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A Economia Portuguesa durante a 1ª M etade do Século X

“ N o s p rim eiro s século s d a existência d e Po rtug al, a ag ricultura d o m inav a a v id a d a N ação , e tão p ro fund am ente, que até a p o p ulação d o s m aio res centro s urbano s v iv ia em g rand e p arte d a exp lo ração ag ríco la, em bo ra a d ev am o s sup o r asso ciad a a o u tras fo rm as d e ativ id ad es.”28

A ag ricultura era a ativ id ad e eco nô mica p rev alecente d e no rte a sul d e Po rtug al. N o Centro -N o rte, a ag ricultura era p raticad a mais no lito ral, p o r ser mais p lano d o que o interio r, que era mo ntanho so e reco rtad o . N essa reg ião , a p ro p ried ad e v ilã era red uz id a p rev alecend o o s senho rio s.29

Esses senho rio s d isting uiam -se em d o is tip o s: o s d o N o rte, trad icio nais, ap resentand o fo rmas d e cultiv o e hierarquia so cial d a ép o ca d o rep o v o amento . Os d o Sul, mais “ mo d erno s” e

28 PE RE S, Dam i ã o. A. 19 40 , p. 4 65 . 29 SOUS A, Ar m i n d o d e. o. c. p . 33 4.

ad ap tad o s à eco no mia d e mercad o . N o N o rte o s m inifúnd io s eram mais co muns d o que no Sul.

N o Centro -Sul, a p o larização d a ag ricultura se fez a p artir d o s centro s co nsumid o res, cid ad es e v ilas, mais v o ltad as p ara o mercad o .

N a reg ião d o A lentejo , p red o minav a o latifúnd io , m as não p o d emo s esquecer a “ questão d a extensão territo rial” p o rtug uesa. A ssim, o latifúnd io não o cup av a uma área co nsid erad a “ g rand e” se co m p arad o a o utro s p aíses. A questão d a p equena e d a g rand e p ro p ried ad e, no caso p o rtug uês, é relativ a a seu p ró p rio territó rio .

Co m relação à p ro p ried ad e d a terra, a Co ro a, a Ig reja e a no breza d etinham a maio r p arte, cabend o ao s v ilão s e ao s camp o neses uma p arte bem red uzid a d o territó rio : “abaix o ( da propriedade) do rei situav am- se as grandes propriedades dos nobres de mais elevada categ oria das mitras e das ordens monásticas e milhares”30. Essa terra, chamad a p o r muito s d e d o m ínio , eng lo bav am a g ranja, a quinta, a seara e áreas p arcelad as, cultiv ad as o ra p o r casais31, flo reiro s, rend eiro s o u camp o neses co ntratad o s p elo s p ro prietário s d as terras.

30 PE RE S, Dam i ã o. o. c. p. 4 70 .

31 “O ca s a l er a a un i da de fa mi l i ar , a gr í col a, fu n d i ár i a e t r i bu t ár i a ” .

A s p ro p ried ad es p o rtug uesas eram p o uco exp lo rad as p ela fo rma d ireta (p elo p ró p rio p ro p rietário ); a fo rma mais usad a era o arrend amento . N o final d o século XIV e início d o século XV, ho uv e uma abertura maio r na eco no mia rural, co m o em p reg o cad a v ez mais freqüente d a mo no cultura p ara esp eculação .

Esse p ro cesso acentuo u-se p elo d esejo d e o s senho res quanto a sup erar o mo mento d e crise ag ríco la que co meçara no século XIV e se alastro u p elo início d o século XV32. A s táticas mais emp reg ad as p o r eles fo ram uma maio r fiscalização so bre o s tributo s p ag o s p elo s serv o s; d ed icação a uma o utra ativ id ad e eco nô mica: a esp eculação ag ríco la p ara o co mércio33.

