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A partir da análise sobre os estudos de EA observa-se como a definição desse conceito é complexa e construída por diferentes olhares e saberes, devida a multiplicidade de áreas e subjetividades pelas quais é perpassada.

A EA que esta pesquisa busca conceituar diverge daquela que não se compromete com os processos de transformações da sociedade e tem suas ações dirigidas apenas para a manutenção de áreas protegidas e para a defesa da biodiversidade. Tal conceito de EA é considerado conservador:

focaliza o ato educativo enquanto mudança de comportamentos compatíveis a um determinado padrão idealizado de relações corretas com a natureza, reproduzindo o dualismo natureza-cultura, com uma tendência a aceitar a ordem estabelecida como condição dada, sem crítica às suas origens históricas. (BERTOLUCCI et al, 2005, 38)

BERTOLUCCI et al, (2005) argumentam que essa tendência da EA é despolitizada e sem contextualização social, econômica e cultural. Além disso, seu enfoque ecológico reforça o dualismo sociedade - natureza, e ainda não coloca o homem como sujeito responsável pela crise ambiental e sua solução.

Assim, a presente pesquisa toma para si a concepção de EA como um processo voltado para a compreensão do meio ambiente em suas múltiplas relações, envolvendo aspectos naturais, socioeconômicos e culturais. Essa forma de pensar romperia com o reducionismo que separa o ecológico do social e que não contribui para uma educação integradora e problematizadora.

Desta maneira, a produção de conhecimento deve necessariamente contemplar as inter- relações do meio natural com o social, adotando a concepção de meio ambiente como um todo dinâmico, relacional, harmônico, organizado, em interação com as relações que se estabelecem na sociedade. Ou seja, acredita-se numa educação que proporcione ao indivíduo ter o maior número de perspectivas na busca pelo saber, originando uma leitura complexa, múltipla e dinâmica do ambiente e do conhecimento e contribuindo inclusive para se repensar as metodologias tradicionais de ensino.

Para ensinar novas atitudes considerando o meio ambiente como um conjunto de sistemas inter-relacionados e assim interpretar os problemas ambientais de modo que se aproximem de sua complexidade real, é preciso que se realize um trabalho interdisciplinar. A EA não pode estar presa apenas à transmissão de conhecimentos e informações. É preciso que seja superada a visão fragmentada dos conteúdos, exercendo um trabalho interdisciplinar, para que os sujeitos entendam o meio ambiente como um todo.

Além disso, como afirma JACOBI (2004), a questão ambiental envolve uma gama de atores de várias dimensões, além da educacional, estimulando o comprometimento dos sistemas de conhecimento, capacitação de profissionais e a comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar. Portanto, acredita-se numa educação que desenvolva a sensibilização para uma consciência crítica da problemática social e ambiental, a partir de práticas sociais democráticas, participativas, cidadãs, integradas, inter e transdisciplinares, que articulem as questões locais com as globais.

Em acordo com BERTOLUCCI et al (2005) esta pesquisa toma para si uma educação que busque desenvolver um olhar global na busca por conhecimento, uma nova maneira de ser e estar no mundo, ultrapassando o limite de ações pontuais, criticando a sociedade em diversos aspectos, estabelecendo uma nova relação com a natureza a partir de uma outra relação entre os seres humanos, entendendo esse movimento como um processo pedagógico e social.

Autores como VELASCO (1999) apontam uma crítica sobre a desvinculação existente entre a realidade vivida por alunos e professores e os conteúdos programáticos da escola. E aqui, ao contrário dessa prática, destaca-se que para que as questões ambientais tenham significado para os alunos é importante que eles estabeleçam ligações entre o aprendido e sua realidade cotidiana. Portanto, é relevante que se assuma, dentro e fora da sala de aula, o debate e a busca de soluções para os problemas socioeconômicos-ecológicos da comunidade na qual os sujeitos estão inseridos.

Não se deve simplificar que a realização da EA seja através de uma prática pontual e descontínua. É necessário exercer um trabalho constante e significativo, enfatizando a historicidade da concepção socioambiental, criando uma visão mais abrangente das questões ambientais e abrindo possibilidades na busca de soluções para os problemas.

