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O governo Lula: novos rumos para a educação profissional e tecnológica

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3 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO BRASIL

3.7 A Educação Profissional após a Redemocratização do País

3.7.3 O governo Lula: novos rumos para a educação profissional e tecnológica

A partir de 2003 iniciou-se um novo mandato executivo, com a posse de Luís Inácio Lula da Silva na Presidência do Brasil. Um operário com uma longa e efetiva militância, sobretudo, nos movimentos sindicais da indústria e de luta pela redemocratização do país. Ligado ao Partido dos Trabalhadores/PT venceu a campanha presidencial com a promessa de realizar alterações no modelo socioeconômico vigente, tendo em vista uma sociedade menos desigual.

No campo educacional, iniciou-se uma mobilização entre setores do governo e da sociedade civil para discussão sobre novas políticas públicas voltadas à educação profissional e tecnológica, no tocante a relação entre o ensino médio e a educação profissional, bem como a organização do ensino superior. Por conseguinte, discutia-se também a restruturação da rede federal, haja vista a acomodação dos diferentes níveis e modalidades de ensino oriundos das novas políticas em curso.

Todo esforço empreendido durante os meses de maio de 2003 a janeiro de 200435 direcionava-se para revogação do Decreto nº 2.208/97 e construção de um novo instrumento legal que viabilizasse a concretização do ensino médio integrado à educação profissional. Finalmente, em julho de 2004, o presidente Lula sancionou o Decreto nº 5.154/2004, que estabeleceu em seu art.1º a oferta da educação profissional por meio de cursos e programas de formação inicial e continuada de trabalhadores, de educação profissional técnica de nível médio e educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação. Como premissas norteadoras para tais ofertas, a organização por áreas profissionais em função da estrutura sócio-ocupacional e tecnológica; articulação das áreas da educação, do trabalho e emprego, e da ciência e tecnologia, conforme o art. 2º do Decreto.

O aspecto mais discutido e reivindicado sobre a educação profissional apareceu contemplado no §1º do art.4º, que reinstaurou a integração entre o ensino técnico e o ensino médio, na mesma instituição de ensino, com matrícula única para cada aluno. Além disso, preservou as formas concomitante e subsequente ao ensino médio, sendo a concomitância possível de ocorrer em instituições distintas ou na mesma instituição. Para os cursos técnicos na forma integrada ficou determinado no §2º do art.4º a ampliação da carga horária total do curso, haja vista assegurar tanto a formação geral quanto a formação profissional.

Na visão de Garcia (2013, p.54), o referido Decreto retomou a concepção de formação integral presente no projeto original de LDBEN, à medida que contemplou a

35 Nesse período ocorreram reuniões, audiências públicas, seminários e debates, os quais expressavam a disputa e a correlação de forças ideológicas e políticas existentes entre educadores e governo, por projetos distintos de sociedade e formação humana. Esse processo resultou na elaboração de sete versões de minuta de decreto, com a última versão elaborada em abril /2004 (FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005, p.26).

“articulação entre conhecimento, cultura, trabalho e tecnologia, com o sentido de formar o ser humano na sua integralidade física, cultural, política e científico-tecnológica, buscando a superação da dualidade entre cultura geral e cultura técnica”.

Convém ressaltar o disposto no §2º do art.3º, que tratava da possibilidade de articulação entre os cursos da educação profissional e os cursos da educação de jovens e adultos, visando à qualificação para o trabalho e a elevação do nível de escolaridade. Uma estratégia que gerou reflexos positivos à população de jovens e adultos que almejassem retomar seus estudos. Como desdobramento desse dispositivo, ocorreu à aprovação dos Decretos nº 5.478/2005 e nº 5.840/200636, versando sobre a integração da educação profissional técnica de nível médio com a educação de jovens e adultos (PROEJA).

Em se tratando da educação superior, seguiu-se o processo de reformulação iniciado no governo FHC, mantendo-se a ideia adotada para os CEFETs, no que se refere a sua caracterização como instituições de ensino superior voltadas para a educação tecnológica. O avanço ocorreu na nova categoria atribuída aos CEFETs, os quais foram elevados à condição de centros universitários, adquirindo as mesmas prerrogativas usufruídas por estas instituições. A expectativa dos CEFETs, particularmente os mais antigos, era sua transformação em universidade tecnológica, em decorrência do status conquistado como instituição federal de ensino superior.

Convém ressaltar que tal objetivo surgiu no governo FHC e teve continuidade até o início de 2006, ano que marcou o fim do primeiro mandato do governo Lula. No período entre 2003 a 2006 se intensificaram as discussões e defesas em torno desse projeto, sendo realizados eventos pelo país com o apoio direto das instâncias governamentais interessadas no assunto, tendo em vista o delineamento dos pressupostos balizadores desse novo modelo de instituição. A conquista da categoria de Universidade Tecnológica Federal do Paraná/UTF - PR pelo então CEFET/PR, mediante a promulgação da Lei nº 11.184 em outubro de 2005, parecia confirmar a tendência de criação de outras universidades tecnológicas.

Outro aspecto importante nesse contexto que contribuía para tal compreensão diz respeito à legislação vigente37 sobre a educação superior e outras em processo de elaboração. A exemplo, tinha-se um projeto de lei em tramitação que previa a criação de três tipos de instituição federal de ensino superior de educação profissional: “universidade tecnológica, centro tecnológico federal e escola tecnológica federal” (BRANDÃO, M., 2010, p.71). Sobre esse projeto de lei, Brandão, M. (2010, p.71) ressalta que sua aprovação poderia “desarticular a Rede Federal de Educação Profissional, transformando-a em diferentes tipos de instituições, com diferentes níveis de autonomia”.

