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O SÉTIMO METAL

No documento Magazine de Ficcao Cientifica 03 (páginas 149-162)

Isaac Asimov

exceção do mercúrio, não existe nada no mundo...

— Mercúrio? — disse ela, subindo o tom de voz. — Como soube você a respeito do mercúrio?

Eu dissera, aparentemente, a palavra mágica. Vi imediata- mente o que havia acontecido. Estufando o peito e fazendo um ar de alta condescendência, disse-lhe: — Para os olhos de um quími- co, minha cara, é óbvio que o que temos aqui é amálgama de ouro, e que você esteve manuseando mercúrio sem, primeiro, remover sua aliança.

Foi isso mesmo, claro. Eu tinha acesso ao mercúrio do labo- ratório, ficara fascinado com éle, e trouxera um pouco num frasco para casa, a fim de entreter-me de vez em quando. (Êle rola livre- mente, de maneira fascinante, e não olha coisa alguma.) Minha esposa achou-o no frasco e não pôde resistir a jogar uma gota em sua mão, para também brincar com êle. Acontece que ela não reti- rou a aliança, e mercúrio rapidamente mistura-se com o ouro para formar um amálgama prateado.

Assim, a despeito desse caso, seriamente dramático e alta- mente pessoal, relacionado com a fascinação do mercúrio, já tive oportunidade de discutir, no mês passado (“O Primeiro Metal”), os sete metais conhecidos pelo Homem na antigüidade — sem uma palavra sequer para o mais inusitado: o mercúrio. Isso contudo não foi negligência; eu o estava reservando para um artigo só dele.

O mercúrio é dotado de características excepcionais. Estou certo, por exemplo, que era o menos familiar dos sete metais e fir- memente suspeito que foi o sétimo (e último) metal a ser descoberto pelos antigos.

Quanto a ser o menos familiar, basta ver o que a Bíblia tem a dizer sobre êle, ela que é um longo e complexo livro, escrito por pessoas com pouco ou nenhum interesse por ciência. Podemos considerá-la como a voz do antigo não-cientista.

O ouro, evidentemente, é o padrão de excelência e perfeição para todos, mesmo para os escritores bíblicos. Dizer que algo é mais valioso do que ouro, é dar-lhe a mais alta consideração de valor. Assim:

Salmo 118,127: Amo portanto seus mandamentos mais que o

ouro: sim, acima do fino ouro.

E, na qualidade de não-cientistas, que dizem os escritores bíblicos a respeito dos outros metais? Por questão de economia,

procurei por um versículo que mencionasse tantos metais quanto possível, e eis aqui um de Ezequiel em citação de Deus ameaçando os pecadores entre os Judeus:

Ezequiel, 22,20. Assim como eles juntam prata, latão, ferro,

chumbo, e estanho para o meio da fornalha para soprar o fogo por cima, para derretê-los: assim também eu os juntarei em minha fúria e minha cólera e os deixarei derreter*.

Os pecadores são comparados aos vários metais, notadamen- te excluindo o ouro, para mostrar como eles são imperfeitos.

Aqui, por sinal, devemos nos lembrar que as palavras em in- glês da versão do Rei Jaime** são da tradução do original hebreu, e podem ser incorretas. A palavra hebraica “nehosheth” era usada indiscriminadamente para o cobre puro ou o bronze, uma liga de cobre e estanho.

Nessa versão ela é invariavelmente traduzida por latão, que é uma liga de cobre e zinco, e não é o que os escritores da Bíblia tinham em mente. A edição-padrão revisada substitui todos os “la- tão” na versão do Rei Jaime por “bronze” ou “cobre”. Se substi- tuirmos latão por cobre no versículo de Ezequiel, vocês verão que consegui, usando apenas dois versículos bíblicos, mencionar seis dos antigos metais: ouro, prata, cobre, ferro, estanho e chumbo. Isso deixa de lado apenas o mercúrio. Que tem a Bíblia a dizer so- bre êle?

A resposta é: nada!

Nem uma palavra! Nem no Velho Testamento, ou no Novo, ou mesmo no Apócrifo. Parece claro que dos sete metais, o mercúrio era o mais exótico, o menos usado nas necessidades diárias, o mais próximo daquilo que hoje em dia chamaríamos “uma curiosidade de laboratório”. Os não-cientistas que escreveram a Bíblia estavam tão pouco familiarizados com êle, que jamais tiveram razão para mencioná-lo, mesmo em linguagem figurada.

