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3.4.2 AS ESPÉCIES CAPTURADAS a) TUBARÕES

No documento 11.1 Novas áreas de proteção propostas (páginas 59-67)

A região do talude caracteriza-se por possuir espécies de “transição” e outras que raramente são capturadas por sobre a plataforma, mesmo em áreas extremamente exploradas como o sul do Brasil. Isto evidencia que estas espécies realmente não ocorrem por sobre a plataforma, do contrário seriam ali capturadas. Por outro lado, espécies de transição são frequentemente encontradas no sul, onde a Corrente das Malvinas pode estender línguas de água mais fria por sobre a quebra do talude. Outro fator complicador no Sul é a baixa declividade do talude dessa região, o que aumenta a área de transição. Desta forma, a fauna demersal do talude pode ser considerada “típica” desta região e portanto, com uma dinâmica populacional particular e com interações tróficas e de competição próprias entre as espécies deste ambiente (Tabela 3.4.1).

Tabela 3.4.1.- Espécies de tubarões do talude categorizados segundo a sua ocorrência: endêmica (END), rara (RAR), frequente pouco abundante (FPA), frequente abundante (FAB) e migratórias (MIG); e seu “status” populacional: vulnerável (VUL), declínio nas capturas (DEC), risco de declínio (RDEC) e desconhecido (DES).

ESPÉCIES CATEGORIA STATUS

Heptranchias perlo RAR DES

Hexanchus griseus RAR DES

Centroscymnus cryptacanthus RAR DES

Scymnodon (=Zameus) squamulosus RAR DES

Etmopterus hillianus RAR DES

Etmopterus pusillus RAR DES

Etmopterus bigelowi RAR DES

Etmopterus grascilispinis RAR DES

Etmopterus schultzi RAR DES

Squalus mitsukurii FPA RDEC

Squalus megalops FPA RDEC

Squalus asper RAR DES

Squalus cubensis FPA DES

Squalus blainvillei RAR DES

Centrophorus granulosus RAR DES

Echinorhinus brucus RAR DES

Somniosus microcephalus RAR DES

Somniosus pacificus RAR DES

Squatina argentina FPA, END DEC

Squatina dumeril RAR END DES

Squatina occulta FAB, END DEC

Schroederichthys bivius RAR, END DES

Schroederichthys tenuis RAR DES

Scyliorhinus hesperius RAR DES

Scyliorhinus haeckelli FBA DES

Scyliorhinus besnardi FPA, END DES

Galeus arae RAR, END DES

Pseudotriakis microdon RAR DES

Galeorhinus galeus FAB, MIG DEC

Carcharhinus plumbeus FAB DES

Carcharhinus porosus FAB, VUL DES

Carcharhinus signatus FAB RDEC

As espécies de elasmobrânquios com o maior número e biomassa encontradas em todo o talude brasileiro são, provavelmante, as espécies do gênero Squalus (Calderón, 1994; Haimovici et al., 1998; Louro, 1998; Rincón, 1997 e 1998; Pereira, 1998). No Brasil, a identificação destas espécies ainda encontra-se problemática, principalmente no grupo S. cubensis-megalops, onde a identificação se complica pelas características pouco distintivas deste grupo (Garrick, 1960; Sadowsky e Moreira, 1981; Castro, 1982; Compagno, 1984). As demais espécies, Squalus asper, S blainvillei, S. acanthias e S. mitsukurii, são facilmente identificáveis (Muñoz-Chápuli e Ramos, 1989; Amorim et al., 1995; 1997; Boeckmann et al., 1997 e Rincón e Lessa, 1998). No sul do Brasil, encontram-se S. megalops e S. mitsukurii, identificados por Calderón (1994), e ocasionalmente S. acanthias (Vooren, 1997). Calderón (1994) identifica S. mitsukurii como uma espécie que migra junto com a Corrente das Malvinas, enquanto que S. megalops é caracterizada por acompanhar a Convergência Subtropical. Nesta região, as duas espécies distribuem-se por sobre a plataforma continental até o talude superior (40-300 m S. megalops e 80-180 m S. mitsukurii). No nordeste S. mitsukurii também ocorre, no entanto, S. megalops parece ter sido substituído por S. cf. cubensis, o qual tem uma distribuição mais ao norte (Rio Grande do Norte e Ceará) que S. mitsukurii e diminui de biomassa ao sul (Pernambuco e Alagoas) onde parece ser substituído por S. mitsukurii. Esta alternância no Nordeste sugere que as duas espécies possuam nichos muito próximos, o que parece não ocorrer no Sul com S. mitsuskurii e S. megalops, pois as duas espécies são capturadas simultaneamente. S. asper é registrado por eventuais capturas na costa do Nordeste, uma captura na costa do estado de São Paulo e três capturas no Sul, entre o Cabo de São Tomé e Chuí (Amorim et al., 1995 e Rincón e Lessa, 1998, Louro, 1998; Haimovici et al., 1998; Gadig, 1998). S blainvillei foi identificado por Ribeiro (1907, 1923), no entanto, Bigelow e Schroeder (1948) considerou estes espécimens como S. cubensis. Kotas e Vooren (1985), identificaram S. blainvillei para o sul do Brasil, mas posteriormente Calderón (1984), demonstrou que na realidade se tratava de S. mistukurii. Gomes et al. (1997), prefere colocar os exemplares de S. mitsukurii dentro do Grupo “Squalus blainvillei”, pois segundo ele, muitos exemplares possuem características de S. mitsukurii, enquanto que outros possuíam características de S. blainvillei.

