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A SO CIEDA DE PO RTUGUESA NO LEA L CO NSELHEIRO

3. A Sociedade Portuguesa no Leal Conselheiro

Do m Duarte, à semelhança d o que faz co m o utro s tem as, escrev e, no Leal Conselheiro, d e fo rma d eso rd enad a e misturad amente acerca d a o rg aniz ação d a so cied ad e p o rtug uesa e d o p ap el esp ecífico d e cad a um d o s seg mento s so ciais que a co mp õ em, d and o , entretanto , maio r ênfase a esse assunto no cap ítulo IV, em que trata d a v o ntad e tíbia82.

N esse cap ítulo , o Rei d iz que v ê “ muitas p esso as errarem, tanto p o r não q uererem cump rir seus d ev eres d e o fício “por tentação desta terceira tíbia vontade vejo muitos errar em sua maneira de viver”83...quanto p o rque se entreg am ao ó cio , estand o , p o is a d eso bed ecer às leis e ao s mand amento d iv ino s84.

Ora cad a p esso a e cad a seg mento so cial tem um função so cial p ró p ria e um p ap el esp ecífico a d esemp enhar. O texto d o

82 C ap . I V. C om o m uyt os er r am n a m a n ei r a d e s eu vi ver p er a qu el l a t er cei r a t í bi a

von t a de.

83 I dem . I bi d, ca ps . I I I e I V

Leal Co nselheiro rev ela até que p o nto D. D uarte se o p õ e neste p o nto p reciso à no breza d o seu temp o , p ro curand o incutir-lhe uma o rientação d iv ersa. A o s “ d efenso res” , esclarece, cabe a d efesa d a terra co ntra to d o s o s inim ig o s interno s e externo s. Os “ d efenso res” co nstituem um sustentáculo d as “ terras e senho rio s” , reco nhecend o -se-lhes “ g rand es liberd ad es e p riv ilég io s” . Cump re - lhes, to d av ia, acrescentav a D. D uarte,

“ na p az ap rend er e saber tais m anhas co m o no tem p o que cum p rir p o ssam e saibam bem hu sar d aq uello p o r que so m antre o s o utro s tam av antajad o s e tenham arm as e cav alo s p ara estar p restes co m o co nv ém p ara lo g o so co rrer o nd e fo r necessário p o r serv iço s e m and ad o d e seu senho r, p o nd o -se a p erig o s d e m o rte e a o utro s g rand es trabalho s e d esp esas, m antend o g ente e tais co rreg im ento s se g und o a cad a um p ertence que ho nrem o real estad o , sua co rte e seu senho rio .”85

Censura, d ep o is, aqueles que, p ertencend o ao g rup o so cial d o s d efenso res, q uerem, ao mesmo tem p o , realizar ativ id ad es mercantis, o u d e lav o ura... O tema era, p o is, p o lêm ico , trad uzind o um co nflito entre uma no breza p ro ced ente d a burg uesia rural e urbana e o mo narca, rep resentante d a reação senho rial, aristo crática, mais tard e v ito rio sa em A lfarro beira. É essa

o rg anização d a so cied ad e que lhes asseg ura simultaneamente seus d ireito s e d ev eres, e quand o estes não são ig ualmente o s o utro s não são resp eitad o s e to d o o co njunto so fre co m isso .

A leald ad e, a p rud ência, a esp erança, a o bed iência, a carid ad e, a temp erança, a fé e a firmeza d e caráter e as o utras v irtud es são analisad as po r D o m D uarte co mo atitud es a serem to mad as, p o r to d o s, a fim d e que tud o transco rra harmo nio samente.

A o co ntrário , a av areza, a g ula, a luxúria, a so berba, o ó cio , a inv eja, a ira, o s sete “ Pecad o s Cap itais” são tratad o s p elo Rei, não ap enas co mo v ício s tremend am ente no civ o s ao ho mem cristão , mas também co mo p rejud iciais à to d a a so cied ad e. Po r isso , d ev em ser co mbatid o s med iante a p rática d as v irtud es, antes referid as.

