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8.1 PESCA COM ESPINHEL TRADICIONAL (MULTIFILAMENTO) E

No documento 11.1 Novas áreas de proteção propostas (páginas 87-89)

MONOFILAMENTO

Atualmente, cerca de 60% do peso total desembarcado pelas pescarias oceânicas de atuns e afins com espinhel tipo "longline" tradicional (multifilamento) corresponde a tubarões (Amorim, 1997). Nas capturas de espinhel monofilamento (q.v. Evangelista et al., 1998 e Marin et al., 1998) dirigidas para espadarte (Xiphias gladius) os desembarques de carcaças de elasmobrânquios representariam cerca de 20% do volume total. Essa modalidade de pesca é desenvolvida geralmente além da plataforma continental ou sobre bancos por embarcações nacionais ou estrangeiras arrendadas. Conforme mencionado no parágrafo 7, esse volume não é de aceitação tranqüila pois estudos recentes (Programa de observadores de bordo do Uruguai), frente a Rio Grande, demonstram que a captura em numero dos tubarões pode alcançar até 63,9% do total (Marin et al., 1998). Experimentos realizados com o N. Oc. Atlântico Sul da FURG como parte do projeto ARGO também indicam uma participação numérica muito maior do que 20%, com fortes variações sazonais.

Nessas modalidades de pesca, é comum a prática do “finning” dos tubarões, ou seja, a retirada das nadadeiras, sendo o corpo descartado no mar (IBAMA, 1998). Desse modo, os desembarques não refletem a participação das espécies nas capturas, registrando-se apenas o desembarque de carcaças (Bonfil, 1994). Essa prática, comum nas frotas sediadas no Brasil, principalmente arrendada, é nefasta para o conhecimento da biodiversidade do grupo, impedindo a tomada de medidas de conservação e manejo.

O relatório do último GPE de Atuns e Afins (IBAMA, 1998), registra para todo o Brasil no ano de 1996, e para todas as artes de pesca, o desembarque de 2283 toneladas de tubarões, dos quais ~1950 toneladas (peso das carcaças

convertido para peso vivo), correspondentes a pesca de espinhel por barcos nacionais e arrendados e em 1997 de um total de 2603 toneladas, 2138 seriam oriundas dessas frotas. Embora esses números, não representem a captura, devido aos descartes, eles são suficientes para contrariar a definição de captura acidental (~20% da espécie alvo) da Comissão Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico- ICCAT, pois os valores nos dois anos considerados são >50% da captura do espadarte, espécie alvo dessa pescaria (1996= 1890,7 ton e 1997= 4099,1 ton).

Com o intuito de estimar a biomassa de tubarões efetivamente capturados, segundo pesquisas recentes, o peso seco das barbatanas corresponde de 1,0 à 2,0% do peso vivo para Prionace glauca e Carcharhinus signatus (Vooren, IBAMA, 1998). Infere-se, assim, que o volume de nadadeiras exportadas no ano de 1997 (SECEX/DECEX- Banco do Brasil, 1998) correspondeu a biomassa de ~12.000 a 23.000 toneladas (peso vivo) de tubarões. A FAO (1998), sem levar em conta o volume exportado de barbatanas estima uma captura de mesma ordem de ~21.000 toneladas de elasmobrânquios no Brasil para o ano de 1996 sendo destes ~15.000 toneladas de tubarões. Guardadas as proporções constantes no relatório do GPE de Atuns e Afins (IBAMA, 1998) entre as diversas artes de pesca, acima de 80 % desses volumes poderiam ter sido capturados pela pesca espinheleira (q.v. tabelas 7 e 8, relatório do GPE de Atuns e Afins IBAMA, 1998).

A grande discrepância entre o volume estimado (FAO e pelos cálculos baseados na exportação de barbatanas) com e o registrado dos desembarques citados no relatório do GPE, torna evidente a enorme biomassa de tubarões descartada sem registro. Essa situação aponta para a necessidade da tomada de medidas que permitam conhecer em detalhe a composição dessas capturas e sua participação específica relativa.

Para contornar esse problema, recentemente foi aprovada pelo IBAMA a Portaria no. 121 (24/81998) que proíbe o desembarque de nadadeiras sem as respectivas carcaças. Essa portaria pode representar (caso haja fiscalização efetiva) um avanço no que diz respeito ao controle das capturas embora não minimize o impacto das pescarias, que ocorrem dentro da ZEE brasileira, sobre as populações atingidas.

É relevante ressaltar que um grande número de barcos, nacionais e estrangeiros, opera com espinhel equipado com estropo de aço na linha do anzol, fato que impede a liberação dos exemplares indesejados (jovens ou espécies sem valor comercial). Contrariamente a alegação do empresariado que diz serem os tubarões capturas acidentais, a presença do estropo de aço nos espinhéis denota a intenção da captura de tubarões, estimulada pelos altos preços das barbatanas no mercado externo e constitui-se em método predatório. Essa prática, tolerada no Brasil, contrasta com as orientações adotadas em vários países onde a liberação é obrigatória para certas espécies protegidas por lei, no momento do embarque pelo corte de tal linha pelos pescadores ou pelo próprio animal.

Ainda, nessas pescarias, há espécies que em hipótese alguma são aproveitadas (e.g. Alopias spp. e Pseudocarcharias kamoharai) sendo como regra rejeitadas ao mar. Dessas espécies não constam qualquer tipo de registro e, caso houvesse acesso às barbatanas, ainda assim não se poderia inferir sobre sua captura pois também não há aproveitamento delas.

Em vista do grande valor na exportação da espécie alvo- o espadarte, é crescente no Brasil o número de embarcações arrendadas que utilizam espinhel pelágico de superfície, e essa modalidade ainda não tem acompanhamento científico adequado. No entanto, nos últimos anos uma forte pressão por parte dos arrendatários de barcos estrangeiros, se faz notar no sentido de aumentar a alocação de quotas para quase todas as espécies de teleósteos de grande valor comercial (q.v. Propostas Brasileiras de Alocação de Quotas de Captura da Albacora-branca e Espadarte do Atlântico Sul-1997 e 1998). Essa possibilidade é causa de grande preocupação, pois mantida a falta de conhecimento sobre as capturas, permanecerão desconhecidos os efeitos desses novos níveis de exploração sobre as populações de elasmobrânquios, contrariando as orientações da CONVEMAR que aponta deveres do país costeiro de promover conhecimento e contribuir para a conservação dos recursos distribuídas na ZEE, ainda que migratórios.

No documento 11.1 Novas áreas de proteção propostas (páginas 87-89)