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3.2 Educação Ambiental: um campo em construção

3.2.3 A pedagogia ambiental

SANTOS (2007) realizou um trabalho em que busca inserir e contextualizar a tendência da EA na história das tendências pedagógicas. Explica que as tendências não se extinguem, mas vão surgindo e se sobrepondo umas as outras, existindo assim, várias tendências que se mesclam, carregadas de sentidos e valores.

A autora classifica as tendências pedagógicas em dois grupos: as Pedagogias Liberais que incluem a Tradicional, a Renovada Progressivista ou Pragmatista e a Tecnicista; e as pedagogias Progressistas que incluem a Libertadora, a Libertária e a Crítico-Social dos Conteúdos, reconhecendo também que estejam emergindo novas tendências ainda sem definições, como são os chamados estudos culturais. Além dessas tendências a autora pretende incluir as pedagogias ambientais, onde estariam compreendidos a pedagogia teórico- crítica, a pedagogia dos movimentos ecológicos, a ecopedagogia, a pedagogia da complexidade, entre outras em construção.

Na tendência pedagógica ambiental a educação se concentra na identificação, problematização, resolução e prevenção de problemas sócio-ambientais. O movimento ambiental surge da consciência dos problemas ambientais e a educação fundada nesse

movimento está livre das dicotomias entre liberais e marxistas, pois não nasce no chão da escola regular. Segundo SANTOS (2007), a pedagogia ambiental emerge depois das pedagogias liberais e progressistas como uma resposta ao esgotamento de suas antecessoras, por elas não darem conta da vigilância do cotidiano social.

O movimento ambientalista produziu uma cultura do ambiente que resultou na definição de uma educação, que apresenta semelhanças e diferenças com as demais tendências da educação. A tendência ambiental retoma a discussão da exploração dos seres humanos por outros seres humanos, iniciada com a industrialização das sociedades e o esgotamento dos recursos naturais. Manter a sociedade implica em pensar quais as necessidades humanas que podem ser atendidas sem devastar a natureza humana e não humana, sem a qual a espécie e o planeta não sobreviveram. A pedagogia ambiental se desdobra em três: a Pedagogia da Natureza Não Humana, Pedagogia da Natureza Humana e Pedagogia das Naturezas Humanas e Não Humanas ou Pedagogia Ambiental Integrada.

Na Pedagogia Ambiental da Natureza Não Humana a natureza deve ser apreciada e respeitada, enfatizando a preservação das árvores, dos animais, enfim da natureza não humana. Ela tem sua origem na visão da modernidade, onde a concepção de natureza está dissociada do homem, reforçando esta dissociação.

Embora anuncie o objetivo de renovação dos laços do homem com a natureza, tornando-nos parte dela, não consegue desfazer a culpa original de separação da natureza. Reforça o sentimento de não merecimento da natureza por causa do pecado original. Podemos ver esta pedagogia em alguns movimentos ambientalistas (SANTOS, 2007, p. 11).

Na Pedagogia Ambiental da Natureza Humana o homem deve garantir o futuro da espécie, preservando ou recuperando os recursos do planeta, em que existe uma preocupação com o fenômeno do esgotamento dos recursos e o aumento da entropia. O foco é posto na existência humana, enfatizando a gestão dos recursos e a resolução de problemas sócio- ambientais. Afirma-se que a ação negativa do ser humano devido à irracionalidade no uso dos recursos no ambiente, ameaça a vida. Almeja-se o manejo e gestão ambiental para o futuro sustentável, e através de comportamentos responsáveis, o desenvolvimento de competências e ações para a resolução dos problemas. Para alcançar tais metas as estratégias utilizadas restringem-se às campanhas para economia de energia, reciclagem do lixo e apoiar-se nas propostas da Agenda 21 e à resolução de problemas específicos. Pode-se observar esta pedagogia em algumas organizações já legitimadas pela opinião pública.

Ainda nesta tendência, podem-se incluir as representações ambientais como meio de vida que devemos conhecer e organizar, onde os seres humanos são vistos como habitantes do ambiente sem o sentido de pertencimento e o ambiente é conhecido por tudo que nos rodeia, incluindo a vida cotidiana. O objetivo principal é levar ao descobrimento dos próprios meios de vida, despertando o sentido de pertencimento, utilizando para isso itinerários de interpretação, trilhas da vida e estudos sobre o entorno.

