• Nenhum resultado encontrado

DISTRIBUIÇÃO E SITUAÇÃO DAS ESPÉCIES ENDÊMICAS, RARAS E AMEAÇADAS

No documento 11.1 Novas áreas de proteção propostas (páginas 69-72)

3.5 ELASMOBRÂNQUIOS MIGRATÓRIOS

4. DISTRIBUIÇÃO E SITUAÇÃO DAS ESPÉCIES ENDÊMICAS, RARAS E AMEAÇADAS

As espécies endêmicas são as mais sensíveis a qualquer pressão de origem natural ou antrópica. Isso se deve à sua limitada distribuição e ao conceito de que suas populações, quando mais de uma, estão todas submetidas aos mesmos efeitos pela continuidade na distribuição. Neste trabalho, foram consideradas espécies endêmicas aquelas que possuem sua distribuição em apenas uma região do Brasil. Estas regiões foram identificadas como a seguir: Região Norte: do Cabo Orange `a Foz do Rio Parnaíba (PI), região Nordeste, da Foz do Rio Parnaíba (PI) à Cidade de Salvador (BA), incluindo Arquipélago de Fernando de Noronha, São Pedro e São Paulo e Atol das Rocas; Região Central, da Cidade de Salvador (BA) ao Cabo de São Tomé (RJ), incluindo Ilhas Oceânicas de Trindade, Martins Vaz e Abrolhos; Região Sul, do Cabo de São Tomé (RJ) ao Chuí (RS).

As espécies identificadas como endêmicas estão listadas nas Tabelas 3.1.1, 3.2.1, 3.4.1 e 3.4.2 juntamente com a classificação quanto à sua freqüência e abundância. As espécies endêmicas são aquelas que

comprovadamente fazem parte da fauna da região, mesmo que ocasionalmente capturadas. Espécies com um ou dois registros não foram identificados como endêmicas. Foram identificados como raras, as espécies que ocorrem em menos de 5% das capturas. As espécies que ocorreram de 5 a 20% das capturas foram identificadas como pouco freqüentes e as espécies com mais de 20% como freqüentes. Os critérios para a classificação quanto à abundância, levaram em conta os níveis de desenvolvimento da pesca da espécie, CPUE e bibliografia. Baixas abundâncias podem ser compensadas por uma alta dispersão, no entanto, mesmo esta alta dispersão pode não garantir a preservação do estoque quando a arte de pesca é altamente eficiente.

Algumas espécies encontram-se em sério risco de sobrepesca e outras até ameaçadas de extinção segundo critérios da IUCN (1994), como é o caso de Rhinobatos horkelii, M. fasciatus, Squatina guggenheim, S. occulta, Carcharias taurus, Mustelus schmitti, e Galeorhinus galeus, Isogomphodon oxyrhynchus (Lessa e Vooren, 1997; Lessa e Vooren, 1998; Vooren et al., 1990; Vooren, 1997; Charvet, 1995; Peres-Júnior, 1998). Na sua maioria, as espécies em risco possuem uma distribuição mais ao sul, onde a atividade pesqueira alcançou um maior desenvolvimento no país, e existem alí pesquisas indicando quedas nas capturas com índices alarmantes de mortalidade (Boeckmann, 1996; Fisher, 1996 e Peres-Júnior, 1998). No porto de Rio Grande, as principais espécies desembarcadas de tubarões são Squatina spp., Mustelus schmitti e Galeorhinus galeus (Araújo e Vooren, 1995). No entanto, dados históricos demonstram que algumas espécies evidenciam exaustão por sobrepesca e que o volume total de elasmobrânquios demersais desembarcado aumentou drasticamente de 3184 t em 1973 para 6413 t em 1986 (Vooren et al., 1990). Altos índices de mortalidade foram estimados para raia viola Rhinobatos horkelii em 1982 (Lessa, 1982) o que se confirmou posteriromente pelo colapso do estoque (Lessa e Vooren, 1997). A raia viola Rhinobatos horkelli e o cação anjo Squatina spp. possuíram as maiores capturas mundiais nas costas do Rio Grande do Sul. Boeckmann (1996) prevê um colapso na pescaria de Squatina neste Estado caso sejam mantidos os atuais níveis de mortalidade.

Muitas espécies de tubarões e raias demersais apresentam evidências de vulnerabilidade devido à sua dependência com o tipo de fundo e por sua modesta migração quando comparada a das espécies pelágicas. As migrações são nesse relatório identificadas como de grande escala e de pequena escala. As migrações de grande escala caracterizam uma espécie que cruza ou há evidências de que pode cruzar regiões, e as migrações de pequena escala são os deslocamentos dentro de uma mesma região, como migrações verticais (na coluna da água), batimétricas (associadas ao fundo) e dentro de baías, estuários, enseadas e lagoas costeiras.

Padrões migratórios não são sempre claros, principalmente quando somente parte da população, geralmente a adulta, é que migra. Outro problema são as espécies pouco abundantes. Estas espécies exigem séries amostrais longas durante algum tempo, até que um padrão possa ser visualizado (Ex: Narcine brasiliensis, Discopyge tschudii, Psammobatis spp. Torpedo puelcha, Etmopterus spp. e outros). No sul do Brasil, Mustelus schmitti é um exemplo de grande migrador, pois atravessa a fronteira do Uruguai e chega até a Argentina

(Meneses et al., 1995; Ficher e Vooren, 1995; Ficher, 1996; Fisher e Vooren, 1997). Um exemplo de pequeno migrador são as raias do gênero Myliobatis, que saem de águas entre 30-60 metros para dar a luz a seus filhotes perto da praia (Shwingel e Vooren, 1985; Vooren, 1997).

