• Nenhum resultado encontrado

3.2 Educação Ambiental: um campo em construção

3.2.4 A ecopedagogia

Uma das adjetivações da tendência da EA que BERTOLUCCI et al (2005) buscam caracterizar é a ecopedagogia. Para tal se baseiam em Gadotti (2000) argumentando que essa tendência tem origem na educação problematizadora de Paulo Freire, centrando-se na relação entre os sujeitos que aprendem juntos em comunhão. A ecopedagogia incorpora a EA, oferece

estratégias, propostas e meios para sua realização. Consideram a EA como uma mudança de pensamento sobre qualidade de vida. A concepção de natureza adotada pela ecopedagogia é a de um todo dinâmico relacional, harmônico, organizado, em interação com as relações que se estabelecem na sociedade.

De acordo com BERTOLUCCI et al (2005) a ecopedagogia pretende desenvolver um olhar global para a educação, uma nova maneira de ser e estar no mundo, buscando sentido em cada ato, ultrapassando o limite de ações pontuais no cotidiano, criticando a sociedade em diversos aspectos, estabelecendo uma nova relação com a natureza a partir de uma outra relação entre os seres humanos, entendendo esse movimento como um processo pedagógico e social.

MAGALHÃES (2006) também situa o conceito de ecopedagogia como uma tendência da EA. Ela é conhecida como a Pedagogia da Terra e visa promover a aprendizagem do sentido das coisas a partir do cotidiano. As discussões sobre tal tendência ganharam destaque a partir do Primeiro Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação, em São Paulo, em agosto de 1999, e do I Fórum Internacional sobre Ecopedagogia, em Portugal, em março de 2000. Nesses eventos surgiram os princípios norteadores dessa educação:

1.O planeta deve ser visto como única comunidade (aldeia planetária); 2.A Terra deve ser vista como mãe, organismo vivo e dinâmico;

3.A escola deve formar a consciência da sustentabilidade, fundada no sentido; 4.Deve-se motivar o sentimento de ternura em relação à Terra, nossa morada; 5.Deve-se formar uma consciência planetária e uma nova ética, visando a justiça sócio-cósmica, que vê a Terra como o maior dos pobres;

6.A ecopedagogia deve promover a vida, levando o educando a compartilhar, a problematizar, a se envolver e a se relacionar com os outros;

7.O conhecimento deve ser visto como partilha, algo que se conquista sempre em comunhão com o outro;

8.A escola deve ensinar ao educando o sentido da vida cotidiana;

9.Deve-se desenvolver uma racionalidade baseada na afetividade, na intuição e na comunicação, ao invés de se priorizar apenas a razão instrumental;

10.A escola deve incentivar o desenvolvimento de novas relações e atitudes em que se veja o mundo através da sensibilidade e não apenas da razão. (MAGALHÃES, 2006, p. 263)

Esta autora apóia-se no trabalho de Gutierrez e Prado (2000) que entendem a ecopedagogia como uma tendência ligada a idéia de que o sentido das coisas se dá ao vivenciar o contexto e o processo de abrir novos caminhos, e não apenas de observá-los. Valoriza o espaço-tempo no qual ocorrem concretamente as relações entre ser humano e meio ambiente, que estão mais ligadas ao nível da sensibilidade que da consciência. Ou seja, as relações fundamentais ocorrem no nível da sub-consciência, portanto não as percebemos.

Desta forma é necessário uma ecoformação para torná-los conscientes, o que reivindica uma ecopegadogia.

Essa educação pressupõe uma vivência com a natureza, um sentir a natureza mais do que um saber sobre ela. Sem ela não se poderia falar da Terra como um lar para a re-educação do homem. Sem pensar numa pedagogia com esses ideais, a Terra continuará sendo considerada apenas como espaço de sustento e de domínio técnico-tecnológico da sociedade, objeto de pesquisas, ensaios, e, algumas vezes, de contemplação, e não será o espaço de vida, o espaço do aconchego, do ‘cuidado’, fundamental para uma nova consciência (BOFF 1999, apud MAGALHÃES, 2006).

