• Nenhum resultado encontrado

2.5.1 – INTRODUÇÃO

Na seqüência da revisão teórica dos paradigmas com os quais podemos objetiva e subjetivamente ver e enxergar o mundo, uma vez que iniciamos a presente dissertação transitando sobre “O Discurso do Método“(1) de René Descartes, em seguida “O Erro de Descartes: Emoção, Razão e o Cérebro Humano“(2) de ANTÓNIO R. DAMÁSIO e após nos valermos da tradicional “Licença Poética” e apresentar A Carta de Noah Sealth ao 14O. presidente norte americano Franklin Pierce(3), culminamos nos títulos “ A Teia da Vida “(4), “As Conexões Ocultas : Ciência para uma Vida Sustentável”(5) e “ O Ponto de Mutação : a Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente”(6), todos de autoria de FRITJOF CAPRA, sendo que a seguir discorremos sobre o MODELO PEDS(7), “ O Tao da Estratégia”(8), todos de autoria de DANIEL J. SILVA para a partir de agora tal revisão ser efetuada a partir de “ O Paradigma Transdisciplinar : uma Perspectiva Metodológica para a Pesquisa Ambiental(9) também de autoria de DANIEL J. SILVA, “ O Manifesto da Transdisciplinariedade”(10) e “Ciência, Sentido e Evolução”(11), ambos de autoria de Basarab Nicolescu e ainda “ O Pensamento Transdisciplinar e o Real”(12) de Michel Random e “ Do Caos a Inteligência Artificial”(13) de Guitta Pessis-Pasternak, como também em outros títulos a serem indicados quando utilizados na presente revisão teórica.

_________________________________________________________________________________ (1) DESCARTES, René. O discurso do Método. São Paulo, Editora Martins Fontes. 1996

(2) DAMÁSIO, António R. O erro de descartes : emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo, Editora Companhia das Letras. 1996

(3) Carta (1854) do Cacique Noah Sealth a Franklin Pierce – 14O. presidente norte americano discorrendo sobre o amor a sua terra por parte de sua tribo em uma tentativa de compra;

(4) CAPRA, Fritjof. A teia da vida. São Paulo, Editora Cultrix-Pensamento Ltda. 1975

(5) CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas : ciência para uma vida sustentável. São Paulo, Editora Cultrix- Pensamento Ltda. 2002

(6) CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação : A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente. São Paulo, Editora Cultrix-Pensamento Ltda. 1982;

(7) SILVA, Daniel J. Uma abordagem cognitiva ao planejamento estratégico do desenvolvimento sustentável. Florianópolis, 1998. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. UFSC;

(8) SILVA, Daniel J. O tao da Estratégia : Uma perspectiva dialógica para o planejamento estratégico da sustentabilidade. Florianópolis, dezembro de 2002. Programa de Pós-Graduação Engenharia

Ambiental. Engenharia UFSC.

(9) SILVA, Daniel J. O paradigma transdisciplinar: uma perspectiva metodológica para a pesquisa ambiental. Florianópolis, 2000. Programa de Pós-Graduação Engenharia Ambiental Engenharia. UFSC;

(10) NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinariedade. São Paulo, TRIOM. 1999 (11) NICOLESCU, Basarab. Ciência, sentido e evolução. São Paulo, Attar Editorail. 1995;

(12) RANDOM, Michel. O pensamento transdisciplinar e o real. São Paulo, Editora TRIOM. 2000 (13) PESSIS-PASTERNAK, Guitta. Do caos à inteligência artificial. São Paulo, Editora UNESP

Ltda. 1991

O primeiro grupo de trabalho interdisciplinar que se tem notícia foi montado por Georges Gusdorf(1) e se constituía num grupo de especialistas voltados para a pesquisa interdisciplinar nas ciências humanas; tal projeto foi apresentado em 1961 para a UNESCO, e muito embora não tenha sido implementado tal projeto o mesmo passou a servir de referência para a produção científica quando se mencionava e se menciona interdisciplinariedade.

A partir também de Gusdorf, no Brasil o marco da interdisciplinariedade foi estabelecido por Ivani Fazenda e Hilton Japiassu pois ambos possuíam viés francês.

Em 1970 a OCDE – Organização Econômica dos Paises Desenvolvidos promoveu em Nice na França um Seminário Internacional sobre Interdisciplinariedade, sendo que neste evento Piaget cunha pela primeira vez a expressão “ transdisciplinar “ alegando que aos trabalhos interdisciplinares deveriam se suceder etapas superiores cujas interações disciplinares aconteceriam num espaço sem as fronteiras disciplinares ( zonas de não resistência ), ou seja, seriam a transcendência das disciplinas.

