente as endêmicas.

O número de unidades de conservação marinhas localizadas em áreas oceânicas, não é representativo da biodiversidade dos elasmobrânquios desses ecossistemas. Assim, para um grande número de espécies não existem mecanismos de conservação efetivo. Como exemplo no Nordeste há o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e a Reserva Biológica do Atol das Rocas que desempenham um papel fundamental na conservação das espécies listadas no parágrafo acima. Entretanto a pressão pesqueira sobre a fauna dos bancos sendo elevada (Evangelista et al., 1998), urge a ampliação dos mecanismos de proteção sobre as espécies intensamente exploradas pela frota industrial ao longo de todo o ano. Na ausência de tais mecanismos, espécies abundantes nos bancos como Carcharhinus signatus e Sphyrna lewini, alvo nessa área de uma pescaria dirigida a tubarões, podem vir a ser exploradas à exaustão. Seria pois, interessante que fossem estudados mecanismos para uma parte dos bancos de modo a garantir refúgio para essas espécies.

É óbvio a necessidade de ampliar o número de unidades de conservação marinhas no Brasil, e as Ilhas de Trindade e Martins Vaz mereceriam um ‘status’ tal que impedisse ali exploração pesqueira da fauna dependente das ilhas (plataforma e talude), a luz do que ocorre com Fernando de Noronha. O mesmo raciocínio se aplica ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo onde a ocorrência de várias espécies raras e endêmicas de peixes elasmobrânquios e teleósteos e aves marinhas mais do que justificam o estabelecimento de um Parque Marinho.

Ainda, considerando que só se preserva bem quando se detém conhecimento, sugere-se que sejam empreendidos levantamentos detalhados nas Unidades de Conservação de uso direto e indireto afim de que possa avaliar a biodiversidade dessas áreas. Chama a atenção a inexistência de levantamentos da ictiofauna em geral, e da chondrofauna em particular, para a maioria das Unidades de conservação costeiras e oceânicas.

7. AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE COMPONENTES DA BIODIVERSIDADE

A captura de elasmobrânquios vem crescendo extraordinariamente no mundo todo nas últimas décadas totalizando cerca de 1 milhão de toneladas anuais (Bonfil, 1994). No Brasil, entre os anos de 1988 e 1993, a captura desse grupo sofreu um aumento de 64%. Estatísticas revelam que os elasmobrânquios desembarcados no Brasil correspondem a 4% da captura mundial registrada para o grupo (Bonfil, 1994). Esse volume é obtido por várias

modalidades de pesca havendo, entretanto, subestimações gigantescas em relação ao total capturado, como se comenta no parágrafo 8. Até pouco tempo atrás, a captura de elasmobrânquios podia ser considerada totalmente acidental, embora sempre tenha havido comercialização da carne e de seus subprodutos. Na última década, esse quadro se alterou havendo hoje em diferentes regiões várias pescarias dirigidas a elasmobrânquios com a crescente valorização de seus subprodutos consumidos tanto no mercado interno ou exportados. A captura de elasmobrânquios ocorre na pesca artesanal e industrial.

As Tabela 7.1 lista espécies de tubarões e raias que comumente são encontrados nos desembarques em todo o Brasil. Para tanto, considerou-se fauna acompanhante - “by-catch” aquelas espécies que não são o principal alvo da pescaria, mas não necessariamente são descartados ao mar. Espécies alvo são aquelas na qual a pescaria se concentra e os pescadores efetivamente procuram “pesqueiros” das espécies. Pode-se exemplificar com as redes caçoeiras do sul do país, onde tubarões como Galeorhinus galeus e Squatina spp. são visados, ou com a pesca industrial por embarcações nacionais sediadas em Natal na qual C. signatus e Sphyrna spp. são o alvo. É importante lembrar, que algumas espécies podem ser alvo em uma região e “by-catch” em outra, como por exemplo C. signatus e C. falciformis, que são espécies alvo sobre os bancos oceânicos no Nordeste e “by-catch” no resto do país.

Desta forma, pode-se observar que a maioria das espécies capturadas são classificadas como “by-catch” e portanto, muitas vezes sofrendo forte pressão de pesca decorrente do interesse econômico em uma outra espécie. Tabela 7.1- Espécies de tubarões (a) e raias (b) do Brasil categorizados segundo o tipo de pesca em que ocorrem e o grau de importância na pescaria.

ESPÉCIES ARTESANAL INDUSTRIAL

a) “by-catch” Alvo “by-catch” Alvo

Heptranchias perlo X Notorynchus cepedianus X X Squalus acanthias X Squalus mitsukurii X Squalus megalops X Squalus asper X Squalus cubensis X Squalus blainvillei X Squatina guggenheim X X Squatina argentina X X Squatina occulta X X Ginglymostoma cirratum X X Pseudocarcharias kamoharai X Alopias superciliosus X Alopias vulpinus X Isurus oxyrinchus X Carcharias taurus X X Mustelus canis X X Mustelus fasciatus X X

No documento 11.1 Novas áreas de proteção propostas (páginas 79-82)