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Diferenciação do Pensamento de Negri, Hardt e Lazzarato, Frente ao

2 A REVOLUÇÃO INFORMACIONAL: EVIDÊNCIAS DA

3.6 Diferenciação do Pensamento de Negri, Hardt e Lazzarato, Frente ao

de Sergio Lessa

O presente estudo cumpre a sua tarefa de apresentar a doutrina sobre o trabalho imaterial e, como parte desse esforço, há que se diferenciar as ideias de cada grupo de pensadores.

A teoria do trabalho imaterial não é unânime entre os pensadores, como restou demonstrado. As ideias contumazes de Hardt, Negri e Lazzarato sobre o tema é, em algum momento, divergente de Gorz e de Lojkine. Cada um deles possui um caminho próprio, uma forma singular de enxergar as metamorfoses sociais contemporâneas.

O posicionamento de Sergio Lessa, crítico mais obstinado da teoria do trabalho imaterial, confronta todos os autores apresentados e reduz a base teórica do trabalho imaterial a uma mera fábula.

O presente estudo procurou aprofundar a análise sobre o pensamento de cada um desses autores. Contudo, não pretende entrar na discussão ou adotar um posicionamento favorável ou sobre a validade da teoria do trabalho imaterial apresentada por cada um deles.

As metamorfoses ocorridas nas relações de trabalho, no contexto do capitalismo cognitivo, não são analisadas como a retomada pacífica do comunismo, ocorrida por consequência do amor para o tempo, como em Negri e Lazzarato80. Gorz, ao contrário, observa que o capitalismo, agora na sua versão cognitiva, continua exercendo o seu poder de domínio sobre os trabalhadores impondo a eles uma nova atitude: transformarem-se em empresa. Veja-se:

80

Sobre esta questão remete-se o leitor ao ponto anterior que trata especificamente da visão dos neomarxistas sobre o trabalho imaterial

O capital consegue exercer poder sobre os homens e é capaz de mobilizar a todos: os empregados têm de se tornar empresas que, mesmo no interior de grandes estabelecimentos industriais (p. ex. Na Volkswagen e na Daimler-Chrysler), devem responder pela rentabilidade de seu trabalho. Na briga com a concorrência, eles serão forçados a internalizar a pressão trazida pela lógica da obtenção do máximo de proveito possível. No lugar daquele que depende do salário, deve estar o empresário da força de trabalho, que providencia sua própria formação, aperfeiçoamento, plano de saúde, etc. “A pessoa é uma empresa”. No lugar da exploração entram a auto-exploração e a autocomercialização do “Eu S/A”, que rendem lucros às grandes empresas, que são os clientes do auto- empresário (GORZ, 2005, p. 10).

Esta expressão concebida por Gorz evidencia a divergência entre o seu pensamento e a dos percussores da teoria do trabalho imaterial. Enquanto os primeiros, Hardt, Negri e Lazzarato previam a passagem pacífica ao comunismo, graças à imaterialidade do trabalho; ao “amor para o tempo”, André Gorz observa a mão dominadora do capitalismo que já se utilizava destas novas categorias (subjetividades) para manter-se hegemônico.

Por outro lado, Gorz acredita que as transformações do capitalismo cognitivo deságuem na revolução, apesar do encolhimento do proletariado. A legitimidade dos movimentos sociais estaria nas mãos dos trabalhadores em geral e não apenas e exclusivamente nas mãos da classe operária, como se extrai do pensamento dos marxistas ortodoxos. Nesse sentido, André Gorz:

O conhecimento que, graças ao livre autodesenvolvimento dos homens, como todas as suas qualidades insubstituíveis, e não graças à sua instrumentalização e dominação, tornou-se a principal força produtiva, deveria abrir caminho para “uma nova era, que precisava de novas formas de estruturação sociais, culturais e éticas” (VIVERET apud GORZ, 2005, p.10).

Para o autor, a evolução do capitalismo pós-fordista possibilita, sim, a revolução. Contudo, esta não seria mais viável pela classe operária, mas, sim, na superação do próprio trabalho através da afirmação das atividades autônomas dos sujeitos. Aqui se encontra convergência entre o pensamento de Gorz, como visto anteriormente e o pensamento de Jean Lojkine. Veja-se:

reduzir as evoluções do salariado urbano às dos assalariados do setor formal, mais ou menos estável e protegido, não equivale a negligenciar uma enorme parte do salariado – aquela que se refere ao salário precário dos “informais”, dos milhares de ambulantes que se movem nas grandes metrópoles e nas favelas de todos os países subdesenvolvidos? Numa palavra: não significa esquecer os 30% de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza e os 7 milhões de

menores que estai abandonados nas ruas do Brasil? Mais ainda: não significa reduzir o movimento social apenas às lutas “corporativas” dos sindicatos, que só agrupam uma minoria de assalariados “privilegiados” pela estabilidade do seu estatuto, minimizando as lutas dos favelados e de todos os excluídos do crescimento capitalista (“excluídos” de um mínimo vital, do direito à moradia e do direito à saúde)? (LOJKINE, 2002, p.235).

Essa discussão que é o cerne do presente estudo será, ao final, melhor analisada, quando se apontar a convergência do pensamento de Gorz e Lojkine, e a crítica lançada por Sergio Lessa.

4 AS NOVAS POSSIBILIDADES DE REINVENÇÃO DAS LUTAS COLETIVAS

As metamorfoses da sociedade contemporânea e a instauração de um novo capitalismo denominado cognitivo foram apresentadas no primeiro capítulo do estudo. Em seguida, demonstrou-se a teoria do trabalho imaterial à luz dos seus principais pensadores, concluindo-se que esta espécie de trabalho éa protagonista da sociedade contemporânea.

Neste quarto capítulo, cumpre ao estudo, demonstrar as novas possibilidades de reinvenção das lutas coletivas com base nas evidências empíricas do poder explosivo da classe dos trabalhadores do conhecimento. A atuação desses personagens no cenário contemporâneo, a partir da utilização das novas tecnologias, incomoda a hegemonia do capital e poderá ser a mola propulsora da reestruturação de um movimento sindical verdadeiramente libertário.

Surge, verdadeiramente, uma nova força capaz de se impor frente à hegemonia capitalista?