A partir de então surgem os trabalhos e pesquisas de Edgar Morin, E. Jantsch e tantos outros que passam a pesquisar o pensamento complexo, a lógica difusa e a transdisciplinariedade.

No Brasil, o lançamento do livro de Hilton Japiassu em 1976, com prefácio do próprio Gusdorf marca o inicio da discussão acadêmica do paradigma interdisciplinar; tal livro foi o resultado da tese de doutorado de Japiassu, concluída um ano antes em Paris, e se constitui até hoje na maior referência sobre o paradigma interdisciplinar no Brasil.

2.5.3 – O PARADIGMA INTERDISCIPLINAR

Tanto Ivani Fazenda quanto Hilton Japiassu se baseiam na classificação realizada por Jantsch em 1972 para associar a palavra “justaposição” ao paradigma multidisciplinar e “integração” ao paradigma interdisciplinar, conforme os diagramas apresentados nas páginas seguintes. A justaposição no paradigma multidisciplinar se refere aos conteúdos das disciplinas, enquanto que a integração no paradigma interdisciplinar refere-se na relação entre os pesquisadores ou membros da equipe de pesquisa.

Hilton Japiassu nem menciona o prefixo “trans” antes de disciplina, nem ao menos levanta a hipótese de sua existência; já Ivani Fazenda apresenta tal paradigma como uma impossibilidade, uma utopia, com a argumentação de que para se transcender as disciplinas haveria a necessidade de uma autoridade, uma hierarquia, a ser imposta entre as disciplinas, negando-se o dialogo entre elas.

________________________________________________________________________________________ (1) GEORGES GUSDORF, filósofo francês nascido em 1912 e lecionando em Estrasburgo desde 1952.

Neste paradigma interdisciplinar pouco se avança efetivamente em termos científicos tendo em vista que ambos se baseiam em coordenações solidárias e em relações de parcerias entre os diversos níveis de percepção da realidade construídos entre as diversas disciplinas presentes no processo; tal práxis é ineficiente uma vez que continua se baseando na disciplinariedade, em uma única dimensão de realidade e um foco multireferencial onde cada um expressa sua percepção da realidade levando em consideração somente a sua referência pessoal e disciplinar cartesiana; o esforço de integração é baseado na subjetiva objetiva dos sujeitos envolvidos e nunca sobre o objeto a ser observado, em suma, interessa quem observa e não o que é observado.

O suposto compromisso deste modelo é resgatar a unicidade do conhecimento, porém, simplesmente fragmentar a subjetividade dos vários sujeitos envolvidos no processo não amplia de forma significativa nem quantitativamente nem qualitativamente a visão do objeto, pois como colocamos no inicio do presente trabalho – “ A diferença entre o olhar objetivo e o olhar subjetivo está no sujeito e de onde ele observa “, o que não altera em nada as várias percepções a respeito deste mesmo objeto.

Hilton Japiassu, com sua síntese a partir de Roger Bastide, apresenta o esboço metodológico mais claro, qual seja :

1. Constituição de um grupo de pesquisadores, preferencialmente de uma forma institucional; tal forma institucional não necessariamente deveria ser pública, podendo tratar-se de instituição privada ou terceiro Setor, o que garantiria a estabilidade do grupo;

2. O estabelecimento de conceitos-chaves para a pesquisa para que se propicie um mínimo domínio lingüístico entre os membros do grupo, para que quando um membro do grupo de pesquisadores se referir a um “conceito”, os demais entendam a que ele se refere;

3. A formulação do tema de estudo a partir dos universos disciplinares dos membros do grupo de pesquisa;

4. A organização e distribuição das tarefas, ou seja, a distribuição de coordenações gerais e setoriais e a produção disciplinar do conhecimento e finalmente,

5. Apresentação dos resultados disciplinares e discussão pelo grupo de pesquisadores.

112. Quadro sobre o Modelo de Jantsch conforme DANIEL J. SILVA(*)

___________________________________________________________________________

(*) SILVA, Daniel J. O paradigma transdisciplinar: uma perspectiva metodológica para a pesquisa ambiental. Florianópolis, 2000. Programa de Pós-Graduação Engenharia Ambiental Engenharia. UFSC.

2.5.4 – OS OLHARES DISCIPLINARES