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A escola como espaço privilegiado da educação para a saúde

CAPÍTULO II – ESTUDO EMPÍRICO

2.1. Enquadramento teórico: literacia para a saúde

2.1.4. A escola como espaço privilegiado da educação para a saúde

Não há educação se não há uma política de saúde capaz de criar as condições necessárias a um processo de educação/aprendizagem com qualidade. Considera-se que a educação, tal como a saúde, são recursos para a vida que se podem potenciar mutuamente (M. C. Antunes, 2008; Suhrcke & Nieves, 2011; WHO, 2005), ou seja, que a EpS em meio escolar constitui na sociedade atual uma prioridade estratégica, pois, ao potenciar a existência de um ambiente saudável na escola, que apoie o bem-estar social e emocional dos alunos, constituirá um meio determinante na sua educação e saúde. Contribuirá, ainda, para a sua capacitação, tornando-os mais conscientes acerca dos determinantes da saúde, principalmente, dos fatores ambientais e socioeconómicos, ajudando, assim, na prevenção de muitos problemas.

Foi em 1980 que se tornou mais explícita a necessidade de colaboração entre os setores da educação e da saúde, reconhecida como um fator fundamental para o desenvolvimento de um conceito que definia a Escola Promotora de Saúde como aquela cujos objetivos iam no sentido do investimento em estilos de vida saudáveis, para toda a população escolar. Para tal, seria preciso desenvolver um ambiente conducente à promoção da saúde, com ligações à família e à comunidade, tendo em consideração os fatores físicos, sociais e mentais (Direção- Geral da Educação, 2000).

A Comissão de Coordenação da Promoção e Educação para a Saúde (CCPES) é formalmente criada em agosto de 1999, pelo despacho nº 15 587/99, de 12 de agosto, onde a promoção da saúde é reconhecida como uma vertente que faz parte do processo educativo e onde é garantida a continuidade da ação desenvolvida, através da existência de uma estrutura de competência apta a fomentar a iniciativa e a inovação na promoção e EpS em meio escolar, a priorizar intervenções específicas, a assegurar a articulação consistente entre os diferentes

serviços e a parceria com o Ministério da Saúde e a consolidar e conferir carácter estrutural e permanente à intervenção para a saúde no âmbito do sistema educativo.

A LS é, assim, um conceito que pode ser amplamente adotado pelas escolas. Escolas de todo o mundo contribuem para o alcance das metas de saúde pública em conjunto com os seus compromissos educacionais. Existe uma ligação muito estreita entre a escola promotora da saúde e os fatores favoráveis necessários para alcançar a LS. Há uma sobreposição substancial entre os componentes de sucesso de uma escola promotora de saúde e escolas eficazes. No entanto, existem três desafios que devem ser resolvidos para permitir que as escolas atinjam esse nível: a estrutura tradicional e função de escolas, professores, práticas e competências, e tempo e recursos (St-Leger, 2001).

Por isso, é vital que se veja o que as escolas podem fazer para dotar os jovens com conhecimentos e habilidades ao mais alto nível, para que assim possam ser participantes ativos em moldar as políticas e práticas que têm impacto sobre a sua própria saúde, a da sua comunidade e do país.

Também a SHE, Plataforma Europeia para a Promoção da Saúde na Escola, defende que a promoção da saúde seja parte integrante das políticas de desenvolvimento da educação e da saúde na Europa.

Os jovens passam grande parte do dia na escola e frequentam-na durante a fase da vida em que os hábitos de saúde são estabelecidos. Uma vez que a probabilidade destes se manterem ao longo de toda a vida é elevada, é importante que a instituição de ensino tenha recursos suficientes para promover o estabelecimento de hábitos saudáveis, quer através da transmissão de conhecimentos, quer da possibilitação de escolhas saudáveis.

As escolas, além de serem contextos que permitem um contacto direto com os jovens e com as suas famílias e de desenvolverem competências de aprendizagem, são igualmente fundamentais ao nível da promoção da saúde mental, uma vez que possuem um papel determinante no estabelecimento da identidade pessoal de cada um, nas relações interpessoais e noutras competências (Weare & Nind, 2011).

Um acontecimento importante na evolução das políticas de saúde escolar foi a adesão de Portugal à Rede Europeia de Escolas Promotoras de Saúde em 1994. A escola, em particular a escola promotora de saúde, passou a constituir um local por excelência para trabalhar com os

alunos, professores, pais e comunidade envolvente no sentido de os capacitar para opções saudáveis.

A saúde escolar é um facilitador do acesso à boa informação de saúde, a cuidados de saúde e a ambientes promotores de uma vida mais saudável. Capacitar a comunidade educativa é integrar as intervenções de saúde no projeto educativo da escola. Ter equipas de profissionais de saúde e de educação com formação e motivação é definir e planear ações a partir das necessidades sentidas e agir na melhoria de competências em saúde e em educação de todo o grupo escolar.

A saúde escolar, pelo potencial que tem para responder aos desafios que se colocam à saúde da comunidade educativa, é cada vez mais uma alavanca para a melhoria do nível de literacia em saúde dos jovens, facilitando a tomada de decisões responsáveis e promovendo ganhos em saúde.

O PNSE 2014 (DGS, 2014) defende, neste sentido, que a escola “…deve, também, educar para os valores, promover a saúde, a formação e a participação cívica dos alunos, num processo de aquisição de competências que sustentem as aprendizagens ao longo da vida e promovam a autonomia” (p.3).

As UCC são responsáveis pela concretização do PNSE através das equipas de saúde escolar, desenvolvendo diversos programas e projetos a nível das escolas. O Programa Alimentação Saudável em Saúde Escolar (PASSE) e o Programa Regional de Educação Sexual em Saúde Escolar (PRESSE), são alguns dos exemplos. O PASSE, considerado pela DGS, como programa de saúde prioritário, foi desenhado com base em cinco dimensões das escolas promotoras da saúde: (organizacional, curricular, psicossocial, ecológica e comunitária) e tem como objetivo promover uma alimentação saudável, contribuindo para um ambiente promotor da saúde, em especial no que se refere à alimentação, de forma a promover comportamentos alimentares saudáveis. Por sua vez o PRESSE, surge com o objetivo de cumprir o preconizado na Lei nº 60/2009, de 6 de agosto, que vem estabelecer o regime de aplicação da educação sexual em meio escolar.

Também A. Carvalho e Carvalho (2006) referem que os comportamentos no decorrer da adolescência podem ser interpretados como o resultado de aprendizagens significativas, onde a escola tem um papel relevante para e na consolidação da LS.

É cada vez mais aceite e assumido que a escola é um local de eleição que deve partir do pressuposto que a educação/promoção da saúde é um processo de capacitação, participação e responsabilização que deve levar as crianças e os jovens, a sentirem-se competentes, felizes e valorizados, por adotarem e manterem estilos de vida saudáveis (Rodrigues, Carvalho, Gonçalves & Carvalho, 2007).

Nas gerações mais novas pode ver-se uma diferente abordagem e perceção do conceito de literacia, nomeadamente a sua aplicação em novos contextos a nível das fontes de informação, tal como do e-Health (Brandão, 2012), daí a importância em aproveitar também estes novos recursos.

É nesse processo de capacitação, participação e responsabilização que a LS é uma “pedra” basilar dos programas de educação e promoção da saúde.