Essa tendência é um projeto alternativo cuja preocupação não está somente na preservação da natureza (Ecologia Natural), ou no impacto das sociedades humanas sobre ambientes naturais (Ecologia Social). Concentra-se num novo modelo sustentável do ponto de vista ecológico (Ecologia Integral), implicando uma mudança nas esferas sociais, ambientais, econômicas e culturais. Sua utopia é mudar as relações humanas, sociais e ambientais de hoje, sendo este seu sentido mais profundo. A Terra está no centro dessa idéia de integração, no sentido de estabelecer uma nova relação resgatando o sentido da existência humana.

Não há como falar em integração e conservação ecológica sem que as desigualdades sociais sejam superadas. Baseada nessa idéia a educação para a cidadania planetária apresenta como princípios a integração da multiplicidade cultural e o estabelecimento da igualdade social e econômica, que estão contidos tanto na Agenda 21 quanto na Carta da Terra. Conforme esses dois documentos também deve ser instaurada, como uma utopia maior, uma democracia planetária.

Atualmente existe um grande desequilíbrio entre o avanço tecnológico e as questões sociais, potencializado pela globalização econômica, que provoca uma enorme distância entre os que detêm o poder econômico e político e os excluídos, cada vez mais numerosos. As nações não conseguem responder à demanda pelas condições mínimas de vida, assim como pelas condições espirituais. Assim, a ecopedagogia propõe a criação de uma cultura global de respeito a todos os seres vivos, em que a sociedade e o meio ambiente possam viver em harmonia.

Essa pedagogia não se restringe ao espaço escolar, mas à formação da comunidade em geral. A ecopedagogia propõe uma “pedagogia biófila, ou seja, capaz de promover a vida e que possa motivar o aluno a envolver-se, comunicar-se, compartilhar, problematizar, relacionar-se, entusiasmar-se” (MAGALHÃES, 2006).

Outro princípio dessa educação é a significatividade do ensino, que só acontece quando todos participam. É preciso que a significatividade ocorra em toda a escola, do espaço administrativo até a sala de aula. Portanto é necessário que toda a comunidade escolar, pais, alunos, professores e funcionários participem das decisões escolares.

A ecopedagogia se insere mais na organização informal que a formal da escola, ou seja, no currículo oculto. Com base em Libaneo afirma que essa organização informal é

um conjunto de fatores sociais, cultuais e psicológicos que influenciam os modos de agir da organização como um todo e o comportamento das pessoas em particular, correspondendo ao currículo oculto (...) diz respeito aos comportamentos, às opiniões, às ações e às formas de relacionamento que surgem espontaneamente entre os membros do grupo. (LIBANEO, 2001 apud MAGALHAES, 2006, p. 269)

Seus elementos são de grande importância na formação da cultura da escola, sendo que os valores, costumes e modos de agir dos indivíduos, juntamente com a sua subjetividade são características essenciais para mover a dinâmica interna da organização escolar.

Destaca que uma das contribuições da ecopedagogia para a escola é a educação a partir do cotidiano e é nessa organização cultural que a escola deve investir. Sugere que o projeto político pedagógico deva incluir além dos conteúdos tradicionais a cultura da escola, de forma que se desenvolvam ações que contemplem a ecopedagogia.

Outra característica dessa tendência é o processo educativo através da sensibilidade, compaixão com todas as formas de existência, solidariedade, empatia, etc. O plano espiritual deve merecer a mesma atenção dispensada aos conteúdos disciplinares. Essa espiritualidade, elemento da ecopedagogia, pode ser considerada como uma das direções que “possibilitará a humanização da prática democrática dentro da escola, formando o cidadão ético, comprometido não apenas com o outro, mas também com o meio em que vive” (MAGALHAES, 2006).

Cuidar do espírito significa cuidar dos valores que dão rumo à nossa vida e das significações que geram esperança para além de nossa morte. Cuidar do espírito implica colocar os compromissos éticos acima dos interesses pessoais ou coletivos. (MAGALHAES, 2006, p. 272)