Os p ro p rietário s v ilõ es d efend iam -se d a crise to mand o p ara si a exp lo ração d as reserv as e co lo cand o -se co mo intermed iário s entre o s senho res e o s camp o neses; co brand o rend as d a lav o ura; arrematand o a co brança d e rend as rég ias, eclesiásticas o u co ncelhias.

Estas m ed id as, embo ra ino v ad o ras p ara o p erío d o , não afastav am o jo g o eco nô mico d a p ro d ução ag ríco la. A ag ricultura e a exp lo ração d o cam p o nês co ntinuaram p rev alecend o .

Os mo mento s d e crise ag ríco la o brig av am o s camp o neses a p ro curar trabalho extra, o que d iminuiu a atenção e o

32 C f. : M A RQUES, A . H . d e Oliv eira. o. c. , 19 86 . 33 C f. : C OE LHO, M ar i a Hel en a d a C r uz . o. c. , 19 91 .

cuid ad o co m o s terreno s d e antig o amanho . Isto p ro v o co u situaçõ es co nflituo sas entre o s camp o neses e o s senho res.

Os camp o neses não usav am ap enas meio s v io lento s co mo fo rma d e co ntestação à exp lo ração que so friam . Tinham co mo reg ra a resistência p assiv a e p acífica, usand o co mo arm as a má- v o ntad e, o atraso em pag ar as rend as, as fraud es, o silêncio e o d escuid o co m as co isas d o senho r.

Eles lutav am co ntra a má fé d o s senho res que não hesitav am em aumentar o s fo ro s, as co rv éias e as rend as, p ara se enriquecer e manter seu elev ad o estilo d e v id a. Uma d as so luçõ es enco ntrad o s era a fug a p ara as cid ad es34.

M esmo co m to d o o co ntro le d o s senho res so bre o s camp o neses, a p ro d ução ag ríco la não era tão sig nificativ a quanto o d esejad o , isto p o rque as técnicas ag ríco las rud im entares usad as no p ro cesso p ro d utiv o não ajud av am no aumento d a p ro d utiv id ad e d o s camp o s ag ricultáv eis. Tanto as técnicas co nhecid as, mas já ultrap assad as, e as “ no v as” , p o uco d ifund id as, não co ntribuíam p ara o aum ento co nsid eráv el d essa p ro d ução . N as áreas d o A lg arv e, em alg umas o casiõ es d o p erío d o enfo cad o , ho uv e a necessid ad e d e se imp o rtar alimento s.

Em Po rtug al, as técnicas mais co nhecid as e utilizad as no camp o p o d em ser d iv id id as em d o is g rand es blo co s: as técnicas

ag ro ló g icas (afo lhamento s, ro tação35, naturalid ad e d as sementes e fertilizantes), e as técnicas instrumentais (o s utensílio s, o s instrumento s e as máquinas).

O emp reg o d as técnicas ag ro ló g icas p retend ia p ro d uzir o máximo p o ssív el sem d esg astar o s so lo s. O reg ad io tam bém fo i p raticad o nessa ép o ca.

O emp reg o d as técnicas instrumentais buscav a uma maio r eficiência, d esp end end o um m eno r esfo rço e tem p o p o ssív eis no trabalho ag ríco la. Co m relação a essa técnica, q uase to d o s o s instrumento s eram feito s d e mad eira.

A red e hid ráulica era muito imp o rtante p ara a ag ricultura; assim, as técnicas d e reg ularização d as ág uas em Po rtug al eram utilizad as co m bastante emp enho p elo s cam p o neses e senho res: d esv iar cheias, abrir canais, d renar pântano s e p av is; irrig ar, eram, p o is, p ro ced imento s muito co mums. Usav am a energ ia eó lica, mas d av a-se p referência ao s mo inho s d e ág ua e azenhas.

A p esar d a p recaried ad e d as técnicas, alg umas culturas requeriam um cuid ad o maio r; é o caso d a v inha e d a o liv eira36.

34 Na s ci da d es os ca mp on es es vão comp or um a m as s a d e des em p r eg ad os ,

s ubemp r eg a dos e m a r gi n ai s .