Dentre o s p red ito s v ício s, D . D uarte d á ênfase esp ecial ao ó cio , d ad o que ele faz co m que as p esso as sejam inúteis a si mesmas e ao s o utro s, fato esse que tem sério s e ev id entes d esd o bramento so ciais e p o lítico s: “ d a o cio sid ad e em no ssa ling uag em seu no me mais ap ro p riad o é p reg uiça, assim q ue to d o erro d a p reg uiça p ro ced e d a o cio sid ad e. E v em mal, tard e e fracamente co meçar, co ntinuar e acabar as causas que bem e ced o se d ev em fazer”86.

Tend o , p o is, em v ista que p o r sua p ró pria natureza o s seres hum ano s estão inclinad o s a co meterem falhas e a p raticarem v ício s, é imp rescind ív el que sejam g o v ernad o s p o r o utrem, a saber, p o r aqueles a quem Deus esco lheu p ara exercer o p o d er tem p o ral. Po r isso , o rei o cup a o v értice d a so cied ad e co ncebid a p o r D. Duarte. A lém d isso , o mo narca exerce uma função ministerial, d e serv iço , em p ro v eito d a Ig reja: o rei é ministro d a Ig reja, d ev end o d efend ê-la e ad v o g ar a sua causa o nd e tal se imp user. Po r co nseg uinte, o rei, no territó rio so b a sua auto rid ad e, é o sup remo representante d e D eus, d etend o em suas mão s o s p o d eres esp iritual e temp o ral. Daí, as d em ais p esso as, clérig o s e leig o s, p o uco imp o rtam a d ig nid ad e e o p ap el q ue d esemp enham, serem seus súd ito s e terem para co m ele o d ev er d a o bed iência, d e serv iço e d e auxílio :

“ to d o bo m ho m em p ela g raça d e D eus d ev e ter intenção d e traz er sem p re ante seus o lho s o s bens e m ercês que recebe d ele, e isso m esm o d o s senho res, e nas bo as o bras e serv iço s lhe faz em seus am ig o s e serv id o res. E ser sem p re co ntente d o que há, p o is lhe v em p o r o rd enança d o Senho r D eus que não p o d e falecer, co nsid erand o co m o é falecid o , d e firm e fé e bo a esp erança e g rand e carid ad e, am o r d o Senho r so bre to d as as co isas, e p elo seu a elas co m o é raz ão . E isso m ed ês d ev e co nsid erar no s p ecad o s e erro s que co ntra ele fez , e na m íng ua d a bo a p rática co ntra senho res e am ig o s e serv id o res, o u ald em eno s q u e não tem feito acerca d eles

tanto q uanto d ev ia p o rque lhe hajam g rand e o brig ação p ara o m uito am arem o u serv irem ”87.

O Rei tem co mo p rincip al d ev er mo ral o rientar o p o v o que lhe fo i co nfiad o p o r Deus, no to cante a q ue v enha a alcançar a beatitud e eterna. Po r isso , d ev e antes d e mais p raticar as v irtud es e sem p re lhe serv ir d e exemp lo . N o cum p rimento d essa tarefa, ele é auxiliad o p elo s ministro s esp irituais, o s bisp o s, o s sacerd o tes e d e mais clérig o s, na med id a em que recebem d o p ró p rio Cristo essa missão e o po d er p ara ensinar a d o utrina cristã e ministrar o s sacramento s ao s fiéis. Eles também têm o d ev er d e ed ificá-lo s med iante o s seus bo ns exemp lo e atrav és d a p rática d as v irtud es.

Co mo se d ep reend e d o que fo i exp o sto até aqui a so cied ad e m ed iev al caracteriza-se p o r ser uma so cied ad e fo rtemente hierarquiz ad a, que está mais p ressup o sta d o que exp ressamente afirmad a no texto d o Leal Co nselheiro.

