• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II ENQUADRAMENTO PROFISSIONAL

2. Enquadramento da Prática Profissional

2.2. Enquadramento Funcional da Prática Profissional

2.2.2. A minha turma (de EF)

A minha turma.

A minha primeira turma, aquela que nunca hei-de esquecer e que irá ter sempre um lugar no meu coração, pois será para sempre a primeira.

Quando falamos em escola, educação ou ensino, o nosso pensamento e o nosso discurso acabam por se remeter inevitavelmente para os seus principais agentes – os alunos e os professores.

O que era a escola se não existissem alunos? E o que era essa mesma escola se não existissem os professores? Estes desenvolvem uma relação de simbiose, em que ambos não conseguem nem podem subsistir um sem o outro.

Tudo que envolve a docência e neste caso o estágio profissional, compromete esta relação, tendo assim os alunos um papel crucial em todo o processo da construção da profissão docente.

Dando então início o ano letivo, em reunião de núcleo de estágio com a Professora Cooperante, fiquei a conhecer, embora de uma forma resumida e

44

verbal, a turma que iria ficar ao meu encargue, onde desempenharia pela primeira vez as funções de docente, cabendo-me o árduo e nobre papel de contribuir para a sua formação, tanto individual como globalmente, enquanto cidadãos pertencentes a uma sociedade em constante evolução.

Essa turma do 11º ano, composta inicialmente por 21 alunos, onde a maioria pertencia ao género masculino (18) e apenas três ao género feminino, frequentava o Curso Profissional Técnico de Apoio à Gestão Desportiva. Esta apresentava uma grande taxa de reprovações (11 alunos repetentes), encontrando-se assim a faixa etária compreendida entre os 16 e os 19 anos, no início do ano letivo.

Sendo justamente aquele grupo de alunos, que seriam o ponto central de toda esta minha nova experiência de estágio profissional e tendo eu apenas mais quatro anos do que alguns alunos, uma estatura relativamente baixa e sabendo do escasso conhecimento que possuía acerca daquele ensino, todas estas informações incitaram em mim uma grande inquietação, nervosismo e insegurança, fazendo-me julgar que não estaria à altura daquela tarefa.

Todavia, após conhecer a turma, fiquei desde logo empolgada. Esta era constituída na sua maioria por alunos que praticavam algum tipo atividade desportiva, de forma regular, fora do contexto escolar, sendo este um dado extremamente importante para a minha atuação enquanto professora de EF naquela turma, pois demonstrava que os alunos possuíam, à partida, uma grande predisposição para a prática desportiva, deixando ao meu encargo um grande desafio.

“A análise dos pressupostos dos alunos – em conhecimentos, em capacidades e habilidades – constitui por isso uma tarefa principal para o estabelecimento da estratégia do professor. Ajuda a fixar os pontos fulcrais do conteúdo e da educação numa dada turma. Com base nela pode também o professor adotar medidas de diferenciação no ensino”. (Bento, 2003, p. 33)

45

Era evidente a boa condição física da maioria dos alunos em praticamente todas as modalidades que lecionei, contudo nem todos tinham o mesmo nível de desempenho. Como em muitas outras, a turma continha vários níveis de desempenho motor. Existia um grupo de alunos bastante bons, um grupo mais reduzido que embora pudessem evoluir e ter uma melhor prestação, eram bastante desinteressados mostrando um nível mediano, e ainda dois alunos em que eram evidentes, a nível físico, algumas necessidades especiais, perfazendo então o nível mais baixo.

Estas especificidades fizeram com que todos os planeamentos que realizei, anual, de unidade didática e particularmente de aula, detivessem de uma atenção acrescida e de uma grande especificidade e exigência relativamente ao nível dos alunos e ao que constava nos programas de EF inerentes aos CP.

Coube-me uma abordagem criativa perante esse mesmo planeamento, que respeitasse todos os níveis dos alunos. A minha prestação orientou-se assim sempre, para o aperfeiçoamento das capacidades motoras e das habilidades técnicas dos meus alunos, na busca constante do progresso e evolução de todos.

O comportamento por sua vez, era a sua pior caraterística, sendo este um assunto que fez “correr muita tinta” nas minhas reflexões, tal como se verifica no excerto seguinte que retirei de uma das minhas reflexões, presente no meu diário de bordo:

“… embora os alunos demonstrem uma boa predisposição para a prática

(…) o seu comportamento acaba por os prejudicar. Sendo este um aspeto que tem sido mencionado pelos vários professores da turma, também continua a ser um dos fatores que mais me tem entristecido e aborrecido na minha aula”.

(Diário de bordo, 17 de janeiro de 2018)

A procura de soluções para poder melhorar o mau comportamento da turma resultou numa grande variedade de estratégias utilizadas, desde conversas com a turma na tentativa de os chamar à razão, à atribuição de castigos como ir-se sentar, contudo percebi que nenhuma destas estratégias estava a ter o resultado esperado. Percebi então que o problema poderia ser

46

meu, na escolha e na aplicação dos exercícios que planeava, uma vez que estes deveriam ter como caraterísticas uma grande intensidade que os envolvessem significativamente a nível motor e com tempos de espera bastante reduzidos, não permitindo assim a ocorrência de situações indesejáveis.

Assim, com o tempo, com o ganho de experiência, com paciência e determinação, na constante procura de me superar e para para poder proporcionar aos meus alunos um ensino-aprendizagem de excelencia tudo se acabou por resolver:

“O aspeto que mais se fez realçar (…) foi o comportamento dos alunos.

Esta situação, de comportamentos inapropriados ou desviantes pela parte de alguns alunos da turma, tem-se feito notar em muitas das minhas reflexões, onde tenho vindo a procurar solucionar este aspeto com a aplicação de algumas estratégias. Nesta aula optei então pela escolha de exercícios bastante dinâmicos, com curtos tempos de espera, que mantivessem os alunos em constante movimento e empenhados na tarefa, evitando assim situações de comportamentos inapropriados ou desviantes. O resultado, para minha surpresa, foi bastante positivo e pude começar a notar uma significativa melhoria. Os alunos mostraram-se sempre empenhados na tarefa, não existindo tempo para eventuais comportamentos impróprios.” (Diário de bordo,

9 de fevereiro de 2018)

Os meus alunos foram sem dúvida, a peça central de todo o processo da minha construção docente. A mim, na qualidade de sua professora coube-me então o árduo e nobre papel de os formar individual e globalmente enquanto cidadãos pertencentes a uma sociedade.

Tive a sorte de iniciar a minha prática profissional com uma turma constituída com alunos educados, atenciosos e divertidos, dotados de uma excelente predisposição para a prática, o que me desafiou todos os dias para levar os melhores exercícios, que acompanhassem o seu alto nível de desempenho e exercitação, e que ainda, apesar de me terem aborrecido inúmeras vezes devido ao seu comportamento desadequado, sempre me

47

respeitaram e acataram as minhas instruções, turma esta que irá ter sempre a caraterística de terem sido os “meus primeiros alunos”.