Os tubarões do gênero Mustelus também foram representativos nas capturas de espinhel de fundo no talude brasileiro. Atualmente são reconhecidas as espécies Mustelus canis, M. fasciatus, M. schmitti, M. norrisi e M. higmani, (possivelmente também M. henlei vide Bigelow e Schroeder, 1948 e Heemstra, 1997, p. 917) sendo que as quatro últimas são nitidamente espécies de plataforma (Gadig, 1994 e Heemstra, 1997), enquanto que M. canis parece ser uma espécie de plataforma no Sul e Sudeste (Barcellos, 1961; Vooren e Betitto, 1984; Souto, 1986; Batista, 1988 e Ficher, 1996; Vooren, 1997) e de quebra de talude no Nordeste (70-330 m) (Damiano et al., 1997;

Boechmann et al., 1997 e Rincón e Lessa, 1998). Segundo Gadig (1994), M. higmani é uma espécie comum da plataforma continental do Amapá, onde é capturada em grandes quantidades. Faria (1998) cita esta espécie para o Rio de Janeiro enquanto na Bahia, também é reportada por Queiroz e Peixoto (1987) como pertencente à fauna de plataforma. M. norrisi é um tubarão com registros confusos em nossa costa e problemas de localização de suas ocorrências (Gadig, 1994). Bigelow e Schroeder (1948) citam exemplares capturados na costa do estado do Rio de Janeiro, enquanto Gadig (1994) analisou 4 exemplares do sul de Pernambuco. Esta distribuição é a mesma identificada por Heemstra (1997), que cita estes animais como se distribuindo de Recife à Cananéia. Desta forma, parece que esta espécie não é abundante e que suas ocorrências são eventuais.

Um único exemplar de Pseudotriakis microdon foi capturado recentemente no Nordeste por espinhel de fundo em frente ao estado da Paraíba. Este exemplar era uma fêmea e possuía 267 cm de CT, peso de 85 kg, e foi capturado a 450 metros de profundidade.

Os tubarões do gênero Etmopterus são animais de pequeno porte (menores que 1 metro), e são reconhecidas as seguintes espécies no Brasil: E. pusillus, E. bigelowi, E. grascilispinis, E. hillianus e E. schultzi (Compagno, 1984; Sadowsky et al., 1985; Shirai e Tachikawa, 1993; Amorim et al., 1995) e possivelmente E. lucifer (Stehmann e Menni, 1995). Dentre todas estas espécies, E. pusillus e E. bigelowi são reconhecidamente capturadas no ambiente demersal do talude, tanto no Sul e Sudeste, quanto no Nordeste do Brasil (Séret e Andreata, 1992; Rincón et al., 1998; Rincón e Lessa, 1998). Estes animais foram capturados em profundidades que variaram de 106 a 785 metros, evidenciando que ocorrem na quebra e porção superior do talude. No Sul e Nordeste, estes animais começaram a ser capturados somente com o início da prospecção com espinhel de fundo pelo Programa REVIZEE. No sul, E. hillianus e E. grascilispinis foram capturados com arrasto de fundo com portas na região do talude superior (Vooren, 1997). As demais espécies são registradas na forma de únicas ocorrências.