A estrutura g eral d essa so cied ad e era a d as três o rd ens trad icio nais: clero (“ o rato res” ), no breza (“ bellato res” ) e p o v o (“ labo rato res” ) e p o v o (“ labo rato res” ). D o m D uarte subd iv id e a terceira o rd em em v ário s estad o s (...) N o cap . 4 d o Leal

Co nselheiro d iz Do m D uarte que “ o s estad o s são g eralmente cinco ”

(LC, 42), e na b rev e d escrição que faz d e cad a um v erifica-se que o s

d o is p rimeiro s (o rad o res e d efenso res) co incid em co m as d uas o rd ens trad icio nais, enquanto a terceira se d esmembra em v ário s o utro s estad o s que se d istrib uem em três g rup o s: lav rad o res e p escad o res, o ficiais (co nselheiro s, juizes, reg ed o res, v ed o res, escriv ães e semelhantes) e o s que usam alg umas artes ap ro v ad as e o s mestres “físicos, cirurgiões, mareantes, tangedores, armeiros, ourives, e assim outros que são por tantas maneiras que não se poderiam brev emente recontar” . O s co merciantes e mercad o res cab iam também no s estad o s sup erio res d a Cav alaria. Po r mercad o r entend ia-se, não um v end ed o r qualq uer, mas um co merciante p o r g ro sso - p o d end o p o ssuir a sua lo ja d e retalhista - e so b retud o d e artig o têxteis. M uito s d ed icav am-se à imp o rtação e à exp o rtação , eram fretad o res e armad o res d e nav io s, arrend atário s d e rend as p úblicas, p restamistas, alto s funcio nário s, v alid o s d o rei, etc. Tratav a-se, em suma, d a aristo cracia d o d inheiro ”88. N ão merecem aind a a ind iv id ualização em estad o , ap esar d a imp o rtância so cial co nquistad a co m o ap o io d ad o ao mestre d e A v is na crise d e 1383- 1385 e subseqüente co nso lid ação d a d inastia d e A v is; no entanto , ao exemp lificar co m o o s d efenso res p o d em “ falecer” seg uind o a v o ntad e tíbia e p razenteira, um d o s d esv io s é p recisamente quand o d esamp aram a ho nrad a maneira d e seu v iv er e se lançam a lav rar o u tratar d e mercad o ria”89.

88 M ARQUE S, A. H. Ol i vei r a . 19 86 , p . 26 6. 89 GAM A, Jos é. 19 95 , p. 16 1/ 1 62 .

É interessante no tar q ue D . D uarte, ao inv és d e usar a exp ressão trad icio nal, “ O rd em” , a substitui p elo co nceito “ Estad o ” ,

status, em latim, que ao no sso v er, p erscrutand o o p ensamento d o Rei, exp ressaria melho r as id éias relativ as à co nd ição , ao p ap el e à finalid ad e so cial d e cad a g rup o , e até mesmo d e cad a sub -g rup o integ rante d o 3.º estad o , em v ista d e sua amp la abrang ência.

Pensamo s, o utro ssim, que D. Duarte ao emp reg ar o mencio nad o co nceito e ao sub -d iv id ir o 3.º estad o em sub -g rup o s, d escrev end o e analisand o a so cied ad e p o rtug uesa d e sua ép o ca, tinha co nsciência d e que ela não se enquad rav a mais naquele mo d elo acima referid o , co ncebid o no século XI, em que efetiv amente a Cristand ad e estav a quase co mp letamente alicerçad a no mund o ag rário rural e ag rário , mas tam bém que estav a a p assar p o r transfo rmaçõ es, cujo eixo g rav itav a em to rno d a v ilas, cid ad es e d o lito ral, transfo rmaçõ es essas q ue exig iam um a no v a teo rização , bem co mo uma no v a resp o sta tanto d a parte d o Rei quanto d a p arte d e cad a um d e seus súd ito s.