A prática da EA deve criar estratégias de participação coletiva, baseada no diálogo e na ação problematizadora do mundo. De acordo com LOUREIRO (2004) participar é respeitar o outro, assegurar igualdade na decisão, compartilhar poder, propiciar acesso justo aos bens socialmente produzidos. É na participação que os sujeitos constroem identidades, identificam o meio em que vivem e exercem a cidadania, e no caso da EA, buscam a resolução de problemas socioambientais.

É através do diálogo e troca de experiências proporcionados pela participação coletiva que se pode valorizar as diversas culturas, etnias e sociedades. Desta maneira valoriza-se o conhecimento do educando ao estabelecer um diálogo conscientizador entre este e o educador, suscitando, como argumenta Paulo Freire, o desvelamento crítico da realidade vivida por

ambos e a prática transformadora em relação a esta. Assim, de acordo com LOUREIRO (2004) a EA deve valorizar a diversidade cultural, criando vínculos de mútuo enriquecimento entre a cultura “erudita’ e a chamada cultura “popular”. Essa educação deve entender as especificidades dos grupos sociais, seus meios de vida, condutas e sua situação na sociedade, a fim de criar processos coletivos, baseados no diálogo, no respeito e na problematização das questões socioambientais.

A EA adotada por esta pesquisa propõe uma avaliação que esteja no contexto de uma pedagogia preocupada com a transformação social, uma avaliação “que seja um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade para uma tomada de decisão” LUCKESI (1996). Segundo este autor, a avaliação deve resgatar sua função diagnóstica, deve ser o instrumento do reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos. Para tal o educador deve se comprometer a ser companheiro de jornada de seus educandos, auxiliando cada um em todo o seu processo de competência e crescimento para a autonomia. A avaliação deverá verificar a aprendizagem a partir dos mínimos necessários, ou seja, é preciso que os conceitos de aprovação signifiquem o mínimo necessário para que cada cidadão se capacite para governar. O sujeito deve deter informações e capacidades de pensar, estudar, refletir e dirigir ações com adequação e saber, e através da aprendizagem de competências, atuar na sua realidade e transformá-la.

Enfim, a EA proposta deve desenvolver conhecimento, habilidades, motivação e compreensão integral e histórica do meio ambiente, levando o sujeito a adquirir valores e atitudes, necessários para lidar com os problemas socioambientais e buscar interferir em sua realidade, encontrando possíveis soluções para essas questões.

4 – UM ESTUDO SOBRE AS PRÁTICAS DA EDUCAÇÃO

AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

Como foi visto, a Educação Ambiental - EA está inserida nas questões econômicas atuais e no novo paradigma do desenvolvimento sustentável, gerando políticas educativas para este campo, e interferindo no cotidiano escolar. O tema do meio ambiente está sendo inserido no cotidiano da escola, e ganhou destaque com as Leis Federais, Estaduais e Municipais sobre EA e os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, fazendo surgir diversas interpretações dos atores sociais que necessitam ser analisadas, tendo em vista sua influência sobre as práticas escolares.

A preocupação com as questões ambientais criou um vasto campo para a ação educativa fazendo surgir questionamentos sobre as práticas tradicionais que desconsideravam a realidade social concreta na qual a educação acontece. A EA pode ser considerada parte de uma nova prática educativa que busca construir uma aliança entre o ser humano, a natureza e o conhecimento, ampliando a preocupação com as questões ambientais e sua interação com as questões sociais, econômicas e culturais. O modo como o discurso das políticas educacionais desse campo está chegando nas escolas, sendo interpretado pelos atores sociais e se transformando em práticas educativas é um ponto importante a ser analisado.

Para realizar tal análise esta pesquisa direciona o olhar sobre as escolas públicas do ensino fundamental. A abordagem sobre esse nível de ensino se justifica devido aos seguintes fatores: a Lei n° 9.394/96 estabeleceu a escolaridade obrigatória neste nível de ensino, aumentando o compromisso do Estado e dos municípios para realizar ações nesta área, promovendo a inserção da EA nas escolas públicas; os PCNs formularam temas transversais para este nível de ensino, em especial, o tema Meio Ambiente; e a existência de políticas educacionais focalizadoras que privilegiaram o ensino fundamental, principalmente na década de 1990, selecionando e destinando recursos para metas e objetivos considerados urgentes, segundo definições internacionais e nacionais que se estabeleceram nessa década.