* Tradução livre da citação; em português, no texto da Vulgata Sixto-Clementina» se lê: na primeira citação, «Salmo 118,127: Por isso amo os teus mandamentos, mais do que o ouro, do que o ouro finíssimo»; na segunda, «Ezequiel, 22,20: Como quando se juntam a prata, e o cobre, e o estanho, e o ferro, e o chumbo, no meio da fornalha, e se acende nela o fogo para os fundir. Assim é que eu vos juntarei no meu furor e na minha ira; e eu me satisfarei, e vos fundirei». (N. do Trad.).

** Assim conhecida por ter sido autorizada pelo Rei Jaime, em 1611, na Inglaterra. (N. do Trad.).

Quanto a ser o último que foi descoberto: isso parece-me não ser mistério. Êle é comparativamente raro, já que dos sete, somente a prata e o ouro são menos comuns. Nem tampouco temos contato com barras de mercúrio, já que êle é líquido.

O que levou à sua descoberta foi a casualidade de que um de seus minérios importantes é brilhantemente colorido.” Esse miné- rio é o “cinábrio”, que quimicamente falando é sulfeto de mercúrio, um composto de mercúrio e enxofre. Tem côr vermelho brilhante e pode ser usado como pigmento e quando assim empregado tem o nome de vermelhão.

O cinábrio deve ter tido demanda considerável e, indubitavel- mente, deve ter havido ocasiões em que foi aquecido acidentalmen- te até o ponto em que se decompôs e libertou gotas de mercúrio metálico. Há evidências nos túmulos egípcios de que o mercúrio era conhecido naquela terra tão longe quanto 1500 a.C.; isso soa. incrivelmente antigo, mas compare-se com o cobre, a prata e o ouro, que já eram conhecidos 4000 anos a.C.

Mesmo depois de ter sido isolado parece que houve dificulda- de em reconhecê-lo como um novo metal. O fato de ser líquido deve tê-lo feito parecer demasiado diferente dos outros metais, para se tomá-lo como tal. Talvez fosse apenas um dos outros metais em forma líquida.

Havia o prateado de sua aparência. Poderia ser, então, prata líquida. A prata, em sua forma sólida comum, podia ser derretida, se aquecida até uma temperatura bem elevada; mas o mercúrio já era líquido a temperaturas comuns. Para os antigos, que com ela trabalhavam, tal diferença não seria por certo tão significante como o é para nós. Se podia haver prata líquida a quente, por que não a frio?

Em todo o caso, qualquer que fosse o processo de pensa- mento dos primeiros descobridores do mercúrio, fica o fato de êle ter sido o único dos sete metais a não receber seu próprio nome. Aristóteles chamou-o de “prata líquida” (em grego) e, nos tempos de Roma, o médico grego Dioscórides chamou-o de “prata aquosa”, que é essencialmente a mesma coisa. O último nome foi “hydrar- gyros” em grego e tornou-se “hydrargyrium” em latim. E de fato, o símbolo químico para o mercúrio permanece Hg, até hoje, em me- mória do nome latino.

isto é, “prata viva”. A razão para isso é que a prata comum era sóli- da e inerte (ou seja, “morta”) enquanto que o mercúrio agitava-se e movia-se sob o menor impulso. Uma gota, ao cair, estilhaçava-se e as gotículas partiam em todas as direções: era “viva”.

Mesmo em inglês, um dos nomes usados foi quicksilver (sil- ver = prata). O termo hoje em dia parece estranho, pois quick tem agora o significado de rápido; no entanto o sentido antigo era outro, era sinônimo de “vivo”. Aos poucos passou a ser aplicado às carac- terísticas mais evidentes de vida, uma das quais é o movimento rá- pido. Na verdade existem formas de vida tais como as esponjas, os- tras e musgos que não apresentam movimentos perceptíveis, mas o liguajar cotidiano não se importa com esses pormenores isolados. Foi sempre evidente a distinção entre um cavalo de corridas e um de passeio. Desse modo, o significado de quick passou de “vivo” para “rápido”, que é o sentido atual.

Se até no inglês antigo, portanto, havia referência a uma “prata viva” — de onde veio, afinal, o nome “mercúrio”?