Co m efeito , o co nceito O rdo90, na co ncep ção d o mo ng e A d albero n, exp ressav a não só um funcio nalismo trip artid o , m as ig ualmente um p ro v id encialism o transcend ente q uerid o p elo p ró p rio Deus p ara a Christianitas.

Ora co mo se sabe, a p artir d o século XII, ao meno s nalg umas p artes d a Euro p a, entre as quais o N o rte d a Itália, a Pro v ença, Fland res, o s burgos se expand iram g raças às ativ id ad es manufatureiras, ao co mércio e à circulação mo netária. O s burg ueses que neles resid iam ig ualmente p assaram a exercer trab alho s esp ecializad o s, o s quais lhes asseg uraram não ap enas d inheiro , m as também mais esp aço so cial e p o lítico .

Co mo se sabe, o utro ssim, essa no v a realid ad e ao s p o uco s fo i se esp alhand o pelo resto d o co ntinente euro p eu, e tal era o que hav ia o co rrid o em Po rtug al, mais intensam ente d esd e a épo ca d e D . Jo ão I. Po r isso , a mencio nad a d escrição e análise d a so cied ad e, estruturad a em O rdines não m ais se sustentav a.

Co mo ig ualmente v imo s, o feitio e as características d a p erso nalid ad e d e D . D uarte, em que se d estacam o intelectual, o o bserv ad o r atento acerca d e tud o o que se passav a à sua v o lta e o p o lítico , uma v ez que fo ra asso ciad o ao g o v erno d esd e 1411, não p erm itiram que ele ficasse p reso a co nceito s e a v alo res trad icio nais ao ter em m ente d esejar ed ucar o seu po v o p ara uma “ av entura” que, aind a muito tênue, já se d esco rtinav a na linha d o ho rizo nte.

Po rtanto , reiterand o uma v ez mais o que fo i escrito acima, seg und o D . Duarte, a so cied ad e p o rtug uesa d e seu temp o estav a o rg aniz ad a em cinco estad o s, a saber; 1.º , co nstituíd o p elo s

clérig o s, m o ng es e frad es, p ertencentes a to d as as co ng reg açõ es relig io sas, cujo officium esp ecífico e p rincip al co nsistia em ensinar p ela p alav ra e p elo exemp lo a Bo a N o v a a to d o s o s fiéis d o Reino : lo uv ar, ag rad ecer e sup licar a Deus p o r si p ró p rio s, p elo rei e p elo s membro s d o s o utro s estad o s, e lhes ministrar o s sacram ento s. Fazend o isso , estão a co labo rar co m o Rei, no to cante a co nd uzir to d o s o s súd ito s p ara a p rática celestial.

Po r isso , o s clérig o s d esfrutam d e um certo atium, não tend o a o brig ação d e trabalhar p ara asseg urar o pró p rio sustento . Entretanto , ao exercer o seu officium, pecam quand o o tro cam p o r alg uma fo rma d e p ecúnia, além d aquela d estinad a p elo s o utro s fiéis, p ara que se alimentem , se v istam e façam o bras p ias. Pecam, o utro ssim, quand o d e alg uma fo rma exp lo ram o s fiéis, d and o -lhes, aind a, um p éssimo exemp lo .

