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2.2.2 OS MODELOS JURÍDICOS DO TRIDIMENSIONALISMO E O COMITÊ DE DIREITOS

ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS.

Antes de definir o direito à alimentação, positivado no artigo 11 do PIDESC, é importante entender a classificação feita por Miguel Reale a respeito dos "modelos" jurídicos.

A bem ver, as estruturas da experiência jurídica positivada são antes "modelos", por ser-lhes inerente um sentido paradigmático de conduta ou de ordenação. Tenho observado, em mais de uma oportunidade, que a teoria dos modelos jurídicos distintos dos modelos hermenêuticos não substitui a teoria das fontes do Direito, vem, sem dúvida alguma, completá-la, colocando-a em novos termos. Embora sem concordar com o normativismo jurídico formal de Kelsen, podemos aceitar a sua afirmação de que as normas constituem "o conteúdo material das fontes do Direito".(gn)

Toda a Ciência Jurídica atual, a partir de Savigny, baseia-se na teoria das fontes, isto é, a partir das regras enunciadoras de uma "classe de ação possível", para empregarmos palavras de Benedetto Croce. As fontes são, desse modo, retrospectivas, o que fez Karl Marx - que seguiu as aulas de Savigny - dizer, ironicamente, que este nos dá uma compreensão a posteriori da história, de tal modo que "o barqueiro parece navegar, não sobre o rio, mas sobre suas nascentes".112

Os modelos, ao contrário, são prospectivos e resultam das fontes como estruturas de comportamento futuro. O termo "modelo jurídico" foi por mim proposto, preliminarmente, em comunicação ao Congresso Internacional de Viena, em 1968, e em O Direito como Experiência, do mesmo ano. O conceito de

112 REALE, Miguel. Teoria Tridimensional do Direito, situação atual, 5 ed. rev. e aum. - São Paulo: Saraiva,

1994,p111. cf. WOLF Paul, Marx versus Savigny, in Anales de la Cátedra Francisco Suarez, nº18-19,1978- 9,p.248.

modelo, em todas as espécies de ciências, não obstante as suas naturais variações, está sempre ligado à ideia de planificação lógica e à representação simbólica e antecipada dos resultados a serem alcançados por meio de uma sequência ordenada de medidas ou prescrições. Cada modelo expressa, pois, uma ordenação lógica de meios e fins, assim como o "modelo arquitetônico", por exemplo, é um projeto que antecipa e condiciona a construção de um edifício. Coisa análoga ocorre com os modelos mecânicos, matemáticos e, penso eu, também com os jurídicos do Direito.(gn)

Há duas espécies de modelos do Direito: uns são de caráter puramente teórico (modelos dogmáticos ou hermenêuticos); outros são "prescritivos" e representam os modelos jurídicos (stricto sensu). Estes muito embora pressuponham uma elaboração doutrinária, possuem caráter prescritivo e obrigatório, pois representam a opção por determinadas formas de organização ou de conduta, consideradas "em vigor" pela autoridade que lhes confere coercibilidade.

O que distingue, em suma, os modelos doutrinários ou hermenêuticos, dos modelos jurídicos prescritivos, é que aqueles não são obrigatórios, enquanto nestes existe a previsão ou a prefiguração de uma "ordem de competências",ou, então, de uma "ordem da conduta", estando sempre determinadas as consequências que advêm de seu adimplemento ou de sua violação.(gn)

Observo, desde logo, que um modelo jurídico pode ser expresso por uma única regra de direito ou por um conjunto de regras interligadas, conforme a amplitude da matéria: em ambos casos, porém, há sempre uma "estrutura normativa" constituindo uma unidade de fins a serem atingidos, em virtude da decisão tomada pelo emanador do modelo.

É preciso notar, outrossim, que, quando emprego expressões como modelos do Direito ou modelos

jurídicos, não me refiro a nenhum protótipo ideal, a algo que se ponha como alvo superior a ser atingido. Os modelos jurídicos, objeto de estudo por parte dos juristas, e por eles aplicados, são antes modelagens práticas da experiência, formas de viver concreto dos homens, podendo ser vistos como estruturas

normativas de fatos segundo valores, instauradas em virtude de um ato concomitante de escolha e prescrição113.

Para acompanhar a efetivação do PIDESC foi criado o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o que foi feito por meio da Resolução 1985/17 do ECOSOC, órgão das Nações Unidas que, entre 1966 e 1985, era encarregado de monitorar a aplicação do tratado em apreço. O funcionamento do Comitê é regulado pela Resolução acima e pelo próprio Pacto (artigos 16-25). O Comitê é estreitamente vinculado ao ECOSOC, ao qual deve dirigir relatórios periódicos e recomendações que este, por sua vez, encaminhará à Assembleia Geral e a outros organismos do Sistema das Nações Unidas114.

Os 160 Estados que ratificaram o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais115 estão obrigados à realização progressiva do direito à alimentação em âmbito nacional. O direito à alimentação e as medidas que devem ser efetivadas significam que os Governos não devem efetivar ações que resultem em crescentes níveis de fome, insegurança alimentar e má-nutrição. Também significa que os Governos devem proteger os povos de ações de terceiros que podem violar o direito à alimentação. Enfim, o direito à alimentação não é caridade, mas se trata de garantir que as pessoas tenham a capacidade de se alimentar com dignidade116.

113 113 REALE, Miguel. Teoria Tridimensional do Direito, situação atual, 5 ed. rev. e aum. - São Paulo:

Saraiva, 1994,p.111/2.

114 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privados, incluindo noções de

direitos humanos e de direito comunitário. 3 ed. , editora juspodium. p.761.

115 FAO, Cuaderno de Trabajo sobre el derecho a la alimentación 1. El derecho a la alimentación en el marco

internacional de los derechos humanos y en las constituciones. 2013. p.3

116 ZIEGLER, Jean. The fight for the Right to Food: Lessons Learned, Palgrave Macmillan, 2011. ISBN:978-

2.2.3 - A DUPLA VERTENTE DO DIREITO À

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