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9.4 AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CONSCIENTIZAÇÃO PÚBLICA.

No documento 11.1 Novas áreas de proteção propostas (páginas 99-104)

No que se refere ao ambiente marinho, existe entre os brasileiros em geral, um desconhecimento profundo decorrente da escassa tradição do país relativamente as questões marinhas. Particularmente no que diz respeito aos elasmobrânquios o longo trabalho de desinformação realizado pelos meios de comunicação de massa, particularmente o cinema e a televisão, trouxeram ao grupo o forte estigma de devoradores. Somam-se a esse contexto os ataques de tubarões a surfistas ousados, principalmente na cidade do Recife, que magnificados pela ‘media’ para todo o país, resulta na relação negativa entre o brasileiro comum e os elasmobrânquios.

Essas circunstâncias fazem com que a conservação do grupo tenha um apelo sentimental muito baixo, diferentemente com o que ocorre com tartarugas marinhas, golfinhos e peixes-bois.

Essa realidade faz com que a comercialização da carne e de subprodutos de tubarões seja na maioria das vezes mascaradas por nomes de fantasia ou por sinônimos. A falta de conscientização da importância desses predadores no ecossistema marinho gera sugestões fantasiosas para a questão dos ataques não sendo raro a sugestão de “caça ao tubarão assassino”. A deficiência no ensino da disciplina “ecologia” nas escolas de segundo graus e mesmo nas Universidades contribui para essa visão errônea. Por outro lado, ainda que os recursos pesqueiros sejam patrimônio do povo e a exploração seja motivo de concessão, a falta de convívio da população com as questões do mar faz com que as atitudes predatórias em relação aos elasmobrânquios, não tenha eco na sociedade.

Ainda, uma grande maioria de técnicos do IBAMA (mesmo com nível universitário) com escassa ou nenhuma formação conservacionista, é responsável pela fiscalização deficiente, o que leva ao baixo empenho por parte desses em implementação de medidas que contribuam para a manutenção da biodiversidade dos elasmobrânquios.

Em relação aos pescadores a situação não é diferente e, embora incrível, a crença de que os recursos marinhos são inesgotáveis persiste, não sendo claras as conseqüências do uso de métodos predatórios para si e para as futuras gerações. Essa situação é lamentável devendo-se contudo levar em conta o baixíssimo grau de escolaridade dos envolvidos.

Merece ainda destaque especial a postura do empresariado nacional (inclui-se os arrendatários), que sequiosos por lucros sempre maiores, não desestimulam práticas predatórias e não facilitam as amostragens das capturas e subprodutos, mesmo dos Programas de relevante interesse para o país como o REVIZEE, criando barreiras a pesquisa. Merece novamente menção a falta de fiscalização, constantemente aqui mencionada.

Sugere-se para reverter esse contexto tanto no âmbito da população, como de pescadores e técnicos:

- Cursos básicos para desenvolvimento da mentalidade conservacionista para pescadores, cursos periódicos de reciclagem para o desenvolvimento da mentalidade conservacionista para técnicos do(s) órgão(s) responsável (eis) pela pesca.

10. IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA INVENTÁRIOS BIOLÓGICOS E MONITORAMENTO DA ABUNDÂNCIA

- áreas de talude (toda a costa);

- zona costeira – região norte e região central (Bahia e Espírito Santo)

As áreas norte e central são pobres em pesquisa e deveriam ser priorizadas no que tange à injeção de recursos para estudos de levantamento faunístico de elasmobrânquios;

- Reservas Biológicas, Parques Marinhos e Áreas de Conservação de uso direto ou indireto nacionais e estaduais.

11. ÁREAS INDICADAS PARA CONSERVAÇÃO/PRESERVAÇÃO

11.1. NOVAS ÁREAS DE PROTEÇÃO PROPOSTAS

- Arquipélago de São Pedro e São Paulo– incluindo todo o arquipélago (parte rochosa) e a zona marinha perimetral de 3 milhas náuticas; área de ocorrência de tubarões planctófagos, alta produtividade primária, fauna marinha ainda não é bem conhecida e a atividade pesqueira industrial nas adjacências é crescente;

- Bancos Oceânicos da Cadeia Norte – faixa compreendia além da plataforma continental, em frente aos estados do Ceará e Rio Grande do Norte, formada por bancos oceânicos que emergem à leste, formando o Atol das Rocas e Fernando de Noronha; tais bancos concentram uma comunidade de elasmobrânquios sobretudo uma espécie, Carcharhinus signatus, que é alvo de pesca de empresas localizadas na região.

- Ilhas de Trindade e Martin Vaz– área que envolve as ilhas e o ambiente marinho dentro do perímetro de 3 milhas náuticas; área sob atividade pesqueira de barcos que operam com espinheis; presença de comunidade de elasmobrânquios oceânicos, incluindo raias planctófagas do gênero Mobula, sugerindo alta produtividade primária; área oceânica ainda desconhecida sob vários aspectos oceanográficos;

11.2. CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE MODALIDADE INEXISTENTE NO BRASIL.-

Sugerem-se áreas de exclusão de pesca, formando o que se convencionou denominar “corredores da biodiversidade”, os quais consistem, basicamente, de faixas transversais à costa estabelecidas a partir da zona de praia até um limite batimétrico estabelecido em função da topografia submarina e da comunidade de elasmobrâquios que se pretende proteger.

