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Vimos até aqui que o histórico do planejamento estratégico nos induz a pensar que seu único elemento motivador, tanto das ações quanto das emoções, bem como de sua lógica e raciocínio seria a competição, porém, a partir se agora, se apresenta uma outra possibilidade, qual seja, a de se associar ao planejamento estratégico uma lógica dialógica, cujo elemento motivador seja uma unidade - qualidade daquilo que é unido, e não uma unicidade – qualidade daquilo que é único.

Para tanto, é apresentada a argumentação a seguir que pretende construir uma episteme enquanto base cognitiva para um raciocínio estratégico dialógico.

1. A Lógica do Complexo

Quando falamos em comportamento complexo de um sistema ao invés de sistema complexo conforme recomenda Ilya Prigogine ( O Arquiteto das Estruturas Dissipativas ), passamos a adotar uma postura mais pedagógica que nos permite valorizar tanto a ontologia do sistema quanto do observador, sua episteme e técnicas de observação. Vejamos agora as diversas lógicas que compõe o comportamento complexo de um sistema.

A Lógica Estrutural

A estrutura interna de um sistema se dá por intermédio de um acoplamento estético onde as distintas formas dos elementos encontram uma única posição nos campos de influência de cada elemento para se acoplar, existindo uma coerência perfeita entre distância, energia e movimento e este mesmo raciocínio se aplica ao acoplamento de um sistema com o ambiente que o cerca, o que fornece a estabilidade e permanência que caracteriza os fenômenos complexos.

A Lógica Difusa

A pertinência existente entre os elementos de um sistema é o que garante o acoplamento estrutural, pois elementos sem pertinência estética, de distância, energia e movimento, simplesmente não se acoplam.

Eis aqui a valorização do funcionamento difuso, pois são levadas em consideração todas as relações e co-relações, que são relações das relações, entre os diversos elementos na procura do almejado acoplamento estrutural; saliente-se que dentro de um sistema encontraremos além de características difusa, também características binárias para que os acoplamentos se processem.

A Lógica Organizacional

O acoplamento estrutural e a lógica difusa determinam o operar complexo de um sistema, resultando sempre em uma emergência utilitária, com qualidades distintas de cada um dos elementos constituintes e é esta emergência organizacional que ocupa uma ontogenia no ambiente.

A existência de uma lógica interna e outra externa é que determina o comportamento complexo de um sistema, sendo que a primeira é do tipo estrutural ou estruturante e a segunda organizacional ou organizante.

2. A Lógica Dialógica

Quando compreendemos que uma unidade situada num ambiente se constitui num sistema, podemos afirmar que a dialógica é a lógica que permite estabelecer uma comunicação terciária entre a lógica da unidade e a do ambiente, quais sejam :

A Lógica da Unidade

A lógica de uma unidade sistêmica é determinada pela estética de acoplamento estrutural de seus elementos, por suas relações de pertinência, binárias ou múltiplas, e por sua emergência organizacional; um sistema é a unidade resultante dos elementos que o compõe e só se constitui no que o é por possuir uma lógica interna de determinação e auto-organização, é a parte e o todo.

A Lógica do Ambiente

A lógica do ambiente nos traduz que este não é delimitado no espaço como o é a unidade ( delimitada dentro do espaço do ambiente – sua clausura ), sendo que que se expande o máximo possível, ou seja, até se defrontar com a existência de outro ambiente, permitindo a concepção de sistemas de sistemas, ou sistemas de ambientes.

A Lógica Ternária

A lógica ternária nos permite apreender uma relação de relações, como por exemplo a relação unidade-ambiente, onde todas as relações são relações de pertinência, e portanto, a relação unidade ambiente é uma relação de relações de pertinências múltiplas. A lógica ternária é aquela que nos permite explicitar um terceiro elemento no par de contraditórios dentro de uma mesma dimensão de realidade observada, ou seja, existe um terceiro elemento estabilizador e organizador tanto na lógica estrutural da unidade quanto na lógica organizacional do ambiente.

3. A Lógica do TAO

De imediato devemos assumir que nada sabemos do Tao ( ninguém o sabe e nem o define ) e que só se chega a ele por intermédio da intuição e nunca pela racionalidade; que o mesmo não é passível de descrição e somente de experimentação vivencial.

No artigo motivo desta revisão, o raciocínio taoísta foi subdividido em quatro momentos : a relação entre essência e existência; o caminho da natureza; o caminho

do coração e a lógica ternária do Tao-Yang-Yon o que iremos igualmente adotar.

Conforme já colocamos o Tao não é definível, porém, um dos significados da palavra é o de caminho que segundo esta filosofia oriental se desdobra em caminho da natureza e caminho dos homens, sempre deixando evidente a relevância entre o que é fundamental e o que é importante, entre a essência e a existência. A essência de um objeto é dada pela sua função e a existência é dada pela sua materialidade corpórea; a forma, ou seja, a estética reúne estas duas coisas.

Da mesma forma que um copo ou uma xícara só é útil quando vazio, uma pessoa desprovida de pré-conceitos, aprende e apreende mais rápido, pois o carregar da materialidade a torna “mais pesada e conseqüentemente mais lenta “.