Do m D uarte d iz nesse cap ítulo que o s relig io so s q ue se env o lv em em o utro s assunto s, além d o s eclesiástico s, e que interessam p o r p ro blemas e co nv ersas laicas, p ecam, p o is se intro metem em assunto s que não lhes d iz em resp eito , d eixand o suas resp o nsabilid ad es d e lad o : “ p o rque alg uns letrad o s e o utras p esso as que v iv em em relig ião falam co ntra o s estad o s d o s senho res, ho mens d e linhag em, riqueza, p o d erio temp o ral e sem elhantes, m o strand o que são d e g rand e emp ecimento co mo co usas não bo as o u em que haja necessariam ente p ecad o , p o r m uito

C a t edr al de Met z e ch an cel er da Sé d e Laon (9 77 ) . Du by Geor ges . o. c. , p. 2 5

seg ura, e o s jejum, v ig ílias, rezar p o r o bras certamente bo as, v o s faço esta d eclaração d o que so bre elo me p ertence, tirad a p rincip alm ente a fo rça d ela d o Liv ro d as co laçõ es”91.

Percebe-se a co no tação crítica d o co mentário d e Do m Duarte, po is o s clérig o s o u relig io so s que se d esg arrav am d o seio eclesiástico fo rmav am um g rupo d e d eso cup ad o s e p ed intes que circulav a p elo Reino , trazend o p ro blemas so ciais d e d ifícil so lução . Tanto é que mesmo ao final d o g o v erno d e D. Duarte aind a enco ntramo s referências a p ro blemas co m esses “ falso s relig io so s” . Outro p ro blema p ercep tív el aind a era a exp lo ração d a co munid ad e cristã p elo clero lo cal e q ue é co ntestad o p o r este Rei.

O seg und o estad o , co mo v imo s antes d esig nad o p elo s termo defensores o u bellatores, é co nstituíd o p ela no breza, cujas funçõ es co nsistem na d efesa d o reino co ntra o s inimig o s externo s e co ntra o s traid o res d a nação q ue ameaçam a paz interna que nela d ev e imp erar.

Po r isso , não po d em nem d ev em se o cupar co m o utras tarefas, co mo asseg urar o p ró prio sustento , d e mo d o que o utro s d ev em lhes p ro p o rcio nar isso . Caso co ntrário , a nação teria d e arreg imentar no estrang eiro p esso as que, a tro co d e d inheiro , v iessem d efend ê-la, o que seria muito ruim p ara a mesma, g erand o tal situação d úv id as e incertezas.

Os no b res, d urante o s p erío d o s d e p az, d ev em não só v iv er retamente co mo m and a a Sag rad a Escritura, mas tamb ém se p rep arar para a g uerra e “ ap rend er a saber tais manhas co m o no temp o que cum p rir p o ssam, e saibam bem usar d aquilo p o r que são entre o utro s av antajad o s e tenham armas e cav alo s p ara estar p resentes co mo co nv ém p ara lo g o so co rrer o nd e fo r necessário p o r serv iço e mand ad o d o seu senho r, p o nd o -se a p erig o s d e mo rte e a o utro s g rand es trabalho s e d esp esas e tais co rreg im ento s a cad a um p ertence que ho nre o real estad o , sua co rte e senho rio ”92

N o Livro de Bem Cavalg ar Toda Sela, D. D uarte d ep lo ra o fato d e que o s no bres não mais se interessam p ara se p rep arar p ara a g uerra, p referind o to mar p arte d o s “ serõ es e co nv ersas d e mulher” . Reco rd e-se que, no p lano d a ed ucação cav alheiresca med iev al, “ o jo v em co nv iv ia co m as senho ras d a co rte d esd e o s 7 ao s 15 ano s d e id ad e, co m elas aprend end o as bo as maneiras e uso s co rtesõ es, po r v ezes canto o u a to car um instrumento , excep cio nalm ente a ler e a escrev er em líng ua v ulg ar”93. Po r isso , o Rei o s censura, aco nselhand o -o s a se co mp o rtarem retamente d e aco rd o co m sua co nd ição e p ap el so cial, d e maneira a serv irem d e exem p lo p ara as o utras pesso as.

