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A ESTRADA REAL PARA LÁ

No documento Magazine de Ficcao Cientifica 03 (páginas 98-115)

Robert M. Green Jr.

seu lugar não era no banco da frente, lutando por excelentes posi- ções no colo do motorista; atrás, à direita, a filha de 12 anos que acreditava: (A) que sua irmã mais velha era uma ameaça à paz do mundo e (B) que um quilômetro era na realidade dez quilômetros; então, porque ainda não estamos “lá”?; e à direita, um briguento menino de oito meses que já estava cheirando a leite azedo e fral- das completamente aproveitadas, sentado no colo da amada espo- sa, convencida de que os freios devem ser inteiramente aplicados à primeira vista da lanterna trazeira de um carro, quatrocentos metros à frente, e que ia acabar afundando seu pé direito no soalho antes de percorridos mais quinhentos quilômetros.

— Não é justo — resmungou a de 13 anos. — Quase não há sinais do meu lado.

— Eu vi um Q — disse a de 12.

— Ora, você não viu — respondeu a de 13.

— Vi, sim — insistiu a de 12, que era a única pessoa viva que John Jackson conhecia capaz de escrever Washington de cin- co maneiras diferentes em um único parágrafo. — Dizia: “’Próximo Posto de Serviço a Q quilômetros”.

— Era dois — corrigiu a de 13 anos.

— É a mesma coisa — disse a de 12 anos. — Eu escrevo Q desse jeito.

— Você está roubando — disse a de 13 anos. — Não brinco mais. Não tem graça.

— Nunca imaginei que iria sentir falta de tabuletas de anún- cio — disse John. — Daria muito dinheiro por um jingle de creme de barbear.

— Escute, filho, — falou a esposa — e se chegarmos a Jack- son City e tudo não passar de uma brincadeira...?

— Não sei. Jackson City é um belo lugar. Eu me divertia mui- to lá. As crianças podem ir nadar no lago e aposto como ainda há concertos de banda no parque, à noite.

— Santo Deus. Oitocentos quilômetros disto para ouvir um concerto de banda no parque.

— Bem, havia barris e barris de verdadeira cerveja. Não des- sa água choca pasteurizada.

— Como é que você sabe? Você não voltou lá desde quando tinha 10 anos.

as meninas.

— O quê? Cerveja de barril ou água choca pasteurizada? Exatamente nesse momento, o cão Labrador, cujo nome era Labrador, saltou ao colo da menina de 13 anos.

— Mamãe, faça Labrador descer do meu colo. Êle esta chei- rando mal.

— Você sabe que Labrador não faz nada do que eu mando. — Empurre-o para o meio do banco — sugeriu John Jack- son.

— Não consigo — disse a de 13 anos. — Está cheio de ma- las.

— Então empurre-o para o chão. — Êle não quer ir.

— Sente-se você no chão. — Não posso. Eu vomito.

— Vocês sabiam? — perguntou John Jackson. — Toda esta grande rodovia é uma lápide funerária para Tio Charley.

Conversa para matar o tempo.

— Oh! não — queixou-se a de 13 anos. — Empurrei Labrador para fora e Toycollie subiu.

— Graças a Deus não trouxemos o Pato e a Tartaruga — dis- se John Jackson.

— Como poderíamos ter trazido a Tartaruga? — perguntou a de 12 anos. — Você a pôs na bacia e deu descarga.

— Eu não fiz isso — desmentiu John Jackson. — Bem, se você não fêz, onde está ela?

— Por acaso sou eu o guarda de sua Tartaruga?

— Você tem certeza de que verificou a água do radiador na- quele último posto? — perguntou a espôsa.

— Claro que tenho certeza. Deixe as preocupações para mim.

— Toycollie está lambendo meu rosto — disse a de 13 anos, — Eu vou vomitar.

— É muito bom deixar as preocupações para você — insistiu a esposa.

— Mas como é possível saber com que você se está preocu- pando, se a agulha indica sempre que o motor está fervendo?

— Saem nuvens de vapor quando ferve de verdade — expli- cou John Jackson. — Não se preocupe. Eu sempre sei.

— Isso foi o que você disse na última vez — lembrou a esposa. — Aquela vez que estávamos voltando de Michigan. Lembra-se?

— Ninguém quer saber porque estamos rodando sobre a lápi- de funerária de Tio Charley? — perguntou John Jackson.