A utilidade das coisas é a sua essência e esta é o vazio, o nada, o não-ser, o inexistente da mesma maneira que a forma determina a materialidade corpórea , sendo esta sua existência, o tudo, o absoluto, o ser.

Desta forma, para o Tao, essência e existência, o nada e o tudo, o inexistente e o absoluto, o não-ser e o ser se completam, se acoplam, se totalizam.

O Caminho da Natureza

O Tao se constitui numa cosmologia explicativa da lógica dos sistemas naturais, quando coloca a estética como extensão da ética; inicia na dualidade Céu e Terra, em cuja unidade estaria o UM, que seria o Tao misterioso, ambíguo, vazio, sem descrição, mas que tudo cria. Desta dualidade inicial surge a dialógica onde só se identifica o belo pela existência do feio, o bem pela existência do mal, o curto pela existência do longo e assim sucessivamente. As sementes, que se constituem em algo que não vemos; o sutil que se constitue em algo que não ouvimos e o pequeno que se constitue em algo que não sentimos se constitue no caminho da natureza. Apreender os ritmos, os ciclos e a espontaneidade dos fenômenos naturais é apreender o Tao e neste sentido a lógica do Tao é essencialmente ecológica.

O Caminho do Coração

O Tao nos coloca que os seres humanos desde a sua aurora existencial estão ligados a natureza, sendo ela própria e dela fazendo parte; carregando dentro de si a dualidade básica entre sua materialidade existencial e o mistério do vazio em sua essência criativa, portanto é impossível o pensamento onde se levanta a hipótese da existência de um ser humano sem a natureza que lhe forma e sobre a qual ele existe e o contrário possui a mesma validade, ou seja, não é possível a natureza sem a existência dos seres humanos. A cosmologia da pertinência entre os seres humanos, a natureza e o universo é o resultado de uma cognição dialógica difusa e se encontra presente em diversas culturas humanas como pratica social e pedagógica.

Uma segunda conseqüência se sucede quando os seres humanos caminham conscientemente – o principio da plena atenção ou de medir a ação, ou da meditação – a ética e a estética da natureza, sendo este o caminho da felicidade, da libertação, do coração.

A Lógica Ternária Tao-Yang-Yin

O símbolo Yang-Yin é o maio recurso cognitivo do raciocínio taoista, sendo que ele permite explicitar a lógica das unidades, e se utilizando o exemplo dos seres humanos identificamos o masculino que é expansivo, dominador, competitivo, racional, fecundador como Yang e o feminino que é retraído, cooperativo, emocional, intuitivo, gerador como Yin, porém, o comportamento de uma pessoa pode conter as duas lógicas e supera-las determinando uma terceira lógica.

Neste exemplo o masculino e o feminino se constituem em um binário dialógico devido a pertinência de um para com o outro e, esta pertinência de primeira ordem é que permite a pertinência de segunda ordem existente entre uma pessoa e o binário dialógico, constituindo a lógica ternária.

Muito embora uma pessoa seja uma unidade e possua sua própria lógica, dentro dela existe uma dialógica binária dada pelo par em movimento Yang-Yin.

A dicotomia entre o Tao e a Transdisciplinariedade está na concepção de que no Tao o terceiro incluído se encontra no mesmo nível de realidade e na transdisciplinariedade o terceiro incluído se encontra em outro nível de realidade mais acima.

O Tao da Estratégia

A essência do planejamento estratégico atual é a competição e sua utilidade é permitir o aumento da capacidade competitiva das organizações e ainda, esta essência se faz presente em todas as etapas do processo. Assim sendo, do ponto de vista Taoista o planejamento estratégico é Yang e portanto monológico, sendo que agora, como naquele artigo(*), identificaremos o lado Yang do planejamento estratégico sendo que a seguir procuraremos identificar o lado Yin, procurando identificar as características que ele necessita vir a ser com vistas a formular estratégias sustentáveis, para ao final proceder uma síntese sugerindo o que o poderia vir a ser o Tao de uma estratégia sustentável.

O que o Planejamento Estratégico O que o Planejamento Estratégico Já é (Yang) deve vir a ser (Yin) .

Competitivo Cooperativo Instrumental Substantivo Racional Emocional Organizacional Pessoal Analítico Sintético Fragmentador Intuitivo

Quadro a partir DANIEL J. SILVA(*)

_________________________________________________________________________________ (*)SILVA, Daniel J. O tao da Estratégia : Uma perspectiva dialógica para o planejamento estratégico da sustentabilidade. Florianópolis, dezembro de 2002. Programa de Pós- Graduação Engenharia Ambiental. Engenharia UFSC.

De um lado da binária Taoista e sob o ponto de vista da sustentabilidade, o estratégico passa a ser fundamental e por ser estabilizador deve ser de natureza Yin, e de outro a releitura do urgente como uma emergência e como emergências não são passíveis de negociações, devem simplesmente ser atendidas.

Em função destas emergências o fundamental deve ser identificado para construir uma estratégia que apresente resultados perenes e permanentes e não transitórios. Eis o Tao das Estratégias sustentáveis, sejam elas para combater a fome, a degradação da natureza, a violência e outras mazelas humanas.