35 “Por r ot a çã o en t en der - s e- á a su ces s ão d o cul t i vo pl en o/ pous i o p l en o,

a l t er n a da men t e ou n ão. Por afol h a m en t o, di vi s ão em fol h a s d e um a ár ea cul t i vá vel , d e t al modo q ue n el e s emp r e h a ja cu l t i vo, d ua s ou t r ês pa r t es g er a l m en t e, afol h a m en t o bi en a l ou t r i en a l . ”

A v inha, junto co m a o liv eira, eram as g rand es culturas med iev ais p o rtug uesas. Em to d o s o s lug ares se p lantav a a v inha, p rincip alm ente em to rno d o s g rand es p o v o ad o s, asso ciad a a o utras culturas, tais co mo as o liv eiras, o s so brais, o s so uto s e as azinhais.

O A lastramento d a v inha p elo territó rio d eco rreu d a ap tid ão d o so lo e clima p ara esse cultiv o . Pro d uzia-se a p artir d essas v inhas o v inho tinto e o v inho branco , am bo s exp o rtáv eis.

Quanto ao azeite, seu uso era bastante co mum, send o co nsumid o p o r to d as as camad as so ciais. O azeite era emp reg ad o na alimentação , na iluminação , na med icina, na p erfumaria e na relig ião .

O o liv al p ro liferav a em to rno d o s p o v o ad o s. N ão era uma cultura nativ a, embo ra fo sse enco ntrad a em v árias reg iõ es d e Po rtug al.

A uv a e a azeito na tamb ém co nstav am d a mesa d o ho mem med iev al p o rtug uês, co mo p arte d e sua alimentação d iária.

A lém d a cultura d a o liv eira e d a v inha, o s cereais-trig o , centeio , cev ad a - eram d e g rand e imp o rtância eco nô mica e alimentar. Junto à fabricação d o v inho e d o azeite p ro d uzid o s p ara co nsumo interno e p ara a exp o rtação , e d a cultura d e cereais p anificáv eis, não se p o d e esquec er d as frutas e d o s leg umes.

Para as fainas ag ríco las, a quase to talid ad e d a mão -d e- o bra emp reg ad a era liv re e o s senho res laico s e eclesiástico s tiv eram muito s p ro blem as, em relação à mão -d e-o bra rural, uma v ez q ue a qued a d emo g ráfica, o êxo d o rural, as ep id emias, etc, red uz iram e muito o número d e trabalhad o res d o camp o , causand o p rejuíz o s ao s p ro p rietário s d e terra, fo me e carestia d o s g ênero s ag ríco las.

Esses p ro blemas fo ram co nstantes p o r to d a a Baixa Id ad e M éd ia, e eram freqüentemente d iscutid o s nas Co rtes.

Os mo narcas, para so lucio narem o s p ro blemas relativ o s à mão -d e-o bra, p ro mulg aram leis bastante ríg id as, co mo é o caso d a Lei d as Sesm arias (D . Fernand o - 1375), o nd e se buscav a co ntro lar melho r o s trabalhad o res rurais e fixá-lo s no camp o . M as, mesmo co m to d a a rig id ez d e reis, co ncelho s e senho res, o p ro blema p ersistiu e inco mo d o u muito ao s d etento res d o p o d er.

A ag ricultura era, p o is, a ativ id ad e eco nô mica m as imp o rtante d e Po rtug al nesse p erío d o . O trabalho ag ríco la era uma questão d e hierarquia e p o d er e a p ar co m a ativ id ad e ag ríco la, estav a a p asto rícia.

N o s finais d o século XIV e início d o XV , a crise ag ríco la, p ro v o cad a p o r fato res naturais e humano s (mud anças climáticas, p estes, exp lo ração d o s senho res so bre o s camp o neses, g uerras), o rig ino u uma mud ança substancial na estrutura so cial p o rtug uesa.

Os ho mens d o camp o q ue antes se d ed icav am e exclusiv amente à ag ricultura, p assaram a trab alhar também co m a p ecuária.

