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CULTURAIS SETORES

4.3.1 Os dados da economia criativa no Brasil

Conforme destacado pelo próprio Ministério da Cultura, uma das questões primordiais acerca da economia criativa, e que era um dos propósitos do Plano da Secretaria de Economia Criativa, é a elaboração de relatórios que enunciem os dados relativos aos setores elencados como aqueles que compõem as atividades da economia criativa no Brasil.

Um dos primeiros relatórios elaborados acerca dessas atividades foi aquele produzido pelo sistema FIRJAN a partir de 2008. A abordagem da FIRJAN seguiu inicialmente como definição ou

Século XIX: Economia da cultura Anos 1930: cunhado o termo industrial cultural. Escola de Frankfurt Ano 1994: surge o termo Creative Nation na Auatrália Ano 1997: surge o termo indústrias criativas no Reino Unido 2011: criada a Secretaria da Economia Criativa no Brasil

taxonomia das atividades econômicas aquela do DCMS (Department for

Culture, Media & Sport), do governo do Reino Unido. De acordo com a

FIRJAN (2014, p. 6), “Foram classificadas como indústrias criativas as atividades ‘que têm a sua origem na criatividade, na perícia e no talento individual e que possuem um potencial para criação de riqueza e empregos através da geração e da exploração de propriedade intelectual’”.

Há de se destacar que a abordagem adotada pela FIRJAN é mais ampla do que aquela proposta pelo Ministério da Cultura, sendo que o mapeamento realizado em 2014 considera duas óticas, a da produção, que lança um olhar sobre as empresas criativas, as quais não necessariamente empregam somente trabalhadores criativos, e a do mercado de trabalho, que está relacionada aos profissionais criativos, independentemente do local onde trabalham, seja na indústria criativa, na clássica ou em qualquer outra atividade econômica (FIRJAN, 2014).

Considerando os dados apresentados pela FIRJAN (2014, p. 4), estes podem ser resumidos no quadro a seguir:

Quadro 5 – Economia Criativa no Brasil

Dimensão Descrição

Ótica da Produção

Em 2013, 251 mil empresas formavam a indústria criativa no Brasil. Num olhar sobre a última década, houve um crescimento de 69,1% desde 2004, quando eram 148 mil empresas. Com base na massa salarial destas empresas, estima-se que a indústria criativa brasileira gerou um Produto Interno Bruto equivalente a R$ 126 bilhões, ou 2,6% do total produzido no Brasil em 2013, frente a 2,1% em 2004. Nesse período, o PIB da Indústria Criativa avançou 69,8% em termos reais, acima do avanço de 36,4% do PIB brasileiro nos mesmos dez anos.

Ótica do mercado formal

de trabalho

A Indústria Criativa é composta por 892,5 mil profissionais formais. Entre 2004 e 2013, houve alta de 90%, bem acima do avanço de 56% do mercado de trabalho brasileiro no período. O mercado de trabalho criativo se expandiu não apenas em números absolutos, mas também em termos relativos: a participação da classe criativa no total de trabalhadores formais brasileiros alcançou 1,8% em 2013, ante 1,5% em 2004. Houve crescimento relevante nas quatro grandes áreas criativas: Tecnologia (+102,8%), Consumo (+100,0%), Mídias (+58,0%) e Cultura (+43,6%).

(continuação)

Segmentos em que atuam os trabalhadores

criativos

Apesar de o senso comum associar os trabalhadores criativos a ambientes profissionais exclusivamente criativos, como agências de publicidade, escritórios de design, produtoras de conteúdo audiovisual, entre outros, dos 892,5 mil profissionais criativos mapeados no Brasil, 221 mil (24,7%) atuam na Indústria de Transformação, onde representam 2,8% dos trabalhadores, percentual superior ao observado no mercado de trabalho nacional (1,8%). Entre os 13 segmentos criativos, a presença desses profissionais “Clássico-Criativos” se destaca em quatro: Pesquisa & Desenvolvimento, Moda, Design e Publicidade.

Segmentos criativos com maior número de

profissionais

Entre os segmentos criativos, os mais numerosos em termos de profissionais também se distinguem por apresentarem os maiores salários médios – Pesquisa & Desenvolvimento (R$ 9.990), Arquitetura (R$ 6.927), TIC (R$ 5.393) e Publicidade (R$ 5.075), refletindo a alta capacitação técnica desses profissionais e a posição estratégica desses setores no mercado. Já em comparação com 2004, os maiores aumentos reais de salário ocorreram justamente nos segmentos que apresentavam menor remuneração: Moda (42,1%), Música (33,3%), Audiovisual (32,7%) e Expressões Culturais (31,6%).

Remuneração

No que se refere à remuneração, enquanto o rendimento mensal médio do trabalhador brasileiro era de R$ 2.073 em 2013, o dos profissionais criativos chegou a R$ 5.422, quase três vezes superior ao patamar nacional. Em uma análise evolutiva, ainda que em 2004 os salários da classe criativa já fossem bastante superiores à média nacional, houve crescimento real de 25,4%, acompanhando o expressivo avanço do rendimento do trabalhador brasileiro nesse período (+29,8%).

