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Educação em Belo Horizonte: A Escola Plural

Em 2000, a rede municipal de ensino de Belo Horizonte abrangia 175 escolas com cerca de oito mil professores e 180 mil alunos. Esta rede é administrada por nove Regionais: Barreiro, Centro-Sul, Leste, Nordeste, Oeste, Noroeste, Norte, Venda Nova e Pampulha. Cada uma possui uma diretoria de ensino responsável pelo atendimento às necessidades pedagógicas das escolas. Segundo DALBEN (2000) pode-se afirmar que a grande maioria dos professores tem um bom nível de formação inicial. A Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte – SMED oferece formação profissional através do Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação – CAPE dos Departamentos de Educação das Regionais e através de parcerias com outras instituições. Este centro foi criado em 1991, com o intuito de formular a política de formação docente da rede municipal. Na formação de tais profissionais existe um diálogo com a prática docente que é valorizada:

Essa política do CAPE orienta-se a partir do reconhecimento do princípio da formação como um direito e se pauta pelo entendimento da escola como lugar privilegiado de formação docente. Os integrantes do CAPE são professores que se submetem a um processo de seleção, podendo ali permanecer, no máximo, por 4 anos. Esse limite de tempo é entendido como importante para que o professor retorne a escola após a experiência, apesar de que grande parte dos formadores do

CAPE mantêm também uma jornada de trabalho na escola. Esse diálogo com a prática é entendido como fundamental na relação CAPE/Escolas (DALBEN, 2000, p. 24).

A SMED é também constituída por uma Coordenação de Política Pedagógica - CPP, composta por profissionais da rede que coordena a política pedagógica de cada nível de ensino. Em 2000, estruturava-se em cinco coordenadorias: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Jovens e Adultos e Educação Especial. De acordo com DALBEN (2000) essa coordenação tem por objetivo analisar a implementação do programa, identificando dificuldades, entraves e possibilidades; formular e propor ao Colegiado da Secretaria Municipal de Educação a política pedagógica dos vários níveis e modalidades de ensino, de acordo com os eixos da Escola Plural; acompanhar e avaliar a implementação das decisões aprovadas por esse Colegiado.

Tanto o CAPE quanto a CPP foram estruturadas para atender à implementação da proposta da Escola Plural. Este programa foi apresentado pela SMED em 1994, como uma proposta político-pedagógica diferenciada com a instituição de novos tempos e espaços escolares, que recebeu o nome de Escola Plural. A proposta foi elaborada a partir de experiências que as próprias escolas vinham desenvolvendo, buscando equacionar os problemas do fracasso escolar das crianças de camada popular. A idéia rompe com os processos tradicionais e tecnicistas de ensino, elimina os mecanismos de reprovação escolar próprios da concepção excludente de avaliação do ensino, rompe com as direções unidimensionais em que apenas o professor avalia, introduzindo uma nova relação educativa onde todos avaliam todos. O programa busca novos significados para o conteúdo escolar numa perspectiva interdisciplinar, propondo uma nova relação do sujeito com o conhecimento. A proposta da Escola Plural se apóia em quatro núcleos:

O primeiro núcleo se refere aos eixos norteadores da escola que se caracterizam por:

- uma intervenção coletiva mais radical;

- a sensibilidade com a totalidade da formação humana; - a escola como tempo de vivência cultural;

- a escola enquanto espaço de produção coletiva; - as virtualidade educativas da materialidade da escola; - a vivência de cada idade de formação sem interrupção; - socialização adequada a cada idade-ciclo de formação; - nova identidade da escola, nova identidade do seu profissional. O segundo envolve a reorganização dos tempos escolares. O terceiro compreende os processos de formação plural.

A proposta da Escola Plural consiste em ampliar o tempo de permanência do aluno de oito para nove anos no ensino fundamental com vistas à continuidade do processo de escolarização, eliminação da seriação e favorecimento da construção da identidade do aluno. Neste programa, o centro do processo educativo passa a ser a aprendizagem dos educandos, em que a finalidade é a formação e vivência sócio-cultural próprios de cada idade. A seriação é substituída pela estrutura de ciclos: primeiro ciclo (infância – 06 a 09 anos); segundo ciclo (pré-adolescência – 09 a 12 anos) e terceiro ciclo (adolescência – 12 a 14 anos). A idéia do ciclo se baseia no pressuposto da diversidade e dos ritmos diferenciados do processo educativo, para que ocorra a formação global do sujeito. A escola estaria criando espaços de experiências variadas, oportunidades para construção de autonomia e produção de conhecimentos. O trabalho coletivo dos professores faria com que houvesse alargamento do tempo para acompanhamento de grupos de alunos por mais de um ano.

Em 1995 a Escola Plural foi implementada no primeiro e segundo ciclos e em 1996 foi implementada no terceiro ciclo. No decorrer da implementação a proposta foi ampliada para compreender a Educação de Jovens e Adultos, Educação Infantil, Ensino Especial e Ensino Médio (quarto ciclo - juventude). A proposta após quatro anos de implementação ficou reduzida apenas aos três primeiros ciclos de formação. O Conselho Estadual de Educação sugeriu que um processo de avaliação externa fosse realizado em quatro anos para indicar avanços, dificuldades e necessidades de ajuste. Essa avaliação foi apoiada pela SMED com a negociação entre a Secretaria da Educação e o Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais – GAME da Faculdade de Educação da UFMG. Os objetivos da avaliação externa seriam:

- caracterizar e problematizar a prática atual das escolas da rede municipal em relação aos eixos norteadores do programa;

- explicitar os aspectos que foram concretizados, as dificuldades para tal, aqueles que não foram concretizados e os rumos que as escolas estão tomando em relação as suas práticas;

- verificar o impacto dessas modificações na organização escolar e na gestão democrática das escolas;

- investigar os processos de ensino aprendizagem em sala de aula, analisando o desempenho escolar dos alunos e professores.

Entre os resultados dessa avaliação, muitas críticas vêm sendo apresentadas a respeito da Escola Plural, não só por esta proposta introduzir uma inovação que requer assimilação de novos conhecimentos por parte dos profissionais da educação, como também porque requer modificações de cunho ético e político relativo a novos valores. Isso remete ao redimensionamento do sistema público de ensino e de uma nova escola pública. O programa

se opõe à ordem político-pedagógica tradicionalmente existente, “mesmo aqueles professores que desenvolviam práticas que deram origem à Escola Plural se sentiram inseguros. Esta constatação justifica a enorme polêmica que existe em torno dela e as resistências de alguns professores alunos e pais” (DALBEN, 2000, p. 57).

Segundo DALBEN (2000) existe uma cultura cristalizada da escola, com valores e papéis já determinados nessa cultura, que foi construída durante séculos. Sendo assim, a implementação de um novo trabalho educativo implica em desconstruir essas práticas e valores já cristalizados. A avaliação buscou identificar qual a Escola Plural que foi possível de ser implementada nos primeiros quatro anos. A amostragem contemplou escolas bastante diversificadas no que se refere ao tempo de adesão ou não à proposta. Para isso foram consultadas pessoas da comunidade do entorno da escola, profissionais da escola, das Regionais e do CAPE / CPP. Verificou-se que existem diferentes visões sobre a implementação da Escola Plural, e que o processo de construção dessa proposta está se fazendo na própria prática de incorporação dos seus valores. Segundo a autora ser Plural é “estar construindo permanentemente o projeto pedagógico de uma escola, em conformidade com as possibilidades e necessidades do seu contexto de ação pedagógica” (DALBEN, 2000, p. 59).