Era p o r d em ais sabid o que ao s ag riculto res se to rnav a ind isp ensáv el a criação d e g ad o , usad o co mo tração animal que g arantia a base d o arad o . O ad ubo natural, rep resentad o p elo estrume, fertilizav a o s terreno s e era um d o s po uco s fertilizantes que eles emp reg av am.

Esse g ad o , d e muitas v aried ad es, o cup av a uma bo a p arte d o territó rio p o rtug uês. N as áreas mais p o v o ad as o p asto se rev ezav a co m o plantio d e cereais, na ro tação d e culturas. Em o utras áreas, o p asto o cup av a um a extensão esp ecífica e exclusiv a p ara esse fim. A crise fo i, d e certo mo d o , resp o nsáv el p ela exp ansão d as p astag ens, v isto a criação d e g ad o requerer meno s mão -d e-o bra d o que a ag ricultura.

Um d o s rebanho s, o d o g ad o o v ino , era bastante numero so . Esse g ad o enco ntrav a-se p o r to d o o A lentejo , Beira Interio r, Trás-o s-M o ntes, etc. Esse rebanho , assim co mo o s o utro s d eslo cav a-se co nstantemente em buscar d e p astag ens. N esse d eslo car, d estruíam e p rejud icav am culturas, p ro v o cand o , assim, a insatisfação e co nflito s entre o s ag riculto res e o s p asto res37.

A co ro a, p ara p ô r fim a este tip o d e p ro blema, instituiu a “ transumância” , que era o d eslo camento o rg anizad o d o g ad o em

d eterminad o s p erío d o s d o ano , d e aco rd o co m as estaçõ es; no v erão iam d as p lanícies p ara as mo ntanhas e no inv erno d esciam d as mo ntanhas em d ireção às p lanícies, em busca d e alimento .

O g ad o cav alar era bem d isseminad o no Reino , p o d end o ser enco ntrad o em to d as as p artes, mas não em número suficiente p ara sup rir as necessid ad es d o s p o rtug ueses. A s manad as existiam p o r to d o o lad o , no rmalm ente no Sul - na Estremad ura, no A lentejo , no Ribatejo . M as as queixas so bre a falta d e cav alo s nunca p arav am, reco nhecend o as p ró p rias auto rid ad es a sua escassez. A imp o rtância d o g ad o cav alar extrap o lav a a esfera eco nô mica p ara se refletir na so cial, o nd e ter o u não ter cav alo s era uma questão d e hierarquia e p o d er.

De to d o esses tipo s d e g ad o , o mais imp o rtante era o g ad o v acum o u bo v ino . Co mo cad a cultura ag ríco la tinha sua

reg ião e clima p ro pício s, a p ecuária também se caracteriz av a p o r mo no p o lizar d eterminad as áreas p ara sua execução , p rincip almente aquelas áreas imp ró p rias para o cultiv o e bo as co mo p astag ens.

Co m efeito , o rebanho p ara o s p ro prietário s representav a excelente fo nte d e rend a; p ara o s p asto res e g uard ad o res um bo m meio d e se g anhar a v id a e, p ara a Co ro a, um ó tim o m eio p ara se arrecad ar imp o sto s, p rincip almente o mo ntad o , imp o sto p ag o so bre o g ad o transeunte, que co nsistia no p ag amento d e um certo número d e cabeças p o r rebanho . Esse imp o sto era p ag o p ara co mp ensar o s p rejuíz o s causad o s d urante a transumância38.

A p asto rícia incluía ap enas aqueles rebanho s que eram exp lo rad o s d e fo rma extensiv a e que p raticav am a transumância. A queles rebanho s criad o s d e fo rma intensiv a, p reso s em currais e que p astav am e d eterminad as áreas d e p o usio o u em terceiro s inculto s, d ito s maninho s, alg um as ho ras p o r d ia, não faz iam p arte d a p asto rícia e sem d a ativ id ad e ag ríco la d a zo na rural.