— Eu sei — respondeu a de 13 anos. — Vovô Jackson me contou. Ele fazia carruagens. Pensava que todo mundo ia enjoar nos automóveis e voltar às carruagens com cavalos. Não queria deixar ninguém construir rodovias neste condado, nem mesmo pôr piche nas estradas.

— Isso me parece exagero — comentou a esposa. — A pessoa não pode impedir que haja rodovias mesmo que seja dona da terra. Eles simplesmente vêm e desapropriam...

— Acho que ninguém está ligando para isso — disse a de 12 anos. — Mas nós já passamos Jackson City. Não há mais sinais.

— Ora, vamos — disse John Jackson. — Há um sinal de dez em dez quilômetros. Temos ainda mais de seiscentos e cinqüenta quilômetros a percorrer.

— Faz uns cem quilômetros que não há um sinal — insistiu a de 12

— Acabamos de passar um, cerca de oito quilômetros atrás — afirmou John Jackson. — Dizia “Jackson City, seiscentos e ses- senta quilômetros”.

— Isso não foi há oito quilômetros.

— O que eu sei — continuou a de 13 anos — é o que Vovô Jackson me contou e êle devia saber. Disse que teriam construído esta rodovia dez anos antes se não fosse Tio Charley.

— Ora, isso é bobagem — disse a esposa. — Tio Charley está morto há milhões de anos. John! Você está correndo muito. Aquele carro lá na frente está reduzindo a velocidade para fazer uma cur- va.

— Que carro? Eu não trouxe binóculos.

— Será que ninguém é capaz de tirar Toycollie do meu colo? — perguntou a de 13 anos.

— Eh! Vem vindo um sinal — disse John Jackson.

— “Jackson City, seiscentos e oitenta quilômetros” — cantou a de 12 anos, que era a Cantora Oficial de Sinais.

— Engraçado — disse John Jackson. — Eu seria capaz de jurar que o último sinal dizia seiscentos e sessenta quilômetros.

monstrinho. John, precisamos parar em algum lugar para trocar a fralda deste moleque.

— Estou procurando um lugar.

— Quando morreu seu Tio Charley? — perguntou a esposa. — Ninguém, sabe — respondeu John Jackson. — A última vez em que o vi foi em 1925 ou 1926. Eu tinha uns oito anos e di- ziam então que ele tinha quase cem.

— Quer dizer que êle desapareceu? Seja como fôr, não enten- do como êle poderia ter impedido o trabalho nesta rodovia. Ela só foi planejada há uns dez anos.

— Esse é o grande mistério da família. Sabe? Êle sempre pensou que estava fazendo uma grande coisa por Jackson City, por manter em funcionamento a velha fábrica de carruagens, de- safiando a indústria automobilística. Simplesmente sabia que na realidade, o povo secretamente desejava cavalos e carruagens, com estradas de terra à sombra de árvores, cobertas de sujeiras de par- dais e de cavalos. Maçãs de estrada. Oh! êle produziu uma linha de carros elétricos para senhoras delicadas; uma de minhas tias guiava um deles, mas sua verdadeira paixão era por cavalos, car- ruagens e cocheiras de aluguel.

Pouco lhe importava quanto dinheiro perdia, em primeiro lu- gar porque podia dar-se a esse luxo e, depois, porque tinha tran- qüilo conhecimento de que seria o único fabricante de carruagens em grande escala nos Estados Unidos, quando o povo enjoasse dessas geringonças modernas movidas a gasolina. Foi lá pelos fins da década de 1920 que êle começou a perceber que não era esti- mado em Jackson City. As pessoas que não riam dele pelas costas, assinavam petições para que as estradas fossem pavimentadas e alargadas. Por isso, mudou sua fábrica inteira, com tudo quanto tinha dentro, para uns milharais que possuía, trezentos ou qua- trocentos quilômetros a leste de Jackson City. Construiu uma ci- dadezinha regular, com sinuosas veredas ladeadas por plátanos. Automóveis não eram permitidos. Nunca a vi, mas papai foi lá uma vez. Disse que era um lugar realmente bonito.

— Então êle não desapareceu, propriamente.