Remuneração por estado

Na análise de remuneração por estado, o Rio de Janeiro é o grande protagonista. Em sete dos treze setores criativos analisados os profissionais fluminenses possuem as maiores remunerações: Pesquisa & Desenvolvimento (R$ 14.510), Artes Cênicas (R$ 8.107), TIC (R$ 7.265), Audiovisual (R$ 5.350), Patrimônio & Artes (R$ 5.260), Design (R$ 3.326) e Moda (R$ 1.965).

(continuação)

Crescimento do salário

médio

Na comparação com 2004, todos os estados apresentaram crescimento real do salário médio da classe criativa. Vale observar que os estados que detinham os menores salários em 2004 foram justamente os que mais avançaram na década, Rondônia (+90,9%) e Paraíba (+65,6%).

Evolução do mercado de trabalho no

Brasil

Em uma análise evolutiva, entre 2004 e 2013 houve aumento no número de empregos criativos formais em todos os estados brasileiros. Esse movimento permitiu um aumento da participação relativa desses trabalhadores na economia de 23 estados, com destaque para Santa Catarina e Rio de Janeiro: de 1,5% para 2,0% e de 1,8% para 2,3%, respectivamente.

Fonte: FIRJAN (2014).

Observa-se que os setores da economia criativa possuem uma capacidade potencial no que se refere à geração de riqueza, no entanto devem ser consideradas as devidas proporções, como destacado por Miller (2004, 2009), ou seja, a economia criativa não pode ser vista como solução para todos os problemas econômicos, pois suas dimensões e complexidade extrapolam a sua capacidade. Outra questão é que não se pode gerar a expectativa que a economia criativa terá fôlego para assumir aprioristicamente a economia do país, passando a ser a principal responsável pelo seu PIB.

A participação da economia criativa no PIB pode ser visualizada no gráfico a seguir, o que reforça o acima exposto, considerando o percentual frente ao PIB total do país:

Gráfico 1: PIB Criativo estimado e sua participação no PIB Total Brasileiro – 2004 a 2013

Portanto, apesar da força da economia criativa, observa-se que ela ainda não consegue superar os setores tradicionais na geração de riqueza para o país.

5 PARADIGMA PARAECONÔMICO

O Paradigma Paraeconômico de Guerreiro Ramos (1981) é uma proposta do autor na direção de se superar a unidimensionalização que tem prevalecido na sociedade, em que a economia de mercado passou a ser central na ordenação da vida das pessoas. Conforme aponta o autor, para superação dessa sociedade centrada no mercado na direção de uma sociedade pós-industrial, multidimensional, é necessário que exista uma vigorosa oposição por parte daqueles agentes que entendem ser seu projeto pessoal o de justamente se opor a essa perspectiva.

O ponto central do modelo multidimensional é baseado na delimitação organizacional, a qual envolve a visão de uma sociedade que é composta por diferentes enclaves, em que o homem atua em diferentes atividades substantivas, integrativas entre si, com um sistema de governo social capaz de efetuar a formulação e implementação de políticas públicas distributivas, que possibilitam um tipo ótimo de transações entre os diferentes enclaves sociais. Nesse modelo o mercado é um enclave social legítimo e necessário, porém limitado e regulado (RAMOS, 1981).

Como categorias delimitadoras do paradigma paraeconômico, Ramos (1981) apresenta os seguintes enclaves: anomia, horda, economia, isonomias, fenonomias e isolado.

Figura 14 – O Paradigma Paraeconômico

Fonte: Ramos (1981, p. 141).

A anomia é definida como sendo uma situação de restrição na qual a vida social e pessoal se desvanece, nessa condição os indivíduos vivem nas bordas do sistema social. A horda são as coletividades humanas sem normas, em que falta nos membros o senso de ordem

Economia Isolado Horda Anomia Prescrição Orientação Comunitária Ausência de Normas Orientação Individual Is on om ia F eno no m ia

social. A economia se refere a um sistema organizacional altamente ordenado, constituído para a produção de bens e/ou prestação de serviços. A isonomia é uma organização em que seus membros são iguais. A fenonomia é um sistema social que ocorre esporadicamente ou de forma mais ou menos estável, é conduzido por um indivíduo ou por um pequeno grupo, em que prevalece o máximo de opção pessoal com uma reduzida subordinação a prescrições operacionais formais. O isolado é aquele indivíduo que possui extremo compromisso com uma norma que lhe é particularíssima (HEIDEMANN; SALM, 2009).

Ramos (1981) salienta que essas dimensões devem ser consideradas como elaborações heurísticas, no sentido weberiano, não sendo possível encontrá-las no mundo concreto como esses tipos ideais, mas apenas como sistemas sociais mistos.

Considerando-se os objetivos deste trabalho, a seguir serão abordadas de maneira mais específica as organizações isonômicas e fenonômicas.