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Digam aos Lacedemônios ( espartanos ), estranhos que passam, Que aqui, obedientes às suas leis, jazemos.(1)

Dali a milhares de anos, disse Leônidas, dois, três mil anos a partir de então, homens ainda não-nascidos, dali a cem gerações, poderiam vir acidentalmente a nosso país.

- Virão estudiosos, quem sabe, ou viajantes de terras além-mar, incitados pela curiosidade

sobre o passado e o desejo de estudar os antigos. Esquadrinharão nossa planície e remexerão nas pedras e pedregulhos de nossa nação.O que saberão de nós? Suas pás não desenterrarão nenhum palácio nem templos suntuosos, suas picaretas não revelarão nenhuma arquitetura ou arte eterna.O que ficará dos espartanos? Nenhum monumento de pedra ou mármore, mas isto: o que fazemos aqui, hoje .

Leônidas, nos momentos finais da Batalha das Termóphilas (2) ___________________________________________________________________________

MEDIAÇÃO TRANSDISCIPLINAR DE CONFLITOS AMBIENTAIS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO – CAPÍTULO III 159

CAPITULO III

DA CARACTERIZAÇÃO DO

CONFLITO AMBIENTAL

SUMÁRIO

3.1 – Introdução ... 160

3.2 – Do Conceito ... 161

3.3 – Do Pensamento Complexo ... 162

3.4 - Da Lógica Difusa ... 164

3.5 – Do Domínio Lingüístico ... 169

3.6 – Do Conflito Indivíduo/Sociedade X Natureza

... 171

3.7– Do Conflito Instituição X Indivíduo ... 179

3.8 – O Paralelo Histórico da Ontologia da

Liberdade e/ou Do Registro Fotográfico do

Auge do Conflito Ambiental ... 186

3.1 - INTRODUÇÃO

Neste capítulo, onde se tratará da caracterização do conflito ambiental no estudo de caso proposto: Praia de Naufragados / Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, veremos a definição cartesiana do vocábulo “ Conflito “ e suas implicações quando o mesmo é utilizado de forma singular, isolada e sem investigação das várias composições possíveis quando se pretende qualifica-lo.

Em um outro momento verificaremos à luz do Pensamento Complexo as inúmeras possibilidades da composição de relações que são possíveis com a expressão “ conflito “; será verificada a ampla gama de situações quando da sua qualificação, identificação e adjetivação numa relação de complexidade de relações.

Neste ponto, procuraremos estabelecer um domínio lingüístico com referência a expressão “ Conflito Ambiental “ e suas implicações, quer no referente a Natureza, quer no referente ao Homem – Sociedade.

A partir daí, faremos um breve apanhado das possibilidades dos conflitos existentes entre Indivíduos / Sociedade X Natureza, Indivíduos X Instituições, e em última análise, do conflito Individuo X Estado.

Para que se possa analisar e formar opinião quanto ao estudo de caso proposto, ao final, é apresentado um levantamento fotográfico do auge do conflito ambiental ocorrido no ano de 1999, onde as instituições, ligadas ao menos por princípios a questão ambiental, em uma utilização instrumental do mandato, produziram um espetáculo lamentável de barbárie contemporânea, neste ponto, comparada didaticamente a barbárie do rei persa Xerxes no ano de 480 a. C. na tentativa de denominar a Grécia como portão de entrada para o Continente Europeu; para tanto serão apresentadas inúmeras citações do livro “ Portões de Fogo “ de Steven Pressfield (1), bem com a utilização dos quadrinhos das revistas “Os 300 de Esparta “(2) de Frank Miller e Lynn Varley, editadas no Brasil pela Abril Cultural e ainda, com a apresentação de várias citações de títulos identificados naquele contexto.

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(1)PRESSFIELD, Steven. Portões de Fogo. Rio de Janeiro, Editora Objetiva Ltda. 2000. (2)MILLER, Frank e VARLEY, Lynn. Os 300 de Esparta ( Revistas 1, 2, 3, 4 e 5 ) São Paulo, Editora Abril Cultural Ltda, 1999.

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MEDIAÇÃO TRANSDISCIPLINAR DE CONFLITOS AMBIENTAIS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO – CAPÍTULO III 161

3.2 - DO CONCEITO

Conflito, definido cartesianamente (alusão ao esquartejamento proposto por René Descartes no Discurso do Método)(1) por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira no Novo Dicionário da Língua Portuguesa em sua primeira Edição como : - “ 1.Embate dos que lutam; 2.Discussão acompanhada de injúrias e ameaças; desavença; 3.Guerra; 4.Luta., combate; 5.Colisão, choque.“, nos leva a crer que esta dicção possui valor em si, pois procura demonstrar a priori, da não necessidade de uma adjetivação ou qualificação para se determinar a que luta ou embate se refere. Refere-se a luta, a embate, pura e simplesmente, desconsiderando e desprezando a adjetivação ou qualificação, qualquer que a seja. ; desta forma, tal definição de “ conflito “ passa a produzir um “conhecimento“ ou uma “conceituação“ equivocada, como sendo luta em si, combate em si, guerra em si, luta corporal em si, etc..

A lógica binária das nossas relações culturais é que produz tais definições e a suposta aceitação de tais colocações (como se fosse possível isolar o mundo em um par de contraditórios) é que produz “definições e conceituações” descartáveis quando discorre sobre vocábulos, sejam eles quais forem, desconsiderando-se onde os mesmos são aplicados, como se fosse possível, cientificamente, isolar o texto do contexto como se o mesmo existisse por si e não por onde se encontra inserido.

Embora seja motivo de acirrada discussão, prepotência e arrogância de alguns membros da academia, em uma transcendência de Nietzsche(2) ao Paradigma Transdisciplinar(3), fica demonstrado que o desenvolvimento filosófico tende a levar a ciência a um novo posicionamento paradigmático que só considera os “objetos” nas relações com os “ambientes” onde estejam inseridos, não mais aceitando a pesquisa do objeto isolado ( mesmo por que não existe forma dentro da realidade de se isolar o “objeto” do “ambiente” ou o “texto” do “contexto” ); mesmo aqueles que são descrentes e ferozes opositores do domínio lingüístico produzido tanto pela teoria do Pensamento Complexo quanto pela Teoria da Transdisciplinariedade no que se refere a “ multidimensionalidade do objeto”, em nenhum momento, seja quem o for, consegue apresentar argumentação científica convincente que permita isolar o “objeto do ambiente” ou “ texto do contexto”, pois todos os referenciais de observação cientifica se perderiam em tal esquartejamento.

___________________________________________________________________________ (1) DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo, Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 1996.

(2) NIETZSCHE, Friedrich W. A genealogia da moral ( Zur Genealogie der Moral ). Tratado III, 12.

“ ...Quanto maior seja o número de olhares, de olhares distintos que saibamos empregar para ver uma mesma coisa, tanto mais completo será nosso “ conceito” sobre ela, tanto mais completa será nossa “ objetividade “ ...”

(3) SILVA, Daniel J. O paradigma transdisciplinar : uma perspectiva metodológica para a pesquisa ambiental. Florianópolis, 2000. Programa de Pós-Graduação Engenharia Ambiental Engenharia. UFSC.: “... a multireferencialidade do sujeito transdisciplinar diz respeito a existência de diversos níveis de percepção da realidade e ao histórico de referência do pesquisador...” .