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CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO PESSOAL

1. Enquadramento Biográfico

1.2. A expetativa vs a realidade

Após terminar o primeiro ano do curso de mestrado em EEFEBS, o meu pensamento recaiu inevitavelmente no próximo passo, na realização do Estágio Profissional, que preenche grande parte do currículo do segundo ano deste curso. A ansiedade e o “nervoso miudinho” fizeram-se instalar sorrateiramente, pois estava prestes a iniciar uma das mais importantes fases da minha vida enquanto estudante - o momento em que culminava a minha formação académica e me colocava naquele papel que há muito desejava, o ser Professora de Educação Física (EF), iria ter a oportunidade de convocar, num contexto real, todos os conhecimentos, capacidades e competências adquiridas ao longo dos quatro anos de formação, três no curso de Licenciatura mais o primeiro ano no mestrado em EEFEBS.

A ansiedade e o nervosismo fizeram-se sentir, ainda mais, quando surge o momento de saber qual a escola que me iria receber para realizar a prática de ensino supervisionado. Dado que não tinha conhecimento da escola em que

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fiquei colocada, nem do seu contexto funcional e/ou prático, perguntas como “como será a escola?”, “como serão os meus alunos?”, “terei as competências e saberes necessários para realizar este estágio?”, surgiam constantemente. Contudo, nunca deixei que estas inseguranças me tomassem definitivamente, pois, tendo em conta a minha pouca experiência, que me tornava um pouco vulnerável, tive sempre presente que ao longo deste estágio iria ter que continuar a estudar muito, a dedicar-me e a empenhar-me na busca de novos conhecimentos e de novas aprendizagens, superando-me dia após dia.

Ainda, retirar o melhor proveito das experiências que o Estágio Profissional me traria, sempre com o objetivo de proporcionar aos meus alunos uma aprendizagem de excelência e colocar-me, assim, num caminho seguro para me tornar numa boa professora de EF.

Soube, então, que Escola Secundária António Nobre era a escola que me iria receber durante o ano letivo de 2017/2018. Com tantas coisas novas a acontecer, dando-se as primeiras adaptações a esta nova realidade, surge, logo durante a primeira reunião com a professora cooperante, o meu “primeiro impacto com a realidade”: o momento em que percebi que o meu estágio não iria apenas incluir a lecionação de aulas de Educação Física a turmas do ensino regular, mas que englobaria turmas de Cursos Profissionais acarretando com isto, o ensino de aulas de cariz teórico.

Segundo o regulamento dos cursos profissionais do AEAN (Artigo 2.º)1 “Os cursos profissionais de nível secundário constituem uma modalidade de educação com forte ligação ao mundo do trabalho. Visam o desenvolvimento de competências para o exercício de uma profissão, constituindo uma alternativa de formação ao ensino secundário regular.” (Nobre, 2015/2017).

Tendo em conta esta definição, que irá ser desenvolvida e complementada no ponto 3.1.1.2 deste relatório, os Cursos Profissionais possuem uma estrutura modular, ou seja, as suas unidades de aprendizagem (disciplinas) são distribuídas por diferentes módulos. Sendo, então, as turmas da minha Professora Cooperante do Curso Profissional Técnico de Gestão Desportiva, as disciplinas que lhe ficaram destinadas incluíam matérias do

1 In Regulamento dos Cursos Profissionais do Agrupamento de Escolas António Nobre, 2015/2017

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Desporto, contudo de cariz exclusivamente teórico, como por exemplo, Fisiologia do Exercício, Gestão de Instalações Desportivas, Basquetebol, Voleibol, entre outras.

Sendo escasso o meu conhecimento acerca deste tipo de cursos e das suas caraterísticas e estando eu já bastante ansiosa e nervosa com o início desta nova etapa, toda esta situação fez agravar todos os anseios primordiais. Não iria apenas lecionar aulas de EF, com todas as caraterísticas especificas que as distinguem das aulas de “disciplinas curriculares” que normalmente se designam como teóricas. E agora?! Se me sentia insegura para lecionar EF, como seria nas disciplinas teóricas?

Tal como refere Hüberman (2000) (cit. por Queirós, 2014), “a entrada na

profissão nem sempre é vivida de modo positivo pelos professores principiantes” e identifica dois estádios desta fase de carreira docente: o da

sobrevivênvia e o da descoberta. Naquele momento passei sem dúvida pelo primeiro estádio, pelo choque com o real, pelo confronto inicial com a complexidade da situação profissional e pela constante preocupação comigo própria.

Contudo, passado o choque maior, percebi que ter de lecionar matérias diferentes de EF não passava de mais um desafio e comecei a olhá-lo como um estímulo para me superar e mostrar a mim mesma que era capaz, sendo assim uma nova experiência que iria alargar o espetro das competências profissionais desenvolvidas e consequentemente me iria tonar numa melhor profissional. E, assim, passei ao estádio seguinte, o da descoberta, onde comecei a sentir o entusiasmo e o gosto de ser professora.