Os alquimistas da Idade Média dedicavam-se ao seu trabalho de maneira mística. Desde que a maioria deles (nem todos!) eram incompetentes, a melhor maneira de dissimularem suas deficiên- cias era recorrer a mistérios nebulosos. O que o público não pudes- se entender, também não poderia explicar.

Era natural, portanto, que os alquimistas preferissem uma linguagem metafórica. Havia sete metais diferentes, como havia também sete diferentes planetas, e isso certamente não poderia ser coincidência, poderia? Por que não falar, então, de planetas, quan- do se quisesse dizer metais?

Assim, os quatro planetas mais brilhantes na ordem decres- cente de brilho eram o Sol, a Lua, Vênus e Júpiter. Por que não correlacioná-los com o ouro, a prata, o cobre e o estanho, respecti- vamente, já que eram os quatro metais mais valiosos em sua ordem decrescente de valor?

Quanto aos demais... Marte, o planeta vermelho do deus da guerra, é naturalmente o ferro, metal fornecedor das armas de guerra. (Na verdade, o vermelho de Marte pode ser devido à fer- rugem que cobre seu solo. É esse tipo de coincidência que leva os místicos modernos a imaginar se “não haveria algo mais na alqui- mia”. Em oposição a isso, basta dizer apenas que qualquer suces- são aleatória de sílabas está sujeita a formar palavras aqui e ali,

e se separarmos cuidadosamente as palavras, sem tocar no resto, poderemos até nos convencer de que o absurdo faz sentido.)

O moroso Saturno, o mais lento entre os planetas, fica natu- ralmente associado ao chumbo, o padrão proverbial de peso e esta- bilidade.. Mercúrio, por outro lado, a mover-se de um lado a outro do Sol, lembra as gotículas fugidias do metal líquido.

Algumas dessas comparações ainda perduram na forma de expressões antigas para certos compostos. Nitrato de prata, por exemplo, surge em alguns textos antigos como “cáustico lunar”, pela suposta relação entre a Lua e a prata. Da mesma maneira, alguns, compostos de ferro usados como pigmentos são por vezes chamados de nomes como “vermelho de Marte” e “amarelo de Mar- te”; o envenenamento por chumbo traz ainda o nome de saturnis- mo, e assim por diante.

O único planeta a entrar no domínio da química moderna de maneira respeitável foi Mercúrio, tornando-se o nome do metal e superando as antigas associações com a prata (como hidrargirio). Talvez o fato se explique por terem os químicos reconhecido que seus demais nomes não eram independentes e que o mercúrio não tinha nada com prata, viva ou líquida.

Por estranho que pareça, outros metais foram designados por planetas também em tempos modernos, e esses novos nomes se firmaram também. Em 1781, o planeta Urano foi descoberto e em 1789, quando o químico alemão Martin Heinrich Klaproth desco- briu um novo metal, batizou-o com o nome do novo planeta, daí surgindo o urânio. Depois, em 1940, ao serem descobertos dois no- vos metais além do urânio, foram eles designados segundo Netuno e Plutão; eram eles o netúnio e o plutônio.

Até mesmo os asteróides tiveram sua vez. Os dois primei- ros asteróides, Ceres e Palas, foram descobertos em 1801 e 1802, respectivamente. Klaproth, em 1803, descobriu um novo metal e prontamente designou-o como “cério”; mais tarde, no mesmo ano, um químico inglês, William Hyde Wollaston descobria ainda um novo metal, chamando-o de “paládio”.

O mercúrio teve méritos fora do comum durante a Idade Mé- dia. Desde a antigüidade até os tempos medievais, a principal fonte de mercúrio foi a Espanha, e os seus reis mouros usaram-no es- petacularmente. Abd ar-Rhamam III, o maior deles, construiu um palácio perto de Córdoba lá por 950, no pátio do qual uma fonte de

mercúrio jorrava continuamente. Um outro rei teria dormido num colchão que boiava numa banheira de mercúrio.

Outra distinção ganhou ainda o mercúrio nos tempos medie- vais, já essa de natureza mais abstrata. Parece que um dos propó- sitos principais dos alquimistas da Idade Média era a conversão de um metal barato, como o chumbo, em outro valioso, como o ouro.

