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4.4.2 A DECLARAÇÃO DE ROMA SOBRE A SEGURANÇA ALIMENTAR E SEU PLANO DE AÇÃO

Os governos reunidos em Roma declararam que consideravam intolerável e inaceitável que mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo, em particular nos países em desenvolvimento, não dispusessem de alimentos suficientes para satisfazerem suas necessidades nutricionais básicas. Reconheceram que esse estado das coisas não era consequência da falta de fornecimento de alimentos. Observaram que esses fornecimentos haviam aumentado consideravelmente e que as limitações radicavam no

acesso aos alimentos. Os problemas residiam na contínua insuficiência dos ingressos familiares para comprar alimentos, assim como na instabilidade da oferta e da demanda e nas catástrofes naturais e de origem humana.171

Assinalaram também que os problemas da fome e da insegurança alimentar tinham dimensões mundiais, e que era provável que persistissem e, inclusive, se agravassem dramaticamente em algumas regiões se não se adotasse com urgência uma ação decidida e concertada, especialmente dados o crescimento previsto da população mundial e a tensão a que estavam submetidos os recursos naturais. Os dirigentes do mundo prometeram, portanto, consagrar sua vontade política e sua dedicação comum e nacional a conseguir a segurança alimentar para todos e a realizar um esforço constante para erradicar a fome de todos os países, com o objetivo imediato de reduzir o número de pessoas desnutridas à metade do nível de 1996 não mais tarde do que o ano de 2015.

A Declaração de Roma definiu sete compromissos que formam a base para alcançar a segurança alimentar sustentável para todos. Os governos participantes da conferência comprometeram-se a implementar, monitorar e seguir o Plano de Ação da Conferência em todos os níveis e em cooperação com a comunidade internacional (compromisso 7). Na Declaração de Roma, os governos reafirmaram o direito de todos a terem acesso à alimentação segura e nutritiva, consistente com o direito à alimentação adequada e o direito fundamental de todos estarem livres da fome. A Declaração também deu um mandato específico para o Alto Comissariado para os Direitos Humanos172 de

171 EIDE, Asbjorn. E/CN.4/Sub.2/1999/12 - O direito a uma alimentação adequada e a não padecer de

fome.Estudo atualizado sobre o direito à alimentação apresentado pelo sr. Asbjorn Eide em cumprimento da decisão 1998/106 da Subcomissão de Prevenção de Discriminações e Proteção da Minorias.p.12

172 O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR) é o principal órgão da

melhor definir os direitos relacionados à alimentação e propor modos de implementar e de efetivá-lo.(gn)

O Plano de Ação traça os objetivos e ações relevantes para a implementação prática dos sete compromissos. Os cinco objetivos seguintes foram definidos no Plano de Ação:

Objetivo 7.1: Adotar medidas dentro do marco nacional de cada país com vista a melhorar a segurança alimentar e permitir o cumprimento dos compromissos contraídos no Plano de Ação da Conferência Mundial sobre a Alimentação;

Objetivo 7.2: Melhorar a cooperação subregional, regional e internacional, e mobilizar os recursos disponíveis, para apoiar os esforços nacionais com o objetivo de conseguir o mais rápido possível uma segurança alimentar sustentável no mundo;

Objetivo 7.3: Vigiar ativamente a aplicação do Plano de Ação da Conferência Mundial sobre a Alimentação;

Objetivo 7.4: Esclarecer o conteúdo do direito a uma alimentação suficiente e do direito fundamental de todas as pessoas a não padecerem de fome, como se declara no PIDESC e em outros instrumentos internacionais e regionais pertinentes, e prestar atenção especial atenção à aplicação e à realização plena e progressiva deste direito como meio de conseguir a segurança alimentar de todos. (gn)

Objetivo 7.5: Compartilhar as responsabilidades de consecução da segurança alimentar para todos, de maneira que a aplicação do Plano de Ação da Cúpula Mundial sobre a Alimentação se leve a cabo ao nível mais baixo possível em que possa conseguir da melhor forma seu objetivo.

Assembleia Geral da ONU de 1993, com base na recomendação da Conferência Mundial sobre Direitos Humanos de Viena (1993).

O OHCHR é parte da estrutura da Secretaria Geral da ONU e inclui, entre suas competências específicas, o apoio aos demais órgãos da ONU envolvidos com a matéria, abrangendo a coordenação das atividades que desenvolvem e o esforço para que todas as áreas das Nações Unidas incluam considerações relativas à proteção da dignidade humana no tratamento dos temas de sua competência.

As dimensões do trabalho do Alto Comissariado são três: a contribuição para a elaboração de novas normas de direitos humanos, o monitoramento de sua observância pelos Estados e a sua aplicação. in in PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privados, incluindo noções de direitos humanos e de direito comunitário. 3 ed. , editora juspodium. p.756

O objetivo 7.4 refere-se, pois, diretamente ao direito à alimentação. No Plano de Ação, pede-se que os governos, em associação com todos os participantes da sociedade civil, procedam com o seguinte173:

a) Fazer todo o possível para aplicar as disposições do artículo 11 do PIDESC e as disposições pertinentes de outros instrumentos internacionais.

b) Instar os países que ainda não são partes do PIDESC a aderirem-no o mais rápido possível.

c) Convidar o Comitê de Direitos Humanos, Sociais e Culturais a prestar atenção especial ao Plano de Ação no marco de suas atividades e a continuar vigiando a aplicação das medidas concretas que se estipulam no artigo 11 do Pacto.

d) Convidar os órgãos pertinentes criados em razão de tratados e os organismos especializados competentes das Nações Unidas a estudarem o modo como poderiam contribuir com a aplicação posterior do direito à alimentação, no marco do seguimento coordenado pelo Sistema das Nações Unidas das recomendações das principais conferências e cúpulas internacionais da ONU, inclusive a Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, dentro dos limites de seus mandatos. (gn)

e) Convidar o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos a definir melhor, em consulta com os órgãos pertinentes criados em razão de tratados e em colaboração com os organismos especializados e programas pertinentes do sistema das Nações Unidas e com os mecanismos intergovernamentais apropriados, os direitos relacionados com a alimentação que se mencionam no artigo 11 do Pacto, bem como propor formas de aplicar e de realizar esses direitos como meio de realizar os compromissos e objetivos da Cúpula Mundial sobre a Alimentação, tendo em conta a possibilidade de estabelecer diretrizes voluntárias encaminhadas a alcançar a segurança alimentar para todos. (gn)

173 EIDE, Asbjorn. E/CN.4/Sub.2/1999/12 - O direito a uma alimentação adequada e a não padecer de

fome.Estudo atualizado sobre o direito à alimentação apresentado pelo sr. Asbjorn Eide em cumprimento da decisão 1998/106 da Subcomissão de Prevenção de Discriminações e Proteção da Minorias.p.13.

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