Com o tempo fui adquirindo experiência, que me possibilitou atender à exigência das diferentes matérias que lecionava, tanto nas disciplinas de sala de aula como na de EF, com muito estudo, preparação, persistência e dedicação e claro, com a ajuda da professora cooperante, tornando-se tudo muito mais simples.

Ao desafio de realizar as tarefas resultantes da PES num Curso Profissional, um dos meus maiores desafios, juntaram-se muitos mais. Como por exemplo, já em sede de realização do ensino, a gestão da aula, a

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resolução de conflitos, a atribuição de classificações, enfim, a construção de toda a prática pedagógica, com especial relevância a relação com os alunos.

Realizando um breve apanhado, ao longo deste ano tive duas turmas de cursos profissionais, de 10º e 11º ano, lecionei disciplinas com distintas naturezas, organizei, no âmbito das que se realizavam em contexto de sala de aula, atividades práticas que proporcionassem aos meus alunos novas vivências e experiências onde puderam adquirir um conhecimento mais intrínseco e eficaz, integrei-me no desporto escolar, onde passei muito bons momentos mas, sobretudo, onde me foram possibilitadas novas formas de abordagem e métodos de ensino, que me auxiliaram sem dúvida no meu desenvolvimento enquanto professora. Entre muitas outras coisas, que decorrem também fora do contexto de sala de aula, na convivência com os meus alunos e no simples convívio pelos corredores da escola.

Sendo o ponto central do ensino os alunos, considero que estes, foram sem dúvida uma das grandes fontes de conhecimento, pois foram eles que, no dia-a-dia me ensinaram e ajudaram, desafiando-me a ser cada vez melhor, a superar e a aperfeiçoar a minha prática pedagógica. Neste aspeto, não poderia ter tido melhor, pois tanto a minha turma residente, como a turma partilhada, tinham alunos bastante aplicados, motivados e ainda dotados de uma excelente predisposição para a prática. Toda esta situação de estágio profissional desafiou-me todos os dias e obrigou-me a superar e aperfeiçoar cada planeamento, para levar para a aula os melhores exercícios que acompanhassem e elevassem o alto nível de desempenho e de exercitação dos alunos.

Agora, passado este tempo e terminando o ano letivo, considero que o ano de estágio foi um ano repleto de ensinamentos, de vivências e de experiências, pois tive a sorte de poder trabalhar com dois professores cooperantes que sempre me apoiaram e me ajudaram neste processo e que sempre me deram a liberdade e incentivaram a por em prática as minha ideias e projetos.

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“… é nos contextos de ensino reais, em contacto diário com professores experientes, que os futuros professores apreendem a generalidade dos elementos que perfazem a atividade do professor.” Keya, 2007 “ (…) as aprendizagens profissionais são adquiridas de forma mais eficaz quando situadas no ambiente profissional e em colaboração com profissionais experientes.” (Jones e Straker, 2007, cit. Por Batista & Queirós, 2015, p. 33)

Concluindo, percebi que é ao longo do EP que se dá a consolidação de todos os nossos saberes e aptidões adquiridas ao longo da formação académica. É neste que os invocamos e os pomos em prática nas várias situações que nos vão surgindo, em frente dos nossos alunos, no contacto com os mesmos, aquando lhes ensinamos uma modalidade e eles nos põem à prova sempre que nos colocam uma dúvida. É na preparação das aulas que demoram horas a ser construídas pois queremos sempre escolher os melhores exercícios para a nossa aula. É na lecionação das aulas, onde por vezes verificamos que o nosso planeamento não está a resultar da melhor forma e temos que imediatamente o modificar. É na frustração que sentimos no final de uma aula quando esta, na nossa perspetiva, não decorreu conforme planeado. É a alegria e satisfação quando acontece o contrário, é nesses momentos, durante a prática propriamente dita, que verificamos que é ali que se dá a verdadeira aprendizagem do ofício, e que o resultado disso é a nossa passagem progressiva de estudantes para professores.

Tudo isto tornou este num ano inesquecível, que sem dúvida me irá deixar saudade. Como refere Batista & Queirós (2015), este ano ofereceu-me a oportunidade de imergir na “cultura escolar nas suas mais diversas

componentes, desde as suas normas e valores, aos seus hábitos, costumes e práticas…”, conheci professores extraordinários, extremamente profissionais e

competentes, dotados de muitos conhecimentos e experiencias e que os fizeram passar da melhor forma, tive dois colegas do núcleo de estágio, que apesar de ter existido pouco contacto e troca de ideias, foram parte integrante

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deste processo, os funcionários, que sempre me trataram particularmente bem, sempre dispostos a ajudar-me, e por último os meus alunos, que foram a parte fulcral de todo este processo e que sem eles nada disto era possível, melhor dizendo, foi a interação de todos estes intervenientes que possibilitou e proporcionou, de uma forma sensacional, a minha transformação de aluna em Professora de Educação Física.

1.3. O Estágio Profissional em EF: O meu entendimento vs