• Nenhum resultado encontrado

A Espera Escatológica

No documento Download/Open (páginas 108-111)

3.1 A ESPERANÇA E SEUS REFLEXOS TANGÍVEIS

3.1.2 A Espera Escatológica

A relação tempo presente e futuro, encontrada no Apocalipse de João, comprova que “sua mensagem é um apelo a compreender o tempo presente como o começo dos eventos escatológicos finais” (KOESTER, 2005b, p. 271), demonstrando assim a relação entre esperança e escatologia na literatura sagrada.

Desta forma, desenvolveremos a compreensão da esperança e escatologia que gera vida ao sentido da história. As escrituras sagradas, ao ser lida como um livro de história, fornece informações sobre “as ações divinas na história universal” (MOLTMANN, 1971, p. 70). Assim, as revelações de Deus, vistas como eternas, passam a ser consideradas como evento final do processo decisivo na história.

As etapas da história salvífica, mostra gradualmente o desvelar dos processos necessários para alcançar a salvação, dessa forma Moltmann (1971, p. 70) a descreve:

Com isto, a revelação de Cristo é inserida numa história da revelação, que a envolve e cuja progressividade é expressa pelo pensamento do desenvolvimento salvífico realizado através de graus e estágios, de acordo com um plano de salvação pré-elaborado por Deus.

Esta revelação histórica, desenvolvida no cristianismo, toma como princípio a compreensão judaica, trilhando um caminho através da experiência veterotestamentária. Esta, arraigada na experiência de promessas, de expectativas e esperanças.

Assim, podemos inferir que a religião judaica se fundamenta sobre promessas, pois os fatos “não manifestam a presença do absoluto, como nas religiões da epifania, mas são percebidos como a frente do tempo que avança diretamente para a meta da promessa” (GILBELLINI, 1998, p. 283).

Tal fator faz com que a esperança das coisas vindouras desenvolva normas de conduta a partir dos padrões éticos estabelecidos:

Por isto, as representações sobre as últimas coisas devem ser vividas eticamente e presencializadas no campo da razão ética, das potencialidades práticas do indivíduo. (MOLTMANN, 1971, p. 39)

Diante do domínio divino sobre todos os povos, a promessa atinge seu ‘eschaton’, quando aponta para uma realidade escatológica mediante a negação da morte, onde seu caráter escatológico passa a se referir ao futuro histórico intensificado e radicalizado para todos os povos:

Escatologico significa aqui um futuro universal e radical; universal : não o

todos os povos; ífico de um povo, e sim um futuro que se estende a todos os povos; radical : um futuro não apenas em termos de vitória sobre a forma e a pobreza, sobre a humilhação e as ofensas, sobre as guerras e sobre o politeísmo, e sim um futuro que se estende – como um non plus ultra, como um novum ultimum – para além do que se considera o extremo limite da existência : um futuro para além da morte. (GIBELLINI, 1998, p. 283)

Da mesma forma, o futuro universal configura-se através de um nova perspectiva histórica, nela, a condição para o desenvolvimento da narrativa da salvação manifesta-se através da “esperança e do pensamento apocalíptico, o qual, tanto do ponto de vista teológico como profano, está ligado à ideia do nascimento de um ‘novo tempo’” (MOLTMANN, 1971, p. 72).

Em razão disto, o evangelho não necessariamente descreveu o cumprimento das promessas. Ele aponta para o futuro da salvação escatológica, apresentado um caráter promissório, reiterando promessas acerca do futuro do Cristo ressurreto:

A ressureição de cristo e ratificação (bebáiosis) das promessas precedentes, mas ela mesma é promessa universalizada e radicalizada em perspectiva escatológica: promissio inquieta que não encontra repouso a não ser na ressureição dos mortos e na totalidade do novo ser. (GIBELLINI, 1998, p. 284)

Desta forma, as visões do futuro, enquanto verdade, fundamentam os padrões de pensamento da objetivação e subjetivação. A história não poderia assumir uma significação da verdade para teologia, mas sim subordinar esse universo de eventos à luz da promessa e da esperança, como preceitua Moltmann (1971, p. 100-01):

A teologia cristã mostra a sua verdade a respeito da realidade do homem e do mundo cerca o homem, quando toma a questionabilidade do ser do homem e da realidade com um todo e a insere dentro da questionabilidade escatológica do ser do homem e do mundo, revelada pelo evento da promessa. “Ameaçado pela morte” e sujeito ao nada”: eis a expressão da experiência universal do ser do mundo. “Para a esperança”: eis a maneira como a teologia cristã assume as questões e as orienta em direção ao futuro prometido.

Determinada noção de promessa acaba por gerar a missão, segundo Moltmann (1971), de esperança da fé em ação, fazendo então com que a comunidade cristã sobreviva no intuito de “eclesialização do mundo”, descortinando assim, um horizonte de esperança para toda humanidade.

