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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

4 ECONOMIA CRIATIVA

4.3 A ECONOMIA CRIATIVA NO BRASIL

No Brasil a ideia da economia criativa também avançou nos meios acadêmicos, empresariais e governamentais, da mesma forma que vinha ocorrendo em outros países, como apontado por Wang (2004), Bendassolli (2007) e Cunningham (2003, 2011), porém, aparentemente, motivada por outras demandas, diferentes daquelas observadas em países considerados desenvolvidos, como o Reino Unido. No Brasil, por se tratar de um país cujas características parecem indicar que este ainda não se encontra imerso em um processo de desindustrialização e, em que pese a outras possibilidades, considera-se que o surgimento e o interesse na economia criativa no Brasil originaram-se principalmente da possibilidade de promoção do próprio desenvolvimento em si, da geração de trabalho e renda, da inclusão social e da sustentabilidade social, cultural, ambiental e econômica a partir da cultura (GARNHAM, 2005; BOLAÑO, 2009; BRASIL, 2012; MARCHI, 2013).

Considerando-se que para disseminação dessa proposta de desenvolvimento assentada na economia criativa o discurso político exerce um importante papel, apresentam-se neste tópico as ações iniciais adotadas pelo governo federal para promover tal abordagem, assim como são elencados alguns dados sobre a economia criativa no Brasil, como forma de expor a sua participação na economia do país.

O interesse do governo federal na economia criativa surgiu no ano de 2004, com o então Ministro da Cultura Gilberto Gil, e foi retratado com o lançamento, em setembro de 2011, pelo Ministério da Cultura (MinC), do “Plano da Secretaria da Economia Criativa” (PSEC), considerado um movimento do Ministério da Cultura no sentido de redefinir o papel da cultura no país.

Para a consolidação dessa política, o governo federal criou a Secretaria de Economia Criativa (SEC), em junho de 2012, subordinada ao Ministério da Cultura, a qual perdurou até março de 2015. A sua missão era a de conduzir a formulação, a implementação e o monitoramento de políticas públicas para o desenvolvimento local e regional, priorizando o apoio e o fomento aos profissionais e aos micro e pequenos empreendimentos criativos brasileiros. A visão declarada era a de que a cultura deveria se tornar um eixo estratégico nas políticas públicas de desenvolvimento do Estado brasileiro.

Há de se considerar que o MinC, na elaboração do plano, reconhece que o primeiro desafio é a pactuação de um conceito para Economia Criativa, tendo em vista a necessidade de uma definição para seu emprego no plano e de definição do escopo de atuação da SEC. Assim foi elaborada por parte do MinC uma proposta inicial, considerando como relevante a caracterização dos setores que compõem essa nova categorização econômica, a partir da definição desses setores (BRASIL, 2012).

Dessa forma, considerando-se os processos de criação e produção e não os insumos e/ou a propriedade intelectual do bem ou do serviço criativo, o MinC chegou à seguinte definição acerca dos setores criativos: “[...] são aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social” (BRASIL, 2012, p. 22).

Outro aspecto a ser considerado na pactuação do conceito é que antes mesmo da criação da SEC o MinC já considerava a amplitude da Economia Criativa, entendendo ser necessário expandir sua atuação para além dos setores tradicionalmente considerados como culturais. Dessa forma na primeira etapa a Economia Criativa foi definida “partindo das dinâmicas culturais, sociais e econômicas construídas a partir do ciclo de criação, produção, distribuição/circulação/difusão e consumo/fruição de bens e serviços oriundos dos setores criativos, caracterizados pela prevalência de sua dimensão simbólica” (BRASIL 2012, p. 23).

Sintetizando, o PSEC − Brasil (2012, p. 24) apresenta a seguinte conclusão:

A economia criativa é, portanto, a economia do intangível, do simbólico. Ela se alimenta dos talentos criativos, que se organizam individual ou coletivamente para produzir bens e serviços

criativos. Por se caracterizar pela abundância e não pela escassez, a nova economia possui dinâmica própria e, por isso, desconcerta os modelos econômicos tradicionais, pois seus novos modelos de negócio ainda se encontram em construção, carecendo de marcos legais e de bases conceituais consentâneas com os novos tempos.