Os tubarões da Ordem Hexanchiformes possuem uma larga distribuição e três espécies são reconhecidas no Brasil: Notorynchus cepedianus, Hexanchus griseus e Heptranchias perlo. Estes tubarões possuem grande variabilidade na coluna d’água mas são basicamente demersais (Compagno, 1984; D’Aubrey et al., 1975). H. griseus é capturado desde o sul até o Nordeste por espinhel de fundo e arrasto em profundidades em torno dos 400 metros (Vooren e Betitto, 1984; Amorim et al., 1995; Vooren, 1997; Rincón e Lessa, 1998). N. cepedianus é o mais costeiro dos Hexanchiformes e distribui-se por sobre a plataforma continental do Rio Grande do Sul (Compagno,1984; Araújo e Vooren, 1995; Vooren, 1997). Gomes et al. (1997), afirmam que na coleção Ictiológica do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da UERJ, está depositado um exemplar de N. cepedianus (CDBAV.UERJ.1672-1) capturado em Santos-SP. Desta forma, esta espécie parece poder ocorrer até estas latitudes. O tubarão de sete fendas H. perlo é frequentemente capturado por espinhel pelágico no sul do Brasil, o que evidencia sua grande amplitude de distribuição vertical (Moreira-Júnior, 1991). No entanto, este tubarão encaixa-se melhor como uma espécie demersal, visto a sua grande frequência em capturas de espinhel de fundo (Amorim et al., 1995; Castro-Neto e Soto, 1997;

Rincón e Lessa, 1998) seu fígado rico em óleo, uma característica típica dos tubarões demersais e seus grandes olhos. Este tubarão é bem registrado desde o Sul até o Sudeste (Bigelow e Schroeder, 1948; Barcellos, 1961; Sadowsky, 1970; Moreira-Jr., 1991; Vaske et al. 1991), onde então desaparece até as costas dos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, onde ressurge com doze exemplares em profundidades de 200 a 325 metros (Rincón e Lessa, 1998). Na região Nordeste, pode estar mais confinado ao ambiente demersal do talude devido às altas temperaturas superficiais do mar.

O Tubarão espinhoso Echinorhinus brucus, possui registros esporádicos em quase toda a costa brasileira, mas com maior frequência principalmente no Sul e Nordeste do Brasil (Soto et al., 1995; Vooren, 1997; Rincón e Lessa, 1998). Juntamente com Centroscymnus cryptacanthus, o tubarão espinhoso é quase sempre capturado por espinhel de fundo ou por rede de arrasto de fundo. No Nordeste, entre os estados do Ceará e Bahia, E. brucus foi capturado seis vezes durante os últimos sete cruzeiros de prospecção do talude pelo NPq. “Prof. Martins Filho”, enquanto que C. cryptacanthus foi capturado somente duas vezes pelo mesmo barco e uma vez pelo NPq. “Natureza”, com pesca de covos em profundidades de 300 a 400 metros. Estes dois tubarões são raros e sua distribuição ainda permanece nebulosa. No entanto, a relativa frequência de E. brucus nos cruzeiros científicos do Nordeste é evidência de que esta espécie pode ser mais abundante que no Sul e Sudeste. Vooren (1997) cita C. cryptacanthus para o Rio Grande do Sul baseado em um único exemplar e Soto et al. (1995) cita a captura de 3 exemplares por pesca de covos a 700 m de profundidade em frente ao estado de Santa Catarina, enquanto que Amorim et al. (1997) cita a captura desta espécie na costa de São Paulo. No Nordeste, Rincón e Lessa (1998) reportam a ocorrência de um pequeno juvenil com apenas 328 mm CT, o que provavelmante indica o parto desta espécie na região; posteriormente foram capturados outros dois exemplares adultos para a mesma região. Gomes et al. (1997) reporta que na Coleção Ictiológica do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da UERJ, estão depositados exemplares capturados no Sudeste do Brasil. Amorim et al. (1993) e Amorim et al. (1997), citam a ocorrência de Zameus squamulosus na costa brasileira, no entanto, Compagno (1984) identifica Zameus como sinônimo de Scymnodon. Desta forma, Scymnodon squamulosus ocorreria no Brasil segundo estes autores. A principal característica utilizada para separar Scymnodon de Centroscymnus, é a inclinação dos dentes da mandíbula inferior, portanto, uma característica passível de confusão. O registro de Scymnodon deve ser revisado, pois a possibilidade de que se trate de Centroscymnus é grande, visto a pequena diferença que os separa e pela conhecida distribuição de S. squamulosus (Oceanos Indico e Pacífico - Compagno, 1984).

