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Outros marcos legais e a educação profissional

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3 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO BRASIL

3.7 A Educação Profissional após a Redemocratização do País

3.7.2 Outros marcos legais e a educação profissional

Nessa conjuntura, a resposta do governo surgiu com a publicação do Decreto nº 2.208, de 17 de abril de 1997, que regulamentava alguns artigos da LDBEN relativos à educação profissional. O maior impacto do Decreto foi promover a separação entre esta modalidade de ensino e o ensino médio. A esse respeito, Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) apontam o teor de ilegalidade presente no Decreto em relação à atual LDBEN,

uma vez que seu papel seria normatizar esta Lei, cabendo-lhe, portanto, disciplinar os preceitos ali contidos. No entanto, o art.5º do Decreto nº 2.208/97 estabelece que “A educação profissional de nível técnico terá organização curricular própria e independente do ensino médio...”, contrapondo-se com os artigos 36 e 40 da Lei que sinalizam a articulação entre o ensino médio e o técnico.

Oliveira, R. (2013) também indica outra contradição expressa no próprio Decreto, referente ao papel definido ao ensino médio e técnico.

Enquanto, para o ensino médio, o MEC atribui um papel central no desenvolvimento de competências fundamentais ao exercício da cidadania e à inserção no mercado de trabalho, esse considerou o ensino profissional apenas como espaço preparatório para o mercado de trabalho. Ou seja, ao definir a educação profissionalizante como complementar, o MEC reafirmou a dicotomia estrutural da educação brasileira, na qual se atribui à educação profissional um papel secundário e empobrecido na formação do trabalhador (OLIVEIRA, R., 2013, p. 229).

A velha dualidade entre a formação geral e a formação profissional foi reinstaurada, uma vez que não era mais permitida a oferta de curso que integrasse ambas as formações. O ensino técnico somente poderia ser desenvolvido de forma concomitante ou posterior ao ensino médio, cabendo-lhe apenas a transmissão e reprodução de conhecimentos profissionais da área de formação, haja vista a preparação do trabalhador para sua inserção no sistema produtivo.

Outras medidas foram tomadas pelo governo e afetaram diretamente as escolas técnicas federais, conforme aponta Pacheco (2011):

Em 1998, o governo federal proíbe a construção de novas escolas federais. Ao mesmo tempo, uma série de atos normativos direciona essas instituições para a oferta predominante de cursos superiores e, contraditoriamente, ensino médio regular, remetendo a oferta de cursos técnicos à responsabilidade dos estados e da iniciativa privada (PACHECO, 2011, p.48).

Portanto, estava-se diante de um contexto histórico, permeado por sucessivos marcos legais, que não garantiam a essas instituições perspectivas de investimentos financeiros, muito menos de expansão de novas unidades e educativa (oferta de cursos técnicos de nível médio). Além disso, priorizava-se a oferta de cursos voltados para a formação tecnológica e para a propedêutica, negando sua tradição como instituição de referência no país na área da educação profissional técnica.

A nova configuração desenhada para as instituições de educação profissional, como instituição ofertante de educação superior suscitou, principalmente entre os CEFETs mais antigos - Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia – o desejo de sua transformação em universidade tecnológica33. Era notório, tanto por parte de grupos

33 O projeto de criação da universidade tecnológica encontrou respaldo legal na própria LDBEN nº 9394/96 que, em seu art.52, parágrafo único tratava da “criação de universidades especializadas por campo de saber”. A regulamentação desse dispositivo resultou em uma série de decretos, concernentes a organização da educação superior e, em particular, a definição e caracterização dos CEFETs como instituições de ensino superior de um tipo específico de cursos – Cursos Superiores de Tecnologia (BRANDÃO, M., 2010, p.64).

ligados a essa modalidade de ensino quanto do governo, um movimento de articulações e discussões em prol de mudanças, no que diz respeito ao modelo de educação profissional e tecnológica vigente e às instituições integrantes dessa estrutura, sinalizando uma nova concepção, finalidades, objetivos e formato para a rede federal.

Todo esse processo de mudanças no sistema educacional brasileiro inseria-se num contexto mais amplo de reordenamento do sistema capitalista mundial, sob a égide do neoliberalismo. As principais bases sobre as quais se assentavam tais transformações estavam na globalização da economia e na introdução de novas tecnologias no sistema produtivo. Por sua vez, repercutiram diretamente em novas formas de organização e produção do trabalho. Próximo à virada do século XX para o XXI era eminente a necessidade de formação de trabalhadores com mais qualificação e habilidades para responder aos desafios e demandas do sistema produtivo.

Outra frente de ação adotada pelo governo brasileiro, em paralelo às reformas realizadas pelo MEC, ocorreu com o Ministério do Trabalho/MTb, mediante a criação do Plano Nacional de Educação Profissional (PLANFOR), publicado em 1995. O objetivo do PLANFOR era promover a expansão da educação profissional, sob o argumento de que as instituições existentes com atuação nessa área não propiciavam formação condizente às exigências do processo produtivo. Isso explicava o uso do conceito de empregabilidade como balizador das ações traçadas no Plano, uma vez que a formação oferecida deveria possibilitar aos futuros profissionais o desenvolvimento de habilidades básicas, específicas e gerenciais para a obtenção de um emprego (Oliveira, R., 2013). O PLANFOR previu a participação de vários segmentos dos setores públicos e privados da sociedade, entre os quais os governos estaduais, as instituições do Sistema S34 e as Escolas Técnicas Federais, como parceiros indispensáveis para operacionalização de suas estratégias.

Analisando a atuação do MEC e do MTb nesse período, Oliveira, R. (2013) ressalta que os referidos Ministérios realizaram uma “divisão de tarefas” semelhante ao que ocorre no processo de organização do sistema produtivo, com a “divisão do trabalho” entre aqueles que pensam e aqueles que executam

...enquanto o MEC se responsabilizaria por garantir uma educação de caráter mais geral, o MTb responsabilizava-se por ações de profissionalização para os excluídos do mercado, garantindo apenas formas de qualificação pouco elaboradas e de caráter fragmentado, que não surtem efeito algum sobre a possibilidade de ascensão social e econômica (OLIVEIRA, R., 2013, p. 226).

Para cada Ministério foi atribuída determinada responsabilidade, considerando a relação existente entre formação geral e formação profissional, sendo a primeira indispensável para o desenvolvimento da segunda e, portanto, para a inserção do indivíduo no mercado de trabalho. No entanto, a ideia de profissionalização posta pelo MTb limitava-se à aquisição de certas habilidades exigidas pelo mercado de trabalho, havendo o esvaziamento de uma formação científica e tecnológica mais sólida e abrangente. Isto colocava o trabalhador apenas na condição de subordinado à ordem vigente, totalmente desprovido de condições intelectuais e comportamentais para elevar

34 São instituições que compõem o Sistema S: Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial/SENAI; Serviço Social da Indústria/SESI; Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial/SENAC; Serviço Social do Comércio/SESC; Serviço Nacional de Aprendizagem Agrícola/SENAR; Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte/SENAT; Serviço Social do Transporte/SEST; Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas/SEBRAE.

sua posição na hierarquia social.

Nessa conjuntura, a relação entre educação e trabalho pautava-se na imediaticidade das condições políticas e econômicas inerentes à sociedade contemporânea, sendo determinada principalmente pelos reflexos da globalização e do avanço científico e tecnológico. A formação requerida limitava-se apenas a uma qualificação em determinada área, contrapondo-se à ideia de formação integral, potencializadora das diversas capacidades humanas.

3.7.3 O governo Lula: novos rumos para a educação profissional e

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