As duas tendências citadas enfatizam a sensibilização sobre as condições do planeta causadas pelo homem. Acreditam que o sentimento de culpa e de medo podem produzir a conscientização e a mudança de comportamento humano com relação ao meio ambiente. Ambas as tendências remetem ao sentimento do homem primitivo de medo da realidade, de que o mundo é a confusão absoluta e de que o presente desconcertante nos tira a segurança.

O objetivo principal da Pedagogia Ambiental Integradora é o desenvolvimento do pensamento sistêmico, dando uma característica concreta à EA. São moldadas situações sistêmicas com a utilização de técnicas que auxiliem na resolução de problemas ambientais. Nesses processos, essas relações homem-meio ambiente e meio ambiente-homem, juntamente com a participação, podem servir de ferramentas para a tomada de decisão dos grupos participantes, fazendo com que ocorra a junção do ecológico com o sistêmico. A autora cita Morin (2000) dizendo que um pensamento ecológico-sistêmico é um pensamento relacional, dialógico, interligado, indicando que tudo que existe co-existe e que nada existe fora de suas conexões e relações.

Nessa tendência são encontradas representações que vêem o planeta como uma aldeia global, a Terra como espaçonave, os humanos como viajantes. O problema sócio-ambiental tratado por esta tendência estaria na negligência da relação do ser humano com a Terra, trazido pela cultura ocidental. Considerando as inter-relações locais e globais históricas existe uma necessidade de desenvolver essa visão global, sempre com o olhar para o futuro. Este resgate pode levar o ser humano a valorizar o planeta, promovendo a contracultura à cultura dominante, que é uma cultura de guerra e de competitividade se contrapondo as ações de solidariedade isoladas e coletivas.

A tendência é influenciada pelas idéias de Paulo Freire,

no que diz respeito à necessidade de diálogo e reconhecimento da cultura do outro para que sejam feitos projetos conjuntos. Consagra-se o comprometimento com a comunidade como essencial. O foco está na ética solidária, visando a transformação social com responsabilidade, através de um projeto político de emancipação humana e social. Objetiva-se desenvolver a práxis por intermédio do espírito crítico

e democrático, através do exercício da cidadania e do trabalho coletivo. (SANTOS, 2007, p. 95)

A autora cita Gadotti (2003) afirmando que a Pedagogia Ambiental Integradora enfatiza a importância da construção de conhecimento com a ciência e a sociedade, com a pesquisa- ação e com a pedagogia de projetos. A Pedagogia da Terra ou Ecopedagogia é uma das pedagogias que a autora inclui na tendência Integradora. Considera que é uma pedagogia “apropriada para esse momento de reconstrução paradigmática, apropriada à cultura da sustentabilidade e da paz” (SANTOS, 2007). Existe um movimento para fundamentar a Pedagogia Ambiental Integradora, que propõe um conjunto de saberes/valores interdependentes, entre eles estão:

a) educar para pensar globalmente – não adianta acumular conhecimento, é preciso saber pensar a realidade; b) educar os sentimentos – somos humanos porque sentimos e não apenas porque pensamos; c) ensinar a identidade terrena como condição humana essencial; d) formar para a consciência planetária – compreender que somos interdependentes; e) formar para a compreensão – para a ética do gênero humano, para comunicar-se, para uma nova inteligência do mundo; e f) educar para a simplicidade e para a quietude – a simplicidade tem que ser voluntária, como a mudança de hábitos de consumo e a quietude é uma virtude, conquistada com a paz interior. (GADOTTI, 2003 apud, SANTOS, 2007, p. 96)

A finalidade da educação na Pedagogia Ambiental Integradora é formar o sujeito ecológico para construir e dinamizar uma sociedade sustentável com vistas à sustentabilidade sócio-ambiental.

Segundo SANTOS (2007) as reflexões sobre a tendência ambiental ainda são muito incipientes e estão em processo de construção, abrindo janelas que possibilitam análises diversas. É necessário que a EA se insira entre as outras tendências, para promover o salto qualitativo em sua prática. A EA além de contribuir com propostas de resolução para os problemas sócio-ambientais, auxilia uma população crescente, de seres vivos humanos e não humanos, em situação de alto risco ambiental.