— Nenhum de nós tornou a vê-lo. Êle fazia todos os seus negócios por intermédio de alguns advogados com procurações. Papai tentou vê-lo e o mesmo fizeram alguns de meus tios, tias e primos. Mas êle parecia estar sempre’”viajando a negócios”. Nunca

conseguiram ir além dos advogados. De vez em quando, um gru- po de políticos tentava declarar de utilidade pública as terras de Tio Charley, a fim de desapropriá-las para nelas construir algu- ma espécie de estrada de automóvel, mas toda vez acontecia que outro grupo de políticos, incluídos na folha de pagamentos de Tio Charley, interferia e acabava com a coisa. Depois, de repente, há cinco anos, esses advogados encerraram a conta bancária de Tio Charley e doaram todas as suas propriedades ao Estado. Não hou- ve explicações. Engenheiros rodoviários vieram dar uma olhada na propriedade de que há tantos anos vinham tentando apossar-se e nada restava da fábrica de carruagens, das veredas ou dos pláta- nos. Nada, além de terra nua. Os velhos de Jackson City dizem que quando Tio Charley morreu deve ter mandado enterrar tudo junto com êle. Alguns deles chamam isto de Rodovia-Túmulo de Charley Jackson.

—- “Jackson City, seiscentos e noventa quilômetros” — can- tou a de 12 anos.

— Eh! espere um minuto — exclamou John Jackson. — Isso é loucura.

Começou a pisar no freio.

— Cuidado! — gritou a esposa. — Há um carro bem atrás de nós.

— Quatrocentos metros bem atrás de mim — disse John Ja- ckson, parando completamente o carro no acostamento gramado ao lado da pista.

— Desçam e estiquem as pernas se quiserem — disse John Jackson. — Eu vou andar um pouco para trás e dar uma olhada naquele sinal.

Nuvens de vapor escapavam sibilando, de baixo da tampa do motor.

John Jackson voltou correndo.

— Diz seiscentos e noventa quilômetros. Vamos, entremos todos no carro e comecemos a rodar antes que sejamos arrastados para o fundo da terra na esteira rolante.

— Do que está falando?

— Já reparou na paisagem? Estamos passando pela mes- ma paisagem desde quando entramos nesta maldita estrada. Eu já percebi tudo. Estamos numa esteira rolante. A rodovia e a paisa- gem estão correndo para trás à velocidade de cem quilômetros por

hora em uma gigantesca esteira rolante. Enquanto estivermos cor- rendo para frente no carro a cem quilômetros por hora, pelo menos ficaremos no mesmo lugar.

— Mas nós não queremos ficar no mesmo lugar — queixou-se a de 12 anos. — Queremos ir a Jackson City.

— O mesmo lugar é melhor do que alguns lugares.

Ergueu a tampa do motor e começou a desparafusaç a tam- pa do radiador, usando uma fralda molhada. De repente, a tampa voou para cima, sobre uma nuvem em forma de cogumelo.

— Bem — disse êle — há uma caixa de cocas frescas no porta- malas. Não vejo porque não poderemos usá-las como água. Talvez deixem o radiador um pouco grudento, mas que diabo!

— Isso é muito egoísmo, se quer saber minha opinião — dis- se a de 13 anos. -— Aquela coca era para nós. Por que não põe no carro sua porcaria de cerveja velha?

— Poderia experimentar também — disse John Jackson. — Mas ia ficar com um cheiro horrível. Que diriam os guardas de um carro com hálito cheirando a cerveja? Talvez haja esta infração: “Dirigir Automóvel Embriagado”.

Assim que diminuiu o barulho sibilante do radiador, John derramou dentro dele toda uma caixa de seis garrafas de coca ta- manho família.

— Isso chega — disse êle. — Vamos. Acho realmente que devemos ir tocando. O cara que me escreveu aquela carta sobre o testamento insistia tremendamente em ver-me hoje à noite.

— Arthur Jackson, advogado. É um de seus parentes?

— Nunca ouvi falar nele. Não entendo porque está com tanta pressa depois de todos esses anos, mas é melhor eu fazer o que pede.

— O que não entendo é como seu Tio Charley pode ter ficado ainda com alguma coisa para fazer testamento, depois de haver desperdiçado todo aquele dinheiro em carruagens e no sustento de políticos.

— Êle foi um grande inventor em sua época. Papai dizia que êle tinha tantas patentes de suas invenções quanto Edison e que não parava de receber royalties. Não me perguntem o que êle in- ventou. Coisas mecânicas para a indústria. Válvulas especiais, coi- sas dessa espécie. Papai tentou explicar-me, mas não era da minha especialidade.

— Êle ainda está recebendo aqueles foyalties? Êle não está oficialmente morto, está?

