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CAPÍTULO II ENQUADRAMENTO PROFISSIONAL

2. Enquadramento da Prática Profissional

2.1. Contexto da Prática Profissional

2.1.2. A escola enquanto instituição

“A educação é hoje unicamente considerada um dos principais veículos de socialização e de promoção do desenvolvimento individual” (Carvalho, 2006)

A escola designa-se como um espaço reservado à educação e segundo Carvalho (2006), essa mesma educação deve ter como finalidade a promoção de mudanças desejáveis e estáveis nos indivíduos, que favoreçam o desenvolvimento integral do Homem e da sociedade.

Esta assume como pressupostos básicos, a socialização dos seus intervenientes e a formação dos mesmos na sua totalidade.

Se assumirmos que nessa globalidade se inclui a educação e a formação dos indivíduos a nível pessoal, intelectual, cultural, corporal e social, podemos compreender que no espaço escola, são transmitidos muito mais do que apenas os saberes teóricos. Nesta, para além dos constructos cognitivos, concebem-se também um conjunto de práticas, atitudes, valores e crenças que devem levar os alunos a serem detentores de múltiplos saberes e capacidades, a ser criativos e ainda, como refere Andrade (2017) a construir uma visão crítica e democrática para com a sociedade, em busca de objetivos e metas de futuro, preparando-os assim para os mais variados desafios que a vida lhe trará.

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Tendo em conta então esta perspetiva de escola, e tal como sugere Carvalho (2006), podemos assumir que esta é um veículo de transmissão de cultura, cultura esta que deriva não só dos Sistemas Educativos, que ilustram os valores que orientam a sociedade e o que esta quer transmitir, mas também que em grande parte, resulta da comunhão das diferentes historicidades e visões do mundo, das distintas escalas de valores, sentimentos, emoções, desejos e projetos (Dayrell, 1996), entre muitas outras caraterísticas que são inerentes aos indivíduos que compõem a escola, tais como professores, alunos, funcionários, acabando por criar ali uma cultura escolar exclusiva e única, que a vai definir e distinguir das demais.

“As organizações escolares, ainda que estejam integradas num contexto cultural mais amplo, produzem uma cultura interna que lhes é própria e que exprime os valores e as crenças que os membros da organização partilham” (Brunet, 1988, cit. por Nóvoa, 1992).

A escola é então hoje, composta por uma heterogeneidade de pessoas e culturas, contudo, o ensino não se encontra ainda totalmente preparado para esta diversidade cultural vigente nas escolas, continuando a possuir as mesmas diretrizes dos programas nacionais que são impostas para todas as escolas e para todo o tipo de alunos, acabando assim por ignorar as diferentes caraterísticas, interesses e necessidades dos mesmos, e enfatizando um ensino idêntico para todos, na procura de um aluno médio.

Vivermos então num paradigma de escola, em que esta despreza de certo modo, a criatividade e a expressão corporal dos seus alunos, uma vez que atribui cada vez menos espaço e tempo a este tipo de disciplinas no currículo escolar, facultando uma maior importância a outras que são submetidas aos exames nacionais, como português e matemática, por exemplo.

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“… tem-se assistido à implementação de um currículo marcado por uma visão utilitarista e redutora da escolaridade, demasiado centrada em resultados de exames nacionais e em objetivos instrumentais, restringindo, marcadamente, a ação educativa.” (Batista & Queirós, 2015)

Durante a minha primeira experiencia pedagógica, e até enquanto estudante, verifiquei a existência desta situação variadas vezes, todavia no meu caso em particular em contexto de estágio, fiquei encarregue de exercer a profissão docente a turmas de cursos profissionais, e pude assim verificar que este tipo de ensino é detentor de uma estrutura modular, estrutura esta que lhe permite uma organização curricular flexível, que respeita as especificidades, as necessidades e os diferentes ritmos de progressão e de aprendizagem dos alunos. Esta disposição permite também uma organização do ensino geradora de aprendizagens individualizadas relevantes, significativas e integradoras, sendo um bom meio de respeitar as diferenças e as necessidades individuais dos estudantes e garantir a diversidade de percursos (NACEM-Orvalho, Graça, Leite, Marçal, & Silva, 1993).

Este é um olhar que deveria estar inerente a todo o contexto escolar, contudo ainda há longos caminhos a percorrer.

Retomando o olhar da escola enquanto instituição, transmissora e possuidora de uma cultura, considero que, apesar do sistema educativo estar desenhado da mesma forma para todas as organizações escolares, com as mesmas disciplinas e os mesmos programas, esta acaba por gozar de uma estrutura flexível, no sentido em que cada escola tem, ou deveria ter, em consideração o meio em que está inserida, atendendo assim às necessidades da sociedade e ao contexto sociocultural que a envolve. Essa flexibilidade proporciona-lhe ainda uma autonomia na operacionalização do seu currículo, desde a estruturação do seu ensino e o modo de organização pedagógica, a escolha dos seus planos de estudos e ainda a construção dos seus projetos educativos, tornando-se cada uma possuidora das suas próprias normas,

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embora respeitando os referenciais normativos vigentes nas politicas educativas nacionais. Ademais, é ainda detentora de espaços próprios, cabendo-lhe o poder de decisão da distribuição dos mesmos para as diferentes atividades de ensino que nela se realizam, a constituição dos seus horários, a criação das suas turmas e a escolha das disciplinas e cursos que quer oferecer à comunidade.

Tendo em conta o que foi supracitado, é necessário e essencial que as escolas ao usufruírem desta flexibilidade e autonomia que lhes é atribuída, proporcionem aos seus estudantes um melhor ensino, um ensino que respeite a diversidade, as individualidades, que acompanhe os ritmos e as necessidades dos alunos, que seja um espaço onde os saberes, os saberes- fazer e a criatividade sejam incentivados, tal como se verifica, por exemplo, no currículo dos cursos profissionais e em algumas escolas do país, tais como a Escola da Ponte em Santo Tirso.

Torna-se, por isso, importante rever-se inicialmente a um nível macro (político) e posteriormente ao nível de escola (institucional), os currículos e as diretrizes do sistema educativo, que visam que todos são iguais, que todos possuem as mesmas caraterísticas e que todos têm de acompanhar os ritmos que a sociedade e o avanço das tecnologias induzem. Deve-se então optar por reformas educativas que atendam e respeitem todos os níveis e ritmos de aprendizagem dos alunos, promovendo assim o desenvolvimento individual e global de cada um, não fossem eles a peça central de todo o processo educativo.

Pondo isto, considero que era extremamente importante e beneficiário que o sistema educativo vigente em Portugal nos vários cursos curriculares começasse a orientar-se pelas mesmas políticas educativas dos cursos profissionais, dado que as suas diretrizes inovadoras se orientam para uma educação para todos, que respeita as individualidades e que inspira “rumos de

mudança e de melhoria do sistema público de educação escolar” (Azevedo,

2008). Não que considere que o ensino profissional está a ser implementado da melhor forma, contudo possui uma visão muito mais inovadora, competente e positiva comparada com o ensino dito regular.

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