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A Educação Profissional no Brasil Colônia

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3 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO BRASIL

3.1 A Educação Profissional no Brasil Colônia

Durante grande parte do período denominado Brasil colônia (1530 até a independência, em 1822), não há registro da oferta de educação profissional no país, de forma sistêmica. O Brasil era uma colônia de Portugal, assumindo como tal o papel de consumidor dos produtos da corte, bem como fornecedor de produtos primários, entre os principais, pau-brasil, ouro, algodão e açúcar. A base da economia assentava-se na “monocultura, com grandes latifúndios e mão de obra escrava”, constituindo um “modelo agrário-exportador dependente” (ARANHA, 1996, p.99).

Portanto, a educação não era prioridade para a coroa portuguesa, visto que não havia necessidade de mão de obra especializada e diversificada para trabalhar na principal atividade econômica da época, a agricultura. Ainda assim, a coroa delegou aos jesuítas14 a responsabilidade pela educação dos povos que aqui viviam, com modelos de ensino distintos de acordo com a posição social de cada grupo, mas com o mesmo propósito: a reprodução das relações de dominação e da ideologia advinda do poder real. Para os filhos dos colonos, deveria se oferecer a instrução e para os índios e negros, a catequização. Os jesuítas criaram as escolas elementares, secundárias e os seminários, constituindo um sistema educacional que, sobretudo, disseminava a religião católica como ideário de formação humana e salvação da alma.

Em decorrência da descoberta e exploração do ouro em Minas Gerais, surgiram as Casas de Fundição e de Moeda e, por conseguinte, a necessidade de se ensinar o ofício para os interessados em trabalhar em tal ramo de atividade. As próprias Casas tornaram-se escolas e os ensinamentos oferecidos no seu âmbito se distinguiam daqueles do engenho oferecidos aos escravos, por dois motivos: primeiro, porque eram exclusivos para os homens brancos, filhos dos empregados da grande casa; segundo, porque o aprendiz, ao final do curso, era submetido a um exame, aplicado por uma banca, para comprovar as habilidades adquiridas e ter direito a uma certificação de aprovação (GARCIA, 2000).

14 Os jesuítas representavam a Companhia de Jesus, uma ordem religiosa fundada por Inácio de Loyola na

Espanha, em 1534, cujo propósito inicial era divulgação da religião católica e o combate aos infiéis. Posteriormente, assumiram o papel de educar as futuras gerações, espalhando-se pelos diversos continentes. A companhia chegou ao Brasil em 1549, acompanhando o primeiro governador geral, Tomé de Sousa. A partir de então, os jesuítas construíram as primeiras escolas e durante 210 anos monopolizaram o ensino no Brasil. Foram expulsos do país pelo Marquês de Pombal, em 1759, principalmente, devido ao crescente poder político e econômico da Companhia (ARANHA, 1996).

Outra iniciativa desse período que merece ser mencionada trata-se do aparecimento de Centros de Aprendizagem de Ofícios, criados nos Arsenais da Marinha, cujos aprendizes eram moradores de rua, capturados durante a noite pela patrulha do Arsenal, bem como presos que apresentassem boas condições físicas para o trabalho. Pelo público alvo atendido, percebe-se que, em primeira instância, o objetivo dessas escolas era prestar assistência social e, em última instância, promover a aprendizagem de um ofício.

A vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, marcou o início de mudanças nas estruturas políticas, econômicas e culturais locais, com a adoção de algumas medidas que fragilizaram o absolutismo, propiciando a independência do Brasil como colônia de Portugal, em 1822. Assim, ocorreu a abertura dos portos15, principalmente para favorecer as relações comerciais com a Inglaterra, mediante a publicação do Alvará de 1º de abril de 180816, que autorizava o livre estabelecimento de fábricas e manufaturas no Brasil.