Recentemente foram capturados 27 exemplares de Centrophorus granulosus em profundidades de 266-343 metros em frente ao estado da Bahia (Rincón e Lessa, 1998). Este é o único registro para o Brasil e ainda não se sabe se esta espécie é endêmica para esta região. Depois desta captura não foram registrados outros exemplares. Esta espécie é vivípara lecitotrófica e fêmeas grávidas foram capturadas, o que é evidência de que pode haver uma população na região.

Os “sleeper sharks” do gênero Somniosus possuem dois registros no Brasil. O primeiro registro é de um exemplar de S. microcephalus com 4,5-5 metros de CT feito por Soto et al. (1995), capturado em 1987 por espinhel pelágico. No entanto, esse registro é baseado em uma fotografia, visto que o material foi possivelmente perdido. Desta forma, a referida espécie não possui exemplar depositado em instituições ou museus. O Segundo é o registro de um macho de S. pacificus com 4,5 metros CT capturado no Chuí (fronteira entre Brasil e Uruguai) por arrasto de fundo em profundidades entre 300-400 metros (Astarloa et al., 1998). Os tubarões deste gênero são raros e sua distribuição é bem conhecida somente no hemisfério Norte.

Os tubarões da família Scyliorhinidae são representados no Brasil por três gêneros: Scyliorhinus, Schroederichthys e Galeus. São reconhecidas no Brasil, três espécies para o Gênero Scyliorhinus, sendo estas: S. besnardi, S. haeckelii e S. hesperius (Springer, 1966 e 1979; Springer e Sadowsky, 1970; Soto, 1997; Rincón e Lessa, 1998). No entanto, sua posição taxonômica requer ainda estudos mais aprofundados e comparativos, pois estas espécies são basicamente separadas somente por diferenças do colorido e morfotipos intermediários são encontrados (Gomes et al., 1997; Soto, 1997; Gomes et al., 1999). No Sul e Sudeste do Brasil, S. haeckelii e S. besnardi ocorrem desde o Chuí até ao menos São Paulo, onde são capturados por espinhel de fundo em profundidades superiores a 200 metros (Springer e Sadowsky, 1970; Amorim et al., 1995; Vooren, 1997). S. haeckelii parece se distribuir em menores latitudes que S. besnardi, com maior número de registros de ocorrências entre Santa Catarina e Bahia (Amorim et al., 1995; Queiroz e Rebouças, 1995; Boechmann et al., 1997; Soto, 1997; Gadig, 1998), enquanto S. besnardi parece restringir- se ao sul entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Springer e Sadowsky, 1970; Soto, 1997; Vooren, 1997; Figueiredo, 1977). Springer (1979) identifica um exemplar capturado nas imediações da boca do Rio Amazonas como S. haeckelii, no entanto, esse exemplar poderia ser um S. hesperius, que após a fixação se assemelha consideravelmente a esta espécie. S. hesperius foi capturado recentemente na costa dos estados de Pernambuco e Alagoas, em profundidades que variaram de 200 a 400 metros (Rincón e Lessa, 1998). Em todos os lances de prospecção de espinhel de fundo pelo Programa REVIZEE no Score-Nordeste, nenhum exemplar de S. haeckelii foi capturado, o que sugere que esta espécie não se distribua tão ao norte como se espera.

Os tubarões do gênero Galeus foram registrados para o Brasil pela primeira vez por Soto (1997) com a captura de 4 exemplares em profundidades de 430 metros no estado do Rio Grande do Sul. Rincón et al. (1998) registraram a ocorrência de oito exemplares de Galeus arae em capturas de espinhel de fundo pelo Programa REVIZEE, ao largo da costa de Santa Catarina em profundidades de 400 metros. Na década de 70, dois exemplares de G. arae foram capturados na região Sul nos programas de prospecção pesqueira da SUDEPE. No entanto, por falta de dados quanto à localidade exata e data, estes dois exemplares foram depositados no Museu Oceanográfico da FURG Prof. Eliéser de Carvalho Rios, mas seu registro nunca divulgado à comunidade científica. Atualmente estes exemplares encontram-se no Laboratório de Elasmobrânquios e Aves Marinhas do Departamento de Oceanografia da FURG. Louro (1998), reporta a captura de outros onze exemplares de G. arae, também no âmbito do Programa REVIZEE,

durante os cruzeiros de inverno de 1996 e verão de 1997 nas mesmas localidades dos exemplares de Rincón et al. (1998). No total, existem registros de 25 exemplares capturados de Galeus arae, todos do sul do Brasil.