A possibilidade de existência de três tipos de instituição de educação profissional de nível superior possivelmente implicaria no enfraquecimento da rede federal.

36 O Decreto nº 5.478/2005 criou o Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA), por meio da oferta de cursos e programas de formação inicial e continuada e de ensino médio integrado, em instituições federais de educação profissional. O Decreto nº 5.840/2006 estendeu essa oferta contemplando a articulação com o ensino fundamental, bem como incluindo as instituições públicas estaduais e municipais e aquelas privadas pertencentes ao sistema S, denominando-se a partir de então Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA). (REGATTIERI; CASTRO, 2009, p. 29)

37 Pode-se mencionar os Decretos nº 5.224 e nº 5.225 ambos de 2004 que tratavam, dentre outras questões, da definição e caracterização dos CEFETs como instituições de ensino superior de um tipo específico (BRANDÃO, M., 2010, p.69).

Primeiro, pela quantidade de instituições existentes, tendo cada uma seu grau de autonomia e em busca de seus próprios interesses. Da mesma forma, haveria a constituição de órgãos colegiados distintos, como mecanismo de representatividade dessas instituições. Isso substituiria o modelo então vigente, constituído por uma única instância, reunindo todos os diretores dos CEFETs – Conselho de Diretores dos CEFETs/CONCEFETs. Cabe destacar que o CONCEFET caracterizava-se por uma atuação ativa e com bom poder de barganha junto ao governo. O esfacelamento dos CEFETs em várias instituições levaria à divisão do poder que, por sua vez, suscitaria o acirramento de disputas internas e o conflito de interesses entre as mesmas, ocasionando o desgaste das relações institucionais e, consequentemente, a ameaça de existência da própria rede federal.

Contudo, no final de 2006 e início de 2007 o governo adotou medidas que evidenciavam mudanças de rumo quanto ao projeto de reformulação da rede federal: a ideia de criação das universidades tecnológicas perdia espaço para outro formato de instituição, denominada Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia/IFET. Segundo documentos oficiais do governo, a exemplo da publicação Concepção e Diretrizes - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, 2008, a adoção de uma nova política para a educação profissional e para as instituições federais de educação profissional e tecnológica justificava-se como estratégia de alinhamento destas ao projeto de nação em voga, que prioriza a responsabilidade social.

Naquele momento, o governo reconhecia o potencial da referida modalidade de ensino e suas instituições formadoras para o alcance de uma sociedade mais inclusiva e democrática. Mas também reconhecia o modelo histórico de política educacional adotado para a educação profissional, estritamente submisso ao desenvolvimento econômico. Sob a ótica de alinhamento da política educacional com o projeto societário, o governo Lula definiu a nova política para a educação profissional e tecnológica, tendo como eixo norteador a qualidade social e como compromisso o desenvolvimento local e regional, na perspectiva do alcance de uma “formação integral de cidadãos-trabalhadores emancipados” (BRASIL, 2008, p.16).

Brandão, M. (2010) destaca como pilares dessa nova política as seguintes ações: maior incentivo, por parte do governo, da oferta de cursos técnicos de nível médio; lançamento do Plano de Expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, constituído por duas fases; publicação do Decreto nº 6.905/2007 que tratava das diretrizes para integração de instituições federais de educação tecnológica, haja vista a formação dos IFET.

A primeira fase do Plano de Expansão da Rede Federal iniciou-se em 2006, com a perspectiva de implantação de 64 novas unidades de ensino. Foram estabelecidos como critérios para implantação de novas escolas federais de educação profissional: estados que não possuíssem tal instituição; periferia de grandes centros urbanos e municípios interioranos. Como exemplos do primeiro caso estavam os estados do Acre, Amapá, Rondônia e Mato Grosso do Sul, bem como o Distrito Federal, que foram contemplados cada um com a criação da Escola Técnica Federal (BRASIL, 2008).

A segunda fase do Plano de Expansão da Rede Federal denominada “Uma escola técnica em cada cidade-pólo do país”, entrou em execução em 2007, com a projeção de 150 novas unidades de ensino, gerando a abertura de 180 mil vagas na educação profissional e tecnológica. Segundo o governo, a meta era atingir o total de 354 unidades em 2010 (BRASIL, 2008, p.17).

instituições federais de educação tecnológica: “33 CEFETs38

com suas 58 Unidades de Ensino Descentralizadas (UNEDs), 01 Escola Técnica Federal/ETF, 36 EAFs, 32 Evs e 01 Universidade Tecnológica Federal”. Esse era o quantitativo de instituições que compunham a rede federal, até o final de 2008 (OTRANTO, 2010, p.91).

Ainda conforme o Decreto nº 6.905/2007 caberia a cada instituição decidir quanto a sua adesão ou não a proposta do governo. Por sua vez, a Chamada Pública MEC/SETEC nº 002/2007 definiu que as instituições teriam um prazo de 90 dias para manifestação, sendo a publicação do resultado desse processo marcado para 31 de março de 2008.

Em julho de 2008, o Poder Executivo encaminhou ao Congresso Nacional o projeto de lei que tratava de “Instituir a Rede Federal e criar os Institutos Federais”. No final desse mesmo ano, a lei foi sancionada, instaurando uma nova fase para a educação profissional e tecnológica no país.

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