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2 A REVOLUÇÃO INFORMACIONAL: EVIDÊNCIAS DA

3.3 Trabalho Imaterial: Perspectiva de Lazzarato e Negri

3.3.2 A Emergência do General Intelect e o Fim das Classes Sociais

A teoria do trabalho imaterial indica que a “nova subjetividade”, nascida do general intelect (intelectualidade de massa) universaliza o capital a toda sociedade, tornando todos os seres sociais produtivos.

Negri (1991, p. 143 apud LESSA, 2005, p. 65)56 afirma que o capital cedeu ao general intelect a condição de recusar a sua valorização e, por sua vez, substituir a antiga valorização do capital pela sua própria autovalorização.

Entende que o capital permitiu ao intelecto geral valorizar-se enquanto força produtiva o que gerou, por outro lado, a desvalorização do próprio capital.

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Ele diminui, portanto, o tempo de trabalho na forma de tempo de trabalho necessário, para acrescê- lo na forma de tempo de trabalho supérfluo – em medida crescente – a condição question de vie et de

mort daquele necessário. De um lado ele evoca, portanto, todas as forças da ciência e da natureza,

bem como das condições sociais e das relações sociais, com a finalidade de tornar a criação da riqueza (relativamente) independente do tempo de trabalho empregado nela (LAZZARATO, 2001, p. 29).

55 A “intelectualidade de massa” se constitui sem ter a necessidade de atravessar a “maldição do

trabalho assalariado”. A sua miséria não é ligada a expropriação do saber, mas, ao contrário, à potência produtiva que concentra no seu interior, não apenas sob forma de saber, mas, sobretudo enquanto órgão imediato da práxis social, do processo de vida real. A “abstração capaz de todas as determinações”, segundo a definição marxiana, desta base social. Permite a afirmação de uma autonomia de projeto, ao mesmo tempo positiva e alternativa. (LAZZARATO, 2001, p. 32).

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O estudo optou por citar os autores ora analisados em textos de Sergio Lessa por entender que tal procedimento auxiliará o leitor no melhor entendimento. Ressalve-se que o posicionamento crítico de Sergio Lessa sobre o tema não restará comprometido. O seu pensamento receberá a atenção devida em ponto específico específico da presente dissertação.

A ideia da nova subjetividade emerge da seguinte hipótese: a subsunção da totalidade das relações sociais ao capital faz com que a verdadeira força produtiva passe a ser o conhecimento (a ciência) (NEGRI e HARDT, 1984, p. 278 et seq. apud, LESSA, 2005, p. 65).

A classe trabalhadora detentora do saber, inserida no contexto do capitalismo cognitivo (onde a força produtiva é a ciência e o conhecimento), ganha força e poder, valoriza-se, elevando o preço da sua força de trabalho.

Assim, estaria configurado o novo cenário do capitalismo pós-fordista, onde o valor do trabalho, nos moldes do capitalismo industrial restaria substituído pela “intelectualidade de massa” (NEGRI, 1991, p. xii; xxix; 25; 101; 110, 1992 apud LESSA, 2005, p. 65).

O referido processo de valorização da intelectualidade de massa representa uma verdadeira revolução de conceitos do capitalismo. O que imporia ao capitalismo reestruturar-se em torno de um novo processo de produção inexoravelmente imposto pela configuração de um novo processo de trabalho (NEGRI, 1991, p. 121- 122 apud LESSA, 2005, p. 65).

Os autores convergem à ideia de Lojkine sobre a subversão dos conceitos que Marx usa sobre trabalho produtivo e improdutivo. Com o advento das novas tecnologias, como a informática e a robótica, e as novas formas imediatas de comunicação a distância, através da internet, há um novo tipo de gerenciamento das informações e o trabalho imaterial, anteriormente considerado meramente improdutivo de mais-valia, passa a ser produtivo também57.

Por isso, não há que se falar mais na divisão do trabalho, no momento do saber (improdutivo), o que seria uma fase meramente preparatória do trabalho propriamente dito e o momento da produção material (produtivo), uma vez que os mesmos estariam integrados.

Segundo Negri, Hardt e Lazzarato (2001), a sociedade pós-industrial observa a fusão entre o conhecimento e a produção, o que implica na identificação de fases apartadas na teoria de Marx como: o consumo, a circulação e a produção58.

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Vide posicionamento original de Lojkine no ponto 3.2.6.