Que isso pudesse ser feito, parecia certo, partindo da antiga noção dos gregos de que toda a matéria era montada pela combi- nação de quatro substâncias básicas, ou “elementos”, assim cha- mados: “terra”, “água”, “ar” e “fogo”. Não eram esses “elementos” aquilo que chamamos ordinariamente por esses nomes, mas abs- trações que melhor seriam traduzidas por “sólido”, “líquido”, “gás” e “energia”. Para aqueles tempos, até que era um bom palpite.

Esses alquimistas, contudo, foram além das noções dos gre- gos. Pareceu-lhes que os metais eram tão afastados das substân- cias “térreas” (como as rochas), que deveria haver em especial um princípio metálico envolvido na coisa. Esse princípio metálico, mais “terra”, daria um metal. Se fosse possível localizar tal princípio me- tálico, seria possível acrescentar-lhe “terra” em diferentes propor- ções e ter-se um metal qualquer, incluindo o ouro.

E, naturalmente, adicionando “terra” a um princípio metáli- co, adicionava-se solidez a êle e produzia-se um metal sólido. Em que pé ficaria o mercúrio então? Sendo líquido, seria por causa de ter muito pouca “terra” em si mesmo? Talvez esse pouco que tivesse, poderia ser removido de alguma forma, deixando apenas o próprio princípio metálico.

Muitos alquimistas puseram-se a trabalhar infatigàvelmente com mercúrio, e desde que os vapores mercuriosos causam enve- nenamento cumulativo (ou seja, o metal não é eliminado pelo orga- nismo), fico a imaginar quantos desses investigadores não morre- ram prematuramente. (Os vapores afetam a mente, mas suponho que seja difícil saber-se quando um alquimista fala sua algaravia pra valer). Por isso, chego a preocupar-me com aquele rei mouro que dormia na banheira de mercúrio. E esse, como se sentiu com o passar dos meses?

Alguns alquimistas devem ter pensado a seguir que o ouro na verdade colocava-se singularmente entre os metais por sua côr amarela; logo, aquilo que deveria ser adicionado ao mercúrio (pra- teado por si mesmo) deveria ser uma “terra” amarela. O candidato

óbvio para amarelo seria o enxofre, por si mesmo extraordinário, pois diferentemente das demais “terras” podia ser queimado, pro- duzindo misteriosa chama azul e odor sufocante, ainda mais mis- terioso.

Parecia fácil, pois, agarrarem-se à idéia de que mercúrio e en- xofre representariam os princípios da metalicidade e da inflamabi- lidade, respectivamente. A combinação dos dois juntaria, portanto, fogo e solidez ao mercúrio, trazendo-o de líquido prateado a sólido dourado.

Efetivamente, mercúrio e enxofre combinavam-se forman- do cinábrio. Esta era uma “terra” vermelha comum, sem nada de ouro, mas o glorioso sonho dos alquimistas raras vezes se deixava perturbar pelo comezinho da realidade.

Essas teorias medievais lentamente sucumbiram no curso do século XVIII, durante o qual a verdadeira química atravessou sua infância vigorosa. Nesse século o papel do mercúrio, como princí- pio metálico, recebeu um acachapante contra golpe. Na qualidade de “princípio”, êle deveria permanecer sempre líquido, mas assim era?

O ano de 1759 foi extremamente frio em São Petersburgo, na Rússia, e uma tempestade no dia de Natal fêz o mercúrio baixar incrivelmente nos termômetros. O químico russo Mikhail Vassilie- vich Lomonosov, tentou fazer a marca da temperatura baixar ainda mais, envolvendo o termômetro numa mistura de ácido nítrico e neve. A coluna desceu até - 39 °C e aí parou. Ficara congelada! O mundo, pela primeira vez, via mercúrio sólido — um metal como outro qualquer.

Já nessa época o mercúrio apresentava um valor que de lon- ge superava seu falso papel de princípio metálico. De certa forma, esse novo valor baseava-se em sua densidade, que é de 13,6 vezes a da água. Um litro de água pesa 1 kg; um litro de mercúrio pesa 13,6 kg.

