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3.2 Educação Ambiental: um campo em construção

3.2.2 A pedagogia da complexidade

DINIZ; TOMAZELLO (2005) discutem o conceito de EA a partir da pedagogia da complexidade. As autoras entendem a EA como uma educação política, reivindicando e preparando os cidadãos para exigir justiça social e cidadania planetária, autogestão e ética nas relações sociais e ambientais. Acreditam que um trabalho com EA não pode estar preso apenas à transmissão de conhecimentos e informações, e é preciso que seja superada a visão fragmentada dos conteúdos. Para que as questões ambientais tenham significados para os alunos é importante que eles estabeleçam ligações entre o aprendido e sua realidade cotidiana. O conhecimento adquirido além de ser usado para compreender a própria realidade, deve também ser utilizado na busca de soluções para os problemas próximos e decisões da comunidade. Além de considerar a realidade imediata do aluno o professor deve a partir daí se direcionar para as questões globais. O trabalho de EA deve desenvolver o senso de responsabilidade e solidariedade.

Entre os princípios elaborados no Tratado de EA para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, as autoras destacam os seguintes:

• A Educação Ambiental deve ser crítica e inovadora, seja na modalidade formal, não formal e informal. Ela é tanto individual como coletiva. Não é neutra; é um ato político, voltado para a transformação social.

• A Educação Ambiental deve buscar uma perspectiva holística, relacionando homem, natureza e universo, e também ser interdisciplinar. Além disso, deve buscar a solidariedade, igualdade e respeito através de atuação, bem como promover o diálogo.

• A Educação Ambiental deve valorizar as diversas culturas, etnias e sociedades, principalmente aquelas dos povos tradicionais.

• A Educação Ambiental deve criar novos estilos de vida, desenvolver uma consciência ética, trabalhar pela democratização dos meios de comunicação. Objetiva formar cidadãos. (DINIZ; TOMAZELLO, 2005, p. 85)

Na educação proposta por DINIZ; TOMAZELLO (2005) não se deve descartar a importância dos conceitos tradicionais, mas criticar o ensino centrado nos conteúdos pelo fato do professor se preocupar mais em querer fazer o aluno repetir que compreender. Afirmam também haver uma resistência dos docentes em optar por novas metodologias, pois a aula expositiva é uma forma mais cômoda de ensinar. Lembram que é importante que o aluno aprenda de forma significativa, contextualizando o conteúdo com a realidade, superando a fragmentação do saber e realizando um trabalho interdisciplinar. Para as autoras a interdisciplinaridade além de superar a separação entre as disciplinas num nível teórico- filosófico, é uma maneira de trabalhar cooperadamente com a união de vários especialistas.

As autoras tratam da pedagogia da complexidade, tendência que poderia conduzir a EA, já que sua intenção é de mudar atitudes diante dos problemas ambientais. Apoiando-se no trabalho de Marandola; Takeda (2004) para definir essa pedagogia, afirmam que ela objetiva adquirir o maior número de perspectivas na busca por conhecimento, ou seja, originar uma leitura complexa, múltipla e dinâmica do ambiente e do conhecimento, contribuindo para repensar as metodologias tradicionais de ensino. Apontam como o desafio da pedagogia da complexidade as seguintes questões:

Se na educação atual a escola e o professor possuem a égide da verdade, supervalorizando o objetivo, como preparar os alunos para a incerteza, para o improviso, para a complexidade incerta do mundo e das relações entre os seres vivos e as coisas? Como reabilitar o subjetivo? (...) Se não damos ao aluno a chance dele expor o que pensa, como formar um cidadão crítico? Como mudar valores se não se discute o modelo organizativo básico centrado no homem como dominador e explorador de uma natureza aparentemente inesgotável? (DINIZ; TOMAZELLO, 2005, p. 87).

