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O direito humano à alimentação, previsto no artigo 11 do PIDESC, conta com uma dupla vertente: o direito fundamental de estar protegido contra a fome e o direito a uma alimentação adequada.(gn)

Tal qual todos os direitos humanos, o maior desafio com respeito ao direito à alimentação é o de encontrar maneiras mais efetivas de implementá-lo. Dessa maneira, cabem perguntas que tentam responder como esse direito pode ser realizado, concretamente, em nível nacional e como as autoridades públicas podem ser consideradas responsáveis por suas ações incompletas ou por suas omissões.

De acordo artigo 2.1. do PIDESC, cada Estado-parte está obrigado a tomar medidas, em particular medidas legislativas, para a realização progressiva dos direitos contidos no tratado.

§1. Cada Estado-parte no presente Pacto compromete-se a adotar medidas tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas.

O Direito Internacional dos Direitos Humanos não obriga, formalmente, os Estados-partes a incorporarem as provisões do Pacto, literalmente, no direito doméstico. Em última instância, cada Estado-parte do PIDESC deve determinar o status jurídico que serão dados às provisões - nesse caso, o direito à alimentação - dentro do sistema jurídico. Dependendo do sistema jurídico e constitucional do país, as provisões do tratado internacional podem tornar-se lei nacional tanto por "incorporação automática," em que ela tem força de lei direta e imediatamente117, quanto por "incorporação legislativa", em que as provisões dos tratados devem ser implementadas por legislação doméstica para ter efeito

117 FAO, Guide on Legislating for the Right to Food.2009, pg 1. Conhecido como "Sistema Monista," mesmo

em países com esse sistema, algumas provisões de tratado internacional

(denominadas provisões não autoaplicáveis) ou alguns aspectos das provisões do tratado podem requerer a implementação legislativa antes de serem aplicados por juízes nacionais.

vinculante118. Em alguns outros Estados, a execução doméstica de um tratado internacional ratificado ocorre por meio do método da transformação, qual seja, por meio de emenda de relevantes leis domésticas para torná-las consistentes com as obrigações dos tratados.

Diferentemente dos outros direitos de cunhos civil e político segundo os quais um indivíduo os goza como um sujeito ou como um membro de dado grupo social – é difícil estabelecer precisamente em determinado momento quem seria diretamente afetado no evento em que os direitos econômicos, sociais e culturais estão em jogo. Uma objeção similar pode ser feita devido ao grau de dificuldade em determinar em tal evento, qual seria a autoridade responsável por tal violação. Por isso, em última instância, os direitos sociais dependem da assistência ativa do Estado, da assunção de dever ou de obrigação da parte do Estado para prover os recursos necessários à realização dessa categoria de direitos humanos.

De fato, ao considerar provisões relevantes do tratado internacional sobre o direito à alimentação, a maioria das obrigações sob esse direito não é autoaplicável, ou seja, o direito não tem aplicabilidade sem a ajuda da legislação. Além disso, a natureza complexa e interdisciplinar do direito à alimentação e sua interdependência em relação aos outros direitos humanos demandam ação legislativa, mesmo onde o PIDESC e outros tratados relevantes de direitos humanos sejam diretamente aplicáveis dentro da ordem jurídica nacional. Isso ocorre, porque a incorporação do direito à alimentação no sistema doméstico legal, por efeito da ação legislativa pode prover um alto nível de proteção desse direito humano.119 Dessa forma, qualquer pessoa que tenha seu direito à alimentação violado, em sua acessibilidade, em sua disponibilidade ou em seu aspecto de adequação, pode confiar na provisão legal incorporada e demandar um remédio apropriado perante autoridades judiciais e administrativas competentes.

Segundo o artigo 11 do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais:

1- Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e para sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como uma melhoria contínua de suas condições de vida. Os Estados-partes tomarão medidas apropriadas para assegurar a consecução desse direito, reconhecendo, nesse sentido, a importância essencial da

118 FAO, Guide on Legislating for the Right to Food.2009, pg1. Conhecido como "Sistema Dualista." 119 FAO, Guide on Legislating for the Right to Food.2009, pg2

cooperação internacional fundada no livre consentimento.

2. Os Estados-partes no presente Pacto, reconhecendo o direito fundamental de toda pessoa de estar protegida contra a fome, adotarão, individualmente e mediante cooperação internacional, as medidas, inclusive programas concretos, que se façam necessários para:

a) Melhorar os métodos de produção, conservação e distribuição de gêneros alimentícios pela plena utilização dos conhecimentos técnicos e científicos, pela difusão de princípios de educação nutricional e pelo aperfeiçoamento ou reforma dos regimes agrários, de maneira que se assegurem a exploração e a utilização mais eficazes dos recursos naturais.

b) Assegurar uma repartição equitativa dos recursos alimentícios mundiais em relação às necessidades, levando-se em conta os problemas tanto dos países importadores quanto dos exportadores de gêneros alimentícios

O direito de estar protegido contra a fome, intimamente vinculado ao direito à vida, considera-se como uma norma absoluta, o nível mínimo que se deve garantir a todas as pessoas, independentemente do nível de desenvolvimento alcançado pelo Estado120.

O direito a uma alimentação adequada abarca muito mais, uma vez que esse direito comporta a necessidade de constituir um entorno econômico, político e social que permita às pessoas alcançar a segurança alimentar por seus próprios meios.121

120 FAO, Cuaderno de Trabajo sobre el derecho a la alimentación 1. El derecho a la alimentación en el marco

internacional de los derechos humanos y en las constituciones. 2013. p.4.

2.2.4 - FOME : VIOLAÇÃO DO ARTIGO 11 DO PIDESC

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