No entanto, não são somente as espécies demersais que apresentam indícios de declínio populacional. O tubarão estrangeiro Carcharhinus maou, espécie oceânica-pelágica, começa a apresentar evidências do impacto da pesca. A diminuição dos comprimentos máximos encontrados nos últimos cinco anos de prospecção pesqueira no nordeste, em relação aos comprimentos máximos encontrados em bibliografia para esta espécie, demonstra que os exemplares de grande tamanho não se encontram mais na população sendo sugerido que o esforço de pesca crescente seria a principal determinante (Lessa et al., 1999). Essa espécie está sendo proposta por pesquisadores de outros países para inclusão na nova lista da IUCN na categoria ‘lower risk-near threatened’ que corresponde a espécies para as quais ainda não se cogitam medidas de proteção especiais, mas estão próximas de serem consideradas ‘vulneraveis’. Outra espécie causa de crescente atenção é Prionace glauca pois “é capturado em grandes quantidades, suas populações não estão sendo avaliadas e os desembarques não são incluídos nas estatísticas pesqueiras” (Marin et al., 1998). Isto indica que espécies pelágicas também estão sofrendo diminuição de seus estoques, mas que devido à suas características migratórias, essa diminuição fica mascarada.

Rosa e Meneses (1996), identificaram como maiores ameaças para a fauna de elasmobrânquios no Brasil, a sobrepesca e a captura acidental. Além desses fatores, os autores identificaram ainda o procedimento de atos pesqueiros danosos, como a utilização de redes oceânicas de grandes dimensões e a prática de aproveitamento ilegal de partes dos animais como as nadadeiras- “finning”. O IBAMA parece não reconhecer nenhuma espécie de elasmobrânquio como ameaçada (IBAMA, 1989), no entanto, os primeiros esforços para a identificação e inclusão de algumas espécies na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira em Perigo de Extinção, já começam a serem tomados (Rosa e Meneses, 1996; Rosa, 1997; Lessa e Vooren, 1998, Rincón e Lessa, 1999). Fato inédito no Brasil, o Diário Oficial de 5/2/98 de São Paulo declara como ‘ameaçadas de extinção’ naquele Estado as seguintes espécies: Cetorhinus maximus, Carcharodon carcharias, Manta birostris, Mobula hipostoma, Ginglymostoma cirratum, Rhincodon typus, Pristis pectinata, P. perototteti, e ‘provavelmente ameaçadas’: Carcharhinus limbatus, C. maou, C. obscurus, C. plumbeus, C. signatus, Prionace glauca, Carcharias taurus, Rhinobatos horkelii e Squatina guggemheim.

A tabela 4.1 lista as espécies ameaçadas identificadas por Rosa (1997) e acrescenta-se outras aqui identificadas como em declínio (DEC) e risco de declínio (RDEC) nas capturas considerando a totalidade do país. O maior problema para a identificação criteriosa das espécies em risco de sobrepesca ou extinção, é a falta de dados históricos sobre os desembarques em número e peso e o conhecimento deficiente sobre o padrão de distribuição migratória para cada espécie. Sem estas informações, a identificação de espécies em risco se torna muito subjetiva e sujeita à interpretação pessoal.

Tabela 4.1.-Lista de espécies com população em risco de declínio (RDEC), em declínio da população (DEC) ou risco de extinção (modificado a partir de Rosa*, 1997).

Espécie Status Bibliografia Rhincodon typus* Indeterminada; citada

pela IUCN

Cetorhinus maximus* Insuficientemente

conhecida; citada pela IUCN

Carcharodon carcharias* Insuficientemente

conhecida; citada pela IUCN

Megachasma pelagios* Insuficientemente

conhecida; uma única ocorrência no Brasil

Amorim et al., 1995 Galeorhinus galeus* Declínio populacional Peres-Júnior, 1998 Mustelus fasciatus* Risco de declínio

populacional; alto endemismo

Mustelus schmitti Declínio populacional Ficher e Vooren, 1995; Ficher, 1996; Fisher e Vooren, 1997

Squatina guggenheim* Declínio populacional Boeckmann, 1996 Squatina occulta Declínio populacional; alto

endemismo

Boeckmann, 1996

Pristis pectinata* Indeterminada

Pristis perotteti* Indeterminada

Rhinobatos horkelli* Declínio populacional; alto endemismo

Vooren et al., 1990; Lessa e Vooren, 1997; Lessa e Vooren, 1998.

Isogomphodon

oxyrhynchus Risco de declínio populacional; Baixa fecundidade e alto endemismo

Compagno, 1984; Lessa, 1987.

Carcharias taurus Risco de declínio Charvet, 1997, Amorim et al., 1998

5. CARACTERIZAÇÃO, QUANTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO CRÍTICA DA

No documento 11.1 Novas áreas de proteção propostas (páginas 69-72)