A ativ id ad e p asto rícia aind a se d estaco u so b o p o nto d e v ista só cio -eco nô mico , p o rque se, d e um lad o , rep resentav a uma excelente fo nte d e rend a p ara o s pro p rietário s d o s rebanho s, p o r o utro lad o era uma o cup ação rentáv el e seg ura p ara o s Co ncelho s que também se beneficiav am , uma v ez que, co m a transum ância e

co m o s imp o sto s co brad o s d a ativ id ad e p asto rícia, o s co fres p úblico s e municip ais recebiam sua co ntribuição .

A p asto rícia fo i, p o rtanto , uma ativ id ad e d e g rand e p eso na eco no mia m ed iev al, co nstituind o , co m a ag ricultura, o s p ilares d a v id a eco nô mica d e Po rtug al no s século s XIV e XV .

A p esar d e p o ssuir uma co sta d e apro ximad amente 845 km, Po rtug al não é um p aís p ro p o rcio nalmente rico em p eixe. Isto p o rque sua p latafo rma co ntinental é estreita e o s v ento s fo rtes d o Ocid ente atrap alham a p esca o ano inteiro .

Para sup erar as d ificuld ad es ap resentad as, no p erío d o em tela, o s p escad o res p o rtug ueses estend iam o seu camp o d e ação p ara o utras co stas. Os pescad o res d o Sul iam até à co sta d a Á frica. Os d o N o rte ating iram as ág uas d a França e d a Bretanha.

Co m a exp ansão d as áreas p iscató rias o s p o rtug ueses aumentaram o seu mercad o co nsumid o r e amp liaram as relaçõ es co merciais co m v ário s p aíses euro p eus e africano s, isto p o rq ue o p eixe era usad o co mo p ro d uto d e tro ca, send o uma mercad o ria d e g rand e imp o rtância p ara o s centro s euro p eus.

Os maio res centro s d ed icad o s à pesca eram : V iana d o Castelo , Po nte d e Lima, Vila d o Co nd e, M ato sinho s, Leça, Esp o send e, Caminha, Castro M arim e Lag o s.

O p eixe não era v end id o ap enas fresco ; g rand e p arte d o p escad o era salg ad o o u d efumad o . A salg a era a fo rma mais p rática e eficaz p ara sua co nserv ação . O emp reg o d essa técnica d e co nserv ação d o p eixe era o que p ermitia sua v end a em to d as as p artes d o Reino e no s mercad o s estrang eiro s.

Po rtug al era, no s século s XIV e XV , um p aís essencialmente ag rário . A m aio r p arte d e sua p o p ulação d ed icav a- se às ativ id ad es ag ríco las e extrativ as. N a eco no mia, o s manufaturad o s não se d estacav am p o r sua imp o rtância. Isto d ev id o ao fraco d esenv o lv imento artesanal, d ep end ente, aind a, d a falta d e matérias-p rim as, d a ineficiência d e p ro fissio nais esp ecializ ad o s, d o p red o mínio d e técnicas rud imentares e d a d esco nfiança q uanto à ad o ção d e no v as p ráticas.

H o uv e, entretanto , a p artir d o d esenv o lv imento d as v ilas e cid ad es, uma lenta ev o lução na ativ id ad e artesanal. Tal aco ntecimento fo i d eco rrente d o emp reg o d e certo s av anço s técnico s, que cheg aram a Po rtug al v ind o s d e o utro s p aíses, d o melho ramento d as fo ntes d e energ ia, d a entrad a d e artífices e o utro s esp ecialistas no Reino .

Esses “ no v o s” mo rad o res d ed icav am -se, p rincip almente, à fabricação d e p eças d e v estuário , calçad o s e mo rad ia, bem co mo trabalhav am na co nfecção d e instrumento s ag ríco las, ap arelho s d e med id a e d e v asilhames, co mo as p ip as e o s to néis.

