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2. Gêneros textuais/discursivos

2.7. Relato/Narrativa de viagem

2.7.2. A estrutura narrativa laboviana

Durante seu estudo sobre a língua vernácula, Labov (1978, p. 289) utilizou um

certo número de técnicas com o intuito de ultrapassar as limitações da situação de

entrevista, a fim de registrar a maior quantidade possível de discurso familiar. Eis que

dentre todas essas técnicas as mais eficazes, segundo Labov, são as que produzem

narrativas de experiências pessoais, pois nessa situação os locutores se consagram

inteiramente a reconstruir e até mesmo a reviver acontecimentos do passado deles.

Para Labov (1978, p. 295), a narrativa é um método de recapitulação da

experiência passada que consiste em fazer corresponder a uma sequência de

acontecimentos (supostos) reais, uma sequência idêntica de proposições verbais.

A narrativa só é, portanto, um meio, entre outros, de recapitular a experiência passada. O que a caracteriza, é que as proposições são nela ordenadas temporalmente, de modo que toda inversão modifica a ordem dos acontecimentos tal como podemos interpretá-la. [...].

O esqueleto da narrativa é, portanto, feito de uma sequência de proposições temporalmente ordenadas que nomearemos “proposições narrativas”. [...]. Essa noção de junção temporal é determinante para saber se há ou não relação com uma proposição narrativa no sentido o qual a entendemos, mesmo no caso em que ela pode parecer entrar em um relato. (LABOV, 1978, p. 296).20

Vemos que Labov afirma que a narrativa é um meio, entre outros, de recapitular

a experiência passada e que uma de suas características são as proposições que devem

ser ordenadas temporalmente.

Algumas narrativas que possuem apenas proposições narrativas podem ser

consideradas completas pelo fato de terem um começo, um meio e um fim, segundo

Labov (1978, p. 298). Mas, estes não são, para ele, os únicos elementos da estrutura

narrativa, pois uma narrativa plenamente elaborada pode comportar: 1. Resumo; 2.

Orientação; 3. Complicação; 4. Avaliação; 5. Resolução ou conclusão e 6. Coda.

Para Labov (1978, p. 298) esses elementos podem se encadear ou se reunir de

modo mais ou menos complexo. Sobre o “resumo”, Labov diz que não é raro que os

20 Le récit n’est donc qu’un moyen parmi d’autres de récapituler l’expérience passée. Ce qui le

caractérise, c’est que les propositions y sont ordonnées temporellement, de sorte que toute inversion modifie l’ordre des événements tel qu’on peut l’interpréter. [...].

Le squelette du récit est donc fait d’une suite de propositions temporellement ordonnées que nous nommerons « propositions narratives ». [...].

Cette notion de jonction temporelle est déterminante pour savoir si l’on a ou non affaire à une proposition narrative : toute proposition qui n’en contient pas n’est pas narrative au sens où nous l’entendons, alors même qu’elle peut paraître entrer dans un récit.

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narradores comecem seus relatos por uma ou duas frases que resumam toda a história.

As “indicações” são necessárias, pois em um relato deve-se precisar mais ou menos o

momento, o lugar, as pessoas implicadas, suas atividades e situações.

Essa parte de indicações apresenta algumas características sintáticas interessantes; assim, os verbos no imperfeito são aí muito frequentes, que retratam o que se passava antes do começo da história ou ao longo desta. Porém, mais interessante ainda é sua disposição. Na teoria, é perfeitamente concebível dispor a totalidade das proposições livres que a compõem no início da narrativa; mas na prática, constata-se que, em sua maioria, essas proposições vão se colocar mais longe. (LABOV, 1978, p. 300-1).21

A coda é a volta à realidade, ela faz referência às proposições livres que se

encontram igualmente no final da narrativa, um procedimento que permite ao narrador

assinalar que o relato acabou e, consequentemente, voltar à cena de enunciação.

Segundo Labov (1978, p. 302), a coda tem uma função ainda mais geral, que engloba

todas as formas, das mais simples às mais complexas, pois encerra a complicação e

indica que nenhum dos acontecimentos posteriores têm importância para o relato. Sobre

a “avaliação” Labov (1978, p. 303) escreve:

Não se considera mais as análises consagradas ao começo, ao meio e ao fim da narrativa. Mas é um elemento importante – talvez o mais importante após a base que constitui a proposição narrativa – que nunca foi discutido. Trata-se do que nomeamos a avaliação da narrativa, a saber, os procedimentos que emprega o narrador para indicar a elocução de sua história, sua razão de ser: o porquê ele a conta, onde ele quer chegar. [...]. A história que nada diz atrai uma observação desdenhosa: “E então?” Essa questão, o bom narrador sempre chega a evitá-la, ele sabe torná-la impensável.22

Assim, de acordo com Labov (1978, p. 306), uma narrativa completa começa

por algumas indicações, continua com uma complicação, interrompe-se no momento da

avaliação, conclui-se por um resultado e, finalmente, volta ao presente por meio da

coda. Quanto à avaliação, Labov considera que ela constitui uma estrutura secundária,

mas se apresenta sob diversas formas ao longo da narrativa.

21 Cette partie d’indications présente quelques caractéristiques syntaxiques intéressantes ; ainsi, les verbes

à l’imparfait y sont fréquents, qui dépeignent ce qui se passait avant le commencement de l’histoire ou tout ao long de celle-ci. Mais plus intéressante encore est sa disposition. En théorie, il est parfaitement concevable de disposer la totalité des propositions libres qui la composent au début du récit ; mais en pratique, on constate que, dans leur majorité, ces propositions vont se placer plus loin.

22 On ne compte plus les analyses consacrées au commencement, au milieu et à la fin du récit. Mais il est

un élément important – peut-être le plus important après la base que constitue la proposition narrative – qui n’a jamais été discuté. Il s’agit de ce que nous nommons l’évaluation du récit, à savoir les procédés qu’emploie le narrateur pour indiquer le propos de son histoire, sa raison d’être : pourquoi il la raconte, où il veut en venir. [...]. L’histoire qui ne dit rien s’attire une remarque méprisante : « Et alors ? » Cette question, le bon narrateur parvient toujours à l’éviter, il sait la rendre impensable.

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