Também ele trabalha co m a necessid ad e d o senho r d ar bo ns exem p lo s, e sab emo s que ele era um ó timo d esp o rtista: “ à

92 DUART E , D. p. 43 .

raz ão mo stra que o reg ed o r que o m al castig ar, e g alard o ar o s bo ns e v irtuo so s, lo uv and o as v irtud es p o r p alav ra e bo m exemp lo d a sua v id a, encaminhará seus súd ito s v irtuo samente v iv er, e que d ev e fazer em eles g rã mud ança d e co nd içõ es. A q ui é d e co nsid erar que se não são emend ad o s o s maio res e m ais cheg ad o s, que o s d aquela maneira p o uco o serão ”94.

O terceiro estad o é co mp o sto p elo s lav rad o res e p escad o res: “ que assim co m o p és em q ue to d a a co usa púb lica se mantém e sup o rta”95. Eles são o sustentáculo , o sup o rte d a nação , p o rque resp o nsáv eis p elo sustento d e si p ró p rio s e d o s o utro s estad o s, tirand o d a ág ua e d a terra o s p eixes e o s v ív eres d estinad o s a esse fim.

Po r esse mo tiv o , não p o d iam d esfrutar d e nenhuma esp écie d e ó cio e este era o d elito e o p ecad o mais g rav e que p o d eriam co meter, uma v ez que, se d eixassem d e cump rir co m o seu officium estariam p o nd o em risco a p ró p ria so brev iv ência d a p o p ulação . Eles p o d eriam acumular riquezas, se co nseg uissem juntá-las.

O quarto estad o eng lo ba o s o ficiais d o reino : o s co nselheiro s, o s juizes, o reg ed o re,s, o s v ed o res, o s escriv ães. Seu

officium co nsiste em cuid ar d o bo m funcio namento d a máquina

94 I dem , i bi dem p. 19 6. 95 I dem p . 19 6.

ad ministrativ a e, p ara tanto , eram co nv o cad as as pesso as mais cultas, m ais leais e mais tementes a D eus.

Estes p ro fissio nais esp ecializad o s eram treinad o s p ara o cup arem o s carg o s mais alto s d a hierarquia buro crática. To d o s o s auxiliares d ireto s d e D o m Duarte, d eixav am ano tad as to d as as info rmaçõ es necessárias p ara o seu sucesso r, isto p ara não d eixar a máquina ad ministrativ a p arar.

O quinto estad o é co nstituíd o p o r aqueles que se o cup am d as m ais d iv ersas artes ap ro v ad as, isto é, exercem trabalho s esp ecializ ad o s, a saber, físico s, cirurg iõ es, mareantes, tang ed o res, armeiro s, o uriv es e o utro s tanto s.

Também no d izer d e Do m Duarte, seriam d ig no s d e usar d e bo a maneira d e v iv er. N ão p o d iam se d ed icar ao ó cio p o rque esses p réstim o s em temp o s d e g uerra o u d e p az eram m uito necessário s, p o rém tinham fo lg as e trabalhav am meno s q ue o s ag riculto res e p escad o res.

Essas seriam as d iv isõ es d a so cied ad e co nfo rme o p ensamento d e Do m Duarte. Seg und o o Rei, cad a estad o tinha seu lug ar e sua função b em d eterm inad o s d entro d a co munid ad e, co m sua p arte d e “ fo lg ad o e seg uro ” e d e “ trab alho s e p erig o s que a cad a um muito co nv ém”96. To d o s o s o fício s eram necessário s e bo ns e d ev iam ser p lenamente cump rid o s, co m o d o ce e o amarg o so

p ertencentes a cad a, um d o s d esv io s nem o p o rtunismo d a v o ntad e tíbia. Cad a um d ev eria se co ntentar co m sua v id a e realiz ar seus p réstimo s d a melho r fo rma p o ssív el, p o is esta era a v o ntad e d e Deus.

Tentamo s esbo çar um quad ro d a so cied ad e med iev al p o rtug uesa seg und o o p ensamento d e D o m Duarte extraíd o d o seu Liv ro Leal Co nselheiro.

AS POLÍTICAS URBANA E