Seguida à publicação do referido Alvará, D. João VI criou o Colégio das Fábricas, no porto do Rio de Janeiro, que se tornou a primeira unidade de ensino de responsabilidade do poder público, para formar trabalhadores para as fábricas. De acordo com Müller (2013, p.88), a denominação atribuída à supracitada instituição era tão somente “um nome genérico”, uma vez que correspondia, de fato, a “dez unidades escolares, em diferentes endereços, com oito aulas optativas em oficinas – nas áreas de trabalhos com tecidos, serralheria e carpintaria – e duas aulas obrigatórias; desenho e música”. Ainda segundo Müller, essa instituição funcionou por pouco tempo, sendo fechada em 1812, em virtude da ínfima quantidade de indústrias existentes nesse período na colônia, que não absorvia toda a mão de obra formada nessas escolas, bem como a disputa no mercado interno dos produtos brasileiros com os ingleses.

Em 1816, D. João VI criou a escola de Belas Artes, direcionada ao “ensino de ciências e de desenho para ofícios mecânicos”. Segundo Gallindo (2013, p. 44), essas instituições imprimiram mais um caráter ao ensino profissional, o utilitarista, aliando-se ao outro caráter já existente, o assistencial. Dessa forma, prestavam assistência aos pobres e desvalidos e, igualmente, combatiam a “criminalidade e vagabundagem”, preservando a ordem social nas cidades do país.

Ainda nesse período, outras instituições foram criadas, como apontam Aranha (1996, p.151) e Fonseca (2013, p. 26): Companhia de Artífices no Arsenal Real do Exército; Imprensa Régia (1808), permitindo publicações locais; Biblioteca Real(1810), com 60 mil volumes trazidos por D. João VI; Jardim Botânico do Rio de Janeiro (1810) e Museu Real (1818); escolas de ensino superior, como a Academia Real da Marinha (1808) e a Academia Real Militar (1810); cursos superiores de cirurgia, anatomia e medicina (1808); Missão Cultural Francesa (1816), espaço que recebia artistas franceses para ensino das artes plásticas e ofícios; Seminário dos Órfãos da Bahia (1819).

O modelo econômico do período colonial gerou uma configuração da sociedade brasileira desfavorável à relação entre educação e trabalho, visto que este último assentava-se em uma atividade predominantemente manual, conferida aos escravos. O

15 A abertura dos portos ocorreu pela necessidade de ampliação das atividades comerciais entre o Brasil e os demais países, tendo em vista dinamizar a economia nacional, gerando mais riquezas para manutenção da corte portuguesa. Como consequências desse ato destacam-se: ruptura do pacto colonial, uma vez que o Brasil deixou de comercializar exclusivamente com Portugal, passando a comercializar com outras nações; entrada maciça de produtos ingleses, pois estes pagavam uma taxa alfandegária menor em relação aos produtos de outros países, causando certa dependência do Brasil à Inglaterra (SILVEIRA, 2008). 16A publicação do Alvará de 1º de abril de 1808 ocasionou a revogação do Alvará de 05 de janeiro de 1785, que proibia a instalação de fábricas no país.

trabalho manual sinalizava a classificação social do indivíduo, ocasionando ações de preconceito e repulsa dos demais segmentos sociais com relação a esse tipo de atividade. Por sua vez, a educação caracterizava-se pelos estudos das letras, humanidades e artes, uma atividade estritamente intelectual.

A respeito da relação educação/trabalho Gallindo (2013) afirma que:

Para além da divisão do trabalho por camadas sociais, no período colonial brasileiro ocorre apenas um ensino assistemático de artes e ofícios, sendo a máxima sistematização que se pode observar quanto à educação para o trabalho a das corporações de ofícios (GALLINDO, 2013, p. 42).

Percebe-se que havia uma nítida separação entre educação escolar e trabalho, sendo a primeira de caráter elitista e intelectual; o segundo voltado para os menos favorecidos, envolvendo predominantemente as habilidades manuais.

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