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5 O IMPACTO DA REVOLUÇÃO INFORMACIONAL E DO

5.3 As Implicações na Saúde do Trabalhador: Assédio Moral

Como vem sendo demonstrado, a Revolução Informacional atingiu todos os setores da sociedade e alterou a teoria organizacional do trabalho desde a indústria até o setor de serviços.

A má utilização do desenvolvimento tecnológico pelo capital afeta direta e negativamente a saúde do trabalhador. Aquilo que poderia parecer benéfico, à primeira vista, é bastante danoso à saúde física e mental dos trabalhadores.

Os computadores e a automação estão penetrando rapidamente na área de serviços – especialmente nos bancos e grandes escritórios – mas está também penetrando na indústria. O impacto das novas tecnologias repercute sobre a organização do trabalho e traz consigo novas causas de agravos à saúde geral, provocando acréscimos de tensão, fadiga e sofrimento mental (SILVA, 2001, p. 252).

Edith Seligmann Silva, pesquisadora e professora do Departamento de Ciências Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública da Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, em seus estudos sobre o impacto da tecnologia da informação na saúde dos trabalhadores, identifica efeitos do uso dos computadores sobre a tensão muscular, o esforço visual e a tensão psíquica. Além de distúrbios do sono, tendências depressivas e utilização de estereótipos de informática na vida extralaboral, entre outras consequências.

As novas tecnologias afetam diretamente o dia a dia do trabalhador, que passa a ser vigiado diuturnamente. As empresas acompanham os resultados em tempo real. Câmeras são instaladas nas empresas, para fiscalizar a execução dos serviços e os instrumentos de trabalho funcionam como os olhos das empresas.

Hodiernamente, um simples frentista utiliza-se de um computador para executar o seu trabalho. A imensa maioria das atividades comerciais se dá por meio de pagamentos eletrônicos, que exigem do vendedor conhecimento de informática. Por outro lado, a utilização desses aparelhos propicia ao empregador a fiscalização absoluta das atividades dos seus empregados.

Os trabalhadores são forçados a exercerem suas atividades utilizando-se de tecnologias, tais como,notebooks e smartphones. Esses equipamentos são ferramentas e, ao mesmo tempo, fiscais das atividades dos empregados. Todas as informações trafegadas neles são monitoradas, desde os e-mails enviados e recebidos, até o exato segundo em que são ligados ou desligados.

Os smartphones subverteram a noção de jornada de trabalho. É que após a inserção de tais equipamentos na vida dos trabalhadores e a possibilidade de leitura e envio de e-mails, passou a se exigir dos mesmos respostas imediatas às demandas, ainda que fora do horário estabelecido contratualmente. Esta é uma prática difundida e padronizada no mercado de trabalho.

Os próprios trabalhadores do conhecimento não seguem os padrões tradicionais de jornada de trabalho, muitas vezes preferem trabalhar nas madrugadas. O capitalismo cognitivo interessa-se pelo conhecimento e produtividade dos trabalhadores imateriais, não se importando com o horário em que as tarefas são desempenhadas, mas sim na execução eficiente das tarefas. O aumento na fadiga, resultante de esforços físicos e intelectuais são ainda maiores, o que, sem dúvida, amplia o quadro das enfermidades profissionais e as estatísticas sobre as patologias decorrentes do trabalho subordinado.

O ambiente de trabalho sofreu profunda metamorfose com o uso dos canais virtuais de comunicação, tais como: redes intranets e plataformas virtuais. Ferramentas comunicacionais, como Messenger e Skype, são utilizados no dia a dia das empresas, a fim de agilizar processos e possibilitar diálogos entre colaboradores, o que, na prática, tem sido utilizado como ferramentas de fiscalização e controle, afetando o clima organizacional que deveria ser saudável.

O assédio moral e sexual no ambiente de trabalho toma novos contornos e novas proporções, com desenvolvimento tecnológico. Agora, um simples e-mail com conteúdo ofensivo pode ser enviado a todos os trabalhadores de uma corporação, identificando-se uma similitude, no contexto virtual, das atitudes agressivas que caracterizam o assédio moral no mundo real.

O problema é acentuado pelas novas possibilidades de controle e envio de informações. Tudo o que se tem falado sobre facilidade e democratização da informação é também instrumento de opressão da classe trabalhadora que se vê ainda mais explorada pelos olhos implacáveis da tecnologia que se volta contra ela.

Nesse contexto, o assédio moral virtual ocorre como o resultado da ação dos empregadores, que excedem o exercício de suas prerrogativas e expõe trabalhadores a situações humilhantes, constrangedoras, de modo repetitivo e prolongado durante a jornada de trabalho e além dela.

Há, inclusive, obstáculos quando se trata do acesso ao emprego. As empresas se intercomunicam, para evitar contratações “indesejáveis”. As “listas

negras” entram no espaço virtual e as empresas se relacionam virtualmente para evitar contratações que envolvam, por exemplo: trabalhadores que procuraram a justiça, ex-líderes sindicais, trabalhadores que procuraram a previdência social por diversos motivos. Por meio deste mecanismo comunicacional se pode desencadear preconceitos que se relacionam a problemas de gênero, sobretudo contra os homoafetivos.

Nesse sentido, o Direito do Trabalho deve estar atento às novas demandas surgidas com a Revolução Informacional.

6 O IMPACTO DA REVOLUÇÃO INFORMACIONAL E DO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO NO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

As alterações sociais consequentes do desenvolvimento tecnológico, tal como demonstradas no presente estudo, explicamo enfraquecimento da atuação dos sindicatos. Alie-se a essas questões – comoa desatualização das formas clássicas de mobilização sindical, frente às novas relações e comunicações – o esgotamento dos projetos políticos que mobilizaram os trabalhadores nos últimos dois séculos. Ou seja, os movimentos políticos revolucionários que se dirigiam à emancipação, por meio de lutas contra-hegemônicas e de caracteres universalistas.

A nova dinâmica da sociedade pós-moderna ou pós-industrial impacta profundamente as relações de trabalho. As necessidades da sociedade globalizada, informacional, são bem distintas daquela denominada industrial. Nesse sentido, o sindicalismo de raiz obreirista, voltado ainda para chão de fábrica, está em descompasso com o movimento social e desampara a classe trabalhadora que necessita de proteção.

Registre-se a prospecção de Lojkine sobre o tema:

Conscientemente ou não, usuários das Novas Tecnologias da Informação, promotores de novas cooperações entre indústrias e serviços – como o foram, no passado, todos os usuários das máquinas-ferramenta, confrontados com suas potencialidades contraditórias (e, pois, com opção que estavam longe de ser puramente técnicas). Contudo, se confere os desafios atuais da revolução informacional toda sua significação cultural, política e ética pode-se afirmar que o movimento social que deve realizá-la ainda pertence ao futuro (LOJKINE, 2002, p. 309-310).

Ao se analisar o movimento social percebe-se, indiscutivelmente, as evidências de uma Revolução Informacional, cujo debate já extrapolou os muros da comunidade acadêmica e invadiu todos os meios de comunicação91. Não precisa somar esforços para verificar o impacto do desenvolvimento tecnológico na sociedade como um todo; e, mais precisamente, como é o objeto do presente estudo.

91 A Revista Época traz como matéria de capa: “Os hackers invadem o Brasil. Com os ataques a sites

oficiais, a guerra virtual chegou ao país. Por que ainda estamos despreparados para vencê-la”. Rio de Janeiro, n. 684, 27.06.2011, pp. 92-104.