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Pensar, consumir, vender e comprar seriam o mesmo que produzir, pois não haveria qualquer produção que não incorporasse instantaneamente as demandas, necessidades e possibilidades geradas no ato de pensar, de consumir, de comprar e vender (NEGRI, 1991, p. 114; 135; LAZZARATO, 1993, apud, LESSA, 2005, pg. 65).

Sob a égide do general intelect o consumo e a circulação são igualmente produtivos. Estariam então ultrapassados os clássicos conceitos de trabalho produtivo e improdutivo de Marx, que não poderia prever, à época, dos seus escritos, o impacto do desenvolvimento da ciência e da tecnologia no sistema produtivo.

O raciocínio dos neo-marxistas conduz à ideia de fim das classes sociais concebidas por Marx, bem como à generalização das unidades produtivas a todo o tecido social. O movimento é inverso à ideia de separação dos momentos da produção do capitalismo industrial como se via no fordismo e taylorismo59.

Decretado o fim da separação das fases de produção surge um modelo de produção onde todas as relações sociais são igualmente produtivas.

Nesse cenário, a luta de classes tende a desaparecer, no sentido de que não há mais contraposição entre a classe operária e o capital, uma vez que os conceitos de capital e trabalho se identificariam no conceito de intelectualidade de massa.

As expressões capital e trabalho agora são substituídas pelo capital social da nova subjetividade, do general intelect, de um lado,e ,do outro, o trabalho imaterial.

O paradigma do capital X trabalho estaria ultrapassado, na medida em que todos os agentes sociais são produtivos e participam do mesmo processo de valorização. A tese põe por terra a ideia de mais-valia, porque não admite mais que a classe burguesa esteja simplesmente vivendo da valorização do trabalho abstrato. O novo cenário é o da associação dos trabalhadores sociais aos empresários, sendo, ambos, participantes da produção.

A economia do conhecimento não apenas cancela o paradigma da luta de classes como associa os agentes tradicionalmente antagônicos. É o que Cocco (2000, p. 160) chama de “reconciliação entre capital e trabalho”.

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O surgimento de uma nova subjetividade e as relações de poder que ela constitui estão na base de novas perspectivas de análises nas ciências sociais e na filosofia que se apresentam como uma releitura do general intelecto marxiano. Na linha da Escola de Frankfurt, podemos encontrar duas interpretações desta passagem. Por uma lado, Habermas considera linguagem, a comunicação intersubjetiva e a ética como embasamento ontológico do General Intellect e dos novos sujeitos, mas bloqueia a criatividade do processo de subjetivação através da definição dos transcendentais ético- comunicativos deste mesmo processo. De outro lado, H.J. Krahl coloca o acento sobre a nova qualidade do trabalho para elaborar uma teoria da construção social que se joga entre o aparecimento do trabalho imaterial e a sua transformação em sujeito revolucionário. Em ambos os casos, a novidade da nova composição de classe é, portanto, fortemente afirmada (LAZZARATO, 2001, p. 34).

Essa “reconciliação entre o capital e trabalho” é possível em decorrência das metamorfoses econômico-sociais promovidas pela revolução informacional. O desenvolvimento tecnológico transformou a realidade do chão de fábrica e impôs a reformulação da teoria organizacional das empresas.

Agora, a riqueza é produzida por todos os integrantes da nova subjetividade, sejam eles trabalhadores intelectuais ou aqueles ligados diretamente à transformação da natureza. Assim, a divisão de classes de Marx encontra-se ultrapassada, uma vez que os trabalhos relacionados à concepção, criação, gerenciamento, distribuição e até o próprio consumo são considerados produtivos.

As teses de Negri, Hardt e Lazzarato acerca do trabalho imaterial dão um novo tom à passagem do capitalismo para o comunismo. Abandona-se a ideia de revolução do proletariado, em troca da ideia de revolução passiva promovida pela nova subjetividade.

O terreno para a revolução passiva teria sido preparado pela revolução tecnológica que, ao alterar as bases do sistema produtivo, permite a todos produzir, fundir, ou imbricar, as classes sociais e formar a nova subjetividade ou intelecto geral.

Os autores defendem que fenômenos como, por exemplo, o desemprego, são causas e não consequências. O desemprego é encarado como manifestação dos trabalhadores contra os patrões, seria a recusa de continuar vivendo sobre a égide da venda do trabalho abstrato, subordinado e por conta alheia.

3.3.3 Trabalho Imaterial, Classe Expandida e Revolução Passiva: O Amor ao