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2. Gêneros textuais/discursivos

2.8. Interação epistolar

2.8.1. Estrutura composicional da carta

Utilizando-nos das palavras de Adam e Revaz, os quais afirmam que haveria um

“ar de família” pertencente aos gêneros, perguntamo-nos se haveria uma estrutura

composicional pertencente às cartas. De acordo com Álvarez (2002, p. 12), ainda não

existe uma norma estrita que regule a elaboração de uma carta, o que se pode observar

são algumas tendências, de acordo com o tipo de carta. São estratégias convencionais

que, de certa forma, determinam sua disposição e o tom que o escritor usa para se

manifestar.

Ainda que não haja nada que delimite a estrutura de uma carta, Álvarez assinala

uma tendência, como uma espécie de esquema estabelecido de antemão. Para ela (2002,

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p. 13), as partes constitutivas de uma carta são: data e cabeçalho; introdução; corpo da

carta; despedida e assinatura; anexo, notas (parte acessória).

- A data é importante conhecê-la, sobretudo, nas cartas comerciais. […]. - O cabeçalho oferece variações, de acordo com a relação existente entre o autor e o receptor (familiares, formal). […]. (ÁLVAREZ, 2002, p. 13).25

- A introdução é opcional, mas muito conveniente para criar um clima mais agradável e influenciar o destinatário a receber a comunicação favoravelmente (benevolentiae captatio). […].

- O corpo central é o motivo que originou a carta. Nele será exposto o assunto da mesma, dividido, se for necessário, em ideia fundamental e secundária(s). Além disso, somará a petição ou desejo que se esconde nessa exposição do assunto central da carta. É o que os retóricos medievais denominarão a narratio e a petitio. […].

- A despedida é o fechamento da carta, onde se manifestam as saudações e os bons votos, mediante formas de cortesia. […].

- O anexo ou post scriptum situa-se no final da carta, no caso de se ter esquecido algum dado de interesse. […]. (ÁLVAREZ, 2002, p. 15).26

Para a autora referida, vale salientar que essas estratégias são unilaterais, pois o

destinatário conhece e espera que tais estratégias se ponham em prática, ou seja, espera-

se que a carta apresente ao menos parte das características citadas. Essas estratégias

estão em função do assunto tratado, da pessoa a quem se endereça, ou do contexto

situacional em que a carta é produzida. Isso tem como resultado uma “tipificação” da

carta que nem sempre está sujeita a normas muito rigorosas.

Diferentemente, Adam, que também já escreveu a respeito do gênero epistolar,

apresenta-nos uma estrutura composicional da carta. Para ele (1998, p. 41):

Para a tradição medieval, uma carta comporta cinco partes: a salutatio, a

captatio benevolentioe, a narratio, a petitio (demanda ou objeto da carta) e a conclusio. A tradição clássica reduz a composição em três grandes conjuntos:

a tomada de contato com o destinatário da carta que corresponde ao exórdio da retórica, a apresentação e o desenvolvimento do objeto do discurso cuja noção retórica de narratio não recobre todos os objetos possíveis, enfim, a interrupção final do contato ou da conclusão.

Em uma perspectiva pragmática e textual é necessário partir da existência de uma macro-unidade: o texto dialogal. Este último comporta um plano de

25 - La fecha es importante conocerla, sobre todo en las cartas comerciales. […].

- El encabezamiento ofrece variaciones, según la relación existente entre el autor y el receptor (familiares, de respeto). […].

26 - La introducción es optativa, pero muy conveniente para crear un clima más agradable y predisponer al

destinatario a recibir la comunicación favorablemente (benevolentiae captatio). […].

- El cuerpo central es el motivo que ha originado la carta. Aquí se expondrá el asunto de la misma, desglosado, si fuera necesario, en idea fundamental y secundaria(s). Se añadirá, además, la petición o deseo que se esconde en esa exposición del asunto central de la carta. Es lo que los retóricos medievales denominaron la narratio y la petitio. […].

- La despedida es el cierre de la carta, en donde se manifiestan los saludos y los buenos deseos, mediante fórmulas de cortesía. […].

- La posdata o post scriptum se coloca al final de la carta, en el caso de que se haya olvidado algún dato de interés. […]

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texto forçado: sequências fáticas de abertura e de fechamento, de um lado, e do outro, sequências transacionais constituindo o corpo da interação. A forma epistolar foi certamente monogerada, ela recupera a seu modo, esse plano de texto cujos diferentes gêneros epistolares regram as variações, tanto formais quanto estilísticas.27

Face ao exposto, Adam (1998, p. 42) admite a existência de diferentes gêneros

epistolares; entretanto, ele faz a distinção trazendo a seguinte estrutura que, segundo ele,

pode ser aplicada a toda forma epistolar: (1) Abertura; (2) Exórdio; (3) Corpo da carta;

(4) Peroração e (5) Fechamento.

Para Adam (1998, p. 42), as partes do plano de texto 2 e 4 (exórdio e peroração)

são facultativas ou menos desenvolvidas, pois são zonas discursivas de transição

(introdução-preparação e conclusão-fim) entre os momentos inicial e final com relação

à dominante fática e o corpo da carta propriamente dito. Segundo o teórico, elas

comportam todas as características que a retórica concede tradicionalmente ao exórdio e

à peroração: preparar, de um lado, a recepção da troca poupando a face do outro (do

familiar ao mais solene) e introduzindo eventualmente mais comoção e preparando as

futuras interações com o destinatário (sua resposta mais particularmente).

Assim, para Álvarez, a carta comportaria seis partes, enquanto que para Adam,

comporta cinco, apesar de Álvarez afirmar que a última parte denominada por ela,

anexo ou post scriptum, é facultativa. Logicamente, essas estruturas propostas pelos

teóricos aqui apontados são gerais, podendo haver variações de acordo com o tipo de

carta e/ou o contexto no qual elas foram produzidas. Para a Linguística Textual, a carta

possui alguns elementos, como local, data, vocativo e assinatura, que servem como

elementos contextualizadores.

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Pour la tradition médiévale une lettre comporte cinq parties : la salutatio, la captatio benevolentioe, la

narratio, la petitio (demande ou objet de la lettre) et la conclusio. La tradition classique réduit plus

justement la composition à trois grandes ensembles : la prise de contact avec le destinataire de la lettre qui correspond à l’exorde de la rhétorique, la présentation et le développement de l’objet du discours dont la notion rhétorique de narratio ne recouvre pas tous les possibles, enfin l’interruption finale du contact ou conclusion.

Dans une perspective pragmatique et textuelle, il est nécessaire de partir de l’existence d’une macro- unité : le texte dialogal. Ce dernier comporte un plan de texte contraignant : des séquences phatiques d’ouverture et de clôture, d’une part, des séquences transactionnelles constituant le corps de l’interaction, d’autre part. La forme épistolaire a beau être monogérée, elle reprend, à sa manière, ce plan de texte dont les différents genres épistolaires règlent les variations tant formelles que stylistiques.

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