A EA deve ocorrer como uma experiência democrática afim de que os alunos elaborem o seu próprio saber. Ela deve ter um projeto curricular explícito, “no qual se expõem intencionalidades educativas, com os objetivos previstos no tempo, conformação teórica, atividades e seqüências metodológicas pré-definidas” (DINIZ; TOMAZELLO, 2005), buscando a mudança de atitudes e uma dinâmica de ações resolutivas por parte dos alunos.

Refletindo sobre a complexidade ambiental pode-se entender o surgimento de novos atores sociais mobilizados para a apropriação da natureza e compreender a educação compromissada com a sustentabilidade e participação, privilegiando o diálogo e a interdependência de diferentes áreas de saber. Essa complexidade ambiental implica também na reflexão sobre os valores que norteiam as práticas sociais impostas, levando a uma mudança na forma de pensar e a transformação das práticas educativas.

Para compreender as ações ambientais da sociedade, no modelo descritivo da realidade, as propostas de ação não passam de meros corretivos do sistema de destruição ambiental. Já o modelo interpretativo vai além da descrição, supõe ir ao fundo dos problemas ambientais, conhecer sua história, economia, política, situando o indivíduo como ator. O pensamento complexo não rejeita de maneira alguma o método científico, o determinismo, porém os considera insuficientes. Então no modelo interpretativo as respostas sobre um problema não são encerradas, mas abrem espaço para novas indagações. O objetivo da pedagogia da complexidade é buscar o conhecimento não fragmentário, porém não totalizador, pois este é tão limitado quanto o outro. Esse conhecimento é então denominado de conhecimento pertinente, o qual reconhece que não é possível a compreensão total, tornando a busca do conhecimento uma busca infinita.

Ao ensinar novas atitudes deve-se considerar o meio ambiente como um conjunto de sistemas inter-relacionados, para que a interpretação dos problemas ambientais possa se aproximar de sua complexidade real. Desse modo a análise de um problema inclui o estudo das partes e do todo. Isso é chamado de modelo sistêmico de análise, que pode ser melhor compreendido a partir seguinte explicação:

Os sistemas naturais, sociais e humanos se regulam mediante mecanismos de realimentação que tornam possível que os efeitos de suas ações retornem e informem ao sistema, de modo que esta informação influi sobre as causas que determinam novas ações (NOVO, 1997 apud DINIZ e TOMAZELLO, 2005, p. 91).

Para reverter o cenário atual de degradação ambiental, deve-se pensar em desencadear um processo educativo que aprenda a lidar com a incerteza, o subjetivo, o risco, a insegurança, sem verdades e soluções prontas. Na pedagogia da complexidade a compreensão entre as pessoas como garantia da solidariedade intelectual e moral da humanidade, deve ser entendida e internalizada de tal modo que se manifeste nas ações e pensamentos diários. Para as autoras não haverá mudanças educacionais “se os professores não realizarem uma mudança

mental do pensamento fragmentado para o pensamento complexo, se não entenderem o meio ambiente como um sistema de interações múltiplas” (DINIZ; TOMAZELLO, 2005).

Seguindo as idéias da pedagogia da complexidade, BERTOLUCCI et al (2005) afirmam que uma das adjetivações da EA analisadas em sua pesquisa é a Emancipatória. Essa educação é caracterizada como algo politizado que possibilite a construção de uma educação libertadora, que “acompanha esse movimento de complexificação e politização da educação ambiental ao introduzir no debate ingredientes e análises sociológicas, políticas e extrações de uma sociologia da educação de teor crítico e integrador” (LIMA 2001 apud BERTOLUCCI et al, 2005, 43). Assim, a emancipação vai além de seu sentido jurídico e político convencional, integrando a emancipação da natureza de todas as formas de dominação que sobre eles se imponham.

Essa EA adota os temas geradores de Paulo Freire, priorizando uma visão multidimensional que possibilita uma compreensão da realidade politizada, complexa e transformadora. Em tal processo os alunos reconhecem o seu problema, a sua situação, tomando consciência da sua história, quebrando as barreiras que atravancavam seu crescimento e formação.