- Corredor da Solidão – situado na costa do Rio Grande do Sul, estendendo- se da Lagoa do Peixe ao Farol de Solidão, desde a zona de praia até 500 m de profundidade, incluindo toda a plataforma continental e a área de talude; área sob intensa atividade pesqueira, onde é conhecida uma comunidade de elasmobrânquios de distribuição restrita e em declínio populacional;

exemplo são as espécies Rhinobatos horkelli, Squatina guggenhein, Mustelus schmitti e Galeorhinus galeus.

- Corredor de Cabo Frio – situada entre Araruama (RJ) até Macaé (RJ), desde a zona costeira até a isóbata de 200 m; importante área de alta produtividade primária, caracterizada pela presença do fenômeno de ressurgência e a presença de uma comunidade de elasmobrânquios ainda não bem conhecida, entre as quais alguns elasmobrânquios planctófagos, como o tubarão-baleia (Rhincodon typus) e raias-manta (família Mobulidae); limite norte de distribuição conhecida para alguns elasmobrânquios; área sob intensa pressão por pesca;

- Corredor Litoral Norte do Estado de São Paulo – inclui a Ilha de São Sebastião (SP) até Ubatuba (SP), desde a zona costeira até a isóbata de 200 m; litoral recortado por muitas baías e enseadas; caracteriza-se por ser um importante berçário para alguns elasmobrânquios e altamente impactada por pesca e especulação imobiliária.

Justificativa geral para os ‘corredores de biodiversidade’- Essas regiões apresentam espécies ou comunidades em risco. Recomenda-se a total exclusão da pesca na área que se estende continuamente desde a zona de praia até a profundidades do talude. Funcionaria como área de criação fornecendo recrutamento para as áreas restantes. A necessidade de se preservar trechos ao longo de um gradiente ecológico e geomorfológico justifica-se pelos diferentes tipos de fundo, luminosidade, temperatura, salinidade, que variam com a profundidade e distância da costa. Essas áreas de exclusão de pesca não seriam, pois, áreas homogêneas, mas incluiriam um mosaico com diferentes habitats, cada um com sua fauna particular. É demonstrado que a fauna de elasmobrânquios na costa distribui-se ao longo do gradiente de profundidade. A idéia de áreas fechadas livres da pesca tem na atualidade correspondentes em vários países e vem sendo sugerida há uma década para adoção no Brasil (Vooren, 1991).

11.3. ÁREAS DE PROTEÇÃO A SEREM ESTENDIDAS PARA COMPREENDER FAIXA MARINHA.

- Cabo Orange-Ilha de Maracá (AP)– compreendida, na costa do Amapá, deveria ter as áreas marinhas dessas Unidades de Conservação estendidas até pelo menos a isóbata de 20 e 30 metros respectivamente. Essa é a área de ocorrência de várias espécies de elasmobrânquios com distribuição restrita ao norte do Brasil e sob forte pressão por pesca, entre os quais principalmente o peixe-serra (raias do gênero Pristis) e o cação-quati, Isogomphodon oxyrhynchus, ambas incluídas na lista das espécies ameaçada aqui proposta;

- APA das Reentrâncias Maranhenses (MA) –– ampliar até a faixa batimétrica de 50 m de profundidade; esta área se constitui num berçário para várias espécies de elasmobrânquios, devido à presença de litoral recortado, cheio de manguezais, caracterizado pela alta produtividade primária; dentro dessa área se dá parte da distribuição do cação- quati (Isogomphodon oxyrhynchus);

- Reserva Biológica da Ilha do Arvoredo (SC) - ampliar a Reserva até a faixa batimétrica de 200 m, envolvendo toda a plataforma continental, ou criar uma outra unidade de conservação a partir da Ilha do Arvoredo, em direção da beira da plataforma continental; em ambos os casos a idéia é ser criado um “corredor da biodiversidade”; tal medida visa à diminuir a intensa ação das pescarias sobre várias espécies de elasmobrânquios com ciclo de vida envolvendo tanto a faixa costeira quanto as áreas mais profundas; presença de espécies em declínio populacional, como o cação-mangona (Carcharias taurus) e outras sob forte pressão pesqueira, como o tubarão-martelo (Sphyrna lewini), ambas incluídas na lista de espécies ameaçadas.

11.4. OUTRAS ÁREAS

- Reserva Biológica Marinha do Atol das Rocas e Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha– recomenda-se a manutenção do status de conservação vigente para essas áreas, tendo em vista o relevante papel na conservação das comunidades de elasmobrânquios ali existentes, entre as quais algumas espécies de distribuição restrita às ilhas oceânicas, como o tubarão-limão (Negaprion brevirostris) e o tubarão-cabeça-de-cesto (Carcharhinus perezi).

OBSERVAÇÃO- A criação de novas Unidades de Conservação ou o extensão das já existentes, conforme identificado anteriormente, necessita ser complementada por intensa e rigorosa fiscalização com forte repressão para práticas predatórias que devem ser previstas como medidas eficazes de conservação

ABREVIAÇÕES CONTIDAS NO TEXTO:

No documento 11.1 Novas áreas de proteção propostas (páginas 99-104)