— Acho que não. Não sei. Muita gente desconfia que êle já estava morto em 1929, mas ninguém conseguiu provar coisa algu- ma. Aquelas procurações eram absolutamente legítimas, é o que dizia papai. Talvez Arthur Jackson, advogado, possa contar-nos a história.

— Que barulho engraçado é esse que o motor está fazendo? — É um barulho que motores fazem. É possível que você ache engraçado. Eu gostaria de ter o seu senso de humor.

— “Jackson City, oitocentos quilômetros”— cantou a de 12 anos.

— Malditos piadistas — exclamou John Jackson. — Gostaria que não nos cercassem com todos esses arbustos. Talvez então eu pudesse reconhecer alguma coisa no campo.

— Por que você não vira na primeira estrada à direita? Po- deria perguntar ao homem no posto de pedágio a que distância estamos realmente.

— Brilhante — concordou John Jackson.

A primeira estrada virava para a direita fazendo um semicír- culo completo, depois entrava em um túnel que passava por baixo da rodovia. John Jackson esperava encontrar um posto de pedágio quando saísse do lado sul da rodovia, mas a estrada virou nova- mente para a direita fazendo outro semicírculo completo e colo- cou-o na pista da rodovia que seguia para leste.

Parou fora da estrada, ergueu a tampa do motor e esperou por um guarda.

— Algum problema, cavalheiro? — perguntou o guarda. — Quero ir a Jackson City.

— Está indo na direção errada, cavalheiro.

— Não estou indo em direção nenhuma. Só quero saber a que distância fica Jackson City.

— Como posso saber, cavalheiro? Quatrocentos, seiscentos, oitocentos quilômetros. Mas o senhor está indo na direção errada. Entre no próximo trevo e passe para a pista que leva a oeste.

— Obrigado.

O trevo seguinte repetiu o mesmo padrão, virando para a di- reita, mergulhando por baixo da rodovia, depois virando de novo para a direita, até levar o carro à pista que seguia para oeste. Ne-

nhum posto de pedágio, nenhuma casa, nem homem, nem mulher, nem cão, nem vaca amarela.

— Diabo! — exclamou John Jackson. — Esta rodovia nos mantém presos. Estamos condenados,

— Oh! calma — disse a esposa.

— Provavelmente apenas entramos em alguma espécie de atalho que os guardas usam para passar de uma pista para outra. Entre no próximo posto de serviço. Alguém nos dirá onde esta- mos.

— Será que alguém nos arranjará algumas cocas? — pergun- tou a de 13 anos.

— E um cheeseburger? — perguntou a de 12 anos. — Isso seria bom — disse a esposa.

— E um pouco de leite fresco para este pequeno Vesúvio. — E um pouco de gim bem gelado para este velho e querido papai.

— Você devia ser grato por não venderem bebidas na rodo- via — disse a esposa. — Isto seria um pesadelo com motoristas embriagados.

— Eu gosto de motoristas embriagados — disse John Jack- son. — Gosto de anúncios luminosos e de tabuletas de propaganda. Gosto até mesmo de faróis e ruas calçadas com trilhos de bonde no meio. O pesadelo é isto aqui.

— Há um sinal — disse a de 12 anos. — “Próximo Posto de Serviço a Q quilômetros”.

— Isso não foi muito engraçado na primeira vez — observou a de 13 anos.

Finalmente houve uma interrupção na paisagem uniforme. Um sinal dizia “Serviço — Restaurante — Primeira à Direita”.

Não se via ninguém na área das bombas de gasolina. Uma faixa suspensa entre duas fileiras de bombas dizia:

“Obrigado por sua paciência. O serviço será reiniciado dentro de uma semana”.

— Não precisamos de gasolina — disse John Jackson. — Va- mos pegar alguma coisa no restaurante para comer.

Um sinal na entrada principal do restaurante dizia “Absolu- tamente proibida a entrada de animais!!! Os infratores serão per- seguidos”!

São pragas.

— Além disso— completou John Jackson — depois de certo período de perseguição, a gente fica insensível e não tem mais im- portância.

Assim, com os dois babosos quadrúpedes abrindo caminho, John Jackson, esposa, bebê e duas filhas entraram no restaurante que estava desabitado.

Nada havia nas prateleiras. Nenhuma comida ou bebida de qualquer espécie era visível por trás dos balcões.

— Esperem aqui — disse John. — Vou dar uma olhada na cozinha. Deve haver alguém lá. Se não houver, eu mesmo pegarei alguma coisa.

