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2 A REVOLUÇÃO INFORMACIONAL: EVIDÊNCIAS DA

3.2 O Trabalho Imaterial no Contexto da Revolução Informacional sob a

3.2.6 Os Produtivos Improdutivos e os Improdutivos Produtivos Reflexão

3.2.7.2 Os “Improdutivos Produtivos”

A longo prazo, com a Revolução Informacional, vem à tona uma tendência irreversível para abrir todas as atividades produtivas às funções de serviços e todas as atividades de serviço às funções produtivas. Repita-se: trata-se se uma tendência

sensível redução de postos de operários (tipógrafos) e de empregados não-qualificados (datilógrafos) provocou uma transferência dessas atividades materiais para o trabalho intelectual dos dirigentes. Deste modo, a constatação – clássica – da queda global de empregos operários e do crescimento de empregos “terciários” no setor de impressão-impresa-edição pode talvez ser corrigida tomando-se em conta as novas funções produtivas integradas nesses empregos ditos “terciários” (LOJKINE, 2002, p. 283).

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ainda minoritária, sempre travada por fortes contra-tendências dirigidas à divisão, ao afunilamento e ao monopólio elitista.

Contudo, a implementação de redes informáticas e a própria lógica da utilização eficaz dos bancos de dados entram, cada vez mais, em conflito com as normas fundadas na propriedade privada da informação e com as fórmulas típicas do curto prazo.

Ambivalência de uma “integração informacional”, que só envolve uma elite super-selecionada, afastada da massa dos “outros” e vivendo ela mesma um hiato entre suas qualificações relacionais e sua desclassificação profissional, ou seja: operários que efetuam trabalhos de técnicos (como os novos condutores de instalações automatizadas) continuam sendo classificados como operários, técnicos e contramestres, que assumem tarefas outrora confiadas à chefes de seção, permanecem sem nova classificação, etc.48.

3.2.7.3 “Orant” e “Laborant” : “Dirigentes” ou “Trabalhadores”?

Há uma importante diferenciação entre categorias de trabalhadores imateriais que é bem observada por Jean Lojkine. Nem todas as categorias de trabalhadores do conhecimento destacam-se ao ponto de fazerem frente ao próprio capital e serem despontados por eles mesmos.

O estudo refere-se aos trabalhadores do conhecimento com menor qualificação técnica. A lei da oferta e da demanda lhes atinge na mesma proporção que os trabalhadores do conhecimento com alto grau de instrução. Valorizam-se pela escassez. Como são menos raros, os trabalhadores do conhecimento, com relativa especialização, submetem-se a parcelização de tarefas, possuindo menor independência junto ao capital49.

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Mas a ambivalência se manifesta também ao nível do conteúdo e da organização do trabalho. No que concerne aos que se beneficiam da integração funcional e informacional, verifica-se a multiplicação de procedimentos de cooperação e de aproximação entre produtivos e relacionais, com o esbatimento real da escala hierárquica; mas ao mesmo tempo, a lógica dominante pertencente à da eliminação do trabalho vivo, da utilização privilegiada das novas tecnologias da informação para “economizar pessoal” – com duas ponderáveis consequências sobre as categorias envolvidas: a intensificação do trabalho e as reduções maciças de pessoal (notadamente do pessoal mais antigo, depositário da experiência e da cultura da empresa), que bloqueiam as capacidades inovadoras e paralisam os esforços para melhorar a circulação da informação, assim como as permutas de saberes e experiências (LOJKINE, 2002, p. 289-290).

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Mais precisamente, a informação do trabalho intelectual tem por consequência uma clivagem que divide aqueles que concebem em dois grupos: de um lado, os chefes dos processos de projetos, os

Nesse contexto de valorização do conhecimento, os trabalhadores imateriais são disputados não apenas pela sua formação acadêmica, mas, sim, pelo seu conteúdo informacional. O quanto se sabe e como se trabalha o saber no desenvolvimento criativo é o que importa para o mercado.

Por outro lado, há uma parcela de trabalhadores que ficaram para trás na corrida da Revolução Informacional. Não acompanharam o desenvolvimento tecnológico e sofrem, atualmente, com o desemprego, mesmo sendo considerados trabalhadores de alto nível. O fenômeno é percebido desde meados dos anos 1970, o que converge para o início da revolução informacional50.

Há ainda outra categoria de trabalhadores imateriais que merece observação. São os pequenos técnicos formados no interior das empresas. Passam por um processo de treinamento interno para operação e manutenção de sistemas próprios das empresas51.

Esses trabalhadores ingressam nas empresas apenas com o nível profissional médio. São trabalhadores informacionais, mas com apenas relativa qualificação técnica. Em sendo assim, são facilmente manipulados pelo capital, tem o seu saber roubado; para se tornarem técnicos mediante a qualificação no próprio trabalho,Lucas (1990) está convencido de que a informatização nada lhe oferecerá de positivo: “Com as novas tecnologias, ninguém precisará de um pequeno técnico formado na empresa”(LUCAS, 1990 apud LOJKINE, 2002, p. 294).

arquitetos de sistemas e de redes informacionais, em geral egressos de grandes escolas de engenharia, cuja relativa especialização técnica não implica nenhum dos traços clássicos da desqualificação operária (parcelarização e estandartização de tarefas); de outro lado, os técnicos superiores e os egressos de pequenas escolas de engenharia, submetidos a uma certa estandartização de tarefas (gabinetes de programação, grandes escritórios de projetos) e sofrendo uma perda da sua autonomia, uma desvalorização do seu estatuto (LOJKINE, 2002, p. 291).

50 Assim, uma parcela crescente de “escribas” tornam-se “trabalhadores”, mesmo que recusem,

violentamente, a assimilação ao estatuto de simples “assalariados” e reclamem de ser tratados como os que concebem ou decidem. É isto, aliás, o que explica, em boa parte, a inadequação das formas clássicas de mobilização sindical, fundadas na representação exclusiva do mundo do “trabalho” (LOJKINE, 2002, p. 292).

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Conscientes de terem propiciado, com a sua criatividade, a transferência de seu saber profissional para a programação dos computadores, desenhistas, preparadores e programadores vivem esta mutação como uma “expropriação”, um “roubodo seu saber” e, posto isto mesmo, experimentam uma “perda de identidade” e uma “desqualificação” de seu trabalho, sentindo-se reduzidos a condição de “operários especializados da informática” (LUCAS, 1990 apud LOJKINE, 2002, p. 293).