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CAPÍTULO II – ESTUDO EMPÍRICO

2.1. Enquadramento teórico: literacia para a saúde

2.1.1. Saúde e literacia para a saúde

Não se pode falar de LS sem falar em Saúde, Promoção da Saúde e Educação para a Saúde. Estes são conceitos que estão em constante evolução, o que coloca algumas dificuldades, quando se pretende defini-los ou medi-los.

Na definição da OMS de 1948, a saúde é considerada como “o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença e/ou enfermidade” (p.6). Nesta perspetiva, a saúde enquanto “bem-estar” é tida como uma visão positiva da saúde, por sua

vez, “ausência de doença” é tida como uma perspetiva negativa.

Ao concordar que a saúde deve ser perspetivada como um conceito dinâmico e global, salientamos o conteúdo da Carta de Ottawa (OMS, 1986) que refere que a saúde:

É criada e vivida pelas populações em todos os contextos da vida quotidiana: nos locais onde se aprende, se trabalha, se brinca e se ama ... resulta dos cuidados que cada pessoa dispensa a si própria e aos outros; de ser capaz de tomar decisões e de assumir o controlo sobre as circunstâncias da própria vida; de assegurar que a sociedade em que se vive cria condições para que todos os seus membros possam gozar de boa saúde. (p.4)

De acordo com os conceitos acima referidos, a saúde é um recurso quotidiano, dinâmico, em que cada pessoa deve saber construir o seu projeto de vida e responsabilizar-se por ele. Isto leva a que o indivíduo tome decisões em liberdade, sem prejudicar a autonomia dos outros, tornando-se um indivíduo ativo e participante no seu desenvolvimento individual e, consequentemente, no desenvolvimento comunitário.

Tal como o conceito de saúde, a conceptualização de EpS sofreu ao longo dos tempos alterações que se materializam nas definições apresentadas pelos autores de referência identificados na bibliografia consultada e em sites de referência como o da “Internacional Union for Health Promotion and Education” (IUHPE) ou da “Schools for Health in Europe” (SHE).

Mas antes de abordarmos a temática da EpS, temos que abordar a temática da PrS, pois tal como referem Carvalho & Carvalho (2006) o objetivo da EpS é a promoção da saúde.

Tones & Tilford (1994) definem EpS como:

Toda a atividade intencional conducente a aprendizagens relacionadas com saúde e doença ..., produzindo mudanças no conhecimento e compreensão e nas formas de pensar. Pode influenciar ou clarificar valores, pode proporcionar mudanças de convicções e atitudes; pode facilitar a aquisição de competências; pode ainda conduzir a mudanças de comportamentos e de estilos de vida. (p.11) Estes autores usam uma definição mais abrangente, incorporando implícita e explicitamente a promoção da saúde (G. Carvalho, 2002), sendo um aspeto fundamental da promoção da saúde capacitar (“to empower”) os indivíduos de forma a terem mais controlo sobre os aspetos da vida que afetam a sua saúde.

Segundo a OMS (1986), “Promoção da Saúde apresenta-se, pois, como o processo que permite às pessoas aumentarem o controlo sobre a sua saúde e melhorá-la” (p.2). Estes dois elementos (melhorar a saúde e ter maior controlo sobre ela) são fundamentais para os objetivos e processos da promoção da saúde (I. Loureiro & Miranda, 2010).

Outra definição de promoção da saúde é apresentada por Downie, Tannahill e Tannahill (2000), que referem que a promoção da saúde “…compreende esforços para aumentar a saúde e reduzir o risco de doença, através das esferas de ação sobrepostas da educação, prevenção e proteção da saúde” (p.2).

A abordagem baseada em configurações para a promoção da saúde envolve um método holístico e multidisciplinar que integra ação sobre fatores de risco. Ela reconhece a importância do contexto e tem sido aplicada em cidades, escolas, hospitais, locais de trabalho, universidades, prisões e outras organizações. Ambientes saudáveis estabelecem um compromisso claro com a saúde e bem-estar, sendo necessárias estratégias transparentes para alcançar esse objetivo. Os princípios fundamentais de ambientes saudáveis incluem comunidade participação, parceria, empowerment e equidade. A LS é um conceito-chave na área da promoção da saúde e é uma dimensão essencial de ambientes saudáveis (WHO, 2013).

Quanto à definição de EpS, como meio de promover a saúde, não existe uma única, constatando-se que o traço comum implícito em todas elas é uma relação de ensino e aprendizagem que orienta para mudanças favoráveis. Nas diferentes conceções revistas é descrita como um valor; toda a educação que pretende ajudar o educando a adquirir conhecimentos (saber), a desenvolver a sua personalidade (saber ser) e a colocar em prática (saber fazer). Para que aconteça é necessário que o educando compreenda, analise, reflita, avalie e adquira competências (Martínez et al., 2000).

A EpS deve incluir oportunidades construídas de forma consciente para aprender, e deve envolver formas de comunicação projetadas para melhorar a LS, incluindo a melhoria dos conhecimentos e o desenvolvimento de aptidões de vida conducentes à saúde dos indivíduos e das comunidades. Para tal é necessário que envolva a comunicação de informação relativa à sociedade subjacente, às condições económicas e ambientais que influenciam a saúde, aos fatores de risco individuais e comportamentos de risco, e ao uso do sistema de cuidados de saúde. Deve estar, assim, não só relacionada com a comunicação de informação, mas também com a promoção da motivação, aptidões e confiança necessárias para intervir no processo de melhoria da saúde (WHO, 1998a).

A saúde é vital para a educação. A educação é vital para a saúde. Estudantes, famílias e comunidades saudáveis, têm níveis mais elevados de desempenho académico e são mais

produtivos anos mais tarde. As intervenções educativas desempenham um papel central na promoção e reforço da LS (Nutbeam, 2000).

A literacia influencia a capacidade das pessoas para aceder a informações. Os estudos de investigação em educação e alfabetização de adultos indicam que as influências da literacia na capacidade de aceder a informações e navegar em ambientes letrados, afeta as habilidades cognitivas e linguísticas e afeta a autoeficácia. O nível de literacia do indivíduo afeta diretamente a sua capacidade de acesso a informações de saúde e a sua capacidade de aprender sobre prevenção de doenças e promoção da saúde (WHO, 2013).

Muitos estudos explicam que as pessoas adquirem níveis de LS nas áreas social e cultural em contextos em que vivem. Como tal, a LS exige uma ampla variedade de oportunidades de aprendizagem. Algumas dessas oportunidades estão no interior de grandes instituições sociais, como a escola ou o sistema de saúde. No entanto, tal como para a maioria das habilidades básicas de vida, as pessoas aprendem com todas as situações e atividades ao longo da sua vida.

Outros contextos, tais como família, amigos, grupos de pares e meios de comunicação de massa, são importantes. Isto significa que uma ampla oportunidade de aprendizagem na LS deve ser oferecida em vários contextos de aprendizagem pessoal e social (WHO, 2013). Saúde, Promoção da Saúde e Educação para a Saúde, são, pois, conceitos essenciais e que devem estar presentes, quando se fala em LS.

2.1.2. Cidadania em saúde versus capacitação do cidadão