Na cozinha, um velho sujo e barbudo, vestindo um macacão engordurado, estava derramando alguma coísa na pia — uma es- pécie de lama cinza-verde iridesçente.

— Poderia arranjar alguma coisa para se comer? — pergun- tou John Jackson.

— Claro que não — respondeu o velho. — Esta semana, não.

— Por que não esta semana? Que há de tão especial nesta semana?

— Que é que você é? Alguma espécie de comunista? — Eu apenas fiz uma pergunta delicada.

— Desça de seu cavalo, menino. Eu não sou o patrão. — Onde está o patrão?

— Não está aqui. Talvez você o encontre na semana que vem. Talvez não.

— Escute, você não tem coisa alguma aqui? Eu mesmo me arrumo e pago a você. Apenas um copo de leite, talvez? Estou com duas filhas e uma criança de colo aí fora. Não é para mim.

— Temos um pouco de pasta contra baratas.

— Oh, pêlo amor de Deus! Você não tem barata? Baratas frescas?

— Você mesmo terá que pegá-las — respondeu o homem. — Eu preciso trabalhar.

John Jackson voltou a juntar-se à sua família.

Levou o carro de volta à pista que seguia para oeste, atacado do banco de trás pelos gemidos de uma menina de 13 anos com dor de barriga e pelos vitupérios de uma menina de 12 anos que sabia

reconhecer uma conspiração de bandidos, e do banco da frente pelos gritos pontilhados de vômitos de um menino de oito meses coberto até as orelhas de farelos de biscoitos.

— Há outro miserável sinal de bandidos — disse a de 12 anos. — “Jackson City, vinte quilômetros”.

John Jackson, bufando, pisou no freio.

O mesmo guarda que haviam encontrado na pista que seguia para leste parou ao lado do carro.

— O senhor de novo? — disse êle, — Qual é o problema ago- ra?

— Olhe aquele sinal — disse John Jackson.

— “Jackson City, vinte quilômetros” — leu o guarda. — E daí?

— O senhor sabe muito bem que Jackson City fica a pelo menos quinhentos e cinqüenta quilômetros daqui.

— Como posso saber, cavalheiro? Eu nunca vou a lugar al- gum fora da rodovia.

— Onde que o senhor vai quando vai para casa?

— Temos alojamentos a beira da estrada, logo ali atrás. Na pista que vai para leste. Alguns dos rapazes vão a vários lugares, mas eu nunca vi vantagem nisso. Esta é uma estrada muito boa. É quase como um lar.

— A cada um o que é seu — disse John Jackson. — Como podemos sair dela? Suponhamos que queremos alguma coisa para comer ou algum lugar para dormir.

— Bem, eu vejo diferentes pessoas saírem em diferentes luga- res. Nunca ouvi queixas. Cabe ao senhor escolher.

John Jackson tocou o carro.

— Há outro sinal — disse a de 12 anos. Depois cantou: “Can- saram”? Virem a primeira à direita”.

— O. K. — disse John Jackson.

— Todo mundo sai ganhando. Vamos encontrar um motel. Jackson City que vá para o inferno.

A estrada virava para a direita, descia para um túnel por bai- xo da rodovia e continuava descendo. O túnel era brilhantemente iluminado por fortes lâmpadas no alto.

— Cheira mal — disse a de 13 anos, enquanto andavam ao longo da trilha coberta de escória de hulha sob os plátanos, ven-

do cavalos e carruagens avançarem elegantemente pela estrada da terra.

— Você vai acostumar-se — respondeu o imponente cavalhei- ro de cabelos prateados e óculos de aros de tartaruga. — De fato, depois de algum tempo você vai acabar gostando. Quando eu era menino todas as cidades tinham esse aroma.

— Maçãs de estrada — disse John Jackson, com os olhos nublados de saudade.

— Que vão fazer com nossos cães? — perguntou a esposa. — Oh, eles ficarão muito bem — disse o imponente cavalhei- ro. — Serão bem tratados. A senhora compreende, naturalmente, aqui não soltamos cães na rua antes que eles se acostumem com os cavalos. Mesmo presos por uma correia, um cão que late pode causar muita complicação. Os senhores verão muitos cães corren- do livres por aqui, mas naturalmente estão aqui há muito tempo e não estranham os cavalos.

— Oh, veja — disse a de 12 anos. — Um carro com pônei. Será que eu podia ter um?

No documento Magazine de Ficcao Cientifica 03 (páginas 98-115)

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