Essa é uma densidade assombrosamente alta; não apenas o aço bóia no mercúrio, mas igualmente o chumbo. De certa for- ma não se espera isso de um líquido, já que quase toda nossa experiência com líquidos refere-se à água. Assim, qualquer jovem estudante, ao enfrentar pela primeira vez um jarro contendo uma quantidade razoável de mercúrio, sente-se espetacularmente ma- ravilhado. Se lhe pedirmos, casualmente, para pegar o jarro e car-

regá-lo para outro lugar, êle automaticamente agarrá-lo-á com a mão e dar-lhe-á um impulso correspondente ao que daria para um jarro com água, do mesmo tamanho. E, evidentemente, o mercúrio age como se o jarro estivesse pregado à mesa.

Em 1643, o físico italiano Evangelista Torricelli fêz uso da densidade do mercúrio. Preocupava-se êle com o problema de que uma bomba hidráulica podia elevar uma coluna de água somente à altura de cerca de 10 m acima do nível inicial. Supôs que o trabalho de elevar aquela coluna de água era feito pela pressão atmosférica; uma coluna de 10 m de altura, de água, exercia na sua base uma pressão igual à pressão do ar, e desse modo a coluna não podia ser elevada acima desse limite.

Para testar sua idéia mais convenientemente (uma coluna de 10 m de altura é algo incômodo de se manejar), Torricelli usou mercúrio, o mais denso líquido conhecido.

Uma coluna de mercúrio (13,6 vezes mais denso do que a água) produziria tanta pressão em sua base, como uma coluna de água 13,6 vezes mais alta. Se 10 m de água equilibravam a pressão total do ar, então cerca de 760 mm de mercúrio também o fariam.

Torricelli então encheu um tubo de um metro de comprimen- to com mercúrio e emborcou-o numa vasilha também contendo mercúrio. O tubo começou a esvaziar-se e logo parou: a altura da coluna alcançou os 760 mm e aí ficou estacionaria, equilibrada pelo ar. Torricelli havia demonstrado seu ponto de vista e ainda inventado o barômetro. Para o mercúrio iniciava-se uma nova car- reira, como substância ímpar (um líquido altamente denso e con- dutor de eletricidade), adaptada a inúmeros usos em instrumentos científicos.

Apenas de passagem: se o ar fosse igualmente denso lá para cima, como o é aqui na superfície da Terra, poder-se-ia calcular facilmente qual a altura da atmosfera. O mercúrio é 10 560 vezes mais denso que o ar ao nível do mar; assim, pois, uma coluna de mercúrio equilibraria outra de ar 10 560 vezes o seu comprimento. Isso dá 760 mm x 10 560, cerca de 8 km de ar. O ar contudo, não é igualmente denso aqui em baixo e nas alturas; torna-se menos denso conforme subimos e estende-se, portanto, a maiores altu- ras.

De todos os metais conhecidos dos antigos, o mercúrio tinha o menor ponto de fusão. Era o único metal a permanecer líquido a

temperaturas ordinárias. Desde esses tempos antigos, os químicos descobriram dezenas de outros novos metais, mas nenhum deles consegue abalar o recorde do ponto de fusão do mercúrio. Era e ainda é o campeão. Contudo, um bom número de metais desco- bertos em tempos modernos, funde-se à temperatura do chumbo- fundido e menos ainda. Eis a lista:

Metal Ponto de fusão (0C)

Mercúrio -39 Césio 28 Gálio 30 Rubídio 38 Potássio 62 Sódio 97 Índio 156 Lítio 186 Estanho 232 Bismuto 271 Tálio 302 Cádmio 321 Térbio 327 Chumbo 327

E aí temos os quatorze metais de menor ponto de fusão. Cinco dos oito mais baixos são os “metais alcalinos”, que na ordem cres- cente de pesos atômicos são o lítio, o potássio, o sódio, o rubídio e o césio. Note-se que os pontos de fusão são 186, 97, 62, 38 e 28, respectivamente. Os pontos de fusão descem conforme os pesos atômicos sobem. O ponto de fusão do césio é segundo apenas para o mercúrio (para metais estáveis, digamos). Uma temperatura de 28 °C indica que êle ficaria líquido por muito tempo num dia quen- te de verão, e o césio é duplamente mais comum do que o mercúrio. Poderíamos brincar com o césio, num dia suficientemente quente, da mesma forma como brincamos com o mercúrio?

mente ativos e reagem violentamente, entre outras coisas, com a água. Deixe os metais alcalinos entrarem em contato com a cama- da de suor de sua mão e você terá um bom motivo para arrepender-

No documento Magazine de Ficcao Cientifica 03 (páginas 149-162)

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