Tais p ro fissio nais o u artesão s eram chamad o s d e mesteirais, e trabalhav am em p equenas o ficinas que eram, ao mesmo temp o , lo jas. A lg uns mesteirais p o ssuíam ajud antes, que v ariav am em núm ero , d ep end end o d a co nd ição financeira d o artesão . A ssim , ele po d ia ter d e três a cinco ajud antes (serv entes e ap rend izes). Po d em o s d izer que eram jud eus e mo uro s quase to d o s o s ferreiro s d e Po rtug al. A m aio r p arte d o s jud eus p o rtug ueses o u resid entes no Reino d ed icav a-se às ativ id ad es secund árias o u terciárias.

Os mestres, ao o rg aniz arem uma co rp o ração , tinham, aind a, o utro s o bjetiv o s, quais sejam, v ig iarem -se, co ntro land o o s p reço s e a qualid ad e d a p ro d ução , p ara ev itar a co nco rrência d esleal; ap ro v arem a abertura d e uma no v a o ficina-lo ja, na hip ó tese d e o co nsumo exig ir mais o ferta d e d eterminad o p ro d uto artesanal; asseg urarem auxílio mútuo p ara si e p ara suas famílias, em caso d e d o ença e acid entes d e trabalho , (ho sp itais), mo rte, amp aro na v elhice, (asilo ), p o uso em caso d e v iag em, (alberg ue), rev estind o - se, p o rtanto , a co rp o ração o u co nfraria (o u co nfrad ia), d e um caráter relig io so , p o rém, hierarq uiz ad o , insp irad o na carid ad e ev ang élica, p ráticas essas estimulad as p elo clero .

Em v ilas e cid ad es maio res, hav ia o s artesõ es arruad o s, isto é, reunid o s p o r pro fissõ es numa mesma rua. Tal era, p o r exem p lo , o que o co rria um Lisbo a e em Co imbra, o nd e as tend as,

balcõ es e o ficinas p erfilav am -se lad o a lad o , o ferecend o ao s transeuntes, freg ueses em p o tencial, o s mesmo s p ro d uto s.

Para alg uém p o d er se intitular calafate o u carp inteiro , p o r exemp lo , e p o d er abrir sua p ró p ria o ficina, o u ing ressar num d eterminad o “ M ester”39, hav ia reg ras a serem o bserv ad as. Em g eral, no to cante ao p rimeiro caso , a co nfraria exam inav a o s cand id ato s e d ecid ia se seriam o u não aceito s, co mo tal, e d ep o is, em send o ap ro v ad o s e tend o meio s p ara tanto , a auto rid ad e co ncelhia era info rmad a e lhe d esig nav a um lo cal ap ro p riad o p ara abrir a sua o ficina. A med id a também v isav a a facilitar a co brança d e imp o sto s p elas auto rid ad es.

Cad a o ficina-lo ja era uma p equena unid ad e d e p ro d ução artesanal40. Se a mesma não co nseg uisse, quantitativ amente, abastecer m ais a p o p ulação , a so lução estav a na criação d e uma no v a lo ja, não no aumento o u exp ansão d a p rimeira.

A ativ id ad e artesanal o cup av a uma g rand e e v ariad a mão -d e-o bra. A lg uns o fício s lig ad o s ao artesanato requeriam mão - d e-o bra esp ecializ ad a, o que atribuía a esse p ro fissio nal um d estaq ue só cio -eco nô mico que o d iferenciav a d aqueles que executav am o s trabalho s mais p esad o s, meno s req uintad o s e que d entro d a hierarquia so cial, o s subo rd inav am ao s p rimeiro s.

39 “A pa l a vr a “m es t er ” der i va do l at i m mi n i s t er i u m ( ofí ci o, fun çã o); m i n i s t er i al i s

( ofi ci a l , a qu el e q ue exer ce u m a fu n ção) .

A partir d e mead o s d o século XV em d iante, o artesanato se to rno u um a imp o rtante ativ id ad e eco nô mica, g erand o