Em diálogo com Gibellini (1998, p. 283), o princípio teológico que fundamenta a esperança é a fé, pois a esperança deriva da fé:

E, nessa relação dialética, a prioridade pertence à fé: a esperança é esperança da fé; o primado pertence a esperança, a fé se expande em esperança e é somente por meio da esperança que ela atinge a seu horizonte que tudo abarca.

Portanto, a visão do futuro prometido, na qual o mundo passa a ser percebido pela esperança como história, promove o caminho para a direção escatológica da ressureição assumindo formato factual sobre a história.

Tendo em vista a proposta de teologia escatológica de Moltmann, a revisão de temas do cristianismo se dá através das noções de esperança, promessa e de missão. Dessa forma, “a Bíblia é o livro da revelação, na medida em que é o livro da promessa divina; a promessa alimenta a esperança; e a esperança impulsiona a missão” (GIBELLINI, 1998, p. 286).

Além disso, o horizonte escatológico se torna factual através da experiência da “progressividade escatológica da história da salvação, partindo de outros ‘sinais dos tempos’, que não a cruz e a ressurreição” (MOLTMANN, 1971, p. 71).

Analisando por esta questão, Gibellini (1998, p. 288) define a teologia da esperança ao afirmar que:

O objetivo da teologia da esperança era abrir ao presente o futuro da justiça, da vida, do reino de Deus e da liberdade do homem, na esperança, que encontra garantia e fundamento na ressureição, já acontecida, de cristo: do presente de cristo se extrapola o futuro do Reino de Deus em termos de escatologia do futuro, como corretivo da escatologia do presente. (GIBELLINI, 1998, p. 288)

Deste modo encontramos uma forte tentativa de tornar a teologia “interprete da história e do sofrimento humano, onde a teologia da esperança desenvolve-se com ‘uma escatologia cristológica’” (GIBELLINI, 1998, p. 292) fundamentada no Deus crucificado e milagrosamente ressuscitado.

As aparições pascais do ressuscitado, quanto ao seu futuro, devem novamente serem compreendidas em função das promessas véterotestamentárias, que neste caso:

As testemunhas pascais percebem o ressuscitado não a luz de uma eternidade celeste e supraterrena, mas como manifestações e irrupção do futuro escatológico do mundo. (MOLTMANN, 1971,p. 91)

Na análise de Gibellini, o mesmo sustenta que a glória futura encontra-se através do ressuscitado, pelo fato de se encontrar em movimento, a caminho de seu objetivo:

Na cristologia escatológica, a partir de cristo, se olha para a frente, na direção do éschaton, e então o ponto privilegiado de observação é a ressureição de cristo, que torna possível vislumbrar o futuro prometido por Deus; na escatologia cristológica, ao invés, a partir do éschaton, olhamos para trás, para o evento Cristo, e passamos a nos perguntar como o futuro Reino de Deus se manifesta na realidade do presente. Os dois caminhos teoréticos devem ser igualmente percorridos. (GIBELLINI, 1998, p.292)

Essa é uma relação dialética, pois ao passo que a sequência de fatos pronunciados caminham para o seu cumprimento, o horizonte escatológico futuro da revelação cristã se apresenta no processo histórico presente:

O homem, alcançado pela revelação de Deus na promessa é, ao mesmo tempo, identificado (como aquilo que ele é) e diferenciado (como aquilo que ele há de ser); ele “entra em si mesmo”, mas em esperança, pois inda não foi tirado do meio da contradição e da morte. (MOLTMANN, 1971, p. 96-7) A escatologia cristológica do “Deus crucificado confere profundidade e radicalidade à esperança, introduzindo no momento messiânico a história da paixão humana” (GIBELLINI, 1998, p. 293), transformando as perspectivas e ligando o passado com o futuro.

Essa auto revelação divina surge como prova, na qual Deus apresentada para si próprio, mostrando em si, a possibilidade de aplicação de estruturas “da personalidade e da existência pessoal própria, da auto-refexão e da autodescoberta” (MOLTMANN, 1971,p. 51).

A escatologia e a esperança largamente teorizada aqui, demonstra que a escatologia é absorvida pela história e a esperança e contraída para cada um, “aqui o éschaton é a possibilidade, oferecida pela fé de transformar cada momento da existência em momento escatológico” (GIBELLINI, 1998, p. 281).

Levando-nos à necessidade de uma revisão escatológica da realidade, pois com a ressureição sua obra não se apresenta concluída ou encerrada, e suas futuras aparições forma percebidas com antecipação de um futuro que estar por vir, provocando testemunhos e missões.

Portanto, podemos afirmar que “a tônica na escatologia é típica para a teologia da libertação como também para outras formas de pensar teológico na atualidade” (BRAKEMEIER, 1984, p. 7). Desta forma a escatologia se manifesta através dos tempos.

No documento Download/Open (páginas 108-111)