Os tubarões-gato Schroederichthys possuem duas espécies reconhecidas em águas brasileiras, S. bivius e S. tenuis (Springer, 1996; Gadig et al., 1991; Soto e Castro-Neto, 1993; Ficher e Vooren, 1995; Gadig et al., 1996; Soto, 1997; Vooren, 1997). S. tenuis é conhecido no mundo por poucos exemplares e Gadig et al. (1996) registra sua ocorrência no Amapá com base em três exemplares e fornece informações sobre sua taxonomia, biologia reprodutiva e alimentação. Todos os exemplares conhecidos foram capturados em profundidades entre 410-450 metros, com exceção de um único exemplar que foi capturado sobre a plataforma à 72 metros (Uyeno et al., 1983 in Gadig et al., 1996). A segunda espécie, S. bivius, parece distribuir-se em maiores latitudes (Soto e Castro-Neto, 1993; Ficher e Vooren, 1995; Vooren, 1997), também em profundidades de 400-500 metros e foi relativamente frequente nos cruzeiros de espinhel de fundo do Programa REVIZEE Score-Sul (Haimovici et al., 1998; Louro, 1998; Gadig, 1998). Uma terceira espécie de Schroederichthys foi identificada por Soto e Castro-Neto (1997) para a costa Sul do Brasil (Paraná e Rio Grande do Sul). Segundo Soto (1997), esta espécie está sendo revista e descrita.

Os tubarões-anjo, Squatina occulta, S. argentina, S. dumeril e S. guggenheim são as únicas espécies com registro para o Brasil. As três primeiras espécies são capturadas no talude superior entre 200 e 500 metros (Figueiredo, 1977; Medina et al., 1991; Gadig, 1994; Vooren, 1997; Vooren e Silva, 1991; Boeckmann, 1996). S. occulta e S. argentina são espécies de plataforma e talude superior no sul do Brasil entre as profundidades de 60 a 370 metros. Estas espécies distribuem-se do Rio Grande do Sul até Rio de Janeiro. Medina et al. (1991) e Gadig (1994) citam a ocorrência de dois exemplares de S. dumeril capturados por arrasto de fundo ao largo da costa do Amapá em profundidades de 450 metros. Estes são, até o presente, os únicos registros desta espécie no Brasil e Gadig (1994) sugere que a espécie não seja um visitante ocasional, mas sim um habitante do talude da região.

Alguns tubarões característicos de plataforma continental ocorrem no talude, indicando que estes podem fazer incursões, provavelmente em busca de alimento. São estes: Galeorhinus galeus, Carcharhinus plumbeus, C. porosus e C. signatus. O tubarão-bico doce ou bico de cristal, G. galeus, é pescado em abundância por pesca de emalhe e arrasto de fundo no Rio Grande do Sul por sobre a plataforma e quebra do talude (Compagno, 1984; Vooren e Betitto, 1984; Ferreira, 1988; Peres, 1989; Vooren , 1997; Peres- Júnior, 1998). A maior parte deste esforço de pesca ocorre por sobre a plataforma continental, principalmente entre julho e setembro, quando é o principal tubarão desembarcado nos portos de Rio Grande. Os tubarões-cinza Carcharhinus plumbeus e C. signatus são ocasionalmente capturados por sobre o talude (Rincón e Lessa, 1998-Bol. SBEEL No 3) do nordeste e provavelmente ocorrem até o Rio Grande do Sul, onde C. plumbeus e C. signatus possuem registros (Vooren, 1997). C. signatus é um tubarão oceânico e pelágico na região de quebra de plataforma e bancos oceânicos. Segundo Compagno (1984), pode ocorrer em profundidades de 50 até 600 metros,

sendo portanto, eventualmente capturado em espinhel de fundo nas maiores profundidades de sua distribuição vertical.

b) RAIAS

O número de espécies de raias que possuem registros no talude brasileiro é muito reduzido e evindencia a falta de conhecimento sobre a fauna desse ambiente (Tabela 3.4.2). São reconhecidas doze espécies de raias, sendo que duas destas encontram-se em fase de descrição. Entre as demais dez espécies, cinco foram descritas nos últimos 30 anos. Desta forma, torna-se evidente a necessidade de um maior esforço amostral na região do talude, bem como uma ampliação da área de estudo, tendo visto que a maioria das espécies recém descobertas são foram encontradas na região sul.