A criação da Secretaria de Economia Criativa surgiu a partir do Plano Nacional de Cultura (PNC), considerado o nascedouro do processo de institucionalização de políticas públicas voltadas à economia criativa de forma mais específica no campo da economia da cultura (BRASIL, 2012).

Os oito anos referentes ao governo Lula foram marcados pelo empoderamento da sociedade civil brasileira, que participou de maneira ativa nas discussões e elaboração do PNC, o qual considera a cultura a partir de três dimensões: simbólica, cidadã e econômica. Essa última se baseia na perspectiva de que cultura pode ser um vetor de promoção do desenvolvimento socioeconômico sustentável (BRASIL, 2012).

A dimensão econômica, relacionada à estratégia número quatro do PNC, que trata da ampliação da participação da cultura no desenvolvimento socioeconômico sustentável, foi a que menos avançou durante o governo Lula (2003-2010), sofrendo com a falta de políticas públicas para a sua efetivação, algo que passou a ser o maior objetivo e encargo da Secretaria de Economia Criativa (SEC) a partir da sua criação (BRASIL, 2012).

Considerando-se então que a missão da SEC estava diretamente relacionada ao cumprimento da estratégia quatro do PNC, a definição dos objetivos da Secretaria foi alinhada às diretrizes componentes dessa estratégia, porém com ampliações para abarcar novas denominações, como “trabalhador criativo” e “economia criativa”, conforme quadro a seguir (BRASIL, 2012):

Quadro 3 – Objetivos e ações da Secretaria de Economia Criativa

Objetivo Ações 1. Capacitação e assistência ao trabalhador da cultura (trabalhador criativo)

 Promover a educação para as competências criativas através da qualificação de profissionais capacitados para a criação e gestão de empreendimentos criativos;

 Gerar conhecimento e disseminar informação sobre economia criativa;

(continuação) 2. Estímulo ao desenvolvimento da Economia da Cultura (Economia Criativa)

 Conduzir e dar suporte na elaboração de políticas públicas para a potencialização e o desenvolvimento da economia criativa brasileira;

 Articular e conduzir o processo de mapeamento da economia criativa do Brasil com o objetivo de identificar vocações e oportunidades de desenvolvimento local e regional;

 Fomentar a identificação, a criação e o desenvolvimento de polos criativos com o objetivo de gerar e potencializar novos empreendimentos, trabalho e renda no campo dos setores criativos;  Promover a articulação e o fortalecimento dos micro

e pequenos empreendimentos criativos;

 Apoiar a alavancagem da exportação de produtos criativos;

 Apoiar a maior circulação e distribuição de bens e serviços criativos;

 Desconcentrar regionalmente a distribuição de recursos destinados a empreendimentos criativos, promovendo um maior acesso a linhas de financiamento (incluindo o microcrédito);

 Ampliar a produção, distribuição/difusão e consumo/fruição de produtos e serviços da economia criativa;

3. Turismo Cultural

O Turismo cultural é fundamental para o desenvolvimento socioeconômico do país. No entanto, percebê-lo como única interface intersetorial relevante para ser destacada no Plano Nacional de Cultura nos parece limitante, já que a cultura e, mais especificamente, a economia criativa são de natureza transversal a muitos outros setores. Desta forma, para além do turismo cultural, considera-se como objetivo da SEC promover o desenvolvimento intersetorial para a Economia Criativa.

4. Regulação Econômica (Marcos Legais)

 Efetivar mecanismos direcionados à consolidação institucional de instrumentos regulatórios (direitos intelectuais, direitos trabalhistas, direitos

previdenciários, direitos tributários, direitos administrativos e constitucionais).

Fonte: PSEC – Brasil (2012, p. 40).

A SEC deveria ser estruturada a partir de dois vetores de atuação: um concebido dentro de uma perspectiva macroeconômica e outro sob

uma perspectiva microeconômica, conforme figura a seguir (BRASIL, 2012, p. 41):

Figura 7 – Vetores e eixos de atuação da SEC

Fonte: PSEC – Brasil (2012, p. 43).

Da definição inicial decorreram os demais arranjos, ou seja, deu- se a criação das duas diretorias, a de Desenvolvimento e Monitoramento e a de Empreendedorismo, Gestão e Inovação, dentro das quais foram estabelecidos os seus respectivos vetores e eixos de atuação, seguindo os objetivos definidos com base na estratégia quatro do PNC.

Consolidados os vetores e eixos de atuação, foram definidas as competências para a SEC (BRASIL 2012), voltadas para a economia criativa, que envolviam a elaboração, planejamento, gestão e apoio de políticas públicas; a articulação da temática com outros órgãos públicos; subsidiar os demais órgãos para elaboração de políticas públicas; acompanhar a elaboração de tratados e convenções; promover o mapeamento da economia criativa no Brasil; fomentar a identificação, a criação e o desenvolvimento de polos, cidades e territórios criativos; articular e propor a criação de mecanismos direcionados à consolidação institucional de instrumentos legais; celebrar e prestar contas de convênios, acordos e outros instrumentos congêneres; atuar nas ações direcionadas à formação de profissionais e empreendedores criativos e à qualificação de empreendimentos dos setores criativos; atuar para gerar linhas de financiamento para os setores criativos; desenvolver e

implantar ferramentas, modelos de negócios e tecnologias sociais de empreendimentos criativos; intensificar os intercâmbios técnicos e de gestão dos setores criativos com outros países; instituir programas e projetos de apoio às atividades dos setores criativos; promover bens e serviços criativos brasileiros em eventos nacionais e internacionais; e representar o Brasil em organismos e eventos internacionais relacionados aos setores e ao desenvolvimento da economia criativa.

A SEC assim ficava responsável por elaborar as políticas para os setores criativos, algo que não havia sido objeto dos planejamentos realizados em exercícios anteriores. O único programa voltado para a economia criativa até então era o Programa de Desenvolvimento da Economia da Cultura (PRODEC), que dispunha de poucos recursos, necessitando ainda de atualização (BRASIL, 2014a).

Para tal, o Plano da Secretaria de Economia Criativa (PSEC) representava um importante marco, que indicava a direção a ser adotada. O PSEC 2011-2014 foi lançado em sua primeira versão em 2011, pelo MinC.

Um dos primeiros desafios enfrentados na elaboração do PSEC foi a própria conceituação e definição dos setores que compunham a economia criativa no Brasil. O MinC destacava, à época, considerando algumas premissas, que os setores criativos iriam além dos setores denominados como tipicamente culturais e que são ligados à produção artístico-cultural, como música, dança, teatro, ópera, entre outros. A economia criativa compreende “outras expressões ou atividades relacionadas às novas mídias, à indústria de conteúdo, ao design, à arquitetura, entre outros”, o que foi ilustrado na figura a seguir. (BRASIL, 2012, p. 22).

Figura 8 – Setores criativos − a ampliação dos setores culturais

Preocupado ainda com o escopo dos setores criativos, o MinC destacava à época a importância de que houvesse categorias e parâmetros aproximados para comparação entre os diferentes países, causa assumida pela UNESCO e que tinha como objetivo “disponibilizar para os diversos países uma ferramenta que permitisse a organização e a comparabilidade de estatísticas nacionais e internacionais no âmbito das expressões culturais, contemplando aspectos relacionados aos modos de produção sociais e econômicos” (BRASIL, 2012, p. 29).

Conforme Brasil (2012), o esforço da UNESCO nesse sentido resultou em uma proposta de estrutura para o escopo dos setores criativos, o qual, dada a sua importância, constitui uma referência e deveria sofrer as análises e os ajustes necessários de acordo com as especificidades de cada nação.

Figura 9 – Escopo dos setores criativos – UNESCO (2009)

Fonte: PSEC – Brasil (2012, p. 27)

Além da UNESCO, a UNCTAD também somou esforços nesse sentido, classificando os setores em nove áreas, conforme figura a seguir:

Figura 10 – Classificação dos setores criativos

Fonte: Brasil (2012, p. 29).

Seguindo a mesma lógica, o MinC definiu o seguinte escopo para os setores criativos no Brasil:

Figura 11 – Classificação dos setores criativos − MinC

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