Tabela 3.4.2.- Espécies de raias do talude categorizadas segundo a sua ocorrência: endêmica - END (espécies que comprovadamente fazem parte da fauna da região), rara - RAR (espécies que ocorrem em menos de 5% nas capturas), freqüente pouco abundante - FPA (espécies que ocorrem entre 5 e 20% nas capturas), freqüente abundante - FAB (espécies que ocorrem em mais de 20% das capturas) e migratórias - MIG; e seu “status” populacional: declínio nas capturas - DEC, risco de declínio - RDE e desconhecido - DES.

ESPÉCIES CATEGORIA STATUS

Dipturus trachyderma RAR, END DES

Dipturus leptocauda RAR, END DES

Dipturus chilensis RAR, END DES

Dipturus sp. RAR DES

Atlantoraja castelnaui FAB RDEC

Atlantoraja cyclophora FPA RDEC

Rajella sadowskii RAR DES

Bathyraja schroederi RAR, END DES

Gurgesiella dorsalifera RAR, END DES

Gurgesiella atlantica RAR, END DES

Benthobatis sp. RAR, END DES

Diplobatis pictus RAR DES

As raias dos Gêneros Atlantoraja e Rioraja são encontradas desde a plataforma continental até o talude (Figueiredo, 1977; Vooren, 1997), principalmente no Sul e Sudeste, onde são categorizadas até como rejeito na pesca do camarão (Haimovici e Habiaga, 1982). As raias Dipturus trachyderma, Dipturus chilensis e Dipturus leptocauda são encontradas em maiores profundidades entre 400-500 metros no Sul do Brasil e São Paulo (Krefft e Stehmann, 1975; Stehmann e Menni, 1995; Vooren, 1997 e Picado e Gomes, 1999).

Gurgesiella dorsalifera é uma pequena raia com comprimentos totais de aproximadamente 40-50 cm e que habita o talude superior do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo e Rio de Janeiro entre as profundidades de 400-700 metros (McEachran e Compagno, 1980; Rincón, 1997; Vaske et al.,

1997; Séret e Andreata, 1992). Segundo Rincón (1997) e Vaske et al. (1997), esta raia é uma forte predadora de juvenis de Urophycis brasiliensis no talude de Santa Catarina, apresentando evidências de especialização neste tipo de presa. A outra raia G. atlantica, foi encontrada desde a Nicarágua até em frente à boca do Rio Amazonas em profundidades de 400-500 metros e muito pouco se sabe sobre sua biologia (Bigelow e Schroeder, 1962).

As raias Atlantoraja castelnaui e A. cyclophora são habitantes de plataforma no Sul e Sudeste do Brasil e possuem os extremos de suas distribuições batimétricas em profundidades entre 200 e 300 metros (Vooren, 1997). Rajella sadowskii e Bathyraja schroederi são pequenas raias que habitam profundidades entre 800 e 2500 metros e possuem registros do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro (Krefft e Stehmann, 1974; Séret e Andreata, 1992).

Benthobatis sp. é uma espécie de raia elétrica de pequeno porte (tamanho máximo de 26 cm CT) que habita o talude de Santa Catarina em profundidades de 400-500 metros (Rincón, 1997). A outra raia elétrica, Diplobatis pictus, habita águas sobre a plataforma e talude superior no Norte do Brasil (Bigelow e Schroeder, 1962; Fechhelm e McEachran, 1984).

A biologia destas raias de talude é extremamente desconhecida e sua distribuição é muito falha. Isso se deve principalmente, ao fato de que se tratam de pequenas espécies que não são capturadas pelos métodos convencionais de pesca como espinhel de fundo. Infelizmente o Brasil não tem o costume de fazer arrastos de fundo com portas a maiores profundidades em seus cruzeiros científicos, provavelmente pela dificuldade operacional e escassa disponibilidade de recursos financeiros.

No documento 11.